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As estranhas ra�as de c�es que desapareceram

Desde um c�o vegetariano at� outro que servia de aparelho de cozinha, o mundo j� foi o lar de uma s�rie de c�es estranhos antigos. Mas para onde eles foram %u2013 e ser� que podemos traz�-los de volta?


05/12/2021 12:02 - atualizado 05/12/2021 12:53

Imagem em castelo normando, no País de Gales, do último membro de uma linhagem desaparecida há muito tempo: uma cadela chamada Whisky
Imagem em castelo normando, no Pa�s de Gales, do �ltimo membro de uma linhagem desaparecida h� muito tempo: uma cadela chamada Whisky (foto: Alamy)


Em um canto particularmente montanhoso no sul do Pa�s de Gales, no Reino Unido, em algum lugar dentro das paredes quase destru�das de um castelo normando, voc� encontrar� o �ltimo membro que restou de uma linhagem desaparecida h� muito tempo: uma cadela chamada Whisky.

Com seu corpo em forma de salsicha e pernas curtas e compactas, � primeira vista ela poderia ser uma variedade ex�tica da ra�a dachsund. Mas, olhando mais de perto, voc� come�ar� a notar algumas singularidades.

O pelo avermelhado do pequeno animal � sedoso, mas desalinhado, parecendo mais um Yorkshire terrier. J� a sua cauda � um tufo crespo bem arrumado, como a dos lulus-da-pomer�nia. O seu rosto tamb�m � diferente - ela tem um nariz voltado para cima e orelhas como a do cocker spaniel, cortadas rente � sua cabe�a, lembrando os cortes de cabelo em tigela usados pelas gera��es de lordes medievais que habitaram o forte antes dela. Seus olhinhos brilhantes est�o sempre vidrados.

Esta �ltima caracter�stica n�o � surpreendente, j� que Whisky, na verdade, � uma cadela empalhada da ra�a Turnspit ("girador de espeto", em tradu��o livre) - a �ltima rel�quia de uma ra�a antiga de c�es que foi extinta na era vitoriana.

Ela costumava trabalhar na cozinha de uma propriedade rural pr�xima, onde teria passado muitas horas andando em uma esp�cie de roda para hamsters maior, pendurada na parede em cima do fogo. A roda era conectada a um espeto girat�rio por um sistema de polias, de forma que, quando a roda girasse, faria tamb�m girar o espeto.

Os cães Turnspit eram considerados peças de máquinas e não animais
Os c�es Turnspit eram considerados pe�as de m�quinas e n�o animais (foto: Alamy)

Os c�es Turnspit eram exatamente isso: cachorros pequenos, criados especificamente para correr por horas a fio, fazendo girar um espeto para assados.

A hist�ria da ra�a Turnspit pode parecer absurda para os padr�es modernos, mas h� quem argumente que ainda existam muitos c�es hoje em dia que poderiam concorrer com ela em excentricidade.

A Federa��o Cinol�gica Internacional reconhece oficialmente cerca de 370 ra�as de c�es diferentes, incluindo o c�o de crista chin�s, que foi v�tima da moda com seu corpo acinzentado sem pelos, mas com tufos de longos pelos claros; o Puli - basicamente, um esfreg�o vivo, totalmente coberto por longas tran�as - e o aspirante a le�o, o mastim tibetano, famoso pelo seu enorme tamanho e longa juba dourada.

A quest�o � que costumava haver mais, muito mais.

Por s�culos, o mundo abrigou uma enorme diversidade de c�es extravagantes. Alguns deles eram t�o bizarros que pareciam fabricados. No Hava�, existiu o Poi, que s� comia vegetais e era tratado mais como uma cabra que como um parente dos lobos. J� na costa noroeste do Pac�fico, no Canad�, havia o lanoso Salish, um c�o-pastor criado para produzir l�, que era transformada em roupas.

