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Estado de Minas SA�DE MENTAL

Pandemia deixou o brasileiro mais intolerante e triste, diz pesquisa

Especialistas explicam que o medo da morte e o distanciamento social afetam o senso de coletividade


14/11/2021 04:00 - atualizado 14/11/2021 07:45

Problemas emocionais causados pela pandemia exacerbaram a intolerância
Segundo a psiquiatra Fabr�cia Signorelli, os problemas emocionais causados pela pandemia exacerbaram a intoler�ncia (foto: Pixabay)
Diante de uma doen�a avassaladora, que levou ao colapso servi�os de sa�de no pa�s inteiro e que deixa como rastro mais de 600 mil mortes e milh�es de infectados, a sociedade brasileira ainda viu emergir uma onda de intoler�ncia que contamina as pr�prias rela��es entre as pessoas. Os reflexos podem ser vistos em exemplos de norte a sul do pa�s. � uma briga de tr�nsito que vira persegui��o seguida de atropelamento ou uma discuss�o por causa do uso de m�scaras que acaba em morte.

Para especialistas ouvidos pelo Estado de Minas, ainda que a intoler�ncia j� se fizesse presente no Brasil e no mundo desde sempre na hist�ria das rela��es humanas, a pandemia potencializou em muitas pessoas essa falta de empatia, de paci�ncia em rela��o ao outro e de respeito a normas de conviv�ncia.

A intoler�ncia do povo brasileiro � uma constru��o social antiga, que vem desde os primeiros tempos da coloniza��o do solo brasileiro pelos portugueses, que usaram a viol�ncia como uma das estrat�gias para subjugar os �ndios que aqui viviam, iniciando um processo de genoc�dio. � o que explica Eduardo de Castro Carneiro, soci�logo pela Universidade de Bras�lia e mestre em Sociologia da Viol�ncia pela Universidade Federal do Goi�s (UFG).

Arte
Para ele, o agravamento da intoler�ncia motivado pela pandemia da COVID-19 ocorre porque o cen�rio atual funciona como um vetor da hiperindividualiza��o, inclusive nas respostas que a sociedade tem recebido dos gestores p�blicos, que responsabilizam os pr�prios indiv�duos pelo processo de preven��o e cura. “O medo da morte e respostas que s�o dadas pela subjetividade, sem a percep��o clara de um discurso coletivo, de como o Estado lida com isso, como o governo lida com isso, como a sociedade lida com isso, desacopla mais ainda esse pertencimento. Logo, essa situa��o pode ter como consequ�ncia o aumento da intoler�ncia, da viol�ncia de um contra o outro, porque (as pessoas) n�o se percebem como seres sociais de um grupo”, teoriza.

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Resposta emocional

A doutora em psicologia e professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Bras�lia (UnB) Suely Sales Guimar�es destaca que qualquer mudan�a de contexto influencia a resposta emocional das pessoas diante de cada situa��o. Por isso, j� � poss�vel observar determinadas mudan�as no comportamento das pessoas. “Temos observado um aumento na intoler�ncia porque determinados comportamentos foram afetados pelas condi��es que elas s�o obrigadas a vivenciar”, diz.

''O distanciamento e o isolamento s�o fatores que t�m um efeito depressivo e ansiog�nico muito altos, porque o ser humano busca por natureza a socializa��o''

Suely Sales Guimar�es, doutora em psicologia



Suely Guimar�es ressalta que o contexto da pandemia, por�m, n�o explica toda essa intensidade da atual onda de intoler�ncia, j� que este � um comportamento social que n�o aflorou agora. Mas que ganha corpo em determinadas circunst�ncias e per�odos hist�ricos. O atual, de distanciamento social e protocolos de seguran�a sanit�ria, influencia de forma muito intensa o comportamento humano.

“Esse contexto da pandemia afeta diferentes segmentos da popula��o de diferentes maneiras. O distanciamento e o isolamento s�o fatores que t�m um efeito depressivo e ansiog�nico (que provoca ansiedade ou sofrimento psicol�gico) muito altos, porque o ser humano busca por natureza a socializa��o”, explica a acad�mica.

A psic�loga acredita que o contexto � favor�vel para deixar as pessoas irritadas. De acordo com uma pesquisa sobre sa�de mental feita pela Pfizer Brasil em parceria com o Ipec (Intelig�ncia em Pesquisa e Consultoria), com 2 mil brasileiros, a irrita��o ficou em segundo lugar, empatada com a ins�nia, no rol de sintomas ligados � sa�de mental mais sentidos durante a pandemia da COVID-19. S� ficou atr�s da tristeza.

Na vis�o da psiquiatra Fabr�cia Signorelli, todas as altera��es comportamentais afetam diretamente a irritabilidade das pessoas, e os problemas emocionais causados pela pandemia exacerbaram a intoler�ncia. “Ainda que a intoler�ncia venha em uma onda crescente no Brasil e no mundo, como n�s j� v�amos antes do surgimento da COVID-19, a pandemia foi um catalisador e potencializou em muito a intoler�ncia dos brasileiros”, afirmou.

"Cada vez mais, a gente individualizar as responsabilidades pelo conv�vio, cada vez menos teremos uma sociedade que cumpra regras, normas e valores''

Eduardo Carneiro, soci�logo



A m�dica explica que essa intoler�ncia pode se manifestar como um ataque de f�ria, que observamos, por exemplo, em brigas de tr�nsito, ou insubordina��es �s normas impostas pelos governantes para enfrentar a amea�a da COVID-19. Em agosto, o Distrito Federal foi palco de um desses epis�dios de intoler�ncia, quando o advogado Paulo Ricardo Moraes Milhomem, de 37 anos, perseguiu o carro da servidora p�blica Tatiana Thelecildes Fernandes Machado Matsunaga, de 40, ap�s uma briga de tr�nsito. Paulo chegou a atropelar a servidora e foi preso.

“O adoecimento mental da popula��o, visto durante a pandemia, e os sintomas de que algo pode estar errado com a sa�de mental das pessoas afetam diretamente o comportamento humano. Os transtornos psiqui�tricos v�o afetar a funcionalidade das pessoas, seja no rendimento do trabalho, nos relacionamentos dentro de casa, nos relacionamentos interpessoais de forma geral”, explica a psiquiatra.

Coletividade

As medidas de isolamento e o ambiente depressivo que a crise sanit�ria alimenta provocaram um aumento do individualismo. Fabr�cia Signorelli explica que essa sensa��o de esgotamento e a preocupa��o excessiva da popula��o com as consequ�ncias da pandemia tornam dif�cil ser emp�tico. “� um movimento do ser humano. � muito mais dif�cil ser emp�tico com o outro quando a gente est� vivendo um momento de maior dificuldade pessoal. Mas, quando temos menos pessoas pensando no coletivo, aumenta de certa forma o sofrimento geral”. Para ela, a rea��o a esses sentimentos precisa vir, justamente, da coletividade.

Para driblar a intoler�ncia, o soci�logo Eduardo Carneiro acredita que � preciso trabalhar a perspectiva do “n�s”, do pertencimento ao grupo. “Se cada vez mais a gente individualizar as responsabilidades pelo conv�vio, cada vez menos vamos ter uma sociedade que cumpra regras, normas e valores que s�o condensados na perspectiva de vida em grupo”, ressalta.

*Estagi�ria sob a supervis�o do subeditor Vinicius Doria








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