(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas CI�NCIA

O enigma do maior vulc�o ativo da Europa, escondido sob as �guas

Cientistas alertam que Marsili poderia causar tsunami no sul da It�lia caso entre em erup��o


05/09/2021 13:36 - atualizado 05/09/2021 14:09

As Ilhas Eólias são um arquipélago formado por ilhas vulcânicas, como Stromboli %u2014 mas há vulcões que se encontram submersos no mar
As Ilhas E�lias s�o um arquip�lago formado por ilhas vulc�nicas, como Stromboli %u2014 mas h� vulc�es que se encontram submersos no mar (foto: Getty Images)

Quando pensamos nos vulc�es da It�lia, podemos supor que o Etna, na Sic�lia, e o Ves�vio, que destruiu Pompeia, representam o maior perigo para a popula��o e os turistas da pen�nsula e suas ilhas.

Mas eles s�o acompanhados de perto por outra amea�a: o Marsili, localizado cerca de 175 km ao sul de N�poles.

Com uma altura de 3 mil metros e uma base de 70 km de comprimento por 30 km de largura, o Marsili � um verdadeiro gigante. � o maior vulc�o ativo de toda a Europa.

 

 

 

N�o se pode avist�-lo, contudo, j� que seu cume fica 500 metros debaixo d'�gua, no mar Tirreno.

Os cientistas sabem da exist�ncia de Marsili h� um s�culo, mas somente na �ltima d�cada come�aram a investigar os perigos que ele pode representar — e as descobertas s�o preocupantes.

De acordo com alguns modelos recentes, a atividade do vulc�o poderia potencialmente desencadear um enorme tsunami, com uma onda de 30 metros de altura atingindo as costas da Cal�bria e da Sic�lia.

Pior ainda, n�o haveria praticamente nenhum alerta de que o desastre � iminente — um fato que est� levando alguns cientistas a fazerem apelos por novas tecnologias para monitorar os movimentos do Mediterr�neo.

Uma amea�a antiga

Em termos de tamanho, o Marsili n�o consegue competir com Tamu Massif, abaixo do noroeste do Oceano Pac�fico, que tem cerca de 4.460 metros de altura e pode abrigar um complexo de v�rios vulc�es separados.

O Tamu Massif est� extinto, no entanto, enquanto o Marsili segue ativo. Ele se encontra pr�ximo da divisa das placas tect�nicas da Eur�sia e da �frica — cujo movimento resulta em intensa atividade geol�gica.

� apenas um dos muitos vulc�es em um arco ao longo da costa norte da Sic�lia e da costa oeste do sul da It�lia.

Alguns deles formaram massas de terra, as ilhas E�lias — Stromboli, Lipari, Salina, Filicudi, Alicudi, Panarea e Vulcano, que recebeu este nome por causa do deus romano do fogo, que deu origem � denomina��o de todas essas fissuras na crosta terrestre.

E para cada uma dessas ilhas vis�veis, dez vulc�es se escondem sob as �guas do mar.

Segundo Guido Ventura, vulcanologista do Instituto Nacional de Geof�sica e Vulcanologia da It�lia, Marsili nasceu h� cerca de um milh�o de anos.

Ao longo dos mil�nios, chegou a acumular 80 cones vulc�nicos, abrangendo desde o norte-nordeste at� o sul-sudoeste, junto a v�rias fissuras e fraturas que poderiam liberar lava.

Devido � sua profundidade sob as �guas, esta potencial bomba-rel�gio � espreita no fundo do oceano do sul da It�lia foi descoberta apenas 100 anos atr�s.

"S� no in�cio do s�culo 20 que as pessoas come�aram a mapear as bacias mar�timas", explica Ventura.

Isso foi motivado, em parte, pelo uso cada vez maior de submarinos por militares e pelos novos sistemas de comunica��o internacional, que exigiam a instala��o de cabos telegr�ficos no fundo do mar.


Embaixo d'água, próximo às Ilhas Eólias, fissuras vulcânicas borbulham gases que forçam sua passagem pela crosta terrestre
Embaixo d'�gua, pr�ximo �s Ilhas E�lias, fissuras vulc�nicas borbulham gases que for�am sua passagem pela crosta terrestre (foto: Getty Images)

Como resultado desses esfor�os, os cart�grafos finalmente identificaram o monte submarino na d�cada de 1920.

E deram seu nome em homenagem ao pol�mata Luigi Ferdinando Marsili (1658-1730), que, entre muitas outras realiza��es, escreveu o primeiro tratado sobre hidrografia.

Se demoramos a ter conhecimento da exist�ncia da Marsili, a pesquisa cient�fica sobre sua atividade � ainda mais recente — estudos detalhados apareceram apenas nos anos 2000.

