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Estado de Minas

Livro apresenta minibiografias da inf�ncia de celebridades brasileiras

'Era uma vez 20', da escritora Luciana Sandroni, mostra a hist�ria de 10 brasileiros e 10 brasileiras importantes para a hist�ria do Brasil e como desde pequenos j� davam sinais de sua voca��o


postado em 10/01/2020 06:00 / atualizado em 10/01/2020 07:58


O que voc� sabe da inf�ncia de brasileiros c�lebres? Um breve retrato dos primeiros anos de vida que j� apontavam como seria a vida adulta de 20 personalidades marcantes na hist�ria do Brasil. Essa � a proposta da obra infantojuvenil Era uma vez 20 – Pequenas hist�rias de 10 grandes brasileiros que marcaram o Brasil/Pequenas hist�rias de 10 grandes brasileiras que marcaram o Brasil, da escritora Luciana Sandroni e dos ilustradores Guilherme Karsten e Nat�lia Calamari. Neste m�s de f�rias escolares, a obra leva o jovem leitor a um passeio pela hist�ria nacional 
desde o s�culo 18, apresentando minibiografias de uma forma descontra�da e ilustrada. “Notei que a inf�ncia dos biografados j� apontava para a vida adulta deles e propus dar mais aten��o nesse per�odo da vida t�o importante”, conta Luciana Sandroni. “A escolha dos nomes foi feita pensando em personalidades de v�rias regi�es do Brasil, mas a ideia � fazer uma continua��o, porque tem muita gente importante”, completa a escritora, considerando a grande diversidade de personalidades de todos os ramos de ativdades ao longo da hist�ria.

Monteiro Lobato/O pai da literatura infantil

Quando Jos� Renato, logo apelidado de Juca, nasceu, em 18 de abril de 1882, em Taubat� (SP), os pais, Jos� Bento e Ol�mpia, disseram: “Ser� doutor, advogado”. Juca e as irm�s passavam temporadas na fazenda do av�, um rico fazendeiro conhecido como Visconde de Trememb�. Al�m das aventuras nas �rvores e no ribeir�o e brincadeiras como fazer bonecos de milho e chuchu, o menino adorava se perder na biblioteca do av�. Lia e relia Robinson Cruso�, de Daniel Defoe, e os livros de J�lio Verne. Quando foi para a escola, Juca se destacou desenhando e tamb�m pintando aquarelas, mas o interesse maior era escrever. Em 1900, o jovem Jos� Renato Monteiro Lobato entrou para a Faculdade de Direito para ser advogado ou juiz, mas queria saber apenas de ler, escrever e pintar. E acabou virando jornalista e continuou escrevendo. Foi quando surgiu O s�tio do picapau amarelo, que uniu pela primeira vez realidade e fantasia em hist�rias com boneca e bichos falantes que viajam � Lua, � Gr�cia... “Lobato inovou trazendo o folclore brasileiro e a mitologia grega para as hist�rias. Queria formar crian�as cr�ticas, com opini�es, fazendo dos livros um projeto pedag�gico”, conta Luciana Sandroni.

Santos Dumont/O pai da avia��o

Desde pequeno, Alberto era curioso e cheio de imagina��o e sua distra��o favorita era admirar o c�u, os p�ssaros e seus voos mirabolantes. Assim era o garoto, nascido em 20 de julho de 1873, no S�tio Cabangu, em Palmira, interior de Minas, filho de um fazendeiro que ficou conhecido na �poca como “Rei do caf�”. A m�e, dona Francisca, se preocupava porque o filho vivia com a cabe�a nas nuvens. Para mant�-lo dentro de casa, a m�e o atraiu para a leitura. E foi o cl�ssico Cinco semanas em um bal�o, de Julio Verne, que aumentou no menino a vontade de voar. Nas festas juninas, o pequeno Alberto constru�a bal�es. “O ar quente � mais leve do que o frio, por isso o bal�o sobe”, constatou o garoto inventor, que tamb�m constru�a pipas e aeronaves de bambu que voavam impulsionadas por tiras de borracha. O maquin�rio da fazenda do pai tamb�m estimulava a imagina��o do filho. Aos 18 anos, quando o pai foi se tratar de um acidente em Paris, Alberto descobriu de vez sua voca��o. A cidade era a capital dos bal�es, cujas festas eram comuns no fim do s�culo 19. Foi investindo em experimentos de bal�es dirig�veis, como na obra de Verne, que ele logo passou para engenhocas mais complicadas que sa�ssem do ch�o pelo for�a do motor. Criou ent�o o h�brido aparelho 14 Bis, um bal�o unido a um aeroplano. Depois retirou o bal�o e o fez o aeroplano voar, em 23 de outubro de 1896. Foi uma festa. O avi�o estava inventado.