Apesar do seu carisma e da popularidade do passado, essas ra�as agora n�o s�o mais do que fantasmas - mem�rias apagadas e reconstru�das a partir de hist�rias, registros escritos e esp�cimes dispersos em museus.

cão molosso
Musculoso molosso, que parecia um le�o, foi descrito por um poeta como tendo %u201Cfor�a verdadeiramente indescrit�vel e coragem indom�vel%u201D e era muitas vezes enviado para a guerra na Gr�cia Antiga (foto: Alamy)

Mesmo o Talbot, que era o c�o t�pico da Idade M�dia, presente em muitos bras�es; o chien-gris, amado pela nobreza francesa e considerado em sua �poca o �nico c�o merecedor de ser inclu�do nas ca�adas reais; e o amea�ador molosso, que lutava contra le�es e era o favorito na Gr�cia Antiga, simplesmente n�o conseguiram sobreviver aos caprichos do gosto humano.

De onde vieram essas ra�as exc�ntricas de c�es? Por que n�s os abandonamos? E ser� que algumas dessas ra�as ainda poder�o existir, escondidas da nossa vis�o?

Inova��es

Atualmente, o conceito de ra�a � bem definido como um grupo de c�es com um certo conjunto de caracter�sticas, que - exceto por falhas ocasionais - geralmente s� se reproduzem com outros do mesmo grupo. Mas este � um desenvolvimento relativamente recente.

Por mil�nios, n�o havia ra�as oficiais ou livros de registro de origem, nem programas de sele��o cuidadosos. Na verdade, os c�es eram muitas vezes classificados de acordo com a sua fun��o - como o "c�o para ca�ar cervos" ou o "cachorro de colo" - e com o seu local de origem.

"A palavra [frequentemente] utilizada era 'tipos'", afirma Michael Worboys, professor em�rito do Centro de Hist�ria da Ci�ncia, Tecnologia e Medicina da Universidade de Manchester, no Reino Unido. "Mas as pessoas tinham todo tipo de nomes para os diferentes tipos de c�es. Elas falavam sobre variedades, sobre linhagens..."

Embora os c�es normalmente fossem criados com outros do mesmo tipo, na verdade, ningu�m mantinha registros - e, por isso, esses grupos eram categorias muito mais livres que agora no s�culo 21.

"Eram como as cores do arco-�ris", conta Worboys. "N�o havia uma divis�o clara e definida. Ent�o havia os galgos, mas eles como que se mesclavam com os foxhounds, que se prestavam a um tipo de trabalho diferente."

Vamos tomar o exemplo de P�ritas, o c�o favorito de Alexandre, o Grande, que ele criou desde filhote.

Acredita-se que o c�o fosse uma variedade da Gr�cia ou da Maced�nia, talvez um c�o da Lac�nia - um enorme c�o atl�tico, empregado principalmente para ca�ar cervos e lebres. Eles eram famosos em todo o mundo antigo e foram amplamente ilustrados em esculturas cl�ssicas, mosaicos, t�mulos e copos de bebida. Com seus rostos parecidos com lobos, focinhos longos e olhos brilhantes, eles lembravam os greyhounds modernos, mas algumas fontes discordam sobre suas outras caracter�sticas.

Embora alguns escritores antigos descrevessem os c�es desse tipo como corredores excepcionais - eles eram tamb�m conhecidos como os "velozes da Lac�nia" -, outras fontes relatam que eles eram lentos e confiavam principalmente no seu faro para ca�ar as suas presas. Independentemente das suas habilidades, conta-se que Alexandre, o Grande, amava tanto seu c�o que homenageou P�ritas dando seu nome a uma cidade indiana quando ele morreu (embora esse fosse um h�bito do rei, que tamb�m deu a outra cidade o nome do seu cavalo, Buc�falo).

Mas tudo isso mudou com a cria��o das exposi��es de c�es, em meados do s�culo 19. Como Worboys escreveu em seu livro, "A inven��o do c�o moderno" (em tradu��o livre do ingl�s), em coautoria com os historiadores Julie-Marie e Neil Pemberton, os vitorianos tomaram os tipos aproximados que existiam na �poca e os aperfei�oaram em ra�as com caracter�sticas claramente definidas.

