
Dez anos de anota��es em 22 cadernos resultaram em quatro mil p�ginas manuscritas. Todas incendiadas pelo pr�prio autor. Foi em uma “tarde astrosa” de 20 de agosto de 1942 que Eduardo Frieiro decidiu queimar o primeiro di�rio. Nove dias depois, o escritor narrou o fato ao iniciar uma nova sess�o de apontamentos. “Atirei (os cadernos) ao fogo, um a um, como peda�os arrancados da pr�pria carne”, contou. “Eu me sentia rasgar e queimar, mutilando-me em dez anos de minha vida”, escreveu Frieiro na abertura do livro Novo di�rio, repleto de inconfid�ncias, diatribes, idiossincrasias e vitup�rios: “Foi o suic�dio do homem que eu fui”. A mulher, No�mia, lamentou a decis�o do marido: “Era a sua obra-prima”. Frieiro tentou minimizar o gesto. Disse � esposa que nos cadernos somente havia “maldade, inconveni�ncia, orgulho, pe�onha, muita pe�onha... E, sobretudo, muitas tolices”.
O epis�dio � emblem�tico na trajet�ria do escritor, nascido em 1889 em Matias Barbosa (distrito de Juiz de Fora), morador de Belo Horizonte de 1898 at� a morte, em 1982. Autor de romances e ensaios, professor da UFMG e primeiro diretor da Biblioteca P�blica Estadual de Minas Gerais, fundou nos anos 1930 a Sociedade Editora Amigos do Livro, que teve entre os 20 s�cios nomes como Carlos Drummond de Andrade, An�bal Machado e Ciro dos Anjos. O “monstro de timidez” e o “mais envergonhado de todos os literatos envergonhados de Minas”, nas defini��es do pr�prio autor, � o homenageado na 2ª edi��o do FLIR (Festival Livro na Rua), de hoje a domingo, na Rua Fernandes Tourinho, na Savassi.
“Eduardo Frieiro encarna como nenhum outro a figura do apaixonado pelo livro. Autodidata, sem ter conclu�do nem o curso prim�rio, ele construiu uma trajet�ria intelectual exemplar inteiramente ligada ao mundo dos livros”, destaca Jos� Eduardo Gon�alves, curador do FLIR. “No momento em que a cultura, a ci�ncia e a imprensa est�o sendo hostilizadas de forma p�blica e at� institucional, a celebra��o do livro como componente civilizat�rio de nossa sociedade n�o deixa de ser um ato de resist�ncia c�vica e �tica”, afirma Gon�alves.
''O trabalho do verdadeiro homem de letras consiste em aparar a linguagem, mais do que em a renovar ou subverter. Ser revolucion�rio � f�cil; mais dif�cil � ser continuador e conservador.''
Trecho de A ilus�o liter�ria (2� edi��o,1941, Editora Paulo Bluhm)
“Como todo grande personagem, Frieiro � contradit�rio”, opina Jo�o Pombo Barile, redator do Suplemento Liter�rio de Minas Gerais. “Um sujeito discreto pessoalmente, mas que se envolvia em pol�micas, como a rela��o tumultuada com o modernismo. Tamb�m demonstrava um certo ressentimento por n�o ser conhecido fora de Belo Horizonte, que chamava de prov�ncia, mesmo sendo respeitado pelos cachorros grandes da literatura brasileira, como Drummond e Otto Maria Carpeaux”, opina Barile, que apresentou in�ditos de Frieiro na se��o Acervo, no primeiro n�mero da revista Olympio. “E � uma pena porque a obra dele tem grandes momentos. Os ensaios s�o muito curiosos: A ilus�o liter�ria � o mais interessante, muito atual.”
