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Estado de Minas

Em cartaz em BH, filme russo pr�-selecionado ao Oscar � forte candidato

'Uma mulher alta' � not�vel em seu retrato dos efeitos da guerra sobre os civis, especialmente as mulheres


postado em 29/12/2019 04:00

Iya (Viktoria Miroshnichenko) retorna do front para ser enfermeira em Leningrado. O trauma assume nela a forma de ausências e congelamentos(foto: Supo Mungam Filmes/Divulgação)
Iya (Viktoria Miroshnichenko) retorna do front para ser enfermeira em Leningrado. O trauma assume nela a forma de aus�ncias e congelamentos (foto: Supo Mungam Filmes/Divulga��o)
Leningrado, 1945: a cidade sovi�tica, atual S�o Petersburgo, sofreu durante a 2ª Guerra Mundial um longo cerco do ex�rcito nazista, no qual morreram 1,5 milh�o de pessoas, a maioria civis. O rescaldo dessa carnificina, no imediato p�s-guerra, � o palco no qual se ambienta Uma mulher alta, de Kantemir Balagov, pr�mio de dire��o na se��o Um Certo Olhar do Festival de Cannes, em cartaz em Belo Horizonte, no Cine Belas Artes (21h30). Iya (Viktoria Miroshnichenko) � enfermeira num hospital, depois de ter vivido uma experi�ncia no front que a deixou traumatizada. Atende feridos de guerra. 

Discreta, eficiente e delicada, sofre crises peri�dicas e sensa��es de aus�ncia. Por suas qualidades, ela e o filho de tr�s anos s�o estimados no hospital. No entanto, durante uma dessas crises, produz-se uma trag�dia que ter� consequ�ncias para o resto da hist�ria. Iya � a mulher alta do t�tulo, chamada de "grandona" ao longo da hist�ria. Contracena com sua amiga mais pr�xima, a baixinha Masha (Vasilisa Perelygina), tamb�m ela traumatizada por experi�ncias no front. Uma mulher alta � um filme de mulheres feridas pela guerra, mas cheias de personalidade. 

Ao contr�rio, os personagens masculinos ser�o todos fracos, quando n�o rid�culos. Mas s�o eles, tamb�m, que carregam de humanidade este filme not�vel, como � o caso de um dos pacientes, Stepan, que perdeu todos os movimentos do corpo por causa dos ferimentos em combate e reflete se vale a pena continuar a viver em tal estado. 

De certa forma, a Leningrado do p�s-guerra � como uma cidade fantasma, povoada por feridos, inv�lidos e famintos, semidestru�da e carente, tendo de se levantar penosamente do caos. Nesse ambiente, convivem a misteriosa e lac�nica Iya e sua amiga, em apar�ncia oposta, Masha, sorridente, cheia de vida, mas tamb�m de comportamento estranho, machucada em seu �mago, que tenta de qualquer forma ter um filho e luta contra uma limita��o biol�gica. Vez por outra, Iya se queixa de estar "vazia por dentro", mesmo quando gr�vida.

V�CUO 

Ela vocaliza esse grande v�cuo que se segue � cat�strofe porque Uma mulher alta � a guerra vista pelo olhar feminino. Balagov foi sensibilizado por este vi�s pela leitura do livro A guerra n�o tem rosto de mulher, da pr�mio Nobel de Literatura Svetlana Aleksi�vitch. N�o se trata de uma adapta��o, mas de filme inspirado pela leitura de um livro composto de relatos de mulheres que passaram pela experi�ncia da guerra. Do ponto de vista est�tico, Uma mulher alta � obra bastante exigente e rigorosa deste disc�pulo de Aleksei Sokurov. 

A fotografia, em tons ocre e verde, insinua algo de doentio, mas do qual a esperan�a n�o est� de todo ausente, embora seja problem�tica. � tamb�m filme de muitos sil�ncios, em que di�logos permanecem em suspenso � espera da resposta do interlocutor. 

H� aus�ncias, como em Iya, e vazios, como em Masha, ou em ambas. Tudo a ser preenchido de maneira hesitante quando se descobre que, passada a euforia pelo fim de uma guerra que durou seis anos e produziu milh�es de mortos, h� tudo por reconstruir e n�o se sabe bem como come�ar. Pior: h� toda uma gera��o destru�da e que n�o poder� se reerguer. 

Os mortos, por certo, mas tamb�m mortos-vivos, inv�lidos e desesperados, como Stepan.Em meio a tudo isso, h� o relacionamento entre Iya e Macha, que atravessa v�rias fases ao longo da hist�ria, do afeto � desconfian�a m�tua e retornando ao afeto de novo. 

O filme n�o deixa tamb�m de insinuar que, com a liquida��o violenta da fam�lia tradicional em virtude da guerra, abrem-se possibilidades para novos arranjos. Nem por isso se recai no otimismo clich� e cl�ssico sobre portas que se fecham para que janelas se abram. Tudo � custoso, dif�cil, traum�tico e deixa muita gente para tr�s. A trag�dia da guerra em nenhum momento � minimizada e nenhum povo a sofreu com tanta intensidade quanto o sovi�tico, que perdeu 24 milh�es de vidas ao longo do conflito, sendo 18 milh�es civis.O filme disputa uma vaga na categoria do Oscar de melhor filme internacional. � forte candidato.  


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