"O objetivo era ter uma popula��o com apar�ncia uniforme", segundo Worboys. "Era quase como criar nozes e parafusos, ou tempos, padronizados. Em certo sentido, os c�es espelhavam o que estava acontecendo com a ind�stria. Eles estabeleceram padr�es e criaram para atingir esses padr�es, de forma que um cocker spaniel tivesse a mesma apar�ncia em qualquer lugar do mundo."

Um c�o que personifica essa tend�ncia � o terra-nova, origin�rio da prov�ncia do mesmo nome no leste do Canad� - uma regi�o costeira gelada com clima polar ou subpolar em algumas regi�es. Com sua apar�ncia peluda, lembrando um urso, o tipo se tornou popular como animal de estima��o na Gr�-Bretanha do s�culo 18, especialmente entre as classes mais altas da sociedade.

Lord Byron comprou um terra-nova quando tinha 15 anos de idade e deu-lhe o nome de Boatswain. Quando o animal morreu, o poeta o enterrou em um enorme t�mulo de m�rmore, no qual ele inscreveu um tributo, o Epit�fio para um C�o: "... seu cora��o honesto ainda pertence ao seu mestre, que trabalha, luta, vive e respira somente para ele..."

"[Os primeiros vitorianos] gostavam deles porque acreditavam que eles fossem c�es nobres que salvavam vidas. O importante sobre eles era sua personalidade", afirma Worboys. Na �poca, a apar�ncia do c�o terra-nova era variada - havia animais com todas as tonalidades de preto e branco.

Mas, quando as ra�as foram inventadas, algumas d�cadas depois, a est�tica do terra-nova foi subitamente questionada. "O labrador [inicialmente reunido com os outros c�es terra-nova] foi padronizado", conta Worboys. "Os vitorianos decidiram que ele poderia ser preto - todo preto - com forma padr�o, ou ter uma variedade preta e branca que recebeu um nome diferente."

Segundo Worboys, essa padroniza��o foi uma raz�o importante para um evento surpreendente, mas pouco conhecido, ocorrido durante a era vitoriana: "Existe um consenso de que ocorreu o que os geneticistas populacionais chamam de gargalo".

Depois de viverem por mais de 30 mil anos ao lado dos seus companheiros humanos e do desenvolvimento de centenas de tipos diferentes em todo o mundo - para diferentes climas, hobbies, gostos e profiss�es -, os c�es ficaram subitamente � merc� das exposi��es e dos eventos esportivos.

"Existem diversos c�es que foram abandonados pelos vitorianos", afirma Worboys. "Se os c�es n�o tivessem sucesso em exposi��es, eles quase desapareciam. Ningu�m os criava, ningu�m os comprava, ningu�m os exibia." A era vitoriana presenciou uma esp�cie de extin��o em massa de c�es que haviam vivido por mil�nios.

Atualmente, quase todas as ra�as de c�es sobreviventes um dia enfrentaram o desafio desse gargalo - e s�o descendentes do pequeno n�mero que atendeu aos modismos e gostos peculiares daquela era. Como resultado, grande parte da diversidade gen�tica antes encontrada nos c�es desapareceu para sempre.

Mas as exposi��es s�o apenas um dos muitos motivos do desaparecimento de tantos c�es nos �ltimos s�culos.

Um amigo infeliz

Em grande parte do s�culo 17, os ganidos dos apressados c�es Turnspit podiam ser ouvidos em quase todas as grandes casas da Inglaterra, enquanto eles preparavam carnes para alimentar hordas de cavaleiros ou outros visitantes importantes.

Era uma vida triste - os infelizes cachorrinhos eram considerados r�sticos, inferiores e medonhamente feios. Era comum que eles fossem regularmente tratados com crueldade.

No livro colorido e, �s vezes, divertido "Anedotas de C�es" (em tradu��o livre do ingl�s), de 1846 (que, entre outras coisas, sugere que "as almas de oficiais de justi�a e policiais comuns mortos est�o nos corpos dos c�es de ca�a"), o escritor ingl�s Edward Jesse escreveu que, na sua juventude, "da mesma forma que s�o conhecidos hoje, [os cozinheiros] eram muito irritados e, se o pobre animal, exausto por ter que girar um mecanismo maior que o habitual, parasse por um momento, podia-se ouvir a voz do cozinheiro repreendendo-o em termos nada gentis".