Radicado em S�o Paulo, o escritor mineiro Humberto Werneck concedeu a Frieiro o protagonismo de um dos cap�tulos (sintomaticamente batizado de “Um caderno de fel”) de seu cl�ssico livro-reportagem O desatino da rapaziada: jornalistas e escritores em Minas Gerais (1992). “Tratava-se, ali, de falar da rea��o do establishment liter�rio de Belo Horizonte ao nascente modernismo, encarnado no grupo informalmente liderado por Carlos Drummond de Andrade. E entre os escritores hostis � novidade n�o me pareceu que houvesse algu�m da estatura intelectual de Eduardo Frieiro, que al�m disso era um personagem enfezado bem mais interessante que outros passadistas da pra�a”, explica Werneck ao Estado de Minas. “Foi Frieiro, por detr�s do pseud�nimo Jo�o Cot�, inspirado no franc�s Jean Cocteau, quem mais se destacou entre os passadistas locais na hora de desancar os jovens poetas e prosadores que chegavam � cena – aqueles 'rapazes desatinados' que Djalma Andrade acusou de invadirem 'o templo de Apolo' e quebrar 'as est�tuas dos deuses imortais'”.

AUS�NCIA DE
PROJE��O NACIONAL
Assim como Barile, Humberto Werneck considera que pesou na aus�ncia de proje��o nacional o fato de Frieiro n�o ter se mudado para o Rio ou S�o Paulo. “Para se fazer ouvir fora de Minas, era indispens�vel um grande esfor�o para abrir espa�o no centro do poder liter�rio, instalado ent�o no Rio de Janeiro. Como fez Drummond, por exemplo, que nos seus 20 e poucos anos de idade, em Belo Horizonte, disparava colabora��o para reda��es de revistas e jornais do Rio, conseguindo emplac�-la em diversas publica��es”, lembra Werneck, antes de destacar outro fato que pode ter contribu�do para a falta de visibilidade do autor.
“Os livros de Frieiro sa�am por editoras belo-horizontinas, muitas vezes em edi��es confidenciais ou quase, e n�o consta que tenha havido empenho dele ou de seus editores para disputar espa�o nas livrarias do Rio e de S�o Paulo”, ressalta o jornalista, que dedicou uma cr�nica (“O mestre da maledic�ncia”) ao escritor em O Estado de S. Paulo em 2015, na qual narra encontro com Frieiro, mediado por Murilo Rubi�o: “Com o colarinho abotoado e um palet� que certamente atravessara d�cadas, Frieiro me deu a impress�o de ter apeado de uma velha fotografia da parede.”
“O fato de ter escolhido ser um intelectual radicalmente avulso, encastelado em sua torre, sem ades�o a grupos e tend�ncias, tamb�m n�o facilitou a recep��o de sua obra”, observa Werneck, lembrando as palavras de Frieiro no di�rio publicado: “Gosto das letras, mas n�o dos literatos, gente pouco am�vel, feia, v�, invejosa, cheia de melindres, irritadi�a e irritante”. De fato, o escritor n�o poupava ironia (“resposta natural do homem �s contradi��es do mundo”) ao citar colegas nas anota��es pessoais.
''Sempre existiram mulheres escritoras, mas como casos excepcionais, como acidentes isolados, individuais. Isto no passado. Agora, por�m, � diferente. A literatura feminina, como a vemos hoje, aberta largamente aos talentos e saudada liberalmente por todos os bons esp�ritos, � um fato social novo que se prende � emancipa��o progressiva da mulher. Esta n�o s� invadiu profiss�es at� h� pouco reservadas aos homens, como conquistou s�lidas trincheiras na literatura. Aos poucos foram vencidas todas as resist�ncias. E agora n�o h� lugar para as chufas e as zombarias.''
Trecho de A ilus�o liter�ria (2� edi��o,1941, Editora Paulo Bluhm)
Em 1944, chamou Fernando Sabino de “Fernandinho, o Pr�ncipe Consorte, genro do Governador” e Murilo Rubi�o de “mo�o talentoso e de futuro, mas totalmente problem�tico como escritor”. Admirador incondicional da obra de Cervantes, criticava “a onda de mulatismo que afoga presentemente as nossas letras”. Ao editor carioca Jos� Olympio, destinou mais uma dose de veneno: “Faz quest�o de s� editar gente importante ou ligada a gente importante (quantos abacaxis tem dado aos prelos!)”.
