
Eles foram convidados a produzir
listas
de acordo com suas prefer�ncias pessoais, sem necessariamente hierarquizar os t�tulos selecionados. Foi evitado o termo “melhores”, justamente pela subjetividade da sele��o proposta. Eles tamb�m n�o precisavam justificar suas escolhas, embora v�rios tenham optado por faz�-lo.
Dez homens e 10 mulheres de Minas Gerais e de outros estados brasileiros relacionaram 10 livros de
fic��o,
entre
romances, contos e poesia
publicados no pa�s entre 2010 e 2020. Ficaram de fora reimpress�es e reedi��es, al�m de todo o universo da n�o fic��o (ensaios, reportagens, biografias). O resultado � uma sele��o regida pela diversidade.
Itamar Vieira Junior, que j� vendeu mais de cem mil exemplares
, � obra de gigantes das letras do s�culo 20. “Retoma a tradi��o – hoje recalcada, para n�o dizer renegada – dos grandes realistas brasileiros, como Graciliano Ramos, Jorge Amado e Z� Lins do Rego”, destaca o autor da biografia de Vinicius de Moraes.
Leia um trecho de "Torto arado", de Itamar Vieira Junior
Foram 129 cita��es, de produ��es independentes a best sellers. Entre os cinco mais lembrados, tr�s livros foram escritos por mulheres e tr�s s�o de autores negros. A come�ar pelo campe�o de cita��es, “Torto arado”, que entrou em 11 das 20 listas. “Surpreende pela for�a dos personagens e pela beleza da hist�ria”, afirmou Simone Pessoa, livreira da Livraria Ouvidor. O cr�tico liter�rio Jos� Castello comparou o romance do baiano
Leia um trecho de "Torto arado", de Itamar Vieira Junior
Com o seu “O livro das semelhan�as”, a poeta mineira Ana Martins Marques foi lembrada em oito listas. “A precariedade da palavra, a impossibilidade intr�nseca aos nomes, � o principal tema desse livro de poemas extraordin�rio, em que ressurge o abismo intranspon�vel entre as palavras e as coisas, as palavras e as imagens”, ressaltou Guiomar de Grammont, coordenadora geral do F�rum das Letras. “Chama a aten��o pelo modo como, nele, a qualidade de cada poema em si se amplifica e se articula na inteligente e sens�vel estrutura��o do livro como um todo”, completou a professora Andr�a Soares Santos, do departamento de Linguagem e Tecnologia do Cefet-MG.
Morta em 2017, Elvira Vigna n�o teve tempo de ver o destaque conferido ao seu “Como se estiv�ssemos em palimpsesto de putas”, indicado por seis convidados. “Meu livro favorito da d�cada. Uma obra-prima que, nas frases cortantes de Vigna, fica ainda melhor”, justificou o cr�tico Mateus Baldi. “Olhos d’�gua”, de Concei��o Evaristo, emplacou em cinco listas. “Sem quaisquer
idealiza��es
, s�o aqui recriadas com firmeza e talento as duras condi��es enfrentadas pela comunidade afro-brasileira”, afirmou Etiene Martins, da livraria Bantu, especializada em obras de autores negros.
“Marrom e amarelo”, de Paulo Scott, tamb�m ganhou cinco men��es. “Traz outro olhar para o debate, principalmente do que � ser preto em um pa�s racista, embora de maioria negra. Livro
extremamente
necess�rio”, apontou o cr�tico pernambucano Ney Anderson, do blog “Ang�stia criadora”.
Como toda produ��o art�stica, a literatura n�o passou inc�lume �s in�meras mudan�as dos �ltimos 10 anos do pa�s. Crises pol�ticas e econ�micas profundas deixaram suas marcas no trabalho dos escritores, que n�o se furtaram a abordar temas como trabalho escravo, cotas, racismo, misoginia, machismo, crise clim�tica e autoritarismo. A ascens�o da autopublica��o tamb�m se fez presente: quatro dos livros indicados nas listas foram bancados pelos pr�prios autores.
Importante ressaltar tamb�m que as obras lembradas integram a �ltima leva de produ��o ficcional antes da pandemia do novo coronav�rus. Al�m de boa literatura, as obras selecionadas tamb�m servem como uma esp�cie de mapeamento subjetivo do pa�s que
deixamos
para tr�s. Certamente, os milhares de �bitos, o isolamento e outras mudan�as provocadas pela COVID-19 deixar�o suas marcas na produ��o liter�ria da d�cada que come�a sob o signo do desamparo e do luto.
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