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Estado de Minas

Patr�cia Melo lan�a em BH 'Mulheres empilhadas', sobre feminic�dio

Obra tem protagonista advogada cujo pai matou a m�e. Trama transcorre no Acre e inclui tribo de mulheres que se vingam por si mesmas. Autora participa do Sempre um Papo nesta quinta (7)


postado em 06/11/2019 04:00 / atualizado em 05/11/2019 20:22

(foto: Kyrhian Balmelli/Divulgação)
(foto: Kyrhian Balmelli/Divulga��o)
 
Empilhar � o ato de amontoar ou ajuntar coisas. A pilha, por si s�, � algo desvalorizado. Durante o processo de pesquisa e produ��o de seu livro mais recente, que tem como eixo central o feminic�dio, a escritora paulista Patr�cia Melo, uma das autoras mais premiadas da literatura contempor�nea brasileira, ficou impressionada em como praticamente todas as hist�rias eram similares.
 
“Parece que a gente est� lendo o mesmo caso o tempo todo. Come�a em casa e sempre est� ligado a algu�m em quem voc� confia ou confiou em determinado momento. A rela��o come�a a ficar violenta, inicialmente verbalmente e, depois, fisicamente, at� que, de repente, a mulher � morta. E � uma hist�ria atr�s da outra, um volume t�o grande de v�timas. Por isso veio a imagem da pilha de cad�veres na minha cabe�a. A matan�a � grande, parece uma epidemia”, afirma.
 
Da� nasceu o t�tulo Mulheres empilhadas (Editora Leya), que Patr�cia Melo lan�a nesta semana no Brasil (a escritora vive na Su��a, ao lado do marido, o maestro John Neschling). Nesta quinta-feira (7), ela autografa o livro e comenta o tema com o p�blico no projeto Sempre um Papo, no Pal�cio das Artes, em Belo Horizonte.
 

''Parece que a gente est� lendo o mesmo caso o tempo todo. Come�a em casa e sempre est� ligado a algu�m em quem voc� confia ou confiou em determinado momento. A rela��o come�a a ficar violenta, inicialmente verbalmente e, depois, fisicamente, at� que, de repente, a mulher � morta. E � uma hist�ria atr�s da outra, um volume t�o grande de v�timas''

Patr�cia Melo, escritora

 
 
Envolvente e bem-escrito, o livro � o primeiro da autora com protagonismo feminino. Ela conta que achava importante falar de um assunto t�o duro e assustador, mas tamb�m urgente. “� algo que temos que falar. No Brasil, matam-se 11 mulheres por dia. S�o n�meros que assombram, que nos incomodam, nos intimidam. � uma estat�stica inaceit�vel. Dentro desta sociedade violenta em que vivemos, o feminic�dio � a ponta do iceberg. Mas,  quanto mais a gente debater isso com profundidade, mais vamos tentar encontrar um mecanismo para erradic�-lo”, diz.
 
Por abordar uma triste realidade, Patr�cia quis mesclar a trama com um pouco de f�bula. Mulheres empilhadas � uma fic��o que pincela casos reais. No enredo, uma jovem advogada paulistana, tentando fazer as pazes com seu pr�prio passado, larga tudo e vai ao Acre acompanhar um mutir�o de julgamentos de casos de mulheres assassinadas, na maioria das vezes, por homens conhecidos seus – pais, tios, av�s, maridos, namorados, ex-maridos. Enquanto v� passar diante dos seus olhos os mais diversos casos de viol�ncia contra a mulher, a protagonista descobre um pa�s onde a impunidade se imp�e quase como uma lei.

FLORESTA

A op��o pelo Acre como cen�rio da trama se deve n�o s� ao fato de ser o estado com o maior �ndice de feminic�dios do pa�s, mas tamb�m por estar imerso na floresta. “Li uma mat�ria de jornal sobre esses mutir�es de feminic�dio n�o resolvidos e vi que o Acre estava tendo o melhor desempenho, apesar de ter esses n�meros alarmantes. E, como eu ainda desejava trazer algo mais fantasioso, on�rico, para dar uma quebrada na dureza da realidade, queria que a hist�ria se passasse na floresta”, explica.
 
A obra se divide em tr�s partes. O �ndice num�rico (de 1 a 11) apresenta casos reais retirados das p�ginas dos jornais; o �ndice alfab�tico (de A a Z) traz a trama central com a advogada e seus dilemas e descobertas, enquanto o �ndice de alfabeto grego (de alfa a et�) se dedica aos encontros da protagonista com as icamiabas, tribo de guerreiras amaz�nicas. Junto delas, acaba formando uma sociedade de mulheres que perseguem, julgam e matam os criminosos que escapam da Justi�a na vida real.
 
“Atrav�s desse rituais de bebidas alucin�genas, a personagem principal acaba mergulhando na sua pr�pria hist�ria e descobre quest�es que estavam bem escondidas ou de que n�o se lembrava mais, como os detalhes do assassinato da pr�pria m�e pelo pai, quando ela era crian�a. Ela tem uma trajet�ria marcada pelo sil�ncio – dela mesma e da fam�lia. Ali�s, o sil�ncio � a linguagem desse mundo de viol�ncia. Tem um dito suriname de que gosto muito que afirma: 'A floresta tem respostas para perguntas que a gente nem sabe fazer ou nem fez ainda'”, comenta Patr�cia.
 
A advogada, ali�s, � a �nica do livro que n�o tem nome, uma forma escolhida pela autora para que a personagem represente todas as mulheres. “Voc� olha o perfil das v�timas e tem de tudo – negras, brancas, magras, gordas, ricas, pobres. O feminic�dio � democr�tico. E tamb�m quis que o leitor se colocasse no lugar da protagonista. Por isso a ideia de n�o nomin�-la”, pontua.
 
Patr�cia Melo n�o chegou a ir pessoalmente ao Acre. Sua pesquisa foi toda feita pela internet, em livros e  entrevistas com pessoas ligadas ao tema. Mas ela contou com uma colabora��o especial, da amiga e jornalista Emily Sasson Cohen, que foi seus olhos e seus ouvidos na floresta. Quando Emily retornou do Acre, a autora j� estava redigindo os cap�tulos finais. “Pesquisei muito, inclusive imagens de rua, da floresta, da cidade de Cruzeiro do Sul, onde se passa a hist�ria, para poder descrever aquele lugar. A grande parte do Acre que est� ali nas p�ginas � sob o meu ponto de vista. Isso � literatura. Transportar e transcender o leitor para um outro local”, afirma.
 
(foto: Reprodução)
(foto: Reprodu��o)
 
 
Mulheres empilhadas
Patr�cia Melo
LeYa Brasil (240 p�gs.)
R$ 39,90
A autora participa do Sempre um Papo nesta quinta (7), �s 19h30, na Sala Juvenal Dias do Pal�cio das Artes – Avenida Afonso Pena 1.537, Centro. 
(31) 3261-1501. 


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