
O tipo sangu�neo pode aumentar os riscos de uma pessoa ter COVID-19 e de sofrer maiores complica��es durante o tratamento da doen�a. � o que sinalizam as investiga��es de cientistas canadenses e dinamarqueses. Em duas pesquisas publicadas na revista Blood Advances, eles mostram como analisaram o perfil de infectados pelo novo coronav�rus e perceberam um n�mero menor de pessoas com sangue tipo O entre os pacientes.
Os especialistas tamb�m detectaram um n�mero maior de complica��es mais severas entre indiv�duos com sangue A e AB. Para eles, as descobertas poder�o ajudar no desenvolvimento de melhores abordagens m�dicas.
O papel do tipo sangu�neo na previs�o do risco e das complica��es da infec��o pelo Sars-CoV-2 ainda � pouco conhecido. Em busca de respostas, pesquisadores compararam os dados do registro de sa�de de mais de 473 mil dinamarqueses que testaram positivo para a COVID-19 e mais de 2 milh�es de pessoas sem a enfermidade (grupo controle). Eles encontraram, nos infectados, um n�mero menor de pessoas com tipo sangu�neo e um maior de pessoas com tipos A, B e AB.
Novas an�lises levaram � conclus�o de que pessoas do grupo O t�m 13% menos risco de serem acometidas pela COVID-19. Por outro lado, o grupo A tem 9% mais de possibilidade de ter a enfermidade, e o AB, 15 %. A taxa do grupo B n�o foi significativa. A equipe n�o encontrou diferen�a significativa na taxa de infec��o entre os tipos A, B e AB. “Entre esses tr�s subtipos, nenhum deles obteve taxas consideradas muitos altas, que apontasse um risco maior do que os outros”, ressaltam no artigo.
Os pesquisadores explicam que as distribui��es dos grupos sangu�neos variam entre os subgrupos �tnicos. Isso fez com que eles se mantivessem atentos � etnia dos analisados durante o estudo. “A preval�ncia do tipo sangu�neo pode variar consideravelmente em diferentes grupos �tnicos e diferentes pa�ses. A Dinamarca � um pa�s pequeno, mas, muito diverso etnicamente, isso fez com que n�s consegu�ssemos fazer uma triagem adequada para manter uma base s�lida das nossas an�lises”, afirma, em comunicado, Torben Barington, pesquisador da University of Southern Denmark e um dos autores do estudo.
UTI Em outra investiga��o, pesquisadores do Canad� observaram que os grupos sangu�neos A e AB parecem estar associados a um risco maior de complica��es geradas pela COVID-19. Os cientistas examinaram dados de 95 pacientes – todos hospitalizados em Vancouver devido a complica��es da doen�a. Aqueles que pertenciam aos dois grupos sangu�neos ficaram mais tempo na unidade de terapia intensiva (UTI), necessitaram de mais di�lise para tratar insufici�ncia renal e demandaram mais o uso de ventila��o mec�nica.
“Observamos esses danos nos pulm�es e nos rins e, em estudos futuros, queremos investigar o efeito do grupo sangu�neo e da COVID-19 em outros �rg�os vitais.” Esses dados s�o de particular import�ncia � medida que continuamos a atravessar a pandemia (…) Precisamos de mais armas que ajudem a aumentar as chances de cura”, afirma, em comunicado, Mypinder S. Sekhon, pesquisador da Universidade of British Columbia e um dos autores.
David Urbaez, infectologista do Laborat�rio Exame, em Bras�lia, explica que, com o surgimento de uma nova enfermidade, � normal tentar detectar uma poss�vel influ�ncia do tipo sangu�neo. “Os grupos sangu�neos sempre t�m implica��es importantes nesse quesito, seja no ponto de vista gen�tico, seja em rela��o �s prote�nas presentes no gl�bulo vermelho. Esses fatores podem influenciar o fator de virul�ncia de uma infec��o e a sua mortalidade. Eles s�o tamb�m uma marca registrada dos seres humanos, e � normal que possam estar correlacionados � evolu��o de uma enfermidade”, detalha.
O m�dico ressalta que os resultados das pesquisas precisam ser aprofundados. “Tudo isso � uma frente inicial de pesquisa, que, com certeza, continuar�. Os dados vistos at� agora apontam para essa poss�vel suscetibilidade em pessoas do grupo A, mas precisamos que isso seja mais estudado. Temos que saber por que isso ocorre em n�vel molecular, qual o fator que pode fazer essa diferen�a”, justifica.
