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Estado de Minas

Livros como ant�doto ao isolamento: um guia para tempos de coronav�rus

Escritores, cr�ticos, professores e jornalistas indicam grandes livros de fic��o, todos com mais de 500 p�ginas, para ler, ou reler, nas pr�ximas semanas


20/03/2020 04:00 - atualizado 08/05/2020 17:08

Iilustração de Quinho é uma intervenção em tela do pintor norte-americano Edward Hopper, que retratou o isolamento no século 20(foto: Quinho)
Iilustra��o de Quinho � uma interven��o em tela do pintor norte-americano Edward Hopper, que retratou o isolamento no s�culo 20 (foto: Quinho)

"Como se eu j� n�o tivesse sofrimentos de sobra, participo voluntariamente nos de mil pessoas imagin�rias, e sinto-os com tanta intensidade como os meus pr�prios." Assim o escritor franc�s Xavier de Maistre (1763-1852) descreve em 'Viagem ao redor do meu quarto' os dilemas de um confinado que enumera os recursos necess�rios para fazer passar "as horas que deslizam por cima de n�s e caem em sil�ncio na eternidade": "Um bom fogo, livros, penas." S�o 42 dias de reclus�o que terminam com a descoberta de um mundo imagin�rio, "rico pa�s", na biblioteca.

Para enfrentar o per�odo de recolhimento determinado pela dissemina��o do coronav�rus, o  Pensar  seguiu os ensinamentos de Maistre e pediu indica��es de leituras a escritores, cr�ticos liter�rios, professores universit�rios e jornalistas. Romances de outros s�culos e contempor�neos, nacionais e internacionais, se alternam entre as sugest�es.

Porque � essencial cuidar do corpo e da mente, eis o convite: aproveite as horas em casa e fa�a uma viagem para outras cidades, outros pa�ses, outros tempos, mundos imaginados. Para enfrentar uma realidade mais assustadora que a fic��o.

Ilustração de Marcelo Lélis sobre o livro Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa(foto: Lélis/EM/D.A Press)
Ilustra��o de Marcelo L�lis sobre o livro Grande Sert�o: veredas, de Guimar�es Rosa (foto: L�lis/EM/D.A Press)

Grande sert�o: veredas

Jo�o Guimar�es Rosa
560 p�ginas, Companhia das Letras

•  Rog�rio Faria Tavares,  jornalista, presidente da Academia Mineira de Letras

‘Deus � paci�ncia’, diz Riobaldo, em certo trecho de Grande sert�o: veredas. N�o h� verdade maior, nas semanas que correm. Sem saber a extens�o do recolhimento for�ado a que ser� preciso se submeter, o jeito � aceitar a situa��o e esperar. Se poss�vel, na companhia das pessoas queridas. E dos bons livros. Embrenhar-se no sert�o de Guimar�es Rosa � tenta��o a que n�o se deve mais resistir, agora que haver� tempo para se perder em suas matas e em seus rios. Aventura oportuna e at� necess�ria quando a fragilidade da condi��o humana est� t�o evidente, e em que ‘cada hora, de cada dia, a gente aprende uma qualidade nova de medo!’, como desabafa o Tatarana em outra passagem.

Conseguiremos realizar as travessias que o destino agora nos imp�e? Lan�ado em 1956 pela Editora Jos� Olympio, o romance logo conquistou pr�mios importantes e tradu��es para v�rios idiomas. Correndo o planeta, cativou legi�es de leitores aficionados, que sabem dizer de cor passagens inteiras. Seu texto � at� hoje analisado e comentado, seja nas universidades, seja nos milhares de clubes de leitura espalhados por toda parte.

Reeditado sucessivas vezes, desde ent�o foi rapidamente al�ado � condi��o de uma das obras liter�rias mais potentes do s�culo 20. Para muitos, � uma das tr�s �nicas epopeias escritas em l�ngua portuguesa, ao lado de Os lus�adas, de Cam�es, e Os sert�es, de Euclides da Cunha. Indiscutivelmente cl�ssico, vai atravessar as d�cadas e permanecer, cumprindo sua voca��o de circula��o global.

Afinal, ‘o sert�o � do tamanho do mundo’. Como j� observou a cr�tica especializada, Grande sert�o... superou qualquer limite do regionalismo, ainda que haja ambientado a sua trama em geografia e em cultura bem delimitadas. N�o cedendo ao apelo do ex�tico ou do pitoresco, construiu personagens de padr�o universal, capazes de exprimir, com sofistica��o, os dramas mais complexos da humanidade, como os relacionados ao amor, ao poder, � trai��o, � exist�ncia da divindade e do dem�nio.

E os expressou em l�ngua pr�pria, de tocante musicalidade, de impressionante riqueza vocabular, de estreitos v�nculos com ra�zes antigas do idioma – do nosso e de outros tantos. Num delicado encontro com a tradi��o oral, gerou escrita nova, parindo palavras insabidas, revelando universos fascinantes e perigosos. Assim como � bastante perigoso o ato de ler, de abrir a mente, de alterar para sempre as suas percep��es sobre o que a cerca."