Sealyham terriers
Os Sealyham terriers eram originalmente criados para ca�ar lontras, fur�es e doninhas, mas hoje sua popula��o est� diminuindo (foto: Getty Images)

Para descrever o absoluto horror dessa tarefa - que inclu�a o trabalho no calor quase insuport�vel do fogo, asfixiado pela fuma�a da cozinha, por horas a fio -, Jesse tamb�m conta uma anedota sobre uma matilha de c�es Turnspit da cidade de Bath, no Reino Unido, que gostavam de se reunir na igreja durante as cerim�nias religiosas para relaxar. Um dia, a palavra "spit" (espeto) surgiu por acaso em um serm�o. Todos eles sa�ram correndo do sal�o, achando que seriam chamados para ir trabalhar.

Mas, na virada do s�culo 19, a inven��o dos giradores mec�nicos mudou tudo. Rejeitados como animais dom�sticos e sem utilidade na cozinha, os c�es repentinamente desapareceram - at� serem quase completamente extintos j� em 1807 e sumirem por completo algumas d�cadas depois.

Ap�s uma vida inteira de servi�o, Whisky terminou como um esp�cime empalhado para exibi��o em uma loja. Em 1959, ela foi dada de presente ao Castelo de Abergavenny, no Pa�s de Gales, onde reside atualmente em um pavilh�o de ca�a do s�culo 18.

Quando um tipo espec�fico de c�o n�o era mais necess�rio, o seu destino poderia ser r�pido.

Esse foi exatamente o destino que pode tamb�m ter atingido o Poi havaiano - um c�o pequeno, parecido com o Jack Russell terrier, nativo do Pac�fico Sul.

Coincidentemente, ele tamb�m se parecia com o Turnspit e, como ocorreu com aqueles primos distantes, algumas fontes o consideravam feio.

Os polin�sios formaram forte conex�o com seus c�es Poi - eles os defendiam ferozmente dos perigos e enterravam seres humanos e c�es juntos.

Mas as "descri��es dos visitantes europeus n�o eram t�o gentis", segundo Carys Williams, pesquisadora da ONG Dogs Trust, no Reino Unido, que estudou os Poi. "Eles costumavam levar collies e c�es muito utilit�rios em suas viagens, at� que desembarcaram naquelas ilhas e encontraram esses pequenos c�es esquel�ticos com patas tortas... e n�o achavam que eles fossem uma imagem bonita de se ver."

Os Poi n�o conseguiam latir, e isso provavelmente n�o ajudou a melhorar a sua imagem. "Esses animais s� sabem uivar e ganir, nos tons mais pat�ticos que se pode imaginar", escreveu um explorador em 1880, segundo as pesquisas de Williams.

Evid�ncias gen�ticas sugerem que os Poi eram parentes pr�ximos dos dingos australianos e descendiam de c�es levados para as ilhas dezenas de milhares de anos atr�s. Os c�es foram criados pelos ilh�us como animais de estima��o por s�culos, apesar, como explica Williams, da quase total aus�ncia de um papel funcional para eles, seja na ca�a, seguran�a (n�o h� grandes predadores nas ilhas de quem se defender), transporte (as ilhas s�o muito pequenas e n�o h� necessidade) ou pastoreio (a maioria dos nativos criava porcos).

Havia apenas uma fun��o para eles: servir de alimento. O Poi era criado como animal de companhia e tamb�m, espantosamente, comido, mas normalmente apenas como parte de banquetes cerimoniais.

Quando um c�o era morto, sua pelagem poderia ser incorporada �s roupas e seus dentes eram usados na produ��o de joias (um museu de Honolulu possui em sua cole��o 13 chocalhos de tornozelo, que exigiram 11.218 dentes, de 2.805 c�es, para serem feitos).