Garrincha/A alegria do povo

Em 28 de outubro de 1933, nasceu Manuel dos Santos, em Pau Grande, Mag� (RJ), filho dos nordestinos Amaro Francisco e Maria Carolina, que j� tinham quatro crian�as. A parteira logo avisou: “Ele tem pernas tortas (arqueadas para dentro)”. Por ser muito pequeno como o passarinho, ele ganhou o apelido de Garrincha e cresceu solto. Al�m das brincadeiras de nadar, pescar e ca�ar passarinhos, adorava jogar peladas com sua bola de meias num campinho cheio de buracos. “J� era bom de bola, e a divis�o dos times provava isso: Garrincha mais dois contra... sete!”, conta Luciana Sandroni. Aos 14 anos, quando foi trabalhar na f�brica de tecidos da regi�o, logo chamou a aten��o pelo talento com a bola. Um dia, um jogador do Botafogo o viu jogar, contou para um associado do clube, que o convocou para um teste, inclusive pagando a passagem do trem. Quando treinou com o craque famoso Nilton Santos, impressionou todo mundo com o seus dribles com bola parada. Contratado, fez 245 gols pelo clube carioca e ganhou v�rios campeonatos. Fez grande parceria com Pel� e foi considerado um dos maiores jogadores de todos os tempos do futebol brasileiro.

Heitor Villa-Lobos/O �ndio de casaca

Raul, m�sico amador, queria que o filho rec�m-nascido aprendesse a tocar violoncelo. No�mia, a m�e, queria um m�dico na fam�lia. Essas eram as pretens�es para o futuro do beb� Heitor quando nasceu, em 5 de mar�o de 1887, no Bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro. O pai reunia os amigos duas vezes por semana parar tocar at� tarde da noite. Heitor ficava fascinado. Raul notou o interesse, ensinou o menino a tocar violoncelo e passou a lev�-lo a ensaios, concertos e �peras. Mas o pai era rigoroso e exigia conhecimento musical do garoto, nota por nota. Quando Heitor fez 12 anos, Raul morreu, a fam�lia passou fome e a m�e lavou roupa para sustentar a casa. Mesmo assim, o menino foi matriculado no tradicional Col�gio S�o Bento para estudar para ser m�dico. O adolescente, por�m, queria tocar instrumentos. O Rio da �poca era a cidade dos m�sicos em todos os bairros, caf�s, teatros etc. Os chor�es – conjuntos de chorinho – chamaram a sua aten��o. Mesmo contra a vontade da m�e, aprendeu a tocar viol�o e viajou Brasil afora deslumbrado com os ritmos, a viola sertaneja, o folclore, o sons da natureza e dos �ndios. Depois seguiu para a Europa e se apaixonou por cl�ssicos como Stravinsky. Voltou para o Rio e fez composi��es inesquec�veis como as Bachianas brasileiras, que inclu�a O trenzinho caipira, e se tornou o mais importante compositor erudito do Brasil.

