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Covid: 3 certezas e 3 d�vidas sobre o futuro das vacinas, segundo cientista brasileira de Oxford

Em confer�ncia com infectologistas, m�dica Sue Ann Costa Clemens analisou como imuniza��o contra coronav�rus evoluiu nos �ltimos meses e quais s�o pr�ximos desafios nos esfor�os para dar fim � pandemia.


23/12/2021 08:45 - atualizado 23/12/2021 12:02

Profissional da saúde segura seringa e ampola com vacina
Vacina��o precisa avan�ar pelo mundo inteiro para que deixemos de ser 'celeiros de novas variantes', avalia cientista brasileira (foto: Getty Images)

S� nos Estados Unidos at� novembro de 2021, a vacina��o contra a covid-19 salvou 1,1 milh�o de vidas, evitou 10 milh�es de hospitaliza��es e preveniu 35 milh�es de infec��es pelo coronav�rus.

Foi com esse dado, rec�m-divulgado pelo Fundo Commonwealth, que a m�dica brasileira Sue Ann Costa Clemens iniciou sua apresenta��o por videoconfer�ncia durante o Congresso Brasileiro de Infectologia, realizado entre os dias 14 e 17 de dezembro em Goi�nia.

A especialista analisou, durante cerca de uma hora, o progresso obtido nos �ltimos meses com as vacinas contra a covid-19 e quais s�o as perspectivas futuras nessa �rea.


"Em poucos meses, conseguimos realizar treinamentos de profissionais, criar toda uma infraestrutura, acelerar a transfer�ncia de tecnologias e aprimorar os caminhos regulat�rios de novos produtos. Que consigamos manter esses aprendizados para os pr�ximos anos", disse.

Diretora e uma das fundadoras do Programa de Mestrado em Vacinologia da Universidade de Siena, na It�lia, Clemens tamb�m � professora de Sa�de Global na Universidade de Oxford, no Reino Unido, e atua no Departamento Cl�nico e de Rela��es Internacionais do Instituto Carlos Chagas, no Rio de Janeiro.

A m�dica ainda � conselheira s�nior de desenvolvimento de vacinas da Funda��o Bill e Melinda Gates e esteve envolvida diretamente na cria��o de imunizantes contra o rotav�rus e o HPV.

Durante a atual pandemia, ela atua como diretora do Grupo de Vacinas Oxford-Brasil e foi uma das coordenadoras dos testes cl�nicos que comprovaram a efic�cia e a seguran�a da vacina de AstraZeneca/Universidade de Oxford. Parte desses estudos foram, inclusive, realizados no nosso pa�s.

Segundo a an�lise da especialista durante o evento, a vacina��o contra a covid trouxe uma s�rie de aprendizados e legados, como a cria��o de centros de pesquisa cl�nica em v�rias partes do mundo e os conhecimentos sobre a combina��o de diferentes tecnologias, mas ainda restam muitos desafios pela frente — como a necessidade de ampliar a produ��o de doses e proteger toda a popula��o mundial.

Como chegamos at� aqui?

Clemens come�ou sua palestra lembrando de duas crises globais de sa�de recentes: a pandemia de H1N1, em 2009, e a epidemia de ebola, que acometeu alguns pa�ses africanos a partir de 2014.

"Nesses dois casos, surgiram esfor�os para criar vacinas, mas os produtos chegaram um pouco tarde ou enfrentaram problemas na fase de produ��o e regula��o", analisou.

"Mas, quando pensamos particularmente no ebola em 2014, vemos que esse epis�dio ajudou a conscientizar o mundo sobre a necessidade de investir em tecnologia e inova��o para evitar epidemias e pandemias", destacou.

Como exemplo dessa maior preocupa��o sanit�ria, a m�dica citou duas a��es globais que ocorreram nos �ltimos anos. Primeiro, a publica��o da lista de doen�as priorit�rias da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) a partir de 2015.

Esse documento, atualizado de tempos em tempos, permitiu um foco maior nos agentes infecciosos mais preocupantes, para os quais devem ser pesquisados m�todos de preven��o e tratamento.

O segundo passo fundamental foi a cria��o em 2017 do Centro de Preparo e Inova��es para Epidemias (Cepi, na sigla em ingl�s).

"A partir da�, tivemos uma maior conscientiza��o de governos e institui��es de que precis�vamos acelerar o desenvolvimento de vacinas para pat�genos com potencial epid�mico", contextualizou a especialista.


Campanha de conscientização sobre o ebola na Libéria
Ebola sinalizou ao mundo de que algo precisava ser feito para lidar com futuras epidemias e pandemias, avalia Clemens (foto: Getty Images)

Clemens tamb�m lembrou que uma das grandes barreiras na hora de pesquisar novos imunizantes � a dificuldade em fazer os testes cl�nicos maiores, que envolvem at� dezenas de milhares de volunt�rios, o investimento de milh�es de d�lares e uma enorme infraestrutura.

Para responder � pandemia de covid-19 e desenvolver solu��es em tempo recorde, foi necess�rio atacar esse problema.

"Algumas institui��es passaram a financiar a organiza��o de centros de pesquisa em v�rias partes do mundo. Em quatro meses, conseguimos treinar e estabelecer 22 locais para os testes cl�nicos em sete pa�ses da Am�rica Latina", contou.

"E foram esses centros que ajudaram o mundo a validar as vacinas e passar a produzir as doses que foram usadas nos �ltimos meses", completou Clemens.