Mas talvez o mais not�vel sobre esses c�es � que, em sua maioria, eles eram vegetarianos. De fato, a palavra Poi vem do prato havaiano do mesmo nome, que � um alimento b�sico feito tradicionalmente triturando-se ra�zes de taioba cozidas sobre uma t�bua de madeira at� que atinja consist�ncia de pasta. Ele formava a base da alimenta��o dos cachorros, �s vezes com a adi��o de sobras de comida.

"A alimenta��o vegetariana foi mais uma escolha humana que dos c�es", afirma Williams, que explica que existem indica��es de que os c�es apresentavam nutri��o deficiente. Uma an�lise dos esqueletos encontrados em s�tios arqueol�gicos revelou cavidades dentais e sinais de atrofia mandibular, possivelmente causadas pelo amido da taioba e pela falta de necessidade de mastigar sua comida.

Mas, depois de passarem mil�nios no centro da cultura polin�sia, os Poi acabaram caindo em desgra�a. Os colonizadores ocidentais levaram seus pr�prios c�es para lugares como o Hava� - e, � medida que eles se miscigenavam, os c�es nativos come�aram a desaparecer.

Ao mesmo tempo, esses novos colonizadores provocaram mudan�as de comportamento, at� que n�o era mais considerado aceit�vel comer seu animal de estima��o. Os �ltimos c�es Poi viveram na segunda metade do s�culo 19 - e n�o foram deixadas pinturas, fotografias nem outras obras de arte que pudessem ser relacionadas a eles com seguran�a.

"Ele [o Poi] provavelmente seria muito adequado para a vida moderna - com toda a honestidade, um c�o muito agrad�vel com n�vel de agressividade muito baixo", afirma Williams.

Esta n�o seria a primeira vez em que o colonialismo e a perda de funcionalidade conspirariam para a extin��o de um tipo antigo de c�o.

Outro exemplo cl�ssico � o c�o lanoso Salish, que desempenhou um papel historicamente importante na cultura dos povos do grupo ind�gena da Costa Salish, na regi�o noroeste do litoral do Pac�fico, no Canad�. Esses cachorros felpudos, com orelhas moles, eram sempre bancos e sua l� macia era frequentemente penteada, de forma que a l� que se soltasse pudesse ser tecida e transformada em cobertores.

Mas eles n�o eram apenas ovelhas caninas. Os c�es lanosos eram tratados com respeito e reinavam nas casas das pessoas, onde eram mimados e adorados. Como os c�es usados para ca�ar, por exemplo, eles eram considerados intermedi�rios entre os animais e os seres humanos - e, por isso, muitas vezes recebiam nomes e eram enterrados quando mortos.

Como ocorreu com os Poi, o desaparecimento dos c�es lanosos acompanhou uma importante mudan�a de estilo de vida causada pela chegada dos colonizadores ocidentais. "Ele se deveu, em parte, � disponibilidade de outros tipos de materiais", segundo Dana Lepofsky, professora de arqueologia da Universidade Simon Fraser, no Canad�, que estudou os c�es. "Mas tamb�m ocorreu porque todo o contexto social daquela cultura tecel� mudou com a coloniza��o."

O poss�vel renascimento

Mas a miscigena��o entre as "ra�as" modernas e os "tipos" antigos levanta uma possibilidade tentadora: poder� haver c�es Poi vivendo hoje, "disfar�ados" de c�es comuns?

Essa ideia fez com que o curador de animais Jack Throp tentasse realizar uma ressurrei��o biol�gica no zool�gico de Honolulu, no Hava�, na d�cada de 1960.

Promovendo a reprodu��o de c�es com caracter�sticas dos Poi entre si e fazendo o mesmo com diversas gera��es das suas ninhadas, ele esperava concentrar o genes do tipo Poi at� que ele surgisse por hibridiza��o.

"Existe uma fotografia maravilhosa no [jornal] Honolulu Star mostrando que Throp recriou o que ele acredita ser um c�o com a apar�ncia que devia ter o Poi", afirma Williams.

Infelizmente, os resultados do projeto n�o foram bem documentados e, pouco tempo depois, o projeto foi aparentemente encerrado. "E, mais uma vez, a ra�a nunca atraiu popularidade, com pessoas que desejassem preserv�-lo", acrescenta Williams.

