
“Esse � o maior estudo de detec��o e atribui��o sobre os riscos atuais das mudan�as clim�ticas para a sa�de. A mensagem � clara: as mudan�as clim�ticas n�o ter�o apenas impactos devastadores no futuro, mas todos os continentes j� est�o experimentando as terr�veis consequ�ncias das atividades humanas em nosso planeta. Devemos agir agora”, alerta, em comunicado, Antonio Gasparrini, cientista da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM) e autor s�nior do estudo.
A pesquisa � fruto do trabalho de 70 pesquisadores, respons�veis por reunir e analisar dados de 732 locais, em 43 pa�ses, coletados entre 1991 e 2018. Foi adotado como metodologia o cruzamento dos dados de sa�de com os de registro de temperaturas e algumas modelagens clim�ticas. Dessa forma, a equipe examinou as condi��es meteorol�gicas e as simulou em cen�rios com e sem emiss�es antr�picas (causadas pelo homem).
Isso permitiu aos pesquisadores separarem das tend�ncias naturais o aquecimento global e o impacto na sa�de ligado �s atividades humanas. A mortalidade relacionada ao calor foi definida como o n�mero de mortes atribu�das a altas temperaturas, ocorrendo em exposi��es superiores ao considerado ideal para a sa�de humana, que varia conforme a regi�o.
A conclus�o � de que, de forma geral, 37% dos �bitos relacionados com as altas temperaturas s�o diretamente atribu�veis �s mudan�as clim�ticas. Em n�meros, esse percentual representa 100 mil mortes a cada ano, segundo os pesquisadores. Essa porcentagem � maior nas am�ricas Central e do Sul (at� 76% no Equador ou na Col�mbia, por exemplo) e no Sudeste Asi�tico (entre 48% a 61%).
Os autores enfatizam que, curiosamente, as popula��es que vivem em pa�ses de baixa e m�dia renda, que eram respons�veis por uma pequena parte das emiss�es antr�picas no passado, s�o as mais afetadas. Em pa�ses desenvolvidos, como Estados Unidos, Austr�lia, Fran�a, Gr�-Bretanha e Espanha, o percentual oscila entre 35% e 39%, mas passa de 40% em na��es como M�xico, Chile, �frica do Sul, Tail�ndia e Vietn�. Em outras, como Brasil, Col�mbia, Peru, Guatemala e Filipinas, dispara, superando 60%.
Pode piorar
As estimativas tamb�m mostram o n�mero de mortes por mudan�as clim�ticas induzidas pelo homem em cidades espec�ficas. Em Santiago, no Chile, por exemplo, s�o 136 mortes por ano, sendo 44,3% relacionadas ao calor. Os dados de Bangkok s�o 146 e 53,4%, respectivamente. Os de Nova York 141 e 44,2%. E os de T�quio 156 e 35,6%.Primeira autora do estudo, Ana M. Vicedo-Cabrera, da Universidade de Berna, na Su��a, alerta que a tend�ncia � de que o cen�rio se agrave. “Esperamos que a propor��o de mortes relacionadas ao calor continue a crescer se n�o fizermos algo sobre as mudan�as clim�ticas ou nos adaptarmos. Agora, a temperatura m�dia global aumentou apenas cerca de 1ºC. Isso � uma fra��o do que poder�amos enfrentar caso as emiss�es continuem a crescer sem controle”, justifica.
Ela lembra que, al�m da morte, h� outros problemas de sa�de relacionados ao fen�meno, como complica��es cardiovasculares ou respirat�rias que demandam interna��o hospitalar. “Esses problemas s�o, geralmente, mais frequentes e se somam aos custos de sa�de. A mortalidade (…) � apenas a ponta do iceberg.”
Mais investiga��es
Segundo Antonio Gasparrini, os dados mostram que � poss�vel “medir os impactos negativos na sa�de, al�m dos efeitos ambientais e ecol�gicos j� conhecidos” do aquecimento global. Essa mortalidade n�o se deve, por�m, exclusivamente ao aumento das temperaturas do ver�o (+1,5ºC desde 1991 nas regi�es cobertas pelo estudo). A dura��o das ondas de calor, o aumento das temperaturas noturnas, em compara��o com as diurnas, e as taxas de umidade tamb�m desempenham um papel importante.
Os autores dos estudo ressaltam ainda que o aquecimento global tem afetado a sa�de humana de v�rias maneiras, desde impactos diretos ligados a inc�ndios florestais e condi��es clim�ticas extremas at� mudan�as na propaga��o de doen�as transmitidas por vetores. Para eles, talvez, o mais impressionante seja o aumento da mortalidade e morbidade associada ao calor.
Por isso, defendem, os resultados obtidos s�o uma significativa evid�ncia da necessidade de adotar pol�ticas de mitiga��o fortes para reduzir o aquecimento e implementar interven��es que protejam as popula��es das consequ�ncias adversas da exposi��o ao calor. A equipe tamb�m reconhece as limita��es da investiga��o, incluindo a impossibilidade de incluir locais em todas as regi�es do mundo — por exemplo, grandes partes da �frica e do sul da �sia — devido � falta de dados emp�ricos.
Em coment�rio publicado na mesma edi��o da Nature Climate Change, Dan Mitchell, pesquisador da Universidade de Bristol, no Reino Unido, enfatiza que os estudos sobre as consequ�ncias do aquecimento global, principalmente os fen�menos clim�ticos extremos, multiplicaram-se nos �ltimos anos, mas s�o poucos os que se referem � sa�de humana. Segundo o especialista, esse novo “ponto de vista � essencial para que os l�deres mundiais compreendam os riscos” atrelados ao problema.
“Agora, a temperatura m�dia global aumentou apenas cerca de 1ºC. Isso � uma fra��o do que poder�amos enfrentar caso as emiss�es continuem a crescer sem controle”
Ana M. Vicedo-Cabrera, pesquisadora da Universidade de Berna e primeira autora do estudo