Apaixonado pela arte tipogr�fica (“Em nenhum outro of�cio, o trabalho manual se funde mais intimamente com o da intelig�ncia”) e pelo cinema (anotava regularmente em seu di�rio impress�es sobre os filmes a que assistia nos cines Metr�pole, Gl�ria e Brasil), Eduardo Frieiro deixou uma cole��o de m�ximas e de certezas, algumas delas envoltas em contradi��es. Mesmo chamando Belo Horizonte de “oco do mundo”, admitia que viveria mais isolado no Rio de Janeiro do que “aqui na prov�ncia”: “Grande multid�o, grande solid�o”.
N�o teve filhos porque dizia que n�o nasceu para lidar com crian�as: “Gosto muito delas, mas ainda bem que n�o tenho nenhuma”. C�tico, recusava-se a interpretar os acontecimentos de ontem e de hoje: “Ignoramos o passado, n�o conhecemos o presente, nada vislumbramos no futuro”. N�o se considerava religioso. Preferia professar sua f� por meio das palavras impressas, preferencialmente em livros. “Ler, ler. Saber. Para qu�? Para construir o pr�prio esp�rito.”
“Depois de um per�odo com birra, estou voltando a gostar dos livros dele”, admite Jo�o Barile. De certa forma, o redator do Suplemento Liter�rio segue um dos ensinamentos de Frieiro que, felizmente, n�o foram destru�dos pelo fogo. Constam na mais afetuosa das obras do escritor, Os livros nossos amigos, de 1941: “Todo o tempo � tempo para que o homem se oriente por novos caminhos, ou assente a vida mais em acordo com os seus talentos e inclina��es, se ainda n�o o fez”. Ainda � tempo, portanto, de descobrir Eduardo Frieiro.

Depoimento
Ant�doto contra a grafomania
Andr� Nigri*
Come�o esta homenagem a Eduardo Frieiro sob suspeita. No seu auto de f� liter�rio, ele designa os jornalistas como improvisadores das letras porque vivem sob o signo da urg�ncia e ainda acrescenta: “Nada do que se faz com urg�ncia pode ser feito com inteiro prazer, portanto, com perfei��o”. Isso e muito mais est� dito em A ilus�o liter�ria, pequeno volume de ensaios publicado em 1932, quando o modernismo j� se consagrara no Brasil e o romance social nascia com embalagem de cl�ssico.
Era uma �poca tamb�m, � semelhan�a da nossa, tomada pela sanha da publica��o. N�o havia quem n�o quisesse ver impresso seu romance, seus contos e poemas. � maneira de Montaigne, o aparentemente inofensivo livrinho de Frieiro enfileirava raz�es e motivos para aplacar a grafomania. Como se falasse para os literatos de hoje, o c�ustico e c�tico intelectual mineiro dizia ser “muitos os que escrevem e poucos os verdadeiros escritores” e lembrava, citando Baudelaire, que a inspira��o � a recompensa do exerc�cio cotidiano.
Quando li essa obra, no final dos anos 1980, estava tomado da mesma e escaldante febre liter�ria que afligira outro mineiro na juventude, Otto Lara Resende, autor da orelha da terceira edi��o de A ilus�o liter�ria, pela editora Itatiaia. Por um lado, nada podia ser mais inibidor para um aspirante a escritor como eu. Por outro, a leitura atenta dos mais de vinte textos reunidos na obra teve sobre mim o efeito de um antit�rmico. Era preciso baixar a temperatura e o furor de escrevinhador e me dedicar ao longo exerc�cio da leitura e da experi�ncia antes de me aventurar na fic��o.
