
S�rgio Sant´Anna ainda n�o tinha 35 anos quando foi convidado para compor a equipe de professores da rec�m-criada Faculdade de Comunica��o Social da Universidade Cat�lica de Minas Gerais, a PUC Minas. Seu primeiro diretor, o jornalista L�lio Fabiano dos Santos, apresentou a S�rgio uma faculdade de proposta inovadora, fundada na liberdade de pensamento e debate naqueles dif�ceis tempos da ditadura militar.
Quando me matriculei no curso de Comunica��o na PUC, em 1975, o pr�dio da faculdade era rec�m-constru�do, e as salas ainda n�o haviam sido pintadas. O curso ainda n�o havia sido reconhecido pelo Minist�rio da Educa��o, por n�o ter formado sua primeira turma. Mas o nome de S�rgio Sant´Anna na lista de meus futuros professores era uma motiva��o a mais para seguir em frente e me formar em jornalismo, sem me desgarrar da literatura. Eu conhecia alguns dos contos que ele havia publicado em jornais e revistas, especialmente o Suplemento Liter�rio de Minas Gerais, criado por Murilo Rubi�o, e sabia que ele era um escritor em ascens�o.
Seu primeiro livro, “O sobrevivente”, de contos, editado por conta pr�pria em 1969, j� era dif�cil de ser encontrado nas livrarias. Naquele ano de 1975, enquanto encantava seus alunos da cadeira de Reda��o e Edi��o de Textos, ele publicou seu primeiro romance, “Confiss�es de Ralfo”, um livro fascinante pela sua proposta inovadora e narrativa fragment�ria, que j� dava mostras de sua inquieta��o criativa e busca permanente por uma linguagem al�m da literatura bem comportada.
Como professor, S�rgio Sant´Anna tamb�m era uma atra��o � parte, mesmo numa faculdade voltada para a liberdade de pensamento e cria��o. Ele escrevia com giz no quadro negro, como era o costume nas escolas da �poca, mas como se n�o aceitasse a efemeridade dessa escrita, preferia n�o apag�-la, ao acabar o espa�o, e passava a escrever nas paredes, feitas de chapas de MDF ainda sem pintura. E ali sua caligrafia permanecia, como sua literatura permaneceu na mem�ria e no cora��o dos estudantes que conviveram com ele.
Para mim, um estudante de jornalismo mal sa�do da adolesc�ncia e interessado em literatura, ter sido aluno de S�rgio Sant´Anna foi uma d�diva que me desperta o desejo de prestar-lhe uma justa, embora in�til, homenagem. Ele me apresentou grandes escritores que eu ainda n�o conhecia, apontou caminhos para minha escrita, ensinou que bem escrever n�o se aprende estudando teoria ou gram�tica, mas se abrindo ao prazer da leitura e � descoberta da t�cnica impl�cita nos textos dos grandes escritores.
Talvez por isso eu tenha lido, e releia, toda sua obra, marcada pela mistura de v�rias linguagens art�sticas e de fic��o e mem�ria. Uma fonte inesgot�vel de descobertas liter�rias. Dois semestres que marcaram minha vida.