Dicion�rio explica a rep�blica brasileira desde a proclama��o at� hoje
Organizado por Heloisa Starling e Lilia Schwarcz, livro re�ne 51 verbetes de historiadores e privilegia linguagem acess�vel, para n�o enclausurar o conhecimento na academia
postado em 02/11/2019 06:00 / atualizado em 02/11/2019 09:14
Gravura Gloria Patriae (1914), de Carlo de Servi, Instituto Geogr�fico e Hist�rico da Bahia. Na imagem, a Rep�blica � uma jovem que ilumina a tela, que ainda traz o corpo do Bar�o do Rio Branco (foto: Cia das Letras/Reprodu��o
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Entre 1835 e 1836, Bel�m do Par� foi governada pelos cabanos, como eram chamados aqueles que viviam em cabanas pr�ximas a rios. Durante julho e novembro de 1839, Laguna, em Santa Catarina, foi a cidade-sede da Rep�blica Juliana, um estado federado � Rep�blica Rio-Grandense, institu�da tr�s anos antes.
Em 1950, camponeses no Norte de Goi�s criaram um movimento de resist�ncia armada contra a expropria��o da terra nos povoados de Formoso e Trombas – a experi�ncia comunit�ria foi at� 1964, quando o golpe militar a desmantelou.
Tais movimentos populares, em diferentes regi�es do Brasil, foram reprimidos, resultando em mortes e pris�es. Mas, no per�odo de tempo que duraram, representaram tamb�m experi�ncias republicanas.
“No sentido mais estreito, rep�blica � a boa gest�o da coisa p�blica. No sentido mais largo, � uma comunidade de cidad�os. Se voc� pensar no Brasil de hoje, rep�blica � uma esp�cie de rascunho sem forma, uma palavra oca, sem significado.
S� que, ao mesmo tempo, temos uma hist�ria muito forte sobre a tradi��o republicana”, afirma a historiadora e cientista pol�tica Heloisa Murgel Starling, professora titular da UFMG.
Ao lado da historiadora e professora titular da USP Lilia Moritz Schwarcz, sua parceira em diferentes publica��es que procuram pensar o Brasil, Heloisa organizou o Dicion�rio da Rep�blica (Companhia das Letras).
Rec�m-chegada �s livrarias, marcando os 130 anos da Proclama��o da Rep�blica (15 de novembro de 1889), a obra re�ne 51 textos de 50 especialistas em filosofia, hist�ria, ci�ncia pol�tica, antropologia, direito, sociologia e jornalismo.
“Voc� tem muitas obras que contam a hist�ria do per�odo republicano no Brasil, mas nada (at� ent�o) que discutisse a quest�o da rep�blica”, afirma Heloisa a respeito do ineditismo do livro. Os textos, objetivos, acess�veis, s�o apresentados como verbetes.
Cada um trata de um tema, seja de ordem mais conceitual (origens, matrizes, princ�pios), seja com focos mais factuais (diferentes movimentos e constitui��es). A leitura � fluida, pois o livro se distancia do hermetismo que em geral � caracter�stica dos ensaios acad�micos.
�leo sobre tela 'Proclama��o da Rep�blica' (1893), de Benedito Calixto, pertencente ao acervo da Pinacoteca do Estado de S�o Paulo (foto: Cia das Letras/Reprodu��o)
“Qualquer pessoa interessada no assunto vai poder apreciar o livro sem reclamar, sem falar que o 'povo da universidade � muito chato'. N�o h� sentido hoje em voc� produzir conhecimento e ele ficar preso � universidade”, afirma a professora.
Para a obra, as organizadoras buscaram especialistas de todo o pa�s. H� textos de pensadores como Kenneth Maxwell (Conjura��o Mineira), Marilena Chau� (Liberdade: Vida �tica e a��o pol�tica) e Jos� Murilo de Carvalho (Pensamento republicano no Segundo Reinado).
“Todos os que est�o no livro t�m trabalhos publicados sobre o tema. Mas, al�m dos grandes nomes, chamamos tamb�m gente muito jovem que est� come�ando a produzir de maneira mais intensa. � um arco interessante, que renova”, diz Heloisa. O conte�do vai at� os tempos atuais, com o chamado fim do primeiro ciclo da Terceira Rep�blica (iniciado com a Constitui��o de 1988).
CONJURA��O
O conceito de rep�blica desembarca no Brasil no s�culo 18. “Ele vai animar uma s�rie de movimentos, inclusive o das Minas, j� que havia a ideia da rep�blica dentro da Conjura��o Mineira (1789)”, diz Heloisa, lembrando que a rep�blica foi proclamada no Brasil pela primeira vez em Pernambuco, em 1817.
Na segunda metade do s�culo 19, ela comenta, a ideia come�a a sofrer “uma esp�cie de defla��o.” Tanto que, quando a rep�blica � instalada, em 15 de novembro, “ela chega vazia da tradi��o do conte�do revolucion�rio. passa a ser vista como uma forma de governo, sem significado.”
Para a historiadora, tal pensamento n�o mudou muito ao longo desses 130 anos. “Em um pa�s de desigualdade t�o grande, muita gente deixou de lado o pensamento republicano para se concentrar na democracia. A rep�blica vai definir o que queremos como bem comum: meio ambiente, educa��o, sa�de. J� o princ�pio da democracia � a igualdade. N�o � poss�vel ter hoje uma rep�blica sem democracia, mas tamb�m n�o � poss�vel ter uma democracia sem rep�blica”, observa.
O dicion�rio � um caminho para clarear tais quest�es. “Se voc� pensar na tradi��o, uma coisa que animou todos os personagens que pensaram a rep�blica foi a ideia de construir um projeto de Brasil e imaginar o futuro. O pa�s est� vivendo uma situa��o sem precedentes dentro de sua hist�ria. Pela primeira vez, n�o existe um projeto para o pa�s. Com isso, os brasileiros n�o est�o vendo futuro. Diante de uma situa��o t�o nova e sombria, espero que o livro nos ajude a pensar sobre isto.”
(foto: Reprodu��o )
Dicion�rio da Rep�blica
. Organiza��o: Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling
. Companhia das Letras (520 p�gs.)
. R$ 99,90
AUTORES DEBATEM
Um debate com Heloisa Starling, Newton Bignotto, J�nia Furtado e Pauliane Braga (todos autores de textos do livro) vai marcar o lan�amento de Dicion�rio da Rep�blica em Belo Horizonte. No pr�ximo dia 12 (ter�a-feira), �s 19h30, no Conservat�rio de M�sica da UFMG (Avenida Afonso Pena, 1.534, Centro), o livro ser� lan�ado na programa��o do projeto Sempre um Papo. Al�m desses, outros autores mineiros que integram a colet�nea tamb�m autografar�o a obra: Paula Lima, Gabriel Pancera, Helton Adverse, Marcela Telles e Bruno Viveiros. O evento tem entrada franca.
(foto: Reprodu��o )
TRINCA DE ASES
Incans�veis, Heloisa Starling e Lilia Schwarcz s�o organizadoras de outro t�tulo rec�m-lan�ado. Em Tr�s vezes Brasil (Bazar do Tempo, 200 p�ginas, R$ 58; foto), as duas trabalharam na obra de tr�s refer�ncias da historiografia brasileira – Alberto da Costa e Silva, Evaldo Cabral de Mello e Jos� Murilo de Carvalho. A partir de ensaios, entrevistas, cronologias e bibliografias, a obra apresenta um panorama cr�tico da atua��o desses historiadores.
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