A urg�ncia da vacina para o controle da COVID-19 direcionou mais do que nunca os holofotes para a ci�ncia. E, no Brasil, est�o sob a aten��o e a expectativa de todos laborat�rios como o da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, onde � envasada a Covishield, uma das f�rmulas que comp�em, at� o momento, o Plano Nacional de Vacina��o contra a COVID-19.
� frente da Fiocruz – que foi apontada pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) refer�ncia nas Am�ricas para a doen�a – est� pela primeira vez uma mulher: N�sia Trindade Lima, eleita em novembro de 2016 para um mandato de quatro anos e reeleita no ano passado para o posto.
E, neste Dia Internacional da Mulher, foram escolhidas pelo Estado de Minas como representantes do imenso contingente feminino que dedica seus dias a buscar sa�das para o maior desafio da humanidade.
Nas entrevistas abaixo, elas contam um pouco da miss�o que � ser mulher e produzir ci�ncia no Brasil, em um momento em que preceitos cient�ficos s�o questionados e a necessidade de combate emergencial � pandemia aumenta a press�o sobre cientistas.
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Entrevista / N�sia Trindade Lima
Presidente reeleita da Funda��o Oswaldo Cruz

''Costumo dizer que me orgulho muito de ser a primeira mulher a presidir a Fiocruz, mas que n�o adianta orgulho sem a��o''
O fato de ser mulher influenciou em sua carreira como cientista? De que forma?
Como muitas outras mulheres de todas as profiss�es e modos de vida, lutei muito para estudar, criar meus filhos e desenvolver, concomitantemente, a carreira acad�mica e de gestora.
Essa experi�ncia, que n�o � individual, mas coletiva, inclusive, � objeto de muitos estudos sobre hist�ria da carreira cient�fica em diferentes pa�ses, e, na nossa institui��o, tem sido abordada num belo projeto de mem�ria institucional que se chama “Mulheres na Fiocruz: Trajet�rias”, com uma s�rie de v�deos que mostram os desafios e as conquistas das nossas cientistas. Costumo dizer que me orgulho muito de ser a primeira mulher a presidir a Fiocruz, mas que n�o adianta orgulho sem a��o.
Portanto, s� me orgulho porque tenho trabalhado, com muitos parceiros, pela inclus�o de mulheres e meninas na ci�ncia, pela equidade de g�nero e ra�a na institui��o e com medidas concretas.
Qual � o maior desafio no enfrentamento � COVID-19 no Brasil?
A pandemia da COVID-19 agravou todas as caracter�sticas estruturais que desafiam a sociedade brasileira, especialmente as desigualdades sociais, e requer uma resposta tamb�m estrutural. Esse � o maior desafio no enfrentamento � pandemia.
Orientada pelo seu papel estrat�gico como institui��o p�blica, a Fiocruz buscou atuar em diversas frentes e nas entregas para a sociedade: da produ��o em larga escala de kits-diagn�stico � assist�ncia hospitalar; da pesquisa cient�fica de bancada a ensaios cl�nicos transnacionais; da organiza��o de programas variados para popula��es vulner�veis � forma��o de recursos humanos, sempre com �nfase na defesa permanente de insumos, tratamentos e cuidados � sa�de como bens p�blicos.
Os brasileiros vivem a expectativa da vacina��o. Em que est�gio est� a produ��o?
A Fiocruz se prepara agora, finalizados os testes cl�nicos e feito o registro sanit�rio, para a produ��o de milh�es de doses da vacina contra a COVID-19 no Brasil.
Concomitantemente, muitos de n�s, trabalhadores da casa, temos participado intensamente de lives, entrevistas, audi�ncias p�blicas com parlamentares, reuni�es com sociedades cient�ficas e websemin�rios, e temos publicado artigos em jornais de circula��o nacional para informar devidamente a comunidade cient�fica e a popula��o brasileira sobre a crise.
Nossos maiores desafios e prioridades agora s�o acelerar o processo de produ��o da vacina pela Fiocruz, a vigil�ncia gen�mica e pesquisas de preval�ncia das novas variantes no territ�rio nacional, e a assist�ncia hospitalar aos casos graves, de modo a evitar mais mortes.
