
Um tamandu� albino foi encontrado recentemente no Mato Grosso do Sul. Com pelagem clara e olhos avermelhados, foi batizado com o nome de Alvin.
Segundo especialistas, ele � o �nico tamandu�-bandeira albino conhecido no planeta e sua exist�ncia pode ajudar a explicar como o desmatamento do Cerrado afeta a esp�cie.
A descoberta ocorreu em agosto deste ano e est� mobilizando pesquisadores do Instituto de Conserva��o de Animais Silvestres (ICAS), que iniciou um estudo cient�fico sobre o bicho e sua adapta��o ao Cerrado.
Com apenas oito meses de vida, ele foi encontrado por funcion�rios de uma fazenda particular na regi�o de Tr�s Lagoas, cidade a cerca de 330 km da capital, Campo Grande. Ainda filhote, ele estava com a m�e, que o carregava nas costas - a f�mea costuma cuidar do filhote por at� 10 meses.
Sua m�e, no entanto, tinha caracter�sticas comuns ao tamandu�-bandeira: pelagem acinzentada que serve para camuflar o animal em meio � vegeta��o do Cerrado.
O tamandu�-bandeira, mam�fero tido como um dos s�mbolos da rica fauna do bioma, est� em risco de extin��o por causa da ca�a e tamb�m da constante destrui��o da vegeta��o que lhe serve como habitat.
Estima-se que, nos �ltimos 10 anos, a esp�cie tenha perdido 30% da popula��o, que est� presente em todo o Cerrado brasileiro, mas tamb�m em outras �reas na Am�rica do Sul.
Nesse contexto de risco, Alvin ocupa uma posi��o ainda mais rara: n�o h� not�cias de que existam outros albinos como ele.

O albinismo � uma desordem gen�tica que limita a produ��o de melanina, gerando animais com pelagem de colora��o clara ou aloirada.
O albinismo pode atingir todas as esp�cies, mas � extremamente raro - e, dado o tamanho da fauna de um bioma extenso como o Cerrado, encontrar um animal albino depende muito da sorte.
Nesse cen�rio, a exist�ncia de Alvin est� envolta em alguns mist�rios que os cientistas v�o tentar desvendar nos pr�ximos meses.
O primeiro � que ele n�o foi o primeiro tamandu� albino a aparecer na regi�o de Tr�s Lagoas.
Um ano antes, em agosto de 2021, outro indiv�duo com pelagem aloirada como ele foi encontrado por funcion�rios da mesma fazenda.
"Quando n�s chegamos l�, ele j� estava morto, mas conseguimos coletar amostras gen�ticas que foram enviadas para a an�lise em laborat�rio", explica a m�dica veterin�ria D�bora Yogui.

Segundo a bi�loga Nina Attias, pesquisadora do ICAS, � prov�vel que esse primeiro tamandu� albino seja irm�o de Alvin, que nasceu meses depois.
Para comprovar essa tese ser�o necess�rios testes gen�ticos com material coletado dos dois animais.
"Dois tamandu�s albinos aparecerem na mesma fazenda � como se dois raios ca�ssem no mesmo lugar. Por isso, n�s acreditamos que sejam irm�os", explica Attias.
Para Attias, por�m, h� um problema nessa configura��o familiar: os tamandu�s n�o s�o monog�micos, ou seja, eles acasalam e produzem filhotes com v�rios parceiros ao longo da vida.
"Para um nascer albino, � necess�ria uma combina��o dos genes do pai e da m�e. � uma quest�o de acaso mesmo, muito dif�cil de acontecer", explica a bi�loga.
Ent�o, para os dois serem irm�os e albinos, � mais prov�vel que eles sejam filhos dos mesmos pais. "Teria que ser uma coincid�ncia muito grande nascerem dois tamandu�s albinos de pais diferentes em uma mesma fazenda", explica Attias.
Nesse ponto entra outro fator importante que pode explicar o fen�meno: o desmatamento do Cerrado.
Segundo a bi�loga, a destrui��o do bioma pode levar � "endogamia" da esp�cie. Ou seja, com menos op��es de parceiros para acasalar, os tamandu�s teriam atingido um grau menor de diversidade gen�tica, aumentando a chance de dois indiv�duos albinos nascerem na mesma regi�o em per�odo curto de tempo.

"Muito provavelmente esse decl�nio populacional e isolamento desse bichos t�m a ver com o alto grau de degrada��o do Cerrado no Mato Grosso do Sul", diz.
Um estudo cient�fico recente apontou que, no Mato Grosso do Sul, existem apenas 16% da vegeta��o original do Cerrado. O restante foi destru�do, principalmente para dar lugar � agropecu�ria.
Desmatamento do Cerrado
Esse desmatamento ocorre em grande parte do bioma, considerado a savana mais biodiversa do planeta, com mais de 14 mil plantas, al�m de uma rica fauna silvestre.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que o Cerrado perdeu 10.689 quil�metros quadrados de vegeta��o entre agosto de 2021 e julho deste ano - proporcionalmente, ele sofre mais com o desmatamento do que a Amaz�nia.
De acordo com o MapBiomas, plataforma que monitora o uso do solo no Brasil, 45,4% do Cerrado j� foi destru�do para dar lugar � agropecu�ria, principalmente para o cultivo de soja e milho.
Como um albino sobrevive
O estudo sobre tamandu� Alvin tamb�m pode descobrir outro mist�rio: como um animal albino consegue sobreviver no Cerrado?
Os cientistas colocaram um colar de monitoramento em Alvin. Toda sua movimenta��o est� sendo registrada.
"A teoria ecol�gica fala que os bichos albinos t�m mais dificuldades adaptativas e de sobreviv�ncia. Ele sofre mais com o calor por causa da pelagem, e tamb�m � mais dif�cil para ele se camuflar na vegeta��o. Praticamente n�o existem dados sobre os desafios que os albinos enfrentam para sobreviver", explica Attias.
Para Alvin, talvez seja mais dif�cil fugir dos grandes predadores, como as on�as parda e pintada. Essa preda��o, inclusive, � importante para a vida no Cerrado: esses grandes carn�voros dependem da exist�ncia do tamandu�-bandeira para se alimentar.
J� outros servem de comida para o tamandu�: cada animal come cerca de 10 mil formigas por dia, al�m de milhares de cupins.
Al�m de rara, a vida de Alvin n�o ser� nada f�cil.