E, de acordo com suas descobertas, a �ltima erup��o do vulc�o ocorreu h� alguns milhares de anos.

Hoje, sua atividade se limita a ru�dos suaves, com emiss�es gasosas e tremores de baixa energia, diz Ventura.

� claro que isso n�o impede um retorno mais dram�tico � vida no futuro; Marsili pode simplesmente estar adormecido.

Se entrasse em erup��o novamente, a lava e as cinzas produzidas pela explos�o seriam absorvidas pelos 500 m de �gua acima do monte submarino; h� pouco risco de que o "arroto" ardente chegue � terra ou prejudique as popula��es locais.

"O perigo n�o � a erup��o, mas os poss�veis deslizamentos de terra subaqu�ticos", diz Ventura.

Se os movimentos s�smicos pr�vios, ou a pr�pria explos�o, levassem ao desabamento de um de seus flancos, isso deslocaria um volume t�o grande de �gua que provocaria um tsunami.

A devasta��o de N�poles

Agora sabemos que deslizamentos subaqu�ticos do arco vulc�nico e�lico podem ter contribu�do para trag�dias passadas.

Em 1343, por exemplo, o poeta Petrarca descreveu uma terr�vel tempestade mar�tima que devastou a Ba�a de N�poles, causando centenas de mortes.

Um estudo recente de Sara Levi, da Universidade Estadual de Nova York, nos EUA, e seus colegas sugere que isso pode ter sido o resultado de um tsunami, originado em Stromboli.


As Ilhas Eólias são formadas por uma cadeia de vulcões no mar Tirreno, ao norte da Sicília
As Ilhas E�lias s�o formadas por uma cadeia de vulc�es no mar Tirreno, ao norte da Sic�lia (foto: Getty Images)

Analisando evid�ncias arqueol�gicas do vulc�o, a equipe encontrou evid�ncias de um deslizamento de terra antigo, resultando em um tsunami que atingiu a costa da Cal�bria.

Uma erup��o mais recente em Stromboli, em 2002, deu origem a dois tsunamis. As ondas afetaram apenas a ilha em si, no entanto, sem chegar ao continente — e ningu�m morreu.

Infelizmente, ainda n�o podemos calcular a amea�a precisa de Marsili.

"Simplesmente n�o temos dados suficientes", diz Glauco Gallotti, f�sico da Universidade de Bolonha, na It�lia.

Mas, segundo ele, h� boas raz�es para pensar que pode representar uma amea�a.

Por um lado, a atividade hidrotermal cont�nua pode ter enfraquecido as rochas do vulc�o. Al�m disso, registros de microterremotos mostram que a lava ainda est� turbulenta na c�mara magm�tica, diz ele.

Por ambas as raz�es, devemos levar esta possibilidade a s�rio com a realiza��o de mais pesquisas.

Em artigo publicado no in�cio deste ano, a equipe de Gallotti considerou cinco cen�rios distintos, cada um analisando os efeitos de diferentes deslizamentos de terra poss�veis.

Nos primeiros casos, o deslocamento da �gua foi m�nimo — levando a uma onda de apenas alguns cent�metros de altura.

Um desabamento no flanco noroeste, no entanto, provou ser mais s�rio — levando uma onda de 3-4 m de altura a atingir o sul da Camp�nia, e uma onda de 2-3 m a atingir a Cal�bria e a Sic�lia dentro de 30 minutos ap�s o evento.

� importante levar isso a s�rio, uma vez que uma "cicatriz" no monte submarino de Marsili sugere que um deslizamento de terra semelhante pode ter ocorrido no passado.

"E pode ter gerado ondas entre 1m e 3m de altura", diz Gallotti.

O pior cen�rio envolveu o colapso do cume centro-sul e do flanco oriental.

De acordo com os c�lculos de Gallotti, isso resultaria em uma onda de 20 m de altura atingindo a Sic�lia e a Cal�bria em 20 minutos.

Mais pesquisas s�o necess�rias para avaliar a probabilidade de que isso aconte�a, ele destaca.

"Mas [ainda] n�o podemos descartar a possibilidade."

Se acontecer uma erup��o, o custo humano pode depender da �poca do ano e se o tsunami chegar ou n�o na alta temporada do turismo.

"O sul da It�lia � bastante povoado no ver�o", observa Gallotti.

Dada a eleva��o da costa da It�lia, as pessoas devem estar seguras se estiverem a cerca de um quil�metro no interior, ele estima.

Irm�os s�smicos

Ventura concorda que esses riscos devem ser analisados.


Vulcano recebeu esse nome em homenagem ao deus romano do fogo, que foi adotado como nome genérico de todos os vulcões
Vulcano recebeu esse nome em homenagem ao deus romano do fogo, que foi adotado como nome gen�rico de todos os vulc�es (foto: Alamy)

"Est� claro que Marsili precisa ser monitorado para poss�veis instabilidades em seus flancos."