A senhora acredita que o Brasil vai superar essa crise sanit�ria?
A pandemia desafiou a Fiocruz e a mim, em particular, para buscar formas de minimizar seu grave impacto em um pa�s profundamente desigual.
Nossa perspectiva foi a de atuar com os grupos sociais em situa��o de vulnerabilidade, e dela decorreram planos de a��o em comunica��o e aten��o � sa�de, sempre de forma integrada ao SUS.
Um dos aprendizados da experi�ncia de atuar frente aos desafios experimentados ao longo da pandemia � o da necessidade de maior papel do Estado e, ao mesmo tempo, de maior participa��o da sociedade.
No caso da Fiocruz, quanto a esse �ltimo aspecto, foi in�dito o movimento espont�neo de doa��es de pessoas f�sicas e empresas, formando uma grande rede de solidariedade e dando suporte a a��es estrat�gicas.
Destaca-se a coopera��o estabelecida com a iniciativa Todos pela Sa�de, que contribuiu para a��es em todos os eixos de enfrentamento da pandemia. Penso que temos condi��es de ampliar a��es de parceria.
Como resumiria a miss�o da Fiocruz neste momento?
A Fiocruz tem a mensagem da defesa da vida como seu norte. Usaremos todo o nosso conhecimento para contribuir para as respostas a essa crise, como j� o fizemos nos nossos 120 anos de hist�ria, no trabalho continuado de gera��es, por ocasi�o de outras pandemias como a gripe espanhola e a Aids.
Temos, sim, a esperan�a de superar essa crise, porque acreditamos na ci�ncia nacional, na expertise do SUS e no Programa Nacional de Imuniza��es brasileiro, que t�m garantido boas coberturas vacinais e uma cultura da imuniza��o no pa�s.
Assim como acreditamos num pa�s mais justo, com pol�ticas inclusivas, de bem-estar, e no qual a ci�ncia e a cidadania falem mais alto. � com essa vis�o de fortalecimento da nossa miss�o e do SUS, ou seja, da ci�ncia e da sa�de em defesa da vida, que seguiremos o nosso trabalho.
Como j� disse em outras ocasi�es, nossas a��es de enfrentamento � pandemia s�o um grande esfor�o de paz.
Entrevista/Valdil�a Veloso
Diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas

''Est� mais dif�cil para as mulheres terem visibilidade no trabalho e assumirem pap�is de lideran�as nas pesquisas. Quando aumenta a competitividade, os homens t�m mais direitos, poderes, se colocam mais''
Como � ser mulher, fazendo ci�ncia no Brasil?
A condi��o de mulher nos traz dificuldades em desenvolver a carreira, em ser ouvidas, em ter visibilidade. Hoje, com a COVID-19, na �rea acad�mica j� se v� que as publica��es lideradas pelas mulheres ca�ram em rela��o ao in�cio da pandemia.
Virou um ambiente competitivo em rela��o a quem pesquisa o qu�, quem tem espa�o. Os homens voltaram a ter preponder�ncia em rela��o �s mulheres.
Est� mais dif�cil para as mulheres terem visibilidade no trabalho e assumirem pap�is de lideran�as nas pesquisas tamb�m. Quando aumenta a competitividade, os homens t�m mais direitos, poderes, se colocam mais.
A situa��o da mulher retroage um pouco, claro que n�o ao passado. Mas a gente v� que tem um retrocesso.
A Fiocruz � uma exce��o, ent�o?
Temos um n�mero significativo de mulheres nas pesquisas. A Fiocruz � uma institui��o um pouco diferente. Tem um ambiente em que se busca bastante a equidade de g�nero.
Temos uma comiss�o, mas � uma institui��o que tamb�m n�o est� isenta disso. N�o diria agora na pandemia, mas existe essa quest�o. Sou diretora de uma unidade t�cnico-cient�fica e estou na minha terceira gest�o.