Pixinguinha/O menino m�sico

O flautista amador Alfredo da Rocha Vianna pensou que o ca�ula, Alfredo da Rocha Vianna Filho, que acabara de nascer, em 23 de abril de 1897, no Bairro da Piedade, no Rio, tocaria algum instrumento, porque a maioria dos 13 filhos tocava. Quando o pai, que trabalhava na Reparti��o Geral dos Tel�grafos, reunia os amigos para tocar choro, o menino largava as brincadeiras para ouvir. Quando fez 11 anos, os irm�os o ensinaram a tocar cavaquinho e ele passou a acompanhar o pai na flauta. O pai p�s o adolescente ent�o para estudar m�sica com um colega dos Tel�grafos e ele aprendeu a compor tamb�m. A porta para a fama e o sucesso foi aberta quando ele foi indicado por um m�sico para substituir um flautista doente da orquestra do Teatro Rio Branco. Ainda adolescente, ele foi, leu a partitura e at� “inventou umas bossas”. A partir de ent�o, “comp�s choros inesquec�veis, foi arranjador de primeira e um dos mitos da m�sica popular brasileira”, conta Luciana Sandroni. A origem do apelido Pixinguinha � incerta. Na inf�ncia, ele teve bexiga, nome popular da var�ola, da� o apelido de Bixiguinha at� chegar a Pixinguinha. Outra explica��o, segundo ele revelou, seria o fato de sua av� de origem africana cham�-lo de Pinzindim, que no dialeto africano significaria “menino bom”, e acabou virando Pixinguinha.

C�ndido Portinari /O menino pintor

Candinho nasceu em 30 de dezembro de 1903, na Fazenda Santa Rosa, perto de Brodowski (SP), filho de Batista, cuja m�e veio da It�lia para o Brasil. Muito pequenino, rejeitava o leite da m�e, Domingas. O casal pensou ent�o que ele n�o sobreviveria. Foi quando Batista decidiu dar leite de cabrita para o menino e ele aceitou. Foi assim todas as noites. Ainda aos 2 anos, Candinho gostava de ficar sentado na terra alisando-a e rabiscando com graveto, por isso era considerado esquisito. A fam�lia, anos depois, foi morar em Brodowski. Certa vez, “o padre n�o conseguia explicar para o carpinteiro como queria a porteira. Candinho fez um desenho e o santo homem, admirado, disse: 'Venha amanh� aprender com os trabalhadores que v�o ornamentar a igreja'. Era um grupo de pintores e escultores italianos que restauravam igrejas”, conta Luciana. Foi o caminho para sua arte. Ele foi ent�o mandado pelos pais estudar pintura na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio, fez exposi��es e viajou para a Europa, onde se encantou com v�rios artistas. Decidiu ent�o o que queria: “Vou pintar aquela gente (de Brodowski), com aquela roupa e aquela cor”. Tornou-se um dos maiores pintores do Brasil.

Grande Otelo/O menino ator

Sebasti�o Fernandes de Souza Prata nasceu num casebre em Uberabinha (hoje Uberl�ndia), no Tri�ngulo Mineiro, em 18 de outubro de 1915, filho da cozinheira Maria Abadia. O pai era Francisco, lavrador, que morreu cedo e n�o conheceu o filho. Basti�ozinho foi matriculado na escola pela m�e. Era o �nico negro da turma, franzino, com intelig�ncia fora do comum. Mas matava aula e fazia servi�os como engraxate, entregador e vendedor de jornais. Gostava mesmo, entretanto, era de conversar com turistas em frente ao hotel e tamb�m cantar. Tinha 7 anos. Como era simp�tico, muito pequeno e desinibido, encantava todo mundo e ganhou fama na cidade. A porta do sucesso foi aberta quando apareceu um circo na cidade e a trupe o convidou para fazer uma participa��o. “Quando ele entrou com vestido comprido, travesseiro no bumbum e bra�o dado com o palha�o, foi uma gargalhada geral”, conta Luciana Sandroni. Atores de uma companhia de teatro de S�o Paulo viram o espet�culo e o convidaram para ir para S�o Paulo. A contragosto do pai, ele foi com a tutela da m�e de uma atriz. Aprendeu a ser ator profissional e nunca mais parou, participando ao longo da vida de muitos filmes, pe�as de teatro e novelas. Foi um dos maiores atores do Brasil.