Andr� Nigri � jornalista e autor do romance Paralisia (Reformat�rio, 2018)

O missivista
“Cartas s�o recados para o futuro”
Ent�o professora do curso de biblioteconomia da Universidade Federal do Esp�rito Santo, Maria da Concei��o Carvalho escolheu Eduardo Frieiro como objeto de estudo para a sua tese de doutorado em literatura comparada na UFMG por um motivo: contribuir na redu��o do “enorme sil�ncio” que envolvia a produ��o intelectual do escritor. Mas estava indecisa quanto ao foco do trabalho: poderia estudar o bibli�filo, o cr�tico liter�rio... A d�vida acabou, lembra, quando teve acesso a cerca de mil cartas recebidas por Frieiro, guardadas em duas grandes gavetas em um arm�rio de a�o. E, em outro arm�rio, c�pia das quase 600 cartas que o escritor enviou aos seus correspondentes. A seguir, ela detalha seu estudo e analisa a import�ncia da correspond�ncia do escritor.
Como o estudo da correspond�ncia pode ajudar a compreender a vida e a obra de Frieiro?
O t�tulo e subt�tulo que dei � tese Cordialmente, Eduardo Frieiro: fragmentos (auto)biogr�ficos apontam, justamente, para a possibilidade de a correspond�ncia pessoal ser lida como uma escrita autobiogr�fica atrav�s da qual o autor da carta, em princ�pio, fala de si, de seu trabalho profissional e de suas rela��es diretamente a um destinat�rio formal e conhecido, com endere�o definido, mas, na suposi��o de estudiosos da epistolografia, tamb�m com a esperan�a de ser lido por potenciais destinat�rios. Seriam cartas constru�das, no fundo, como verdadeiros recados para o futuro (…). Frieiro trocou cartas com aproximadamente 300 intelectuais brasileiros e estrangeiros desde a d�cada de 1930 at� meados de 1970, quando come�ou ter graves problemas de vis�o. Embora tenha declarado mais de uma vez que n�o gostava de escrever cartas, respondia a todas que recebia e chegou a mencionar no seu di�rio o projeto de uma futura publica��o de cartas selecionadas, n�o tendo, contudo chegado a trabalhar nesse sentido. Pode-se afirmar, enfim, que o di�logo epistolar com interlocutores diversos, ao longo de d�cadas, teria representado para Frieiro, misantropo assumido, estrat�gia especial para tecer uma rede de sociabilidades atrav�s da qual buscava edificar e reafirmar, para si mesmo, para seus interlocutores e para a posteridade, sua identidade de intelectual e de escritor.
Por que atribui a Frieiro a condi��o de um dos explicadores do Brasil, ou pelo menos, de Minas Gerais?
Dotado de forte intui��o e gosto pela busca em fontes prim�rias, e apoiado em s�lida bagagem de conhecimentos liter�rios e hist�ricos, Frieiro esteve presente na cena cultural brasileira e mineira, dos anos 1930 aos anos 1960, abordando temas relativos � literatura e a diferentes aspectos da hist�ria do nosso estado, destacando-se pelos ju�zos independentes e argutos, muitas vezes pol�micos.
Foi especialmente interessado na pesquisa e escrita da historiografia liter�ria de Minas, buscando, inclusive, resgatar escritores menores ou esquecidos, cujo conhecimento, na sua opini�o, podia ajudar a ampliar a compreens�o da forma��o do nosso sistema liter�rio. Seus livros Letras mineiras (1929-1937), de 1937, e P�ginas de cr�tica e outros escritos, de 1956, resumem um trabalho maior e sistem�tico de coletar e descrever anal�tica e sistematicamente os textos produzidos no espa�o culturalmente perif�rico da Minas de ent�o. No campo da hist�ria cultural, suas obras mais conhecidas s�o O diabo na Livraria do C�nego (1945), Como era Gonzaga (1955) e Feij�o, angu e couve (1966), entre outros textos sobre a hist�ria de Minas, publicados em jornais e revistas que depois foram incorporados na segunda edi��o de O diabo na Livraria do C�nego sob o t�tulo Outros temas mineiros. Ainda que afirmasse, repetidamente, n�o ser um historiador, tais estudos resultam do seu interesse em buscar novas interpreta��es historiogr�ficas sobre o Brasil, alguns deles na contram�o da mitografia pedag�gica estimulada pelo Estado Novo. Mas � preciso ressaltar que essa tentativa de desconstru��o de mitos nacionais se baseia em pesquisa escrupulosa e s�ria dos fatos hist�ricos e, acredito, sem a inten��o de dar a �ltima palavra ou fomentar novos dogmas.