O infectologista tamb�m acredita que, caso a rela��o entre o tipo sangu�neo e a vulnerabilidade � COVID-19 seja comprovada, novas formas de tratamento poder�o surgir. “N�s j� sabemos de algumas caracter�sticas de pacientes que podem ter maiores complica��es, e isso j� mudou muito a forma como � feito o atendimento. Essa pode ser uma informa��o que se some a esses outros dados e, no futuro, poderemos ter alguma outra interven��o m�dica, como um medicamento que ajude a minimizar esse risco”, diz.
AMOSTRA
473 MIL
� O TOTAL DE PACIENTES QUE TESTARAM POSITIVO PARA A COVID-19 E FIZERAM PARTE DO ESTUDO
Russos registram segunda vacina
A R�ssia registrou a segunda vacina contra o coronav�rus, uma etapa que, no pa�s, precede a fase final dos ensaios cl�nicos, em humanos. A f�rmula, intitulada EpiVacCorona, tem um “n�vel de seguran�a suficientemente alto”, segundo a vice-primeira-ministra russa respons�vel pela sa�de, Tatiana Golikova. A pr�xima etapa consiste em testes com 40 mil volunt�rios. Assim como fez com a primeira vacina, a Sputnik V, o governo russo n�o deu detalhes sobre a nova f�rmula, postura que desperta ceticismo na comunidade cient�fica. O an�ncio foi feito em um momento em que o pa�s enfrenta o ressurgimento da doen�a e n�mero recorde de infectados: 14.231 novos casos em 24 horas.
Palavra de especialista
Eduardo Fl�vio Ribeiro
hematologista e coordenador de Hematologia do Centro de Oncologia do Hospital Santa L�cia, em Bras�lia
Necessidade de mais estudos
“As informa��es desse tipo de estudo est�o surgindo desde o in�cio da pandemia, mas as raz�es pelas quais ocorrem essas diferen�as ainda s�o especulativas. Por exemplo, em rela��o ao grupo A e AB, sabemos que essas pessoas t�m uma enzima que estabiliza alguns fatores de coagula��o. A presen�a dela pode fazer com que complica��es que ocorrem em casos de COVID-19, como a trombose, sejam mais frequentes. Seria interessante fazermos estudos maiores, com um n�mero ainda maior de analisados, e em outros locais do mundo, para entendermos melhor esses dados. A Dinamarca consegue fazer esse tipo de an�lise porque tem cultura de reunir dados m�dicos de toda a popula��o, e isso � algo muito valioso. Essa base de dados ampla e diversa etnicamente � essencial para estudos como esse.”
COVID-19 NO Brasil
5.235.34
Casos confirmados
4.650.030
Recuperados
431.409
Em acompanhamento
153.905
Mortos
Fonte: Minist�rio da Sa�de
Risco de se tornar sazonal
A COVID-19 pode virar uma doen�a sazonal, quando a maioria dos casos concentra-se em uma �poca espec�fica do ano. � o que cogitam cientistas americanos em um artigo divulgado na �ltima edi��o da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Os pesquisadores chegaram � conclus�o ao analisar modelos clim�ticos e dados sobre a pandemia. Para eles, caso n�o surja uma vacina contra o Sars-CoV-2 e as medidas de isolamento sejam enfraquecidas, as infec��es devem ser mais frequentes no frio do que no calor, como ocorre com a gripe.
Os cientistas usaram dados da evolu��o da COVID-19 desde o seu surgimento e informa��es sobre varia��es do clima ocorridas no mesmo per�odo. Eles constru�ram modelos estat�sticos que ajudam a prever em que cen�rio a COVID-19 pode atingir o seu potencial m�ximo de transmiss�o em todo o mundo, ao longo do ano. “Para fazer proje��es, usamos tamb�m dados clim�ticos m�dios mensais de temperatura e umidade de 2015 a 2019, partindo do pressuposto de que esses �ltimos anos s�o os mais adequados para prever um futuro mais pr�ximo”, explicam os autores no estudo, que tem como primeiro autor Cory Merow, pesquisador do Departamento de Ecologia da Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos.