Confira outros epis�dios do Podcast Pensar


O engenhoso fidalgo D. Quixote de La Mancha

Miguel de Cervantes
1.608 p�ginas, Editora 34

•  Rodrigo Casarin,  cr�tico liter�rio (blog P�gina Cinco)

"� um clich�, mas quantas pessoas at� hoje n�o leram este cl�ssico espanhol do come�o do s�culo 17,  fundamental para o conceito de romance, n�o �!? � a Dom Quixote que recorro sempre que a vida anda dif�cil demais, algo bastante corriqueiro nesses dias em que vivemos. A capacidade de fabular e criar a pr�pria realidade me fascina. �s vezes, s� queremos mesmo � crer que moinhos de vento sejam drag�es e que h� alguma Dulcineia esperando por n�s. Gosto especialmente da tradu��o de S�rgio Molina para os dois volumes da Editora 34."

•  S�rgio Rodrigues,  escritor, autor dos livros O drible e A visita de Jo�o Gilberto aos Novos Baianos, entre outros

"O momento em que mais temos tempo para ler � tamb�m o momento em que vemos mais abaladas as coordenadas de nossa compreens�o do mundo, pressentindo nada menos que o fim de uma era. N�o � qualquer livro, mesmo entre aqueles excelentes, que escapa ao risco de parecer irrelevante ao leitor em hora t�o brutal. Esse perigo n�o amea�a Dom Quixote. Desde o s�culo 17, j� atravessou sucessivos fins e come�os de era e permanece firme, segundo consenso da cr�tica, no posto de romance fundador do g�nero ou mesmo no de romance que cont�m em si todos os romances escritos desde ent�o. Al�m do mais, � divers�o garantida, e conta com uma tradu��o recente (e excelente) de Ernani Ss� para a Penguin-Companhia."

•  Luiz Antonio de Assis Brasil,  escritor, autor de Escrever fic��o: um manual de cria��o
liter�ria

"Talvez a obra mais referida – ao lado do Hamlet – da literatura ocidental. Neste romance-raps�dia de Miguel de Cervantes, vemos, para al�m da conhecida par�dia dos romances de cavalaria, uma profunda imers�o na psique humana, com tudo o que ela tem de sublime, grotesco e ris�vel. De b�nus, nos d� uma personagem inesquec�vel, que � o pat�tico Sancho Pan�a. Divers�o e intelig�ncia garantidas."

Um defeito de cor, obra da escritora mineira Ana Maria Gonçalves(foto: Reprodução)
Um defeito de cor, obra da escritora mineira Ana Maria Gon�alves (foto: Reprodu��o)

Um defeito de cor 

Ana Maria Gon�alves
952 p�ginas, Record

• Paulo Scott,  escritor, autor de romances 
como Marrom e amarelo

"A literatura consegue tocar com sua profundidade cora��es e mentes como a ci�ncia, a filosofia, os registros hist�ricos e as outras artes n�o conseguem. No Brasil, temos uma dificuldade enorme em nos reconhecer como negros, como ind�genas, como n�o brancos – pergunte a um norte-americano ou a um europeu do Norte da Europa se brasileiros s�o brancos. Levados esses aspectos em conta, imposs�vel n�o reconhecer a for�a e a singularidade de Um defeito de cor, talvez a narrativa longa de fic��o mais importante publicada neste s�culo no Brasil – obra-prima que apresenta uma protagonista e uma trama que envolvem os leitores e os sensibilizam como poucos romances poderiam fazer. H� um imenso pano de fundo composto por v�rios fatos hist�ricos, muitos deles negligenciados pelas escolas e pela academia, fatos important�ssimos para a forma��o e a formata��o da identidade mesti�a deste pa�s absolutamente mesti�o que � o Brasil. Uma obra que todos os brasileiros, independentemente da cor da pele, deveriam conhecer.

• Maria Camargo,  escritora, roteirista da s�rie sobre o romance de Ana Maria Gon�alves

"Um defeito de cor � mais que um livro, � um mundo inteiro que se revela. Pelos olhos de uma mulher negra, uma hist�ria que n�o � contada nas escolas (e um outro Brasil) entram em cena. � uma hist�ria de escravid�o e dor, como n�o poderia deixar de ser, mas vai bem al�m: �, acima de tudo, hist�ria de resist�ncia, de supera��o, de amor e alian�as. De uma mulher cheia de complexidades em busca de seu lugar no mundo. Pra quem estiver disposto a seguir com Kehinde, o livro � uma jornada de transforma��o tamb�m para quem l�. Uma oportunidade de mudar a forma de olhar e de viver. Nada mais adequado para os dias que vir�o."

Romance d’A Pedra do Reino 

Ariano Suassuna
800 p�ginas, Nova Fronteira

•  Ney Anderson,  escritor e cr�tico liter�rio (site Ang�stia Criadora)

"A explos�o m�xima do l�dico, da fantasia, tendo o sert�o brasileiro como base, mas trabalhado em doses altas do on�rico, onde cabe tudo e mais um pouco. � a epopeia de um personagem louco, delirante, e por isso mesmo apaixonante e inesquec�vel. Entrar nas aventuras de Quaderna n�o � tarefa das mais f�ceis, justamente por sua abund�ncia de ideias. No entanto, � uma viagem sem volta, bom para ler nestes dias de recolhimento, que estabelece de imediato algo muito maior que s� a literatura pode proporcionar. O sentimento (e o entendimento) de um Brasil profundo, que precisa sair da realidade (mesmo estando com os dois p�s encravados nela) para poder continuar sobrevivendo e so- nhando."

