
Entre as in�meras cenas musicais que existem hoje no Brasil, a de m�sica eletr�nica talvez seja a menos popular, reservada a um p�blico espec�fico – frequentador de festas e casas noturnas. Diante disso, DJs e beatmakers buscam (e encontram), por meio da internet, espa�o e reconhecimento no cen�rio internacional, como � o caso do produtor mineiro Victor Hugo, de 22 anos, conhecido pelo projeto VHOOR.
Misturando diferentes refer�ncias da m�sica brasileira com tend�ncias globais, ele foi parar no jornal brit�nico The Guardian, numa lista organizada pelo renomado DJ franc�s Gilles Peterson, apontando aqueles que ele considera os nomes mais interessantes no cen�rio atual da m�sica brasileira.
“Acho engra�ado e muito legal que meu som chegue t�o longe, atingindo um p�blico que eu nunca esperaria”, comenta Victor Hugo. “Hoje, os Estados Unidos s�o o principal p�blico da minha m�sica, assim como tem muita gente da Fran�a me ouvindo. � incr�vel atingir esse reconhecimento fora por um trabalho que venho fazendo aqui.”
REFER�NCIA
Nascido e criado em Venda Nova, na periferia da capital mineira, ele sempre foi atento �s refer�ncias musicais trazidas pelos pais, que s�o do ramo. Quando a m�e abriu um bar em frente � Quadra da Vilarinho, Victor come�ou a frequentar os bailes que ali ocorriam e passou a se interessar n�o somente por ouvir as m�sicas que divertiam os clientes, mas tamb�m em produzi-las.“No come�o, n�o tinha muita estrutura e, com o tempo, fui aprendendo, surfando no YouTube e assistindo a v�deos sobre produ��o musical, agregando cada vez mais refer�ncias, tanto de m�sica brasileira quanto de m�sica global. O VHOOR nasceu desse desejo de misturar as m�sicas brasileiras com movimentos de m�sica eletr�nica e batidas globais, com o objetivo de trabalhar tanto o que est� acontecendo aqui quanto o que est� rolando l� fora”, diz ele.
Em seu EP de estreia, Dia (2017), ele j� come�ava a mostrar que poderia alcan�ar o prop�sito com tranquilidade. Constru�do conceitualmente em torno de tr�s faixas – Amanhecer, Entardecer e Anoitecer, o trabalho traz samples, ou seja, ele reutiliza can��es originalmente cantadas por Paulo Diniz e Bebel Gilberto. O mesmo ele exercita em Brazilian Boogie EP (2018), dedicado ao soul, � dance music e ao samba, e tamb�m em MPBEATS (2019).
BRASILIDADE
“Nesses trabalhos, busquei valorizar a brasilidade por meio de sons que encontro em uma s�rie de blogs que falam de m�sica brasileira. Ao entrar em contato com essas m�sicas, vou selecionando o que vai agregar esteticamente para o que eu estou produzindo. A� recorto partes de algumas m�sicas e tento dar uma modificada para poder criar diferentes texturas”, conta.
O resultado � uma colagem de diferentes estilos, que, quando colocada sob os beats de uma forma bem pensada, resulta em uma cria��o, baseada em uma constru��o quebradi�a e cheia de viradas interessantes.
Imagem, por exemplo, que caiu no gosto de Gilles Peterson, traz um sample de Oba, l� vem ela, do grande Jorge Ben Jor, lan�ada em 1970, que resulta num instrumental que evoca, justamente, uma imagem tropical.
A outra faceta do trabalho de Victor Hugo, e a que talvez o transforme, num futuro n�o t�o distante, em um grande produtor reconhecido em seu pr�prio pa�s, � a que envolve o funk.
“Para mim, esse � o estilo que sempre me acompanhou a vida toda e que mais se relaciona com a minha hist�ria. Ent�o resolvi desenvolver a s�rie Baile &... com o objetivo de mostrar, principalmente para a galera de fora, como o funk tem evolu�do no Brasil conceitualmente”, explica.
“At� aqui, o meu trabalho tem sido usar elementos de trap, estilo que tem feito bastante sucesso no exterior, para construir funks com os bpms que a gente utiliza. Ent�o, estou pegando uma ferramenta de fora para mostrar como a coisa � feita aqui dentro, e os beatmakers estrangeiros t�m gostado de ver novas f�rmulas aplicadas ao que eles j� produzem.”
No primeiro �lbum da s�rie, Baile & beats (2018), al�m de samplear a �tima Popot�o grand�o, de MC Neguinho do ITR, Victor Hugo adiciona ao funk elementos de soul e jazz, tudo isso em 130bpm, o que resulta em um R&B da quebrada de primeira categoria.
Em Baile & trill (2019), ele realiza um experimento do baile funk dark. “Nele, uso elementos do proibid�o associados a batidas consideradas pesadas em termos de atmosfera. A maior refer�ncia para essas m�sicas foi o drill, que � um estilo de trap marcado justamente pela abordagem sombria”, comenta. Destaque para a vers�o reimaginada de Coisas da vida, de MC Rog�.
O terceiro �lbum da s�rie, Baile & vibes, chega �s plataformas digitais nesta sexta-feira (8) e mostra a evolu��o da velocidade do funk aliada a novas est�ticas e beats, referenciado sobretudo na m�sica eletr�nica.
Confinado em casa em raz�o da pandemia do novo coronav�rus, o DJ e beatmaker tem aproveitado para trabalhar em materiais que pretende usar em trabalhos futuros. “Como me considero mais um artista da web que um artista que precisa da performance ao vivo para sobreviver, esse per�odo de isolamento tem sido at� tranquilo. Ainda devo participar de algumas lives e, quando isso tudo acabar, vou apresentar essas m�sicas no meu set”, afirma.
E, quem sabe, chegar mais longe.

BAILE & VIBES
• De VHOOR
• Independente
• Dispon�vel nas plataformas digitais a partir desta sexta (8)