Mas poder� haver uma nova vida para os c�es Salish, cujos estudos etnogr�ficos sugerem que ele �s vezes foi cruzado intencionalmente com lobos e coiotes para torn�-los melhores ca�adores. Kasia Anza-Burgess, ex-arque�loga que estudou o povo Salish e sua rela��o com os c�es, � otimista e acredita que talvez a sua linhagem esteja viva em algum lugar selvagem.

"N�o encontramos nenhuma evid�ncia gen�tica [de hibridiza��o] em nossas amostras [de ossos de c�es Salish em s�tios arqueol�gicos]", afirma Anza-Burgess.

Mas ela indica que apenas examinou o DNA mitocondrial, que � passado das m�es para as suas ninhadas. Isso � significativo, pois - naturalmente - eram as f�meas dos c�es que o povo Salish permitiria que cruzassem com os lobos ou coiotes, de forma que a introdu��o de genes selvagens sempre viria dos machos.

"Acho que seria fascinante que as pesquisas futuras examinassem os genomas inteiros e n�o apenas a linhagem materna, para ver qual tipo de cruzamento pode ser encontrado ali. As evid�ncias de que deve haver algo parecem bastante fortes - n�s apenas n�o a encontramos", afirma Anza-Burgess.

Uma decis�o delicada

Nos dias de hoje, os c�es amea�ados de extin��o enfrentam um novo obst�culo no caminho para a sobreviv�ncia: o conflito entre a gen�tica e a �tica.

Na �ltima d�cada, o aumento da consci�ncia sobre a baixa diversidade gen�tica de muitas ra�as (particularmente, as variedades com pedigree) levou as organiza��es que cuidam de c�es a levar mais a s�rio o entrecruzamento.

Atualmente, algumas ra�as possuem popula��es t�o pequenas que a quest�o �tica de mant�-las dessa forma torna-se delicada - sua baixa diversidade gen�tica pode torn�-las mais suscept�veis a deformidades ou doen�as. Em algum momento, a "depress�o endog�mica" - que ocorre quando a fertilidade de uma popula��o � prejudicada pelo ac�mulo de variantes gen�ticas n�o saud�veis - pode extingui-las por completo.

Uma ra�a amea�ada � o Sealyham terrier, que esteve na moda entre as celebridades nas d�cadas de 1930 e 1940. Cary Grant, a Princesa Margaret, Marlene Dietrich, Elizabeth Taylor, Bette Davis e at� Agatha Christie - todos eles tiveram um desses fofos c�es brancos algum dia. Com seu pelo branco ondulado e barbas distintas, os c�es quase pareciam ser metade cordeiros, metade humanos.

Mas, depois de d�cadas de popularidade, eles ca�ram em decl�nio com o surgimento de ra�as de c�es de tosa, como o cockapoo - cruzamento de poodle e cocker spaniel - que possui caracter�sticas fofas similares.

Ap�s atingir seu menor n�vel populacional em 2008, as popula��es de Sealyham terriers atualmente se encontram em constante crescimento. Mas a sua popula��o total em cria��o ainda � apenas de pouco mais de 100 - que � frequentemente considerado o limite inferior para a sobreviv�ncia de esp�cies amea�adas.

Considerando a nova preocupa��o com a sa�de gen�tica dos c�es, Worboys n�o acredita que haja atualmente muita esperan�a para ra�as amea�adas, como o Sealyham. Ele relembra uma conversa que teve com um veterin�rio em um clube de criadores de c�es alguns anos atr�s "e ele estava dizendo, confidencialmente, que existem cerca de seis ou sete ra�as que ele gostaria que desaparecessem porque elas causam mais problemas do que valem".

Quem sabe dizer se cachorros encantadores como o Old English Sheepdog, o Sealyham terrier e o Wolfhound irland�s poder�o, talvez em breve, ser inclu�dos na lista de curiosidades hist�ricas extintas, junto com tantos outros.

Zaria Gorvett � jornalista s�nior da BBC Future. Seu perfil no Twitter � @ZariaGorvett.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.

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