Quais as “posturas instigantes” que mais chamam a aten��o na personalidade do escritor?
Uma postura de Frieiro que me parece “instigante” � seu pensamento independente e capaz de rever posi��es ao longo da vida, posi��es anteriormente declaradas, fossem elas pol�ticas, liter�rias, ou sobre rela��es pessoais. Tentava explicar sua independ�ncia se dizendo “antidogm�tico em filosofia, em pol�tica, em est�tica e no resto. Penso que ter opini�o � preferir enganar-se num certo sentido”, diz em carta a um correspondente em dezembro de 1964. Poderia ser apenas uma ret�rica vazia de autopromo��o, mas, a julgar por diferentes testemunhos de pessoas que com ele conviveram, era essa, sim, uma marca sua de honestidade e coragem intelectual. Enfim, li muitas cartas nas quais se percebe um esp�rito desprendido e humanit�rio, que se contrap�e � imagem sua tamb�m conhecida: a do indiv�duo exigente e intolerante, ir�nico e col�rico.
O professor
“Era arredio e ensimesmado’’
Professora em�rita da UFMG, Let�cia Malard teve aulas de literatura hispano-americana e literatura brasileira com Eduardo Frieiro na Faculdade de Filosofia, Ci�ncias e Letras. A seguir, a escritora e cr�tica liter�ria lembra a experi�ncia com o escritor-professor e destaca os pontos altos da trajet�ria do autor.
O que foi mais marcante na experi�ncia de ser aluna de Eduardo Frieiro?
O mais marcante era sua cultura liter�ria. Lia muito, lia tudo. Em espanhol, portugu�s, franc�s, latim, italiano e ingl�s. O impressionante: sendo autodidata e s� tendo feito a metade do curso fundamental, era um monumento liter�rio. Como professor n�o se mostrava rigoroso, de forma alguma, mas tinha uma peculiaridade: nunca dava a nota m�xima, mesmo quando o aluno merecia, e confessava isso. Acho que era mania misturada com pessimismo vivencial. Corrigia absolutamente tudo nos trabalhos escolares, at� mesmo ortografia, e escrevia coment�rios, o que n�o era comum nos outros professores.
Por quais assuntos ou escritores ele mais demonstrava paix�o?
Tradicionalista no campo liter�rio, amava poesia, e seus poetas preferidos eram os cl�ssicos: da Gal�cia – certamente devido �s origens da fam�lia – seguindo-se os espanh�is e os portugueses. Entre os brasileiros, n�o gostava da produ��o modernista, salvo exce��es. Os preferidos eram os parnasianos, principalmente Olavo Bilac e Vicente de Carvalho.
Como ele se comportava em sala de aula?
Nas aulas era supereducado, demonstrava apre�o pelos alunos e gosto pela profiss�o. N�s costum�vamos cham�-lo afetivamente de Frieirinho fora das aulas, aliando sua baixa estatura f�sica � idade avan�ada e ao modo cort�s no tratamento pessoal. Como j� era bem idoso para a �poca – andava por volta dos 70 anos – e um tanto arredio, n�s o trat�vamos com carinho e defer�ncia, compreendendo suas limita��es.
Acredita que a postura eventualmente ir�nica de Frieiro, especialmente em rela��o a colegas escritores, pode ter interferido na avalia��o de sua obra liter�ria?
Acredito que sim. N�o s� a ironia, mas o pessimismo, a franqueza excessiva, o julgamento rigoroso do outro. O novo di�rio � um bom exemplo: detona muita gente. Al�m do mais, ele n�o aderiu ao modernismo, indispondo-se com alguns de seus cultuadores, mesmo tendo publicado v�rios deles na citada editora.
Quais os pontos altos da obra do escritor?