Um dos poucos grupos de prisioneiros de Canudos que não foram mortos pelo Exército(foto: Flávio de Barros/Acervo Museu da República)
Um dos poucos grupos de prisioneiros de Canudos que n�o foram mortos pelo Ex�rcito (foto: Fl�vio de Barros/Acervo Museu da Rep�blica)

Beira-mar

Pedro Nava
552 p�ginas, Companhia das Letras

• Ant�nio S�rgio Bueno,  professor de literatura brasileira da UFMG

"De toda a grande obra de Pedro Nava, o maior memorialista em l�ngua portuguesa de todos os tempos, acho que Beira-mar, o quarto volume, � o mais importante para quem ama e/ou mora em Belo Horizonte. Nesse livro, cujo t�tulo foi sugerido ao autor por Lucio Costa, o idealizador do Plano Piloto de Bras�lia, o memorialista focaliza sua vida de estudante de medicina, demorando-se tamb�m na sua conviv�ncia com o extraordin�rio grupo de jovens literatos que formaram o famoso Grupo do (bar) Estrela, composto pelo pr�prio Nava, o poeta Carlos Drummond de Andrade,  o ent�o futuro governador de Minas Gerais Milton Campos, entre outros. O leitor estar� diante de um espa�o mais que vivido, vivo, nos anos 20 do s�culo 20. A vida intelectual e, tamb�m, bo�mia desses brilhantes jovens que o acaso reuniu na capital dos mineiros � retratada nesta obra-prima. Mais do que nunca � necess�rio reler Pedro Nava para redescobrir nosso pr�prio endere�o cultural."

71 contos

Primo Levi
528 p�ginas, Companhia das Letras

•  Fernanda Diamant,  curadora da Festa Liter�ria Internacional de Paraty (Flip)

"A colet�nea revela o lado ficcionista do escritor italiano, mais conhecido por seus extraordin�rios relatos autobiogr�ficos que denunciam a inomin�vel trag�dia do nazismo. Fic��o cient�fica e literatura fant�stica s�o alguns dos recursos que Levi, autor de � isto um homem? (1947) e A tr�gua (1963), usa para tratar da fragilidade e da espiritualidade humanas."

As corre��es

Jonathan Franzen
582 p�ginas, Companhia das Letras

•  Carlos Marcelo

"Vencedor do National Book Award 2001, As corre��es antecede Liberdade, outro grande romance do escritor, nascido em 1959. Com tintas autobiogr�ficas, Franzen pinta um retrato vigoroso dos desejos e frustra��es de uma fam�lia norte-americana. Os desacertos entre os pais, setent�es, e os tr�s filhos rendem passagens excruciantes e sublimes. E o significado do t�tulo � inteiramente desvendado apenas nas p�ginas finais, no vislumbre da mais aterradora das esperan�as."

Exodus

Leon Uris
714 p�ginas, Record

•  Luize Valente,  escritora, autora de romances como Uma sonata em Auschwitz

"Publicado em 1958, este romance �pico narra um dos per�odos mais dram�ticos e conturbados da hist�ria. Traz a saga de um grupo de sobreviventes do Holocausto que chega � ent�o Palestina a bordo do navio Exodus, em meio � acirrada luta pela cria��o da t�o sonhada na��o judaica – o Estado de Israel.  Uris dominava, como poucos, a narrativa �pica. A intensa hist�ria de amor entre uma enfermeira americana e um soldado israelense � o fio condutor de uma trama que se desenvolve no p�s-guerra, num mundo degradado f�sica e mentalmente. Um livro que flui, sem didatismo, com uma escrita que permite ao leitor vivenciar, se emocionar e, ao mesmo tempo, conhecer os acontecimentos  deste momento t�o traum�tico do s�culo 20."


Viva o povo brasileiro

Jo�o Ubaldo Ribeiro
640 p�ginas, Alfaguara

•  Rodrigo Lacerda,  escritor, autor de Outra vida e O fazedor de velhos, entre outros

"Compondo um mosaico muito amplo, esse cl�ssico da nossa literatura recente atravessa s�culos da hist�ria do Brasil e � escrito por um virtuoso da l�ngua portuguesa, capaz de criar vozes narrativas impressionantes, provenientes de todos os extratos da nossa sociedade, tamb�m de fazer uma esp�cie de recapitula��o de tudo o que se fez antes dele, literariamente falando."

(foto: Reprodução)
(foto: Reprodu��o)

Os sert�es

Euclides da Cunha
928 p�ginas, Ateli� Editorial

•  Rodrigo Lacerda, escritor, autor de Outra vida e O fazedor de velhos, entre outros

"Um livro no qual � dif�cil avan�ar, mas que, al�m de retratar um epis�dio paradigm�tico da hist�ria do Brasil, o massacre de Canudos, cria uma "liga" fascinante entre o homem, a natureza e os desafios sociais do nosso pa�s."

