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Livro detalha comidas, bebidas e h�bitos alimentares citados na B�blia

Ap�s 10 anos de trabalho, pesquisadora pernambucana Maria Lecticia Monteiro Cavalcanti lan�a 'A mesa de Deus - Os alimentos da B�blia'


07/04/2023 04:00 - atualizado 07/04/2023 00:41

foto da A última ceia
A �ltima ceia, Leonardo da Vinci


“Felizes os convidados para a ceia do Senhor” – na voz do sacerdote, durante a missa, s�o essas as palavras que chamam os fi�is ao sacramento divino da comunh�o. O “alimento”, a h�stia consagrada, representa o corpo de Cristo; e, quando umedecida no vinho, o corpo e o sangue de Cristo. Tem sido assim, ao longo dos s�culos, o banquete da eucaristia servido nas celebra��es que re�nem f�, cultura religiosa, hist�ria, alegria, e, principalmente, louvor a Deus. Mas, al�m do p�o espiritual, o que h� na mesa de Deus para os simples mortais, n�o importando sua cren�a?

A resposta, fruto de 10 anos de pesquisas e elabora��o, chega na escrita da pernambucana Maria Lecticia Monteiro Cavalcanti, autora de “A mesa de Deus - Os alimentos da B�blia”, lan�amento da Editora Record. Em 384 p�ginas, com ilustra��o de pinturas famosas, a exemplo de “A �ltima ceia”, de Leonardo da Vinci, e cita��o em destaque do papa Francisco, “O prazer de comer vem de Deus”, a obra parte dos prim�rdios da hist�ria da humanidade, quando a rela��o dos homens com os alimentos dizia respeito � pr�pria sobreviv�ncia. E acompanha povos e costumes do Antigo Testamento e do Novo Testamento

Escrito para leigos e entendidos no assunto, “independentemente da cren�a de cada um”, conforme diz a escritora, “A mesa de Deus” � para ser lido em qualquer �poca, mas, com certeza, ganha um sabor especial, trazendo conhecimento e encantamento, se iniciado neste per�odo de quaresma.  “Procurei escrever um livro no qual estivessem todas as informa��es que pesquisei, ilustradas pelos vers�culos. E que fosse leve”, resume a autora.

Integrante da Academia Pernambucana de Letras, pesquisadora gastron�mica, com v�rias obras publicadas, Maria Lecticia teve a ideia para o livro durante uma conversa com seu marido, Jos� Paulo, e o ent�o padre (hoje cardeal), dom Tolentino Mendon�a, na Casa de Ch� de Santa Isabel (antiga Vicentinas) no Largo do Rato, em Lisboa, Portugal.

“Aceitei o desafio sem me dar conta, naquele momento, da grande responsabilidade que seria, pois n�o tenho forma��o teol�gica, nem nunca tinha lido a B�blia. Ent�o, o primeiro passo foi procurar te�logos e estudiosos no assunto que me dessem o suporte que precisava, ou seja, tirar d�vidas, ajudar a interpretar algumas passagens b�blicas – at� porque, como ensina Frederico Louren�o (professor portugu�s, especialista em literatura cl�ssica e tradutor do grego para o portugu�s), a B�blia pode ser lida de muitas maneiras –, e que fizessem, depois do texto pronto, a revis�o final.”

A OBRA E O TEMPO 

Desafio feito, desafio aceito, e veio a miss�o de ler e reler o Livro dos Livros algumas vezes. “No princ�pio, marcando na pr�pria B�blia os vers�culos referentes a alimento. E a� tomei um susto, pois raras s�o as p�ginas que n�o tenham um vers�culo marcado: os alimentos est�o ali por toda parte.”

 O processo de trabalho, na etapa seguinte, exigiu mais concentra��o e paci�ncia, demandando passar para o computador os vers�culos marcados, conferir cada um, separ�-los por assunto e descartar os que tinham a mesma ideia, apenas ditos de maneira diferente. “Tamb�m fazer toda uma pesquisa paralela para poder compreender muitas das hist�rias narradas na B�blia, ou seja, o tempo hist�rico em que tudo ocorreu, as grandes civiliza��es daquele tempo – eg�pcia, mesopot�mia (ass�ria e Babil�nia), persa, grega e romana – e saber ainda do lugar dos acontecimentos.”

 Sobre o trabalho durante d�cada, Maria Lecticia explica que estabeleceu com o chamado livro sagrado do cristianismo uma rela��o muito pr�xima. “Fui compreendendo sua import�ncia. � fundamental fonte de pesquisa para quem, claro, estuda as religi�es, mas tamb�m essencial para quem estuda hist�ria, geografia, antropologia, sociologia, �tica, pol�tica, costumes, artes e literatura. N�o � por acaso que as grandes universidades (Harvard, Princeton, Yale, Oxford e Cambridge) estudam a B�blia em mat�rias n�o religiosas. Ali est�o textos milenares que falam do in�cio da nossa civiliza��o.”