LUZ ULTRAVIOLETA Por meio das an�lises, os investigadores observaram que a luz ultravioleta est� associada � diminui��o da taxa de crescimento das infec��es em rela��o a outros fatores analisados. “Com base nessas associa��es com o clima, prevemos que a COVID-19 diminuir� temporariamente durante o ver�o, se recuperar� no outono e atingir� o pico no pr�ximo inverno (…). � importante ressaltar que nossas previs�es referem-se � poss�vel taxa de crescimento na aus�ncia de distanciamento social ou de outras medidas de controle”, afirmam.
Os pesquisadores tamb�m destacam que ainda existem d�vidas sobre uma poss�vel sazonalidade do Sars-CoV-2, j� que fatores al�m do clima, como interven��es sociais, podem influenciar na transmiss�o do v�rus. “Portanto, o mundo deve permanecer vigilante, e as interven��es cont�nuas provavelmente ser�o necess�rias at� que uma vacina esteja dispon�vel”, enfatizam.
Aval sobre a Coronavac fica para o fim do ano
O governo de S�o Paulo anuncia hoje que a vacina Coronavac, testada pelo Instituto Butant� em parceria com a farmac�utica chinesa Sinovac, se mostrou segura tamb�m nos testes de 9 mil volunt�rios brasileiros, reafirmando os resultados de pesquisa anterior com 50 mil participantes chineses. Os dados de efic�cia, por�m, devem ser divulgados somente entre novembro e dezembro, o que deve atrasar a previs�o do governador Jo�o Doria (PSDB) de iniciar a imuniza��o ainda neste ano. Ontem, o Brasil registrou mais 230 mortes em decorr�ncia da doen�a, elevando para 153.905 o total acumulado desde o in�cio da pandemia. Houve adi��o de 10.982 casos em 24 horas: agora, s�o 5.235.344, sendo que 4.650.030 j� se recuperaram e outros 431.409 continuam em acompanhamento, de acordo com dados do Minist�rio da Sa�de.
De acordo com Dimas Covas, diretor do Butant�, os testes da Coronavaccom 13 mil volunt�rios n�o foram finalizados e a an�lise de efic�cia ainda n�o pode ser feita. O pesquisador afirmou que foi conclu�da na semana passada s� a primeira etapa do estudo, com 9 mil pessoas. Mesmo nesse grupo, nem todos tomaram as duas doses ainda, o que deve ocorrer at� o fim do m�s. "J� temos os dados de seguran�a dessa etapa, eles s�o muito parecidos com os chineses (estudo em que mais de 90% dos volunt�rios n�o tiveram eventos adversos).
"S�o esses dados que vou detalhar na segunda. Efic�cia ainda n�o d� para falar porque temos de esperar as pessoas terem contato com o v�rus. Pela minha impress�o, acho que teremos dados conclusivos mais para o fim do ano, entre novembro e dezembro", disse ao Estad�o.
Covas explicou que as conclus�es sobre efic�cia dependem da ocorr�ncia de um n�mero m�nimo de infec��es pelo novo coronav�rus entre os volunt�rios. Esse �ndice, definido por c�lculos estat�sticos, � necess�rio para que os pesquisadores comparem quantos dos contaminados estavam no grupo vacinado e quantos faziam parte do grupo que recebeu o placebo. Se o total no segundo grupo for significativamente superior ao do primeiro, haver� evid�ncia de que a vacina foi capaz de proteger contra a COVID-19.
A Coronavac � hoje a vacina com pesquisas em est�gio mais avan�ado no Brasil. O imunizante desenvolvido por Oxford em parceria com a Astrazeneca est� em etapa similar, com 6 mil dos 10 mil volunt�rios j� vacinados com ao menos uma dose.
QUEDA NO RITMO Na quinta-feira, o minist�rio apontou redu��o no ritmo de �bitos provocados pela doen�a nas �ltimas tr�s semanas. A tend�ncia se estende tamb�m para os registros de casos de COVID-10, quando comparada a semana de 4 a 10 de outubro com a semana anterior, de 27/9 a 3/10. Conforme dados do Boletim Epidemiol�gico do Minist�rio da Sa�de, apresentados em coletiva de imprensa virtual, o pa�s apresentou redu��o de 8% nos registros de �bitos em rela��o � semana anterior e 6,9% nos registros de casos da doen�a.