Cr�nica da casa assassinada

Lucio Cardoso
546 p�ginas, Civiliza��o Brasileira

•  George Moura,  roteirista de s�ries como Onde nascem os fortes e filmes como Redemoinho, a partir de romance de Luiz Ruffato

"Daqueles livros que voc� compra e deixa na cabeceira olhando-o. Numa arruma��o, ele se afasta e vai para a estante, at� que um dia volta �s suas m�os, quando voc� toma a decis�o de se atracar com as 536 p�ginas do tijolo s�lido. Foi assim comigo, uma vertigem. E com um dado a mais. Nunca tinha lido Cardoso e j� mergulhei no seu romance mais complexo por ossos do of�cio. Era a encomenda feita pelo diretor Jos� Luiz Villamarim para o roteiro de um filme. Entrei de cabe�a na hist�ria de Nina e Ana e no decl�nio da fam�lia Meneses. O livro, escrito como se fosse um di�rio de v�rios personagens, � uma floresta densa repleta de reviravoltas movidas a desejos vividos e outros tantos reprimidos. � assim a vida em fam�lia, feita de amores e rancores. Cr�nica... � alta literatura, com uma min�cia barroca de tirar o f�lego, perturbador. Nestes tempos de isolamento for�ado, a jornada na obra de Cardoso pode ser um bom ponto de fuga, mas sabendo que voc� ser� brindado com o belo e com o amargo da trag�dia do desejo. Em tempo: Villamarim � mineiro. E a produtora do filme, V�nia Catani, tamb�m. Pedido de mineiro para ler um autor mineiro � dif�cil de resistir. Hoje, invejo quem ainda n�o leu Cr�nica da casa assassinada: queria come�ar tudo de novo, como se de nada eu soubesse."

2666

Roberto Bola�o
856 p�ginas, Companhia das Letras

•  Mateus Baldi,  cr�tico liter�rio (Resenha de bolso)

"Publicado ap�s a morte de Bola�o, 2666 � um romance inacabado, mas n�o incompleto. Estruturado como cinco romances em um mesmo volume, trata-se de uma epopeia sociocultural que visa compreender as �ltimas d�cadas da hist�ria ocidental. Viajando da Segunda Guerra � fronteira mexicana, onde mulheres s�o brutalmente assassinadas diariamente, Bola�o ergueu estas quase mil p�ginas em que viol�ncia e literatura caminham lado a lado. Os dois eixos principais s�o Benno von Archimboldi, esp�cie de Thomas Pynchon ainda mais recluso que o autor norte-americano, e os assassinatos de mulheres em Santa Teresa, ficcionaliza��o de Ciudad Ju�rez – em algum momento estas linhas se cruzam. Brutal, inc�modo e um presente para os amantes da boa literatura, 2666 � o livro perfeito para tempos de desespero: suas p�ginas caudalosas, cheias de longos par�grafos, derramam o melhor e o pior da humanidade, transportando-nos para um universo paralelo que pode muito bem virar o nosso a qualquer momento."
 

Baudolino

Umberto Eco
602 p�ginas, BestSeller

•  Braulio Tavares, escritor,  compositor e tradutor

"Romance ambientado no s�culo 12 e o mais divertido do autor de O nome da rosa. Baudolino � um her�i picaresco t�pico, por sua origem (filho de camponeses ignorantes), mas que, gra�as a algumas coincid�ncias bem cordelescas, acaba encontrando e caindo nas gra�as do imperador Frederico Barbarossa, e se torna seu protegido. A espantosa quantidade de informa��es no romance deve ter sido assimilada por Eco ao longo de muitas d�cadas de leitura, da� a facilidade com que ele sai costurando os epis�dios hist�ricos da �poca com a linha ficcional das peregrina��es de Baudolino, um Forrest Gump medieval. Mesmo que algu�m n�o esteja disposto a encarar o romance, vale a pena ler o cap�tulo 1, “Baudolino come�a a escrever”. O texto reproduz as primeiras tentativas do her�i de contar sua pr�pria hist�ria, numa algaravia que mistura latim e outras l�nguas, cheia de erros c�micos de ortografia, palavr�es, etc.  Algo certamente dif�cil e divertido de traduzir (a tradu��o � de Marco Lucchesi)."

Gra�a infinita

David Foster Wallace
1.144 p�ginas, Companhia das Letras

•  S�rgio de S�,  cr�tico liter�rio e professor universit�rio

"No romance que levou David Foster Wallace (1962-2008) ao estrelato mundial, o entretenimento vicia a ponto de levar � morte. O prazer da divers�o � v�rus letal. Entre casa de recupera��o e academia de t�nis, personagens sobrevivem na linguagem m�ltipla e no estilo �nico do autor norte-americano. Se puder, leia no original (Infinite jest), publicado em 1996. Ali, o texto comporta menos gracinhas e mostra mais a pot�ncia da fic��o."


Os livros da selva: Mowgli e outras hist�rias

Rudyard Kipling
560 p�ginas, Penguin

•  Rodrigo Lacerda,  escritor, autor de Outra vida e O fazedor de velhos, entre outros

"Mal compreendido ora como um adepto da tirania imperialista, ora como um autor de hist�rias para crian�as, devido ao sucesso do personagem Mowgli no desenho de Walt Disney, Kipling � um escritor excepcionalmente sens�vel aos elementos da natureza e consegue uma linda fus�o entre literatura e ecologia nos contos deste livro, seja nas hist�rias envolvendo Mowgli ou nas outras."