CAMINHADA

 O fasc�nio pelos 73 livros que comp�em o Antigo e o Novo Testamento ampliou os horizontes. “Minha inten��o foi pesquisar os alimentos, as bebidas e os h�bitos alimentares que est�o na B�blia. E tamb�m, e sobretudo, a import�ncia de cada um desses alimentos para aquele povo de Deus nos diversos momentos de sua caminhada.” A escritora pernambucana cita novamente Frederico Louren�o, para quem “independentemente de ter ou n�o ter f�, a B�blia � um dos mais fascinantes livros alguma vez j� escrito”.

 Imposs�vel n�o perguntar � autora de qual celebra��o b�blica gostaria de ter participado – afinal, est�o ali das origens do universo, da vida humana e animal, a trajet�ria do povo hebreu e de outros povos da Antiguidade, a vida de Jesus Cristo, de profetas e s�bios, de reis e tiranos, permeados por cantos, hinos, prov�rbios, poesias, ep�stolas e ora��es. Eis o pensamento de Maria Lecticia:

  “Jesus compreendeu que a mesa ‘constitui, sempre, um dos fortes, se n�o o mais forte, alicerce das sociedades humanas. Constitui a melhor e a mais solene cerim�nia que os homens acharam para consagrar todos os seus grandes atos, imprimindo-lhe um car�ter de uni�o e de comunh�o’, segundo E�a de Queiroz. Assim, inaugurou um novo tempo, pregando a inclus�o de todos em volta dessa mesa. Com amigos e inimigos, mulheres e homens, doentes e s�os, ricos e mendigos, santos e pecadores. Gostaria de ter participado de uma dessas refei��es.”

ERVAS E CEREAIS

Em seus estudos, Maria Lecticia verificou que a cozinha da B�blia se fazia com grande quantidade de ervas, especiarias, cereais e leguminosas, usados na prepara��o de pratos ou na fabrica��o de p�o e cerveja, trazidos, em caravanas, da �ndia e da pen�nsula Ar�bica. “Produtos, �s vezes, secos, por serem mais f�ceis de conservar. Usavam azeite de oliva. Da uva, faziam vinho e vinagre. Do leite de cabra, ovelha e vaca, preparavam queijos frescos ou secos (conservados no sal). Ado�avam os alimentos com mel de abelha que, � �poca, nada era t�o doce.” Logo na abertura da obra, registrou: “Todos os que forem deixados na terra se alimentar�o de coalhada e de mel” (Is 7, 22)”.

Em “A mesa de Deus”, s�o apresentadas e analisadas n�o apenas as refer�ncias aos principais alimentos e ingredientes dos tempos b�blicos, a exemplo de cereais, carnes, frutos, temperos, azeite, mel, leite etc., mas tamb�m as ligadas aos utens�lios para o preparo, aos rituais de que eram parte importante, aos significados espirituais de cada um, entre v�rios aspectos pr�ticos e simb�licos a eles relacionados.

 No pref�cio, o cardeal dom Jos� Tolentino Mendon�a lembra “entrar na B�blia pela porta da cozinha � um argumento mais s�rio do que possa supor. E tamb�m mais espiritual. O t�tulo escolhido para esta obra est� certo. E o livro d� a provar o que promete. Maria Lecticia oferece-nos aqui uma daquelas experi�ncias que n�o vamos querer esquecer.”

 Tamb�m colunista do jornal “Folha de Pernambuco”, Maria Lecticia � autora dos livros “A��car no tacho” (2007), “O negro a��car” (2008), “Hist�ria dos sabores pernambucanos” (2009), “Esses pratos maravilhosos e seus nomes esquisitos” (2013), “Gilberto Freyre e as aventuras do paladar” (2013) e “A��car – uma Hist�ria” (no prelo).

Maria Lecticia Monteiro Cavalcanti, autora do livro 'A mesa de Deus %u2013 Os alimentos da Bíblia'
A autora do livro, Maria Lecticia Monteiro Cavalcanti: pesquisa

Sagrados frutos da terra

1) P�o
“O p�o esteve presente, sempre, em todas as culturas. Mas s� depois de algumas conquistas: o dom�nio do fogo, o in�cio da agricultura, o desenvolvimento da cer�mica. Em potes de barro, eram postos, no fogo, �gua e gr�os. Em seguida, tamb�m azeite. Para que durassem por mais tempo, aquelas papas, come�aram a ressec�-las, diretamente no fogo ou sobre pedras naturalmente aquecidas pelo sol. Nasciam, assim, os primeiros p�es, ainda rudimentares.”