Zumbi dos Palmares/O l�der guerreiro

N�o h� documentos sobre a data do nascimento nem sobre o nome dos pais nem sobre a inf�ncia daquele que ficou conhecido como Zumbi dos Palmares. Sabe-se apenas que nasceu na Serra da Barriga, na capitania de Pernambuco, hoje Alagoas, no fim do s�culo 17. Historiadores dizem que ele nasceu em 1655, no Brasil colonial. Durante o violento regime escravagista imposto pelos portugueses, eram comuns as rebeli�es de cativos. A mais famosa � a do Quilombo dos Palmares, a partir de um engenho de cana-de-a��car no interior de Pernambuco, em 1597. “Foi o mais importante e organizado quilombo da hist�ria das Am�ricas”, diz Luciana Sandroni. Durou quase um s�culo e teve cerca de 20 mil habitantes, divididos em aldeias ligadas por trilhas pela mata. O nome de Zumbi apareceu nos documentos hist�ricos em 1676, apontado como “negro de singular valor, grande �nimo e const�ncia rara”. Diante da press�o contra os quilombos, governantes de Pernambuco contrataram em 1694 o bandeirante Domingos Jorge Velho, que tinha at� �ndios em sua tropa. Depois de muita luta, Zumbi, l�der de Palmares, foi morto em 20 de novembro e 1694 e sua cabe�a exposta em pra�a p�blica em Recife. Essa data tornou-se o Dia da Consci�ncia Negra no pa�s.

Maria Quit�ria/Hero�na da Independ�ncia

Desde pequena, Maria Quit�ria, nascida em 27 de julho de 1792, ia para a ro�a com o pai, Gon�alo, no S�tio do Licurizeiro, na Vila da Cachoeira (BA). Quando fez 9 anos, a m�e faleceu e Quit�ria teve de cuidar dos irm�os e da casa. O pai se casou de novo, mudou-se com a fam�lia para a Serra da Agulha e prosperou criando gado e plantando algod�o. “Quit�ria cresceu e tornou-se uma mo�a corajosa, que gostava de montar e ca�ar. A danada era boa de pontaria”, conta Luciana Sandroni. O pai ficou vi�vo de novo e se casou outra vez, mas a terceira mulher n�o gostava de Quit�ria. “Sua filha s� pensar em ca�ar. Dessa maneira n�o vai se casar nunca”, reclamava. Foi quando apareceram na fazenda cavaleiros com mensagens: “Em nome de Pedro I, viemos em busca de soldados para a guerra da independ�ncia”. Na Bahia, a luta pela independ�ncia j� havia come�ado. Gon�alo disse que todas os filhos eram crian�as. Mas a menina, para espanto de todos, se ofereceu como “soldada”. Diante da negativa do pai, ela fugiu para a casa da irm�, que lhe emprestou a farda do marido. Ela cortou os cabelos bem curtinhos e se apresentou ao Regimento de Artilharia da Cachoeira como “soldado Medeiros”, sobrenome do cunhado. Depois de reconhecida como mulher pelo Ex�rcito, a primeira ali�s, ela chegou a invadir um batalh�o sozinha e fez prisioneiros portugueses. Quit�ria foi promovida a cadete e recebeu a medalha de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro de dom Pedro I e soldo de alferes.

Chiquinha Gonzaga/A compositora popular

Filha de pai de fam�lia rica e importante e de escrava alforriada, Francisca Edwiges Neves nasceu em 17 outubro de 1847, no Rio de Janeiro. Por causa de sua origem, sofreu preconceito pelo casamento entre um branco e uma preta em meio a v�rios irm�os. Al�m das aulas de religi�o, l�ngua portuguesa, latim, franc�s e ci�ncias com o Padre Trindade, Chiquinha, j� mocinha, tamb�m tinha que aprender piano. “Com 11 anos, Chiquinha apresentou sua primeira composi��o em noite de Natal, a Can��o dos pastores, com letra do seu irm�o Juca”, lembra Luciana. Obrigada a se casar com o oficial da Marinha Jacinto Ribeiro do Amaral, dono de um navio mercante, “ela s� queria saber de m�sica e n�o dava aten��o para o marido”, conta Luciana. “Mesmo depois do nascimento do filho, Jo�o Gualberto, o casal n�o se entendia.” Um dia, Jacinto decretou: “Chiquinha, voc� ter� de escolher: o piano ou eu”.
Ela optou pelo piano, voltou para casa, mas n�o foi aceita pelo pai. Ent�o, foi morar em S�o Crist�v�o, no Rio de Janeiro, com o filho, onde voltou a enfrentar preconceito porque “nenhuma mulher se separava do marido”. Mas insistiu e passou a dar aulas de piano, que havia se popularizado no Rio. Chiquinha comp�s v�rias m�sicas, inovando com ritmos nacionais e europeus. Hoje, � lembrada principalmente por sua principal composi��o: “� abre alas, que eu quero passar....”