A montanha m�gica

Thomas Mann
856 p�ginas, Companhia das Letras

•  Rodrigo Lacerda,  escritor, autor de Outra vida e O fazedor de velhos, entre outros

"Quase uma gafe indicar, durante a pandemia, um livro no qual os personagens est�o isolados num sanat�rio para tuberculosos, mas o livro � uma leitura muito mais f�cil e agrad�vel do que se costuma supor, apesar de n�o ser pequeno, e as quest�es pol�ticas, filos�ficas e humanas que coloca s�o eternas, sendo sempre �til pensar sobre elas."
 

Crime e castigo

Dostoi�vski
603 p�ginas, Todavia

•  Cristov�o Tezza,  escritor, autor de A tirania do amor, entre outros romances

"Vou aproveitar a reclus�o obrigat�ria do coronav�rus para ler mais. Indico a leitura, ou releitura, de Crime e castigo, agora em nova tradu��o, direta do russo, de Rubens Figueiredo. � um livro impactante de um autor que parece ficar mais contempor�neo quanto mais o tempo passa. Toda a obra de Dostoi�vski investiga ficcionalmente os fundamentos morais da modernidade, um tema que ganha um foco impressionante neste romance, a hist�ria de um jovem intelectual que mata uma velhinha agiota “que n�o faria falta � sociedade”. E j� na est�o na pilha dois outros livros de f�lego: o romance Ritmo louco, de Zadie Smith (Companhia das Letras, 526 p�ginas), uma autora que (mea-culpa!) ainda n�o conhe�o, e o poema cl�ssico Para�so perdido, de John Milton (Editora 34, 891 p�ginas), numa edi��o bil�ngue irresist�vel, com tradu��o, posf�cio e notas de Daniel Jonas, apresenta��o de Harold Bloom e, como se n�o bastasse, ilustra��es de Gustave Dor�. Uma viagem sensacional."

Asfalto selvagem

Nelson Rodrigues
656 p�ginas, Agir

•  Paulo Werneck,  editor da revista liter�ria 451

"Asfalto selvagem � meu livro preferido de Nelson Rodrigues e � perfeito para ser lido agora. N�o s� pela extens�o convidativa (ou “convidativa”?) para a quarentena, mas por retratar um Brasil �s v�speras do golpe de 64, prenunciando muito do Brasil que viria pela frente. O juiz Odorico Quintela, que por ser do Judici�rio se recusa a pagar corridas de t�xi e pede favores a comerciantes e jornalistas, � um dos melhores personagens criados por Nelson. � genial e absolutamente atual a forma como o autor incorpora personagens reais (quase todos amigos dele ou colegas de reda��o) e fatos hist�ricos (como a ren�ncia de J�nio Quadros ou a censura ao filme Os amantes, de Louis Malle). E isso num folhetim, ou seja, Nelson escrevia e publicava os cap�tulos dia ap�s dia, mexendo na trama conforme as rea��es dos leitores."

O teatro de Sabbath

Philip Roth
512 p�ginas, Companhia das Letras

•   Paulo Paniago,  professor e cr�tico liter�rio

"Morrer � muito dif�cil, sobretudo se voc� est� obcecado com a ideia de morte, caso de Mickey Sabbath, personagem central deste que � o melhor romance do escritor norte-americano Philip Roth. A vida de obsceno incontrol�vel de Sabbath, no entanto, est� numa espiral desenfreada ladeira abaixo: a amante morreu, seu ex-produtor em Nova York suicidou-se, escuta conselhos da m�e h� muito falecida, a mulher � alco�latra e a artrite o impede, do alto dos 64 anos, de fazer o seu teatro de fantoches, antigamente famoso. Obcecado tamb�m com a ideia de controlar tudo e todos, inclusive a grande sa�da de cena do final, ele inicia tratativas para comprar o t�mulo e fazer a l�pide mais provocadora e ofensiva que se possa imaginar. A vida, no entanto, sempre age a contrapelo e tem uma for�a enorme de atra��o, al�m de planos bem diferentes."

Duna

Frank Herbert
680 p�ginas, Aleph

•  Fl�via Denise,  editora da revista liter�ria Chama

"Este cl�ssico da fic��o cient�fica, publicado originalmente em 1965, se tornou uma franquia com saga de livros, filmes, s�rie de TV, quadrinhos, videogame e tudo mais que � poss�vel derivar de uma boa hist�ria. Duna marcou profundamente a cultura ocidental – para se ter uma ideia, a obra � tida como uma das inspira��es para outra saga famosa: Guerra nas estrelas. Por isso, quando busquei o livro para reler anos ap�s o entusiasmo adolescente, tive muito medo de ter que rever o bom conceito que tinha da obra. Felizmente, n�o foi o caso. Duna � um livro de aventura em que pol�tica, misticismo e ecologia s�o quest�es centrais. Ele � tamb�m um tratado sobre como sociedades ocidentais constroem a figura do messias (te lembra algu�m?) e criam circunst�ncias em que ele deve emergir e tomar o poder, que nunca � t�o absoluto quanto ele e seus apoiadores gostariam. Em suma: leitura necess�ria para nossos tempos."

