(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas LOVE IS IN THE AIR

O que � a oxitocina, o 'horm�nio do amor' que nos deixa mais soci�veis

Uma pequena prote�na, �s vezes chamada de "horm�nio do amor", pode desempenhar um papel muito maior nas nossas rela��es com os outros


24/03/2022 08:38 - atualizado 24/03/2022 10:45


Amigos se encontram
(foto: Getty Images)

O que acontece no c�rebro quando o amor est� no ar? Por muitos anos, os bi�logos responderam: "oxitocina!" Essa pequena prote�na, com apenas nove amino�cidos de comprimento, � �s vezes chamada de "horm�nio do amor" porque est� relacionada � forma��o de casais, cuidados maternais e outros comportamentos sociais positivos e amorosos.

Mas, recentemente, neurocientistas v�m revisando suas impress�es sobre a oxitocina. Experimentos com camundongos e outros animais de laborat�rio indicam que, em vez de agir de gatilho em prol do bom comportamento social, essa mol�cula pode simplesmente agu�ar a percep��o de indica��es sociais, de forma que os animais possam aprender a dirigir seu comportamento com maior precis�o.

"Aparentemente, n�o � algo simples e direto como 'oxitocina � igual ao amor'", afirma G�l D�len, neurocientista da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Se algo similar for v�lido sobre os seres humanos, essa descoberta pode, entre outras coisas, trazer uma dimens�o inesperada para as tentativas de tratamento de dist�rbios sociais como o autismo, alterando o sistema de oxitocina.

Os neurocientistas acreditavam h� muito tempo que a libera��o de oxitocina no c�rebro poderia ser acionada por intera��es sociais com certos indiv�duos, como filhos ou parceiros, que s�o importantes para n�s e para outros animais.

E, quando os pesquisadores experimentalmente bloquearam a a��o da oxitocina, os camundongos perderam a capacidade de reconhecer indiv�duos socialmente importantes. Isso indica que a mol�cula desempenha papel importante no aprendizado social, embora os pesquisadores n�o saibam exatamente como a oxitocina realiza o seu trabalho.

Mas isso est� mudando, gra�as aos avan�os dos m�todos neurocient�ficos que, nos �ltimos anos, permitiram aos pesquisadores identificar e registrar a atividade de neur�nios produtores de oxitocina individuais nas profundezas do c�rebro. E esses registros contam uma hist�ria diferente da vis�o antiga - uma diferen�a sutil, mas importante.

No principal centro olfativo do c�rebro de ratos, por exemplo, medi��es demonstram que a oxitocina inibe o disparo aleat�rio de c�lulas nervosas, de forma a permitir que os sinais neurais de odores reais se sobressaiam de forma mais proeminente. Isso ocorre de forma reversa, excitando as c�lulas nervosas conhecidas como c�lulas granulares, que inibem outras c�lulas nervosas.


Mãe abraça a filha
A oxitocina pode ajudar o nosso c�rebro a concentrar-se nos sinais mais importantes e eliminar o ru�do, como se sintonizasse os sons dos nossos filhos (foto: Getty Images)

Robert Froemke, neurocientista da Faculdade de Medicina Grossman da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, e coautor de um estudo em conjunto com W. Scott Young, usa a forma como ele ouve seu beb� chorar sobre o ru�do de fundo como analogia para a clareza criada pela oxitocina no c�rebro.

"Tenho dois filhos pequenos", ele conta. "Mesmo a dois quartos de dist�ncia, com o ar condicionado ligado e dormindo profundamente, eu acordo assim que o beb� come�a a chorar e logo estou cuidando dele, com as pupilas totalmente dilatadas."

A oxitocina tamb�m aumenta a rea��o do sistema de recompensas do c�rebro, segundo Yevgenia Kozorovitskiy, neurocientista da Universidade do Noroeste, nos Estados Unidos. Este efeito pode alterar o comportamento do animal, fazendo com que ele deixe de buscar coisas novas no ambiente para concentrar-se nas recompensas sociais.