Como os eventos em Stromboli mostraram, Marsili pode ser o maior vulc�o da Europa, mas seus irm�os tamb�m podem representar amea�as significativas.

"Vale lembrar que no mar Tirreno, como no estreito da Sic�lia, existem pelo menos 70 vulc�es submarinos, cuja hist�ria, em alguns casos, � totalmente desconhecida", afirma Ventura.

De particular preocupa��o � o vulc�o Palinuro, localizado a 65 km da costa de Cilento.

Segundo Gallotti, estudos recentes mostram que o complexo vulc�nico possui uma camada de 150 m de material solto que pode ser deslocado com movimentos s�smicos.

Idealmente, pesquisas futuras fornecer�o mais detalhes dessa estrutura e suas chances de desmoronar.

Se o risco for significativo, o governo italiano pode precisar tomar medidas para prevenir o desastre em potencial.

No momento, n�o h� um bom sistema de monitoramento para alertar os italianos sobre um tsunami iminente.

Mas n�o precisa ser muito dif�cil de construir, diz Gallotti. Ele ressalta que uma rede de boias, equipadas com sensores de movimento, deve ser capaz de detectar diferen�as caracter�sticas nos movimentos do mar que sinalizam o surgimento de um tsunami.

O sistema poderia enviar um alerta autom�tico por SMS para as pessoas nas �reas afetadas — permitindo a elas chegar a lugares mais altos antes do tsunami atingir a regi�o.

Ventura sugere que tamb�m pode ser poss�vel monitorar os movimentos do pr�prio vulc�o.

"Nos �ltimos 40 anos, a tecnologia para monitorar vulc�es ativos avan�ou muito", diz ele.

Al�m de um sistema de alerta, Gallotti tamb�m gostaria de ver uma maior conscientiza��o sobre o perigo potencial — por parte da popula��o e dos formuladores de pol�ticas p�blicas.


Um deslizamento nas encostas de Marsili pode causar uma onda de 20 m de altura em direção à costa da Baía de Nápoles
Um deslizamento nas encostas de Marsili pode causar uma onda de 20 m de altura em dire��o � costa da Ba�a de N�poles (foto: Getty Images)

Ele cita um artigo de Teresita Gravina, da Universidade Guglielmo Marconi, na It�lia, Nicola Mari, da Universidade de Glasgow, na Esc�cia, e seus colegas, que avaliaram recentemente a percep��o de risco da popula��o no sul da It�lia.

Em geral, as pessoas estavam cientes de que tsunamis poderiam ocorrer na �rea, mas seu conhecimento era confuso.

Quando questionadas sobre os eventos mais recentes, por exemplo, apenas 3,3% das pessoas que responderam mencionaram o tsunami de 2002 em Stromboli.

A maioria se considerava mal informada sobre os eventos, com conhecimento limitado das causas potenciais do tsunami ou das melhores formas de agir, caso acontecesse outro.

"Isso � muito s�rio", afirmaram Gravina e Mari � BBC Future por e-mail.

"Provavelmente se deve ao fato de que na It�lia h� pouca comunica��o sobre esses assuntos. Saber como um fen�meno s�smico ou um tsunami se forma � muito importante, porque voc� pode avaliar por completo os cen�rios diferentes e os diferentes comportamentos que seriam necess�rios para evitar o perigo."


Os danos causados por um tsunami provocado pelo colapso de Marsili dependeria da época do ano %u2014 particularmente, se fosse alta temporada
Os danos causados por um tsunami provocado pelo colapso de Marsili dependeria da �poca do ano %u2014 particularmente, se fosse alta temporada (foto: Alamy)

Qualquer tentativa de desenvolver um sistema de alerta eficaz precisaria levar em considera��o os comportamentos das diferentes comunidades, eles dizem. (J� vimos isso com a covid-19 — duas popula��es podem reagir exatamente � mesma informa��o de maneiras muito diferentes).

Houve alguns avan�os positivos. Um projeto recente em Salerno, organizado pelo Departamento de Defesa Civil da It�lia, tentou simular um cen�rio de emerg�ncia provocado por um tsunami.

"Isso pode ter aumentado a consci�ncia deles sobre o risco", afirmam Gravina e Mari.

Mas, para a maioria das pessoas, o perigo de um deslizamento de terra subaqu�tico, causado por um vulc�o submarino, ainda � pouco compreendido — o que significa que � necess�rio muito mais trabalho para educar as pessoas sobre essa possibilidade.

O risco de um tsunami pode parecer remoto — mas se acontecer, um pouco de conhecimento pode ajudar a salvar milhares de vidas.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future .

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube ? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)