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Estado de Minas CIENTISTA

'Procuro vida inteligente no espa�o porque � dif�cil encontrar na Terra'

Avi Loeb, professor da Universidade de Harvard, tem enfrentado colegas por sua provocadora ideia de que o estranho objeto interestelar Oumuamua pode ter sido formado por civiliza��o alien�gena; teoria, embora incomum, desperta interessantes reflex�es sobre explora��o do universo.


02/09/2021 10:29 - atualizado 02/09/2021 10:55

Ideias de Avi Loeb têm despertado controvérsia
Ideias de Avi Loeb t�m despertado controv�rsia (foto: Getty)

Oumuamua foi um visitante misterioso e fugaz. Ningu�m conseguiu observ�-lo em detalhe, mas ficou claro que aquele objeto celestial era algo que n�o havia sido avistado no espa�o at� ent�o.

Em outubro de 2017, o telesc�pio Pan STARRS, da Universidade do Hava�, detectou esse corpo celestial pela primeira vez — e em seguida, v�rios observat�rios conseguiram segui-lo durante dez noites.

Por sua trajet�ria e caracter�sticas, os astr�nomos conclu�ram que poderia ser o primeiro corpo celestial que passava perto da Terra proveniente de fora do Sistema Solar .

Por isso, foi batizado de Oumuamua, palavra que no idioma havaiano significa "o mensageiro que vem de longe e chega primeiro".


N�o foi poss�vel obter imagens ou dados sobre sua forma��o, mas os c�lculos existentes permitem estimar que o objeto era de forma plana, com dimens�es de 400 m por 40 m². Tinha uma superf�cie avermelhada, com um brilho que mudava abruptamente, al�m de navegar em trajet�ria ca�tica pelo cosmos.

Alguns astr�nomos disseram que poderia se tratar de um asteroide ou um cometa. Um ano depois do achado, por�m, o astr�nomo e professor de F�sica Te�rica da Universidade de Harvard Avi Loeb publicou um estudo defendendo uma ideia muito mais audaciosa.

Nele, Loeb ressalta que o objeto n�o tinha a cauda de um cometa e que os dados sugerem que ele era incomumente brilhante — ao menos dez vezes mais do que os asteroides do Sistema Solar.

Com base nessa e em outras "anomalias", ele chegou � conclus�o de que o Oumuamua poderia ser uma sonda enviada por uma civiliza��o alien�gena, ou os restos de um artefato criado por extraterrestres.

O estudo gerou grande controv�rsia e cr�ticas de v�rios cientistas conhecidos.


Ilustração de Oumuamua, apontado como o primeiro corpo celeste identificado que parece ter vindo de fora do Sistema Solar
Ilustra��o de Oumuamua, apontado como o primeiro corpo celeste identificado que parece ter vindo de fora do Sistema Solar (foto: SPL)

Longe de ceder, Loeb se manteve firme em defesa de sua tese e agora, em 2021, publicou um livro em que a explica ao p�blico em geral, com o t�tulo Extraterrestre: O primeiro sinal de vida inteligente fora da Terra .

Em entrevista � BBC News Mundo, servi�o em espanhol da BBC, Loeb comenta seu interesse pela possibilidade de vida extraterrestre, conta por que acredita ser importante buscar intelig�ncia em outros lugares do cosmos e como defende suas ideias sobre o misterioso Oumuamua.

BBC - O senhor afirma que buscar vida extraterrestre � a quest�o mais fundamental da ci�ncia. Por qu�?

Avi Loeb - Porque encontrar vida extraterrestre teria uma grande implica��o para a humanidade. Mudaria nossa perspectiva sobre nosso lugar no universo, nossas aspira��es sobre o espa�o, as rela��es entre n�s, as rela��es internacionais, porque nos dar�amos conta de que somos parte da esp�cie humana e de que h� mais algu�m l� fora.

