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Estado de Minas CA��O

Como brasileiros comem tubar�o sem saber e amea�am preserva��o da esp�cie

Dados preliminares de levantamento aos quais a BBC News Brasil teve acesso mostram que 69% "n�o sabem que carne de ca��o � de tubar�o"; pesquisadores dizem que Brasil, maior consumidor e importador mundial da carne desse peixe, tem papel primordial na preserva��o da esp�cie.


17/08/2021 07:57 - atualizado 17/08/2021 09:20


Dados preliminares de levantamento aos quais a BBC News Brasil teve acesso mostram que 69% 'não sabem que carne de cação é de tubarão'
Dados preliminares de levantamento aos quais a BBC News Brasil teve acesso mostram que 69% "n�o sabem que carne de ca��o � de tubar�o" (foto: Getty Images)

Voc� j� comeu tubar�o?/ Provavelmente, n�o. Mas, e "ca��o"?

Se sim, voc� n�o est� sozinho. Segundo dados preliminares de uma sondagem encomendada por pesquisadores brasileiros aos quais a BBC News Brasil teve acesso, praticamente sete em cada 10 brasileiros (69%) "n�o sabem que carne de ca��o � de tubar�o".

� a� que est� o problema — sem saber, comemos tubar�o, um peixe com alto n�vel de toxicidade e cuja popula��o vem reduzindo em n�mero ao redor do mundo nas �ltimas d�cadas.

E n�o comemos pouco — o Brasil � o maior importador e consumidor de carne de tubar�o do mundo, apesar de a grande maioria dos brasileiros n�o ter ideia disso "por falta de rotulagem adequada", alertam as pesquisadoras Bianca Rangel e Nathalie Gil em entrevista � BBC News Brasil.

Essa rotulagem incorreta, aliada aos pre�os atraentes e � falta de uma pol�tica p�blica adequada, fazem do Brasil uma amea�a para a preserva��o da esp�cie — uma pesquisa estimou que a popula��o de tubar�es e arraias no mundo caiu 71% desde 1970, ao passo que a pesca predat�ria desses animais aumentou 18 vezes.

Neste sentido, uma maior conscientiza��o da popula��o sobre o que vai parar em sua mesa "pode ajudar na preserva��o dos tubar�es", diz Rangel, do Departamento de Fisiologia do Instituto de Bioci�ncias da Universidade de S�o Paulo (USP).

"Em vez de ser embalada com rotulagem adequada, a carne de tubar�o � vendida no Brasil normalmente como ca��o, um nome amb�guo usado para v�rias esp�cies", acrescenta Gil, da Sea Shepherd Brasil, ONG de conserva��o da vida marinha.

"Ou seja, os brasileiros n�o sabem que est�o comendo tubar�o", ressaltam as pesquisadoras.

Prova disso est� nas conclus�es iniciais do levantamento que abre esta reportagem. A pesquisa foi realizada pela ag�ncia independente de pesquisa Blend e comissionada pela Sea Sheperd Brasil com 5 mil brasileiros em todo o territ�rio nacional.

Recentemente, Rangel e Gil, em conjunto com tr�s outros pesquisadores, escreveram um artigo, publicado na prestigiada revista Science, em que alertam sobre essa situa��o e sugerem como o Brasil pode ajudar a proteger a popula��o de tubar�es.


Brasil é maior importador e consumidor de carne de tubarão
Brasil � maior importador e consumidor de carne de tubar�o (foto: Getty Images)

Importa��o e consumo

Segundo explicam as pesquisadoras, o Brasil se tornou o principal destino de carca�as de tubar�o sem barbatanas. Por ano, nosso consumo � de cerca de 45 mil toneladas.

As barbatanas s�o uma iguaria no mercado asi�tico e podem alcan�ar valores astron�micos — seu quilo pode ultrapassar US$ 1,5 mil (cerca de R$ 8 mil).

Mas h� pouca demanda pela carne de tubar�o.