O romance luminoso

M�rio Levrero
648 p�ginas, Companhia das Letras

•  �lvaro Lins e Silva,  jornalista e cr�tico liter�rio

"A decrepitude, a hipocondria, os fracassos, as mulheres, os v�cios, o tango e a ioga, fazer ou n�o a barba, tudo se resume � tentativa de es- crever. Nas palavras do escritor uruguaio, o desespero de quem sabe que, em breve, n�o ser� mais poss�vel escrever nem viver."

Em busca do tempo perdido

Marcel Proust 
2.472 p�ginas, Nova Fronteira

•   Rodrigo Lacerda,  escritor

"Na vida corrida que levamos, � muito dif�cil encontrar tempo para ler os sete volumes de uma obra que, em cada um deles, � cheia de idas e vindas, paradas e avan�os, no estilo e no pr�prio fluxo do enredo. Mas a recompensa � proporcional ao esfor�o."

O tempo e o vento

Erico Verissimo
2.832 p�ginas, Companhia das Letras

•  Luiz Antonio de Assis Brasil,  escritor e professor de escrita criativa

"A obra mais not�ria de Erico Verissimo pertence ao c�none brasileiro. Retrata, com for�a dram�tica e linguagem simples – mas n�o simpl�ria –, a forma��o do Sul do Brasil atrav�s das sagas das fam�lias Terra e Cambar�. Repassada de epis�dios agitados, a trilogia de Erico imp�e-se como uma leitura em que se unem dois elementos capitais: o prazer da rigorosa trama e o conhecimento hist�rico que dela decorre." 

1Q84

Haruki Murakami
1.236 p�ginas, Alfaguara  

•   Luize Valente,  escritora, autora de Sonata em Auschwitz, entre outros
 
"Publicada originalmente em tr�s volumes, a trilogia � centrada em duas tramas paralelas – dos personagens Tengo e Aomame – que, ao longo da narrativa, convergem. A hist�ria se passa em 1984, em T�quio, mas livro e t�tulo t�m inspira��o no cl�ssico 1984, de George Orwell. Uma narrativa carregada de elementos dist�picos, com muito suspense e acontecimentos absurdos – t�o presentes na obra do autor como um todo – que Murakami costura com maestria. Com uma escrita sem experimentalismos narrativos ou vocabul�rio complexo, o escritor japon�s mescla mundo real e mundo criado (do Povo Pequenino) com tal verossimilhan�a que somos hipnotizados pelo universo fant�stico da hist�ria." 

O conde de Monte Cristo

Alexandre Dumas
712 p�ginas, Zahar

•  Rodrigo Lacerda,  escritor, autor de Outra vida e O fazedor de velhos, entre outros

"Um retrato bastante fiel da Fran�a nos prim�rdios da democracia a partir da trajet�ria de Edmond Dant�s, que desce �s profundezas quando � preso injustamente, e alcan�a o topo da pir�mide quando escapa da pris�o e enriquece. Muito provavelmente, a raz�o pela qual leitores de todas as �pocas se deliciam com o tema da vingan�a decorre, de um lado, do suspense intr�nseco ao tema, expresso n�o apenas por uma pergunta essencial (“Ser� que ele vai conseguir?”), cuja resposta positiva � praticamente pr�-condicionada, mas sobretudo pela pergunta: “Como ele vai conseguir?”. As situa��es dram�ticas decorrentes da op��o pelos disfarces ati�am a sensibilidade e a curiosidade do leitor, criando um jogo absolutamente cativante, digno de um mestre da narrativa."
 

Esta��es Havana

Leonardo Padura
880 p�ginas, Boitempo

•  Carlos Marcelo

"O escritor cubano � mais conhecido no Brasil pelo best-seller O homem que amava os cachorros, mas o recolhimento for�ado pode ser uma boa oportunidade para conhecer a tetralogia protagonizada pelo investigador Mario Conde: Passado perfeito, Ventos de quaresma, M�scaras e Paisagem de outono. Al�m da trama policial, ocasionalmente at� em segundo plano, o que interessa a Padura Fuentes � retratar a din�mica e as contradi��es das rela��es sociais em Havana, uma cidade assombrada pelas dificuldades do presente e as cicatrizes do passado, e revelar as consequ�ncias do avan�o do tempo em seu desencantado e nost�lgico personagem."

Musashi

Eiji Yoshikawa
1.832 p�ginas, Esta��o Liberdade

•  Fl�via Denise,  editora da revista Chama

"Com tradu��o de Leiko Gotoda, o romance �pico sobre a vida do samurai mais famoso do mundo tem tr�s tomos e, por isso, � comumente chamado de trilogia. A realidade, por�m, � que a obra � uma compila��o de epis�dios de folhetim publicados no in�cio do s�culo 20, o que explica o aspecto hipnotizante do texto, publicado em tr�s livros para evitar o pesadelo que seria segurar um volume de quase 2 mil p�ginas. A obra � uma noveliza��o da hist�ria real do samurai Miyamoto Musashi (1584-1645), autor de O livro dos cinco an�is (tratado estrat�gico que tem import�ncia, no Oriente, similar a O pr�ncipe, de Nicolau Maquiavel, no Ocidente). Inadequado para qualquer tipo de leitura que n�o seja imersiva, o romance acompanha o samurai ao longo de toda a sua vida, mostrando sua dif�cil e turbulenta busca por perfei��o espiritual e na arte da espada, transformando cada encontro num momento de profunda reflex�o."