A m�dica destacou que, no caso da vacina da AstraZeneca, o processo de negocia��o para trazer a pesquisa cl�nica para o Brasil come�ou em abril de 2020. Os testes se iniciaram em meados de julho daquele ano e, em novembro, a efic�cia e a seguran�a do produto estava comprovada.

"Em cerca de oito meses, conseguimos validar um imunizante que viria a se tornar um dos maiores fornecedores do Covax Facility [instrumento internacional de compra e distribui��o de doses para os pa�ses mais pobres]", disse.

As tr�s certezas

Lan�ar e manter uma campanha mundial de vacina��o contra uma doen�a nova, que mata milhares todos os dias, foi um imenso desafio.

E Clemens aponta que todo esse processo, que continua em andamento, trouxe uma s�rie de aprendizados e exigiu adapta��es no meio do caminho.

Um primeiro fato que a m�dica citou foram as amplia��es do tempo de intervalo entre as duas doses e os esquemas heter�logos (em que um indiv�duo toma AstraZeneca e depois Pfizer, por exemplo).

"Quando desenvolvemos vacinas, n�o basta provar a efic�cia. Precisamos acompanhar a persist�ncia de anticorpos, a efetividade das doses e eventualmente at� realizar adapta��es na campanha", contou.

"Aumentar o intervalo entre a primeira e a segunda dose, por exemplo, foi muito importante, pois conseguimos vacinar mais pessoas num momento de escassez."

O Brasil mesmo se utilizou desta estrat�gia na virada do primeiro para o segundo semestre deste ano: as duas doses de Pfizer ou de AstraZeneca chegaram a ser aplicadas com quase tr�s meses de intervalo. Desse modo, foi poss�vel resguardar rapidamente, mesmo que de forma parcial, uma grande parcela da popula��o adulta.

Um segundo aspecto que virou uma certeza nos �ltimos meses foi a necessidade de doses de refor�o.

Os primeiros contemplados com uma terceira vacina foram os idosos e os indiv�duos com o sistema imune comprometido, mas a chegada de novas variantes (caso de Delta e �micron) acelerou a necessidade de garantir uma prote��o extra de praticamente todos os grupos.

"A efetividade das duas doses de vacina contra a �micron � mais baixa, fica na casa dos 40%. Uma terceira dose aumenta essa taxa para 70% ou 80%. Ent�o, se houver possibilidade de dar o refor�o, � o melhor a ser feito", analisou Clemens.


Fila para vacinação contra a covid
Distribui��o desigual das vacinas contra a covid-19 pelo mundo � um dos principais gatilhos para o surgimento de novas variantes (foto: Getty Images)

Atualmente, no Brasil, a terceira dose � garantida a todas as pessoas com mais de 18 anos. De acordo com os �ltimos an�ncios do Minist�rio da Sa�de, esse refor�o deve ser dado quatro meses depois da imuniza��o prim�ria completa (com duas doses, no caso de quem tomou CoronaVac, Pfizer e AstraZeneca, ou com uma dose, no caso de quem recebeu Janssen).

A �ltima certeza da lista tem a ver com a desigualdade na distribui��o de vacinas pelo planeta.

"Esses dias eu estava fazendo entrevistas para um projeto com candidatos que s�o da Eritreia, na �frica, e eles me disseram que a vacina��o contra a covid-19 praticamente n�o come�ou por l�", contou.

"Enquanto n�o vacinarmos todo mundo, continuaremos como um celeiro de novas variantes. Foi justamente isso o que a gente acabou de ver com o surgimento da �micron", alertou a pesquisadora.

As tr�s d�vidas

Por mais que a ci�ncia tenha encontrado muitas respostas em tempo recorde para lidar com a pandemia, existem algumas d�vidas importantes sobre o futuro da vacina��o contra a covid-19.

Na vis�o da cientista brasileira, a primeira e a segunda perguntas dessa lista est�o relacionadas ao tempo de prote��o das vacinas e se ser� necess�rio realizar campanhas anuais de imuniza��o, a exemplo do que acontece com a gripe.

"A gente ainda precisa entender a din�mica das variantes, se alguma delas vai se tornar a dominante e como esse cen�rio vai se modificar daqui pra frente", avaliou.

"� poss�vel que n�s tenhamos uma vacina��o anual para algumas faixas et�rias, mas n�o para todas. Da� resta saber se precisaremos adaptar as doses e quanto tempo isso levaria", complementou.

E essas incertezas todas s�o fruto da falta de tempo suficiente para medir quanto dura a imunidade ap�s a vacina��o, ou como interagem as c�lulas de defesa e os anticorpos para nos proteger da infec��o pelo coronav�rus (ou de suas formas mais graves) depois de meses ou anos.


Mulher é vacinada contra a covid
Terceira dose j� est� indicada no Brasil para toda a popula��o com mais de 18 anos (foto: Getty Images)

"Estamos estudando cada plataforma vacinal, quanto tempo dura a prote��o, qual � a persist�ncia de anticorpos ao longo do tempo…", listou Clemens.

Para fechar, a �ltima d�vida pode representar at� uma esperan�a: ser� que � poss�vel utilizar apenas meia dose de vacina como refor�o?

Clemens explicou que os estudos nessa �rea est�o em andamento. Caso as respostas sejam positivas, essa poder� ser uma das melhores not�cias dos pr�ximos meses.

"Com meia dose, podemos vacinar um maior n�mero de pessoas muito mais r�pido", projetou a m�dica.

"Isso ampliaria a nossa capacidade num momento em que h� escassez de infraestrutura, material e m�o de obra", emendou.

"Estamos correndo atr�s para aumentar a produ��o e vacinar o mundo, especialmente a �frica, com muito mais rapidez", finalizou.

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