A melhor analogia que posso fazer � com minhas filhas. Em seu primeiro dia no jardim de inf�ncia, elas tiveram um choque psicol�gico, porque antes, achavam que eram as mais inteligentes do mundo e que o mundo girava ao redor delas.

Quando conheceram outras crian�as e se deram conta que n�o era bem o caso, foi uma grande revela��o.

Para que nossa civiliza��o amadure�a, precisamos encontrar outras.

Al�m disso, busco intelig�ncia no espa�o porque muitas vezes n�o a encontro aqui na Terra. Ao longa da hist�ria da humanidade, vejo pessoas brigando entre si, tentando se sentirem superiores, e isso tem t�o pouco sentido no grande esquema do universo, porque todos somos t�o insignificantes que n�o h� por que tentarmos ser superiores entre n�s.

Poder�amos nos comportar de maneira muito mais inteligente antes de sermos admitidos no clube da intelig�ncia, ent�o espero que a possibilidade de vida extraterrestre nos conven�a a agir juntos e ter um futuro melhor que nosso passado.


Loeb defende a busca por vida fora da Terra como forma de ensinar e unir os humanos a respeito de seu (insignificante) papel no universo
Loeb defende a busca por vida fora da Terra como forma de ensinar e unir os humanos a respeito de seu (insignificante) papel no universo (foto: Getty)

BBC - Para o senhor, o que � intelig�ncia?

Loeb - Para mim, uma civiliza��o inteligente � aquela que segue os princ�pios da ci�ncia, ou seja, a coopera��o e o interc�mbio de conhecimentos baseados na evid�ncia.

BBC - O senhor diz que os humanos n�o s�o especiais, que somos insignificantes, mas o certo � que somos bastante complexos, n�o?

Loeb - Sim, mas me refiro � forma como nos sentimos acerca de n�s mesmos.

De fato, embora na Terra sejamos muito especiais e �nicos, se voc� olhar ao seu redor, ver� que aproximadamente a metade das estrelas parecidas ao Sol t�m um planeta do tamanho da Terra, aproximadamente � mesma dist�ncia.

Isso significa que n�o s� n�o estamos no centro do universo, como argumentou o fil�sofo Arist�teles e as pessoas acreditaram durante mil anos porque isso inflava seu ego, como que, al�m disso, sabemos que o sistema Terra-Sol n�o � especial; n�o somos privilegiados, � um sistema muito comum.

Para mim, isso significa que o universo est� nos dizendo que devemos ser modestos, que n�o somos particularmente privilegiados. Temos circunst�ncias parecidas em dezenas de bilh�es de Terras na Via L�ctea, e 10 � pot�ncia de 21 em todo o universo, Isso � mais do que o n�mero de gr�os de areia em todas as praias da Terra.

O n�mero � t�o grande que me pergunto como nos atrevemos a nos considerarmos �nicos e especiais.

Al�m disso, a maioria das estrelas se formou bilh�es de anos antes que o Sol. Ent�o � muito prov�vel que tenha havido coisas similares a n�s que existiram antes de n�s e, se v�ssemos o que fizeram, poder�amos vislumbrar nosso futuro.

BBC - Por isso o senhor afirma que � mais prov�vel que haja intelig�ncias mais avan�adas do que n�s, em vez de menos avan�adas?

Loeb - Sim, uma das raz�es � que n�s somos tecnol�gicos h� apenas cerca de um s�culo, e � muito prov�vel que muitos deles tenham sido (tecnol�gicos) h� muito mais tempo.

Mas, al�m disso, � porque tenho um senso de mod�stia. Quando abro livros de culin�ria, vejo que com os mesmos ingredientes podemos fazer bolos muito diferentes.

Ent�o qual � a probabilidade de que, a partir da mescla de qu�micos que existiu na Terra primitiva, obtivemos o melhor bolo de todos? S�o muito poucas.

BBC - Qual � a sua ideia a respeito da exist�ncia de um deus e como ela se relaciona � possibilidade de vida extraterrestre?