2) Vinho
“N�o se sabe exatamente quando nem onde foram produzidos os primeiros vinhos. (...)  As mais antigas sementes (de uva), datadas por marca��o de carbono entre 7000 e  5000anos a.C, foram encontradas em Byblos (L�bano), Catal H�y�k (Turquia), Damasco (S�ria), Ge�rgia e Jord�nia. Remontam ao per�odo em que os homens passaram de n�mades para uma vida sedent�ria e come�ar a plantar. (...) Na B�blia, h� 230 men��es ao vinho.”
 
3) Vinagre
“O ‘vinus acrem’ nasceu junto com o vinho. � que, por vezes, o pr�prio vinho se convertia em vinagre (�cido ac�tico); n�o se conseguindo explicar, naquele tempo, a raz�o. (...) No in�cio, o vinagre foi usado apenas como rem�dio. O m�dico e fil�sofo grego Hip�crates (460-370 a.C), considerado o pai da medicina, receitava duas colheres de sopa, depois das refei��es, para ajudar na digest�o. Talvez pela mesma raz�o, consta na B�blia, que ‘Booz disse a Rute (serva que trabalhava num campo de trigo): ‘Vem c�, come deste p�o e molha teu bocado no vinagre’ (Rt 2,14).
 
4) Azeite
“Oliveira � uma das �rvores mais importantes da B�blia. (...) A �rvore � origin�ria da �sia Menor, ‘onde se encontram os mais antigos vest�gios da sua cultura’. A partir de l�, por toda a orla do Mediterr�neo, que tinha ‘outonos chuvosos, invernos suaves e os ver�es secos e quentes com grande luminosidade’ (...). Na Antiguidade, o azeite foi utilizado para muitos fins e reverenciado por todas as culturas. No in�cio, era usado como combust�vel de ilumina��o, cosm�tico, perfume rem�dio ou em cerim�nias religiosas.”
 
5) Mel 
“Desde a mais remota Antiguidade, o mel esteve sempre ligado � hist�ria dos homens, e � dos deuses, tamb�m.(...) No Egito, era usado para embalsamar mortos ilustres. E, na Palestina, simbolizava fartura. ‘Terra de trigo e cevada, de vinhas, figueiras e rom�zeiras, terras de oliveira, de azeite e de mel’ (Dt 8,8) (...) Cana�, a Terra Prometida, seria essa ‘terra que mana leite e mel’ (Nm 14,8).” 
 
6 ) Sal
“Nenhum alimento carrega mais simbolismo do que o sal. � assim desde as mais antigas civiliza��es, E, tamb�m na B�blia. O rec�m-nascido � purificado com ele. ‘Por ocasi�o do teu nascimento, ao vires ao mundo, n�o cortaram teu cord�o umbilical, n�o foste lavada para tua purifica��o, n�o foste esfregada com sal’ (Ez 14,4). � sinal de sabedoria, “a vossa palavra seja sempre agrad�vel, temperada com sal (Cl 4,6). E de amor ao pr�ximo, ‘o sal � bom (...) Tende sal em v�s mesmos e vivei em paz uns com os outros’ (Mc 9,50).”
 
7) Leite e derivados
“Na B�blia, h� numerosas refer�ncias ao leite. Talvez por conta da escassez de �gua, e de sua m� qualidade, nas terras �ridas ou semi�ridas da Palestina (e seu entorno), era usado, por muitas vezes, apenas para matar a sede. ‘Comer�o teus frutos e beber�o teu leite’ (Ez 25, 4). A escolha, nos primeiros tempos, dependia menos do gosto e mais do animal dispon�vel no curral. (...) Derivados do leite – coalhada, manteiga, queijo – s�o, tamb�m, referidos na B�blia. � que o leite, �quele tempo, frequentemente talhava, sem que se compreendesse a raz�o”.
 
8) �gua
“No in�cio do G�nesis, ‘um sopro de Deus agitava a superf�cie das �guas’ (Gn 1, 2). Ele disse: ‘Haja um firmamento no meio das �guas e que ele separe as �guas das �guas’ (Gn 1,6), e que as ‘�guas que est�o sob o c�u se re�nam num s� lugar e que apare�a o continente’ (Gn 1,9). Deus, depois, ‘chamou ao continente terra e � massa das �guas, mares’ (Gn 1,10). (...) Em muitas passagens da B�blia, se v� a import�ncia da �gua. Mois�s foi retirado dos ‘juncos, � beira do Rio’ (Ex 2,3).”

Fonte: “A mesa de Deus – Os alimentos da B�blia”, de Maria Lecticia Monteiro Cavalcanti

foto do livro 'A mesa de Deus %u2013 Os alimentos da Bíblia'

“A mesa de Deus – Os alimentos da B�blia”
•Maria Lecticia Monteiro Cavalcanti
•Editora Record
•384 p�ginas
•R$ 74,90


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