Anna Kari�nina

Tolst�i
840 p�ginas, Companhia das Letras

  Milton Hatoum,  escritor, autor dos romances Dois irm�os e Pontos de fuga, entre outros

"S�o famosas as frases iniciais de Anna Kari�nina: “Todas as fam�lias felizes se parecem, cada fam�lia infeliz � infeliz � sua maneira”. Em seguida, o narrador escreve: “Tudo era confus�o na casa dos Obl�nki”. Essa abertura magn�fica ressoa ao longo das 800 p�ginas de uma das obras-primas de Tolst�i. Nela, o grande autor russo contrap�e a vida relativamente feliz de um casal ao destino tr�gico de um casal ad�ltero. “Tudo era confus�o na casa dos Obl�nski”, mas tudo era tamb�m confuso na R�ssia da segunda metade do s�culo 19, quando o pa�s, imerso em v�rias crises, passava por um processo de moderniza��o.

O romance n�o evoca apenas as rela��es passionais de dois casais, narradas em paralelo com dezenas de subtemas. Todas as quest�es passam por um exame minucioso: as sociedades rural e urbana da R�ssia, as ideias em voga, as rela��es de trabalho e poder, as discuss�es e reflex�es sobre economia, pol�tica, ci�ncia, religi�o, filosofia. Esses grandes temas s�o debatidos por Li�vin (alter ego do autor), seus amigos e parentes.

Antidogm�tico, Tolst�i rejeitava todo tipo de autoritarismo. Foi excomungado por ter feito severas cr�ticas � Igreja Ortodoxa russa, e cultivava uma esp�cie de “anarquismo de inspira��o crist�”, como assinala Rubens Figueiredo numa nota � sua excelente tradu��o.

Li�vin problematiza as cren�as � religi�o, mas tamb�m � raz�o, t�o em voga no s�culo do positivismo e do cientificismo. Esse questionamento � central no pensamento conflituoso e na subjetividade do protagonista.

“[...]ele (Li�vin) se deu conta de que n�o s� todas as suas d�vidas como tamb�m a impossibilidade de crer por meio da raz�o, que conhecia por experi�ncia pr�pria, em nada o impediam de voltar-se para Deus.” (p. 695)

A educa��o do povo e a vida comunit�ria eram tamb�m obsess�es de Tolst�i. No romance h� v�rias passagens sobre a quest�o agr�ria e a desigualdade social. Numa delas, o fazendeiro Li�vin “julgava absurda a reforma das condi��es econ�micas, mas sempre se dera conta da injusti�a da sua fartura, em compara��o com a pobreza do povo”. (p. 102)

Apesar das diferen�as culturais e da dist�ncia geogr�fica e temporal, o leitor certamente pensar� em suas inquieta��es e no Brasil de hoje. E essa � uma das riquezas desse romance russo e universal."

Os irm�os Karamaz�v

Dostoi�vski
888 p�ginas, editora 34

• Luiz Antonio de Assis Brasil,  escritor, autor de Escrever fic��o

"Obra-prima de Dostoi�vski. Situada na antiga R�ssia imperial, trata de uma fam�lia problem�tica – e dram�tica – composta pelo pai, Fi�dr, e os filhos Dmitri, Ivan e  Ali�ksei, cada qual com sua personalidade e sua forma de inadequa��o � exist�ncia. Disso resulta um romance de riso e l�grimas, que prende do in�cio ao fim. � do que precisamos para estes dias – e para todos os outros da vida."

Ulysses

James Joyce
912 p�ginas. Ed. Objetiva/Alfaguara

• Andr� de Leones,  escritor, autor dos romances Abaixo do para�so e Eufrates

"Uma das coisas legais de se indicar Ulysses � que isso envolve pelo menos outros dois livr�es: Il�ada e Odisseia. � poss�vel ler Joyce sem ir a Troia e retornar a �taca? Claro que �. Mas ter com Homero � algo t�o espl�ndido que eu sempre sugiro a refei��o completa. Quanto a Ulysses, essa obra-prima divertid�ssima e inventiva, um dos tr�s livros mais engra�ados que j� li (os outros s�o JR, de William Gaddis, e Lucky Jim, de Kingsley Amis), aqui vai outra dica: caso voc� n�o seja fluente em ingl�s, h� tr�s tradu��es brasileiras do romance; para uma primeira leitura, opte pela vers�o de Bernardina da Silveira Pinheiro, mais palat�vel, com notas e textos introdut�rios a cada cap�tulo. E divirta-se."