Entre os roedores conhecidos como arganazes-do-campo, por exemplo, essa mudan�a facilita a forma��o de casais - e essa esp�cie intriga os pesquisadores pelo seu comportamento monog�mico, que � raro em roedores. Entre outros efeitos, algumas das c�lulas sens�veis � oxitocina relacionam o odor do parceiro ao sistema de recompensas.

"A forma��o de casais � como se tornar adicto de um parceiro", afirma Young. "O parceiro �, por si s�, uma recompensa."

Roedores prom�scuos, como os camundongos e os arganazes-do-prado, n�o possuem esses receptores de oxitocina, mas � fascinante ver que eles est�o presentes nos c�rebros humanos, o que sugere que talvez as nossas rea��es sejam mais pr�ximas dos arganazes-do-campo que dos camundongos. E a prima molecular da oxitocina, a vasopressina, tamb�m influencia a forma��o de casais.


Ratosq
Como em algumas esp�cies de roedores, a forma��o de casais pode nos tornar %u201Cadictos%u201D dos nossos parceiros, reduzindo o comportamento prom�scuo (foto: Getty Images)

Mas existe aqui uma complica��o adicional importante: se o papel real da oxitocina � esclarecer as percep��es sensoriais das intera��es sociais e n�o apenas promover a socializa��o, a subst�ncia provavelmente causa efeitos diferentes, dependendo do contexto. Young observa, por exemplo, que a oxitocina amplia os cuidados maternos dos camundongos (claramente um comportamento social positivo), mas tamb�m aumenta as agress�es maternas contra indiv�duos de fora da fam�lia.

Al�m disso, as f�meas de arganazes-do-campo reagem de forma diferente � oxitocina, dependendo se j� formaram um casal ou n�o, segundo as conclus�es de Young e seus colegas. Em f�meas que n�o formaram casais, a oxitocina reduz o ru�do no sistema de recompensas, permitindo que elas aprendam a gostar do odor de um potencial parceiro. Mas, em f�meas que j� t�m um parceiro, a mol�cula aumenta o volume do sistema de recompensas para fazer com que o parceiro seja uma recompensa maior, de forma a reduzir a agress�o contra ele.

Algo similar tamb�m pode se aplicar �s pessoas. Em um estudo de 2012, 30 homens em relacionamentos monog�micos mantiveram dist�ncia social levemente maior de uma mulher atraente desconhecida quando receberam oxitocina por via intranasal que ao receberem placebo. Esse efeito n�o foi observado em um grupo similar de 27 homens solteiros.

A depend�ncia da oxitocina com rela��o ao contexto pode dificultar os esfor�os para seu uso no tratamento de dist�rbios do espectro autista. Alguns terapeutas j� usam sprays intranasais de oxitocina para tratar pessoas com autismo, com base na teoria de que ela dever� aumentar sua rea��o aos est�mulos sociais. Mas um grande teste cl�nico recente n�o conseguiu demonstrar esse efeito.

Young afirma que isso n�o � surpreendente, pois o teste n�o controlou o contexto em que os pacientes receberam os sprays. Se uma crian�a estiver sofrendo bullying na escola, por exemplo, o tratamento proposto poder� n�o ajudar, mas sim intensificar a experi�ncia negativa, segundo ele. Young acredita que eventuais terapias com base em oxitocina precisariam ser administradas cuidadosamente, na seguran�a de uma sess�o de terapia.

Os neurocientistas tamb�m observam que, embora a oxitocina claramente desempenhe um papel importante para regular os comportamentos sociais, como a forma��o de casais e os cuidados com os filhos, ela n�o � o �nico participante. "Apaixonar-se � uma experi�ncia que envolve todo o corpo e o c�rebro", afirma Kozorovitskiy. "Ela inclui elementos sensoriais e cognitivos e a mem�ria � importante. A oxitocina � um dentre os muitos moduladores que mediam todas essas mudan�as? Sim, com certeza. Mas podemos creditar tudo � oxitocina? Esta � certamente uma simplifica��o excessiva."

*Este artigo foi publicado originalmente na revista jornal�stica independente Knowable, da editora norte-americana Annual Reviews, e republicado pelo site BBC Future. Leia a vers�o original (em ingl�s).

Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)