Tive duas gest�es seguidas, come�ando em 2006 e terminei em 2013. Os diretores s�o eleitos pelos funcion�rios e colaboradores de cada unidade. Estou agora iniciando a terceira gest�o, comecei em maio.
Sinto que h� uma dificuldade para as mulheres serem respeitadas, reconhecidas como gestoras, mesmo dentro da Fiocruz. � muito mais f�cil para o homem se impor. A forma como tratam homens e mulheres � diferente.
A gente tem que se impor mais. � sempre um pouco desgastante.
A Fiocruz tem uma comiss�o de equidade de g�nero?
A Fiocruz tem uma comiss�o de equidade de g�nero e equidade de tudo em rela��o �s pessoas, que tamb�m trabalha a quest�o de racismo, de diversidade. � uma comiss�o que faz bom trabalho, uma sinaliza��o para a comunidade. Mas, na quest�o da mulher, temos ainda assimetrias.
H� quanto tempo voc� est� na ci�ncia?
Eu me formei na UERJ em 1985, fiz minha resid�ncia m�dica em infectologia, fui para S�o Paulo, no Hospital Em�lio Ribas, e voltei para o Rio, porque tive oportunidade na Fiocruz. Em abril de 1988, inicialmente como bolsista; em 1989, passei a fazer parte do quadro. Fiz minha carreira de pesquisa toda aqui. Minha �rea � HIV/Aids.
Antes de assumir posi��es de gest�o na Fiocruz, assumi posi��es de gest�o no Minist�rio da Sa�de, coordenei a �rea de assist�ncia no programa de Aids na �poca que implementamos o tratamento universal aos antirretrovirais. Fiquei l� at� meados de 2000 e passei um per�odo na ger�ncia de Aids na Secretaria Estadual de Sa�de.
Em 2003, retomei minhas atividades na Fiocruz, mas nunca abandonei a pesquisa. Constru� carreira que conjugou gest�o e pesquisa. Fiquei muito tempo trabalhando com assist�ncia, atendendo pacientes, dando plant�o e depois passei a conjugar mais gest�o e pesquisa e menos atividades diretas. Toda a minha carreira foi no servi�o p�blico.
Os desafios aumentam com a progress�o na carreira?
Uma mulher na �rea de gest�o, conforme vai subindo, chefe de servi�o, depois de departamento, quando passa para dire��o, enfrenta dificuldades maiores em rela��o a essa quest�o de g�nero. � a realidade.
A gente v� que tem muito caminho pela frente para a gente realmente atingir a equidade. Hoje � mais dif�cil voc� ser discriminada por ser mulher de forma aberta, mas t�m coisas que s�o embebidas no dia a dia, na forma de agir das pessoas.
D� um exemplo...
As pessoas quando v�o formar comit�s (cient�ficos) lembram-se dos homens. No Rio de Janeiro, foi formado comit� assessor ao prefeito para o enfrentamento � COVID-19. Voc� v� que a comiss�o s� tem uma mulher.
� muito impactante ver que isso est� na cabe�a das pessoas. Elas s� se lembram dos homens. Para ter visibilidade, as mulheres trilham caminho mais longo e mais dif�cil.
Fazer ci�ncia no Brasil est� mais dif�cil? Est� cada vez mais dif�cil. Tenho o privil�gio, junto a meus colegas da Fiocruz, de trabalhar numa institui��o que preza a ci�ncia. O ambiente � favor�vel.
N�o � s� dinheiro a quest�o da ci�ncia, � um ambiente que tem a cultura da ci�ncia, valores que facilitam o desenvolvimento da ci�ncia. Voc� pode fazer ci�ncia numa institui��o e aquela institui��o n�o valorizar aquilo, ent�o fica tudo mais dif�cil. Aqui temos essa valoriza��o.
Claro que, como em toda institui��o no Brasil e universidades, temos dificuldades. Mas nossa cultura valoriza a pesquisa. Isso faz toda diferen�a, valoriza a inova��o, e isso fomenta o desenvolvimento dos pesquisadores.
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?
Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
Em casos graves, as v�timas apresentam:
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia
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