Loeb - N�s vemos que nossas tecnologias est�o avan�ando exponencialmente, ent�o as tecnologias que desenvolver�amos dentro de mil ou um milh�o de anos n�o seriam reconhec�veis hoje — pareceriam magia ou milagre. Em um futuro distante, se conseguirmos uma teoria da relatividade qu�ntica, que unifique a teoria da mec�nica qu�ntica e a da gravidade de Einstein, talvez possamos projetar um experimento que crie um universo beb� em laborat�rio

Acho que a ci�ncia e a tecnologia suficientemente avan�adas podem nos parecer a algo como um deus.

J� h� laborat�rios que est�o se aproximando do desenvolvimento da vida sint�tica, ou seja, se come�a com uma sopa de qu�micos e a partir da� se obt�m uma c�lula viva e funcional — e acho que dentro de poucas d�cadas seremos capazes de conseguir isso.

No passado, acredit�vamos que um deus cria a vida, mas parece que os cientistas poder�o fazer isso ainda neste s�culo. E depois, em um futuro distante, se conseguirmos uma teoria da relatividade qu�ntica, que unifique a teoria da mec�nica qu�ntica e a da gravidade de Einstein, talvez possamos projetar um experimento que crie um universo beb� em laborat�rio.


"Para mim, a natureza parece incrivelmente linda e com frequ�ncia, quando estudo o universo, vejo que ela est� controlada pelas mesmas leis de f�sica em todas as partes. As leis que descobrimos em laborat�rio se aplicam a todo o universo", diz Loeb (foto: Getty)

Mas se voc� pergunta sobre o Deus religioso em que as pessoas acreditam e que n�o tem nada a ver com tecnologia, nesse sentido me alinho � no��o do fil�sofo Spinoza, que basicamente o identifica com a natureza.

Para mim, a natureza parece incrivelmente linda e com frequ�ncia, quando estudo o universo, vejo que ela est� controlada pelas mesmas leis de f�sica em todas as partes. As leis que descobrimos em laborat�rio se aplicam a todo o universo. � extraordin�rio que esteja t�o bem organizado e t�o lindo.

Para mim, como cientista, essa ideia funciona muito bem.

Mas quanto a esse Deus religioso que monitora suas a��es, por simples mod�stia acho dif�cil acreditar nele. Simplesmente n�o acho que sejamos suficientemente importantes para que um Deus esteja nos monitorando.

Al�m disso, se h� criaturas inteligentes em outros planetas, � muito trabalho monitorar dezenas de bilh�es de planetas e garantir que tudo ocorra segundo a sua vontade.

Me parece exaustivo, e e acho que Deus estaria acima disso.

Se alguma civiliza��o alien�gena nos monitora, a� � outra coisa. A� diria que sim, talvez possam se interessar por n�s ao ver que estamos desenvolvendo tecnologia.

BBC - O que o senhor acha dos m�todos usados atualmente para buscar vida extraterrestre?

Loeb - Acho que n�o estamos procurando de forma correta.

Nos �ltimos 70 anos, essa busca tem sido principalmente por sinais de r�dio. O problema com isso � que � similar a uma conversa telef�nica — voc� precisa que o interlocutor esteja vivo, e a maioria das civiliza��es que existiram no passado podem j� estar mortas.

Isso n�o significa que n�o possamos procurar os rastros que elas deixaram, como fazemos aqui na Terra com a arqueologia.


Oumuamua foi detectado ela primeira vez pelo observatório Pan STARSS
Oumuamua foi detectado ela primeira vez pelo observat�rio Pan STARSS (foto: Rob Ratkowski/PS1SC)

Pode haver uma arqueologia espacial, de busca por rel�quias ou equipamentos de outras civiliza��es, como se fossem garrafas lan�adas ao mar.

BBC - Segundo seu estudo, um desses objetos alien�genas poderia ser Oumuamua...