Moby Dick

Herman Melville
648 p�ginas, Editora 34

• Maria Esther Maciel,  escritora e editora da revista Olympio

"O romance do norte-americano Herman Melville foi publicado em 1851. Mais de seiscentas p�ginas que nos levam a uma fascinante viagem pelo mar e pelas complexas rela��es humanas com as for�as (por vezes terr�veis) da natureza. O t�tulo � o nome de uma baleia branca de tamanho descomunal, que Ahab, o capit�o de um navio baleeiro busca – raivosa e obsessivamente – ca�ar e abater. Narrada por um marinheiro do navio, atrav�s de recursos narrativos engenhosos e linguagem poderosa, a hist�ria mescla aventura, reflex�es sobre o mundo das baleias e incurs�es nos limites da (des)raz�o humana. Uma obra que mostra como uma pessoa prisioneira do �dio, da obsess�o e da vingan�a, como � o caso do capit�o, acaba por construir sua pr�pria desgra�a e aniquilamento. Um livro que, nestes tempos terr�veis de hoje, pode nos ensinar muito sobre o que estamos vivendo."

As Benevolentes

Jonathan Littell
907 p�ginas, Alfaguara

• Jacques Fux,  escritor, autor de Antiterapias e Nobel, entre outros romances

"At� bem recentemente, muitos de n�s fomos privilegiados: n�o passamos por guerras, n�o fomos perseguidos sistematicamente, a fome e a peste n�o nos atingiram e, apesar dos genoc�dios, n�o perdemos nossos entes queridos. Mas tudo isso mudou: uma guerra mundial contra um reles e mort�fero v�rus se iniciou, estamos sendo atacados enquanto esp�cie – e, ignorantes, ainda n�o nos unimos -, a economia ruir� e previs�es mostram que 3% da popula��o ser� dizimada. Nem os privilegiados ter�o a sorte de n�o morrer por uma praga, E, pior, muitos det�m o poder de matar e n�o se importam. Recomendo um livro que pode nos dar a dimens�o de uma Guerra. As Benevolentes coloca o perpetrador (seria o nosso v�rus?) falando do genoc�dio e de suas pervers�es diante da morte. Consciente do seu crime, o protagonista nos desnorteia: “N�o defendo coer��o pelas ordens t�o prezada por nossos bons advogados alem�es. O que fiz, fiz com pleno conhecimento de causa, julgando ser meu dever e necess�rio que fosse feito, por mais desagrad�vel infausto que fosse. A guerra total tamb�m � isto: o civil n�o existe mais (...) As v�timas, na ampla maioria dos casos, n�o foram torturadas ou mortas porque eram boas, assim como seus carrascos n�o as torturaram porque eram maus. Seria um pouco ing�nuo acreditar nisso”. Um livro forte, aterrorizante, angustiante – por�m, muito aqu�m da realidade que nos aguarda."

Middlemarch

George Eliot
884 p�ginas, Record

• Andr� de Leones,  escritor, autor dos romances Abaixo do para�so e Eufrates

"George Eliot � o pseud�nimo de Mary Ann Evans (1819-1880), uma das autoras mais importantes da era vitoriana. Subtitulado “Um estudo da vida provinciana”, Middlemarch se debru�a sobre as vidas de uma teia de personagens em um momento hist�rico (imediatamente anterior � ascens�o da rainha Vit�ria ao trono) prenhe de mudan�as pol�ticas e sociais. Situado na cidade fict�cia do t�tulo, o livro espelha muito bem esse per�odo convulsionado em uma de suas protagonistas, Dorothea, pessoa inteligente e audaciosa, mas presa em um casamento que se depaupera como a velha ordem das coisas."

Boa tarde �s coisas aqui em baixo

Ant�nio Lobo Antunes
568 p�ginas, Objetiva

• Andr� de Leones,  escritor, autor dos romances Abaixo do para�so e Eufrates

"Dif�cil escolher um s� calhama�o na obra de Lobo Antunes, o maior escritor vivo de l�ngua portuguesa. Que tal Fado Alexandrino, N�o entres t�o depressa nessa noite escura ou Que farei quando tudo arde? Opto por Boa tarde por ter sido o primeiro dele que li. Seu enredo envolve as viagens de agentes portugueses que, em per�odos subsequentes, v�o � Angola p�s-colonial recuperar diamantes contrabandeados. Com isso, perpetuam a vampiriza��o do pa�s africano (mas tamb�m se estrepam). A estrutura estilha�ada mistura as vozes e os tempos narrativos e obriga o leitor a um recompensador trabalho de prospec��o e, por que n�o dizer, cocria��o."

Explos�o

Hubert Fichte
844 p�ginas, Hedra

• Andr� de Leones,  escritor, autor dos romances Abaixo do para�so e Eufrates

"N�o me conformo que esse livro extraordin�rio, lan�ado em 2017, no Brasil, tenha merecido t�o pouca aten��o. Nascido das viagens de Fichte (1935-1986) pelo nosso pa�s (e pela Am�rica do Sul) entre o final da d�cada de 1960 e o in�cio dos anos 1980, Explos�o � um mergulho autobiogr�fico e experimental, mas nunca ma�ante. O romance integra um projeto liter�rio inacabado, a Hist�ria da sensibilidade, desenvolvido ao longo de toda a carreira por Fichte. J�ckl, alter ego do autor, circula por terreiros de umbanda e candombl�, inferninhos, zonas de prostitui��o, favelas, mas tamb�m papeia com figuras como Pierre Verger e Salvador Allende, tudo isso com a urg�ncia de quem escreve “para um mundo em que a escrita n�o existir� mais, nem leitores, provavelmente nem mesmo olhos."


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