
Os autores do artigo destacam que se trata de um "momento crucial para exortar todos os pa�ses a entregar planos clim�ticos ambiciosos e aprimorados para honrar as metas do Acordo de Paris", o tratado sobre mudan�as clim�ticas adotado por 195 pa�ses em 2015.
No editorial, os autores destacam que, h� anos, a ci�ncia mostra que n�o � s� o planeta que adoece; as consequ�ncias das mudan�as clim�ticas para a sa�de humana s�o severas e j� percept�veis. "A base de uma sociedade saud�vel � um meio ambiente saud�vel", comenta Raffaella Bosurgi, editora executiva da revista Plos Medicine e uma das signat�rias do texto.
"Os profissionais de sa�de est�o na linha de frente da crise da covid-19 e unidos para alertar que um aumento de temperatura acima de 1,5°C, al�m de se permitir a destrui��o continuada da natureza, trar� a pr�xima, e muito mais letal, crise. Na��es ricas devem agir r�pido e fazer mais do que ajudar os pa�ses que j� sofrem pelas altas temperaturas. 2021 tem de ser o ano do curso das mudan�as mundiais - nossa sa�de depende disso", afirma, em nota, Fiona Godlee, editora-chefe da revista The British Medical Journal, uma das publica��es m�dicas mais importantes do mundo.
"Nos �ltimos 20 anos, a mortalidade relacionada ao calor entre pessoas com mais de 65 anos aumentou em mais de 50%. As temperaturas mais altas causam desidrata��o e perda de fun��o renal, doen�as dermatol�gicas, infec��es tropicais, resultados adversos para a sa�de mental, complica��es na gravidez, alergias, morbidade e mortalidade cardiovascular e pulmonar", diz o editorial. "Os danos afetam desproporcionalmente os mais vulner�veis, incluindo crian�as, popula��es mais velhas, minorias �tnicas, comunidades mais pobres e aqueles com problemas de sa�de subjacentes."
Os riscos das mudan�as clim�ticas � sa�de humana s�o bem documentados e v�o de �bitos por calor ou frio extremos ao surgimento de novas doen�as infecciosas. Recentemente, um artigo, publicado na revista BMJ, que fez a revis�o de quase 100 pesquisas cient�ficas sobre o tema identificou 10 categorias para descrever problemas de sa�de associados �s mudan�as clim�ticas, encontrando impactos negativos na gesta��o, no sistema respirat�rio, na sa�de mental, em alergias de pele e no status nutricional, entre outros. Por sua vez, um documento cient�fico divulgado, no ano passado, pela ag�ncia ambiental da Organiza��o das Na��es Unidas enfatizou que, para evitar a pr�xima pandemia causada por micro-organismo zoon�tico (transmitido por animais, como o coronav�rus da COVID-19), � preciso parar de degradar o meio ambiente.
"De todas as doen�as infecciosas humanas novas e emergentes, cerca de 75% saltam de esp�cies de outros animais para as pessoas", diz a publica��o da ONU. "A frequ�ncia de micro-organismos patog�nicos que saltam de outros animais para as pessoas est� aumentando devido a atividades humanas insustent�veis. Pandemias, como o surto da COVID-19, s�o um resultado previs�vel e previsto de como as pessoas obt�m e cultivam alimentos, comercializam e consomem animais, al�m de alterarem o meio ambiente."
Novos padr�es
No artigo conjunto publicado, ontem, pelas 233 revistas, os cientistas alertam sobre a necessidade de mudan�as nos padr�es de consumo, inclusive de alimentos. "Para cortar emiss�es, restaurar a agrobiodiversidade e parar com a destrui��o do mundo natural, precisamos mudar os padr�es diet�ticos globais para alimentos mais locais, frescos ou minimamente processados, e baseados em plantas", diz o climatologista brasileiro Carlos A. Monteiro, um dos 19 autores do editorial e editor chefe da Revista de Sa�de P�blica, da Universidade de S�o Paulo (USP).
O editorial ressalta que uma a��o global suficiente para enfrentar os desafios das mudan�as clim�ticas s� ser� poss�vel se pa�ses ricos se comprometam a cumprir o compromisso, ainda pendente, de fornecer US$ 100 bilh�es por ano para a��es de mitiga��o e adapta��o, incluindo as voltadas aos sistemas de sa�de. Os autores destacam que o dinheiro deve vir na forma de doa��es, em vez de empr�stimos.
A iniciativa da publica��o foi da Alian�a Sa�de nas Mudan�as Clim�ticas do Reino Unido. Em nota, o diretor-geral da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, comentou sobre o tema do editorial. "Os riscos impostos pelas mudan�as clim�ticas podem superar os de qualquer doen�a. A pandemia da COVID-19 vai acabar, mas n�o h� vacina para a crise clim�tica. O relat�rio do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudan�as Clim�ticas), um cons�rcio de cientistas de todo o mundo), mostra que cada fra��o de grau mais quente amea�a nossa sa�de e nosso futuro. Da mesma forma, cada a��o realizada para limitar as emiss�es e o aquecimento nos aproxima de um futuro mais saud�vel e seguro."
O que dizem os signat�rios
"Fazer o melhor pelos pacientes exige que os profissionais de sa�de compartilhem mensagens dif�ceis todos os dias. Hoje, a comunidade da sa�de se re�ne para dizer aos l�deres mundiais o que eles ainda n�o ouvem: a��es emergenciais na crise ambiental devem ser tomadas para proteger a sa�de. Pelo bem da nossa sa�de e pelo bem do futuro, as na��es ricas devem fazer mais para apoiar os pa�ses que mais sofrem." Marcel Olde Rikkert, editor chefe do Dutch Medical Journal, da Holanda.
"O meio ambiente e a sa�de est�o inextricavelmente interligados. As mudan�as clim�ticas est�o nos colocando em perigo de v�rias maneiras, incluindo seus impactos cr�ticos na sa�de e na presta��o de cuidados de sa�de. Como m�dicos e profissionais de sa�de p�blica, temos a obriga��o n�o apenas de antecipar novas necessidades de cuidados, mas tamb�m de sermos participantes ativos na limita��o das causas da crise clim�tica." Eric J. Rubin, editor chefe do The New England Journal of Medicine, dos EUA.
"A mudan�a clim�tica n�o � mais te�rica. � uma emerg�ncia de sa�de real, e n�o h� lugar para se esconder. O impacto tornar� a COVID-19 algo pequeno. Os profissionais de sa�de t�m um papel importante a desempenhar nesta emerg�ncia, promovendo mudan�as no sistema de sa�de para reduzir drasticamente as emiss�es e os res�duos, defendendo politicamente e educando nossos pacientes e o p�blico. Nossos filhos, e os deles, dependem de n�s agirmos agora, n�o amanh�." Nicholas Talley, editor chefe do Medical Journal of Australia, da Austr�lia.