Loeb - Oumuamua foi o primeiro objeto detectado proveniente de fora do Sistema Solar, e de fato parecia muito estranho. Tinha v�rias anomalias que me convenceram que poderia ser um artefato de uma civiliza��o tecnol�gica.

Em 2020, o mesmo telesc�pio que o detectou observou outro objeto, conhecido como 2020 SO, que se comportava de modo similar, e era o propulsor de um foguete constru�do em 1996.

Sabemos ent�o que n�s humanos constru�mos aquele objeto artificial. A pergunta � quem produziu Oumuamua. E a maneira de responder essa pergunta � que, se outro objeto se aproximar de n�s, poder�amos detect�-lo cedo, seja com o telesc�pio Pan STARSS, o Observat�rio Vera C Rubin (que ser� conclu�do daqui a dois anos no Chile), por exemplo, e podemos lan�ar uma nave equipada com um uma c�mera fotogr�fica que nos diga se � um objeto artificial ou uma rocha.

Se se assemelha a um artefato, talvez possamos aterrissar sobre ele, assim como fez a miss�o Osiris-Rex sobre o asteroide Bennu. E poder�amos ver em qual planeta foi feito ou mesmo tentar traz�-lo � Terra, embora isso custe muito dinheiro.

BBC - Oumuamua � um objeto constru�do por extraterrestres?

N�o sabemos com certeza, porque n�o reunimos provas suficientes.

A raz�o pela qual eu digo que talvez seja artificial � por suas anomalias. Uma delas � que, quando ele girava, a quantidade de luz solar que ele refletia mudava por um fator de 10, o que significa que ele tem uma forma muito extrema, provavelmente como a de uma panqueca.

Tamb�m tinha um �mpeto excessivo distanciando-se do Sol, n�o tinha cauda como um cometa, nem evapora��o de g�s ou p� que lhe pudessem dar esse �mpeto — ent�o a �nica explica��o que me ocorreu � que isso se devesse ao reflexo da luz solar.

Para que isso ocorra, o objeto teria que ser muito fino, como a vela de um barco, mas n�o necessariamente projetada para ser uma vela. Talvez Oumuamua fosse s� um receptor que se comunicava com sondas que j� est�o na Terra.

BBC - O senhor descarta a possibilidade de que Oumuamua seja o resultado de um processo natural que n�s humanos ainda desconhecemos?

Loeb - Depois que eu publiquei meu estudo, outros cientistas propuseram outras poss�veis explica��es para argumentar que Oumuamua tinha uma origem natural, mas todas elas estavam associadas a um objeto que nunca hav�amos visto antes.

Um argumentava que era uma nuvem de part�culas de p� cem vezes mais densa que o ar. O problema com isso � que, � medida que ela se aproximasse do Sol, esquentaria e n�o manteria sua integridade.

Tamb�m se sugeriu que era um iceberg de hidrog�nio do tamanho de um campo de futebol, que, ao evaporar, n�o deixa uma cauda de cometa porque o hidrog�nio � transparente. Mas o hidrog�nio evapora muito rapidamente, ent�o n�o resistiria � viagem espacial.

Ou se disse que seria o fragmento de um objeto maior que se destruiu. A dificuldade aqui � que, nesse caso, geralmente o resultado seriam pe�as alargadas, e n�o planas. ( Loeb sustenta que Oumuamua teria a forma de uma panqueca, e n�o de um charuto).

Meu ponto � que, se � algo que nunca hav�amos visto, tamb�m dever�amos contemplar a possibilidade de que tenha uma origem artificial.

BBC - Estamos sozinhos no universo?

Loeb - Por pura mod�stia, acho que n�o. Al�m disso, n�o procuramos o suficiente para chegar a uma conclus�o.

Acho que n�o apenas n�o estamos s�s, como talvez n�o sejamos a turma mais inteligente do quarteir�o.

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