Entre seus quatro romances, destaco O mameluco Boaventura (1929). Em que pese sua configura��o rom�ntica em plena efervesc�ncia do modernismo, trata-se de uma narrativa ambientada nas Minas Gerais do s�culo 18. Linear, a tem�tica � interessante, de leitura fluente e agrad�vel gra�as ao bom estilo do autor. Na �rea ensa�stica, os livros A ilus�o liter�ria (1932) e O romancista Avelino F�scolo (1960). O primeiro versa sobre a tarefa e a arte de escrever, ora de vi�s otimista, ora pessimista em rela��o a elas. Publicado h� mais de 80 anos, impressiona pela atualidade de suas reflex�es. Aconselho sua leitura �queles que escrevem ou pretendem escrever literatura. O segundo livro � um pequeno ensaio, que me � particularmente caro, pois inspirou o tema de minha tese para professora titular: a vida e a obra de Avelino F�scolo, escritor mineiro da virada do s�culo 19 para o 20.
� poss�vel considerar que Frieiro foi mais amigo dos livros do que de escritores?
Creio que sim. Como eu disse, era arredio, al�m de ensimesmado. N�o “fazia vida liter�ria”, como se dizia. Raramente era visto em eventos liter�rios, mas frequentava cinemas e teatros. Filho de imigrantes, casado e sem filhos, n�o tinha uma grande fam�lia por aqui. Parece que vivia s� para a dona No�mia e a biblioteca pessoal, hoje pertencente � Academia Mineira de Letras. E, durante algum tempo, para o jornalismo, a biblioteca da Pra�a da Liberdade e o c�o Bedeleco.
P�GINAS DE UMA VIDA
O clube dos graf�manos (1927)
O mameluco Boaventura (1929)
Inquietude, melancolia (1931)
O brasileiro n�o � triste (1931)
A ilus�o liter�ria (1932)
O cabo das tormentas (1936)
Letras mineiras (1937)
Os livros nossos amigos (1941)
Como era Gonzaga? (1950)
P�ginas de cr�tica e outros escritos (1956)
O diabo na Livraria do C�nego e outros temas mineiros (1957)
O alegre arcipreste e outras p�ginas de literatura espanhola (1959)
O romancista Avelino F�scolo (1960)
Feij�o, angu e couve (1966)
"O mal de n�o ter dinheiro enche de amargura a exist�ncia do homem das letras"
Trechos de A ilus�o liter�ria (2ª edi��o, 1941, Editora Paulo Bluhm):
"O mal de n�o ter dinheiro enche de amargura a exist�ncia do homem das letras"
"Se n�o fossem os cr�ticos, quem haveria de guiar o leitor comum na floresta inextric�vel das obras que �s centenas surgem de toda parte? S�o eles que v�o colocando os postes orientadores, os letreiros explicativos, as setas indicadoras de dire��o"
"Quem nos diz que, num futuro pr�ximo, n�o ser� deixada exclusivamente �s mulheres toda atividade liter�ria?"
"Quem nos diz que, num futuro pr�ximo, n�o ser� deixada exclusivamente �s mulheres toda atividade liter�ria?"
FESTIVAL LIVRO NA RUA
• PROGRAMA��O RESUMIDA
Hoje: Abertura – 19h30 – Espa�o A ilus�o liter�ria – Os livros nossos amigos: homenagem a Eduardo Frieiro
Amanh�: das 10h �s 19h – V�rios temas para conversas com autores e especialistas. Sagarana – Show com Celso Adolfo. Sarau dan�ado
Domingo: Mesa 1: A leitura ajuda a viver – Espa�o para lan�amentos de escritores de outras editoras participantes do festival e autores independentes.
Das 10h �s 13h – A Academia Mineira de Letras em movimento/Galeria Recorte: cria��o de mural em homenagem a Eduardo Frieiro pela artista Kakaw.
Interven��o Nuvens de barro – Espet�culo da Cia de Dan�a Pal�cio das Artes. O espet�culo se inspira no universo po�tico de Manoel de Barros.
As livrarias envolvidas no evento far�o atividades de lan�amento e bate-papo com autores.
Programa��o completa no link:
https://www.festivallivronarua.com.br/programacao/
Endere�o: Rua Fernandes Tourinho, Savassi, Belo Horizonte. Entrada franca