
Apesar das recomenda��es em rela��o � dieta e ao estilo de vida, os diab�ticos tamb�m beberam mais nesse per�odo. O tema foi um dos pontos discutidos no 4º Workshop de M�dia da ADJ Diabetes Brasil. Especialistas explicam o que pode acontecer com excessos e sugerem estrat�gias para esses grupos no caso de ingest�o de �lcool.
"Eu costumava beber duas ou tr�s ta�as de vinho por semana. No isolamento, de uma ta�a, quase todos os dias, aumentava para duas ou tr�s." Pode ser que muita gente se identifique com o relato de Bianca Fiori, 44 anos, jornalista.
Diagnosticada com diabetes tipo 1 h� 27 anos, ela considera ter certo controle da doen�a. Mesmo assim, passou a sentir muito desconforto quando bebia mais do que o de costume. Essa rea��o, somada ao quadro de doen�a cel�aca, funcionou como alerta. Bianca conta que depois de dois meses bebendo a mais, decidiu cortar o �lcool por um m�s. Agora, toma, no m�ximo, uma cerveja no fim de semana, sempre acompanhada de comida, para n�o deixar a barriga vazia e passar mal.
A doutora em endocrinologia Karla Melo � autora do estudo que aponta o aumento de registros de consumo de �lcool, feitos por diab�ticos no aplicativo Glic, usado para controle de glicemia. A an�lise do ano de 2019 em rela��o a 2020, a partir de mar�o, mostrou aumento de 1,84 vezes. O padr�o do binge drinking - beber quatro doses e meia ou mais em duas horas, para mulheres, e cinco doses e meia ou mais no mesmo intervalo para homens - tamb�m cresceu.
Efeitos
Para muitos, o �lcool provocou um quadro de emerg�ncia de hipoglicemia, que � quando a glicose est� abaixo de 70mg/dL. Alguns dos sintomas incluem agita��o, tremor, taquicardia e comportamento estranho. A m�dica explica que, dependendo do n�vel de embriaguez, pode ficar mais dif�cil identificar os sintomas da hipoglicemia, o que piora o caso. Segundo a endocrinologista, a associa��o do �lcool com o diabetes, ainda assim, carece de mais informa��o, tanto em termos de entendimento quanto de popula��o estudada.
Coordenadora do Departamento de Nutri��o da Sociedade Brasileira de Diabetes, a nutricionista Silvia Cristina Ramos explica que o cen�rio de aumento do consumo de �lcool parece ser mais perigoso em pacientes com diabetes tipo 1, como Bianca, e especialmente entre os que fazem uso intensivo de insulina. Nesse caso, com o �lcool, h� eleva��o da glicemia seguida por queda nos n�veis de glicose, o que leva � hipoglicemia. Isso pode acontecer com a popula��o em geral, mas, em tese, precisaria de grandes quantidades de �lcool.
"O diabetes tipo 1 � mais sens�vel que os demais. O tipo 2 apresenta alguns mecanismos que impedem a queda da glicemia. No caso do diabetes gestacional, o consumo � completamente desencorajado, porque existe o risco do diabetes e de prejudicar a sa�de do beb�", explica.
No curto prazo, o consumo de �lcool tende a tornar casos de hipoglicemia mais frequentes, o que dificulta o controle do quadro. "Podendo causar danos permanentes", sinaliza a especialista. Com o tempo, a bebida aumenta o risco de obesidade. Essas informa��es preocupam, porque s�o condi��es que refor�am os diab�ticos como grupo de risco para a covid-19, em que um paciente mal controlado tem evolu��o pior do que um bem controlado.
Recomenda��es
A Sociedade Brasileira de Diabetes n�o estimula o consumo, mas busca orientar essa popula��o sobre a melhor forma de ingerir bebida alco�lica. Deve ser respeitada uma margem de seguran�a que considere idade, peso e estatura.
A recomenda��o geral � limitar a ingest�o de um a dois drinques por dia para mulheres e de dois a tr�s drinques por dia para homens. � preciso conciliar a comida com a bebida - pode-se beber um suco de laranja junto, que � rico em fibras e vitaminas - e ingerir algum alimento antes de dormir, se for beber � noite, para o controle da glicemia durante o sono. � importante, tamb�m, verificar o a��car no sangue nas 24 horas ap�s a ingest�o, registrar e, se preciso, discutir com o m�dico a melhor estrat�gia.
O ambiente familiar pode ser grande aliado no controle dos bons h�bitos em rela��o � bebida. Os familiares devem oferecer algo para comer e aconselhar ao diab�tico n�o ultrapassar dos limites.
Silvia ressalta outra m�xima importante, independentemente do diabetes: "O �lcool n�o pode compensar uma emo��o ou sentimento, especialmente nesse per�odo."
Carol Freitas, 42 anos, rela��es-p�blicas, teve o diagn�stico de diabetes tipo 1 com um m�s de idade. "Minha vida foi moldada pelo diagn�stico, desde muito cedo." Carol conta que, adulta, passou a beber socialmente, sempre com acompanhamento m�dico. Bebia o equivalente a uma latinha de cerveja, comia antes e, depois, verificava a glicemia.
Por trabalhar na �rea de eventos, ela tinha uma vida social ativa antes do per�odo de pandemia. Mas, em casa, ficou mais ociosa e come�ou a beber. "Quando vi, n�o me limitava mais aos fins de semana", relata. Mesmo com alguns cuidados, Carol sentiu os efeitos do �lcool na sa�de, principalmente no desequil�brio do controle da glicose. O resultado foi aumento de peso, vontade de comer desregulada e descontrole da glicemia.
Preocupados, os m�dicos puxaram a orelha e sugeriram controle no consumo e pr�tica de atividade f�sica. Desde ent�o, Carol vem praticando treino funcional on-line e reduzindo as doses.