
A mudan�a de comportamento pode ser explicada pelo fato de o m�sico brit�nico se sentir um pouco parte do Brasil, j� que, entre 2012 e 2013 trocou a fria Oxford, no Reino Unido, pela cidade de S�o Luiz do Paraitinga, no interior paulista. Na �poca, ele enfrentava um bloqueio criativo que s� foi quebrado depois de assistir ao desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Sete anos depois, o resultado est� no disco Earth, sua estreia sem os companheiros de banda, sob a alcunha EOB.
N�o se trata, entretanto, de um �lbum tributo ao pa�s, ainda que algumas das m�sicas remetam a um lugar ex�tico, como deve ser o Brasil diante de olhos estrangeiros. Tampouco � um trabalho que fala de colapsos ambientais ou guerras por recursos naturais. A Terra que Ed O'Brien transformou em m�sica � uma celebra��o otimista da natureza e da vida.
Ao longo dos poucos mais de 46 minutos, EOB experimenta, em Earth, de que maneira can��es nascidas no viol�o podem se transformar quando recebem uma abordagem eletr�nica. Sendo assim, as nove faixas do trabalho transitam entre o folk e a dance music sem apelar para os v�cios t�picos desses dois g�neros, o que, afinal, � uma jogada esperta e tamb�m arriscada para quem n�o est� come�ando agora, mas parece ter f�lego o bastante para deixar muito m�sico novinho parecendo careta.
Em faixas como Shangri-La, Deep days e Banksters, Ed deixa claro o objetivo de n�o se afastar tanto assim do trabalho desenvolvido no Radiohead e as m�sicas estabelecem di�logo com A moon shaped pool (2016), �ltimo disco da banda. Ao mesmo tempo, essas mesmas can��es est�o t�o imersas em uma mensagem de esperan�a que elas passam ao largo de qualquer coisa que poderia ser escrita pelos brit�nicos.
Em outros momentos, as m�sicas parecem ter sa�do de um disco do U2, o que provavelmente se deve pelo fato de o produtor de Earth ser Mark Fellis, mais conhecido como Flood, que trabalha com os irlandeses desde The Joshua tree (1987).
Mesmo assim, o disco � cheio de bons momentos, como a segunda faixa, Brasil, em que EOB destila experimentalismo durante oito minutos e meio que come�am com voz e viol�o e terminam com camadas de sons eletr�nicos numa atmosfera house. Ou em Sail on, can��o minimalista que flerta com a new age e cria um ambiente et�reo. E ainda em Cloak of the night, que fecha o disco e tem a participa��o da cantora Laura Marling.
TURN�
Melhor faixa do disco, Olimpik parece ter sa�do do mesmo lugar de onde veio Ray of light (1998), s�timo disco de Madonna. Nela, Ed O'Brien recria o experimentalismo das bandas de krautrock, termo que denominava os grupos alem�es dos anos 1960 e 1970 famosos por improvisar a partir de ru�dos e colagens sonoras.
No palco, o disco tem tudo para crescer. Para a turn� – adiada por tempo indeterminado por conta do novo coronav�rus –, o m�sico reuniu uma equipe de primeira que conta com o baterista Omar Hakim, que j� tocou com David Bowie; e David Okumu e Nathan East, da banda The Invisible, que ir�o assumir guitarra e baixo, respectivamente.
Isolado no Pa�s de Gales, ele passou as �ltimas semanas de mar�o com suspeita da COVID-19. Antes disso, o m�sico passou por Nova York, Toronto e Paris. Recuperado, agora ele aguarda o momento de cair na estrada e explorar o que, de fato, a Terra tem a oferecer.
EARTH
EOB (Ed O'Brien)
Capitol Records
Dispon�vel nas plataformas de streaming