E, como a imensa maioria dos pa�ses pro�be a pesca do peixe apenas para o com�rcio exclusivo desse item — ou seja, retirando as nadadeiras e descartando a carca�a no mar (o chamado "finning") — o que sobra do animal acaba tendo desembarque certo: o Brasil.

Curiosamente, o Brasil foi o primeiro pa�s a assinar tratado ratificando a proibi��o dessa pr�tica.

"O Brasil, maior importador mundial de carne de tubar�o, compra carca�as e bifes de tubar�o sem barbatanas de pa�ses que atuam no com�rcio de barbatanas, como China e Espanha, e do Uruguai, que exporta carne processada de tubar�o", diz o artigo.

"No Brasil, embora tubar�es protegidos n�o possam ser legalmente comercializados por pescadores ou empres�rios locais, eles podem ser importados sem quaisquer restri��es".

"Al�m disso, � obrigat�rio fornecer informa��es para uma rotulagem adequada apenas se o peixe congelado importado pertencer � fam�lia Salmonidae (que inclui o salm�o e a truta) ou � fam�lia Gadidae (que inclui o bacalhau e a arinca)".

Segundo os pesquisadores, "apesar do crescente debate sobre a rotulagem incorreta de tubar�es entre organiza��es n�o governamentais e comunidades acad�micas, nenhuma medida governamental foi implementada".

"Como resultado, os consumidores no Brasil continuam sem saber que est�o comprando carne de tubar�o e contribuindo para o decl�nio de esp�cies vulner�veis de tubar�o", afirmam.


Grande predador, tubarão está no topo de cadeia alimentar e, por isso, nível de toxicidade de sua carne é maior
Grande predador, tubar�o est� no topo de cadeia alimentar e, por isso, n�vel de toxicidade de sua carne � maior (foto: Getty Images)

Riscos para sa�de

Rangel e Gil alertam ainda para o risco � sa�de relacionado ao consumo da carne de tubar�o.

"Como se trata de um grande predador, um animal topo de cadeia alimentar, o n�vel de toxicidade de sua carne � maior. Ou seja, existe um risco � sa�de para quem come tubar�o. E o pior: sem saber disso", diz Gil.

Por um processo de bioacumula��o, o tubar�o agrega metais pesados, como merc�rio e ars�nio, presentes nos organismos que lhe serviram de alimento. Ingeridas al�m da conta, essas subst�ncias podem causar danos cerebrais.

Um par�metro de consumo de merc�rio vem da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS). Ela preconiza o limite di�rio de 0,5 miligrama desse metal por quilo.

Estudo publicado em 2008, por�m, revela que, em amostras de Prionace glauca, ou tubar�o-azul, a esp�cie de tubar�o mais pescada no mundo, o �ndice presente excedeu em mais de duas vezes o limite di�rio.

N�o por menos, a Food and Drug Administration (FDA), ag�ncia federal americana que regula alimentos e medicamentos, n�o recomenda a inclus�o de tubar�o no card�pio de gr�vidas, de mulheres que estejam amamentando e de crian�as, seja em que quantidade for.

A��o urgente

No artigo, os pesquisadores defendem uma "a��o urgente em todo o mundo, especialmente no Brasil".

"Como primeiro passo, o governo brasileiro deve divulgar amplamente o fato de que o ca��o pode se referir � carne de tubar�o".

"O pa�s deve exigir que todos os produtos nacionais e importados sejam rotulados com seus nomes cient�ficos em toda a cadeia de abastecimento, garantindo o monitoramento preciso das esp�cies no sistema e permitindo que os consumidores decidam se comem uma esp�cie em risco de extin��o".

"Como resultado de tais mudan�as, a demanda provavelmente diminuiria, limitando o mercado de tubar�es com barbatanas removidas ilegalmente. O Brasil tamb�m poderia proteger tubar�es em todo o mundo proibindo a importa��o de esp�cies amea�adas de extin��o".

"Por causa do papel descomunal do Brasil no com�rcio global de tubar�es, essas mudan�as podem melhorar muito os esfor�os de conserva��o", concluem.

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