
Rodrigo Ant�nio Viana Telles Velloso � uma das pessoas mais conhecidas e queridas de Santo Amaro da Purifica��o, no Rec�ncavo Baiano. Integrante do cl� ao qual pertencem dois �cones da m�sica popular brasileira, os irm�os Caetano Veloso e Maria Beth�nia, ele foi, por oito anos, secret�rio de Cultura da cidade baiana, que � ber�o do samba de roda.
Aos 85 anos, rec�m-completados, Rodrigo �, desde a morte da matriarca, Dona Can�, em dezembro de 2013, o guardi�o da casa dos Velloso. � l� que os familiares se re�nem em algumas oportunidades, durante o ano. A mais recente foi no �ltimo dia 2, data que marca o encerramento dos festejos comemorativos da padroeira Nossa Senhora da Purifica��o, iniciados em 24 de janeiro.
Lugar aconchegante, a edifica��o, com v�rias depend�ncias, tem como parte mais importante a sala de jantar. Ali, destaca-se uma grande mesa, onde s�o servidos quitutes � fam�lia, com base no livro O sal � um dom – Receitas de M�e Can�, escrito por Mabel Velloso, a irm� mais velha.
Na entrevista a seguir, Rodrigo fala sobre a rela��o de sua fam�lia com a arte e as conversas que temperam as refei��es dos Velloso, em Santo Amaro.
Caetano Veloso e Maria Beth�nia, expoentes da MPB; Mabel Velloso, poeta e escritora; e voc�, ex-secret�rio de Cultura de Santo Amaro. O que os levou a ter um grande envolvimento com a arte?
Acredito que foi a forma como fomos educados. Minha m�e, sempre ligada � arte, vivia cantando. Meu pai, atento � literatura, gostava de recitar poemas. Aqui em casa, ouv�amos muito r�dio. Gra�as � minha m�e e ao r�dio, Caetano p�de formar seu vasto conhecimento sobre a hist�ria da m�sica brasileira.
Nas reuni�es da fam�lia, a arte � um dos assuntos predominantes?
Quando nos reunimos � mesa, para o almo�o e o jantar, conversamos sobre arte, mas o assunto mais presente s�o recorda��es da fam�lia. Beth�nia, por exemplo, gosta de tirar d�vidas sobre fatos e coisas da inf�ncia e da adolesc�ncia. Nessa �ltima reuni�o, todos os irm�os estavam presentes. Caetano, que costuma ficar em Salvador em 2 de fevereiro para saudar Iemanj�, em sua casa no Rio Vermelho, desta vez tamb�m veio. E chegou dizendo que estava com fome.
''Quando nos reunimos � mesa, para o almo�o e o jantar, conversamos sobre arte, mas o assunto mais presente s�o recorda��es da fam�lia. Beth�nia, por exemplo, gosta de tirar d�vidas sobre fatos e coisas da inf�ncia e da adolesc�ncia''
Rodrigo Velloso, administrador da casa de Dona Can�
Quem prepara os quitutes servidos nessas reuni�es?
B�rbara e Edinha s�o respons�veis pela prepara��o da comida. Edinha � filha de uma antiga cozinheira da fam�lia, e vem sempre ajudar a B�rbara, quando nos reunimos, geralmente para almo�o. Nunca podem faltar � mesa pratos com as receitas de minha m�e, principalmente os doces.
S�o feitas regalias para Caetano e Beth�nia?
N�o tem isso, n�o. Talvez seja esse o grande trunfo da fam�lia. Tratamo-nos como irm�os e amigos que somos. N�s nos comunicamos com muita frequ�ncia. Com Caetano, menos, porque ele n�o tem celular e n�o gosta de falar ao telefone. Quando precisamos resolver alguma coisa em rela��o � casa, Paulinha (Paula Lavigne) � quem toma a frente. Moreno, Zeca, Tom e outros sobrinhos que moram em Salvador tamb�m costumam aparecer por aqui.
O que voc� destaca em sua atua��o como secret�rio de Cultura de Santo Amaro?
Fui secret�rio por duas vezes. Busquei dar �nfase ao resgate de manifesta��es culturais da regi�o, que estavam enfraquecidas, como bumba-meu-boi, a burrinha e negro fugido. Revitalizei o Bemb� do Mercado, manifesta��o cultural centen�ria de Santo Amaro ligada ao culto de matriz africana. Livros foram lan�ados sobre essa manifesta��o, que � patrim�nio cultural do Brasil. Promovi, ainda, a restaura��o de pr�dios hist�ricos, como os da Igreja do Amparo e da prefeitura.
Tanto Caetano quanto Beth�nia t�m difundido Santo Amaro como um polo de cultura em fun��o do samba de roda. No CD mais recente, Beth�nia homenageou a Mangueira, mas levou a sonoridade do samba de roda para o disco. Como v� isso?
Eles vivem fora, mas o amor que t�m por Santo Amaro � imenso. Nada mais natural que propaguem e celebrem nossa m�sica. Quando a Mangueira homenageou Beth�nia, com o enredo Menina dos olhos de Oy�, fomos todos para o Rio de Janeiro e assistimos ao desfile campe�o num camarote. N�s nos emocionamos muito com o t�tulo conquistado pela Mangueira e pela rever�ncia � nossa irm�.
''Aqui em casa, ouv�amos muito r�dio. Gra�as � minha m�e e ao r�dio, Caetano p�de formar seu vasto conhecimento sobre a hist�ria da m�sica brasileira''
Rodrigo Velloso, administrador da casa de Dona Can�
A Casa de Dona Can� se tornou um ponto tur�stico de Santo Amaro, com direito a placa e tudo o mais. Como administra a frequ�ncia com que as pessoas a visitam?
Busco atender os que querem conhecer a casa, que � uma refer�ncia em Santo Amaro. Vem gente de todo o pa�s querendo conhecer a Casa de Dona Can�. Ela sempre foi uma pessoa muito ativa, mesmo na velhice, e era ligada aos trabalhos sociais. Distribu�a cestas b�sicas para os mais carentes e peixe na semana santa para fam�lias pobres, al�m de colch�es e cobertores no inverno. Ela dizia que, se fosse mais nova, queria ser prefeita da cidade.
Ela era, ao mesmo tempo, amiga de Lula e de Ant�nio Carlos Magalh�es. Como via essa dicotomia?
Minha m�e adorava o Lula, ela o recebia aqui em casa para almo�o e conversavam sobre pol�tica e as a��es de Lula em prol dos mais necessitados. Mas, por outro lado, gostava de ACM, que tamb�m costumava visit�-la. Ela era assim.