Bertha Lutz/A pioneira do feminismo

Filha do cientista Adolfo Lutz e da enfermeira inglesa Amy Fowler, Bertha nasceu em 2 de agosto de 1894, no Bairro da Liberdade (SP), j� predestinada: “Ser� cientista como o pai”, profetizou a m�e. “Bertha, ainda crian�a deu aulas de violino e de alfabetiza��o nas escolas que a m�e criou para meninos pobres.” Al�m de estudar biologia, tornando-se especialista em anf�bios, Bertha foi pioneira do movimento feminista do Brasil, lutou pelo direito das mulheres de votar, estudar, trabalhar e se candidatar a cargos p�blicos e pol�ticos. Bertha e os irm�os foram levados pelo pai para estudar em Paris, onde ela se matriculou na Sorbonne. O feminismo fervia nas ruas da capital francesa, Bertha se engajou e trouxe ideias libert�rias para o Brasil. Em 1919, aos 25 anos, fundou a Liga para a Emancipa��o Intelectual da Mulher, que originou a Federa��o Brasileira pelo Progresso Feminimo, da qual foi presidente. A principal campanha era “Voto feminino j�”. Ela representou o Brasil em v�rios congressos internacionais, at� que em 1932 Get�lio Vargas aprovou o voto feminino. Logo depois, as mulheres tamb�m puderam se candidatar. “Bertha chegou a ser suplente de deputado federal e quando assumiu lutou por igualdade de sal�rios com homens, licen�a-maternidade e contra o trabalho infantil”. Ela foi eleita a Mulher das Am�ricas pela Uni�o das Mulheres Americanas, em Nova York, em 1951.

Antonieta de Barros/A educadora da ilha

Antonieta, que nasceu em 11 de julho de 1901, em Florian�polis, deveria se professora, na opini�o da m�e, Catarina, que era lavadeira no interior de Santa Catarina ap�s o fim da escravid�o. Depois, abriu uma pens�o que servia almo�o para estudantes na capital. A menina ajudava a m�e e observava os rapazes lendo e estudando. “Ser� que serei como eles quando crescer?”, perguntava. Como muito esfor�o, a m�e a matriculou em escola p�blica, na qual ela se formou professora aos 21 anos e com a irm� abriu escola de alfabetiza��o para crian�as e adultos na pr�pria casa. O Curso Particular Antonieta de Barros ficou famoso e durou 42 anos. Empolgada com o ensino, Antonieta come�ou a escrever, fez amizade com professores e escritores. Passou a escrever cr�nicas para jornais. Para ela, s� a escola mudaria a vida dos mais pobres. “S� a institui��o, s� o livro, elevando o homem, lhe d� o direito de ser homem: s� a institui��o consciente rouba as criaturas do servilismo aviltante”, dizia. Ela defendia que as mulheres tivessem direito � educa��o, que fosse permitido o acesso feminino �s universidades, porque naquela �poca elas s� podiam estudar at� o curso normal. Em, 1934, quando as mulheres ganharam direito ao voto, elegeu-se deputada. “Uma jovem negra de fam�lia pobre, filha de escrava liberta, torna-se deputada por Santa Catarina, uma conquista e tanto”, lembra Luciana Sandroni.

Nise da Silveira/A m�dica do afeto

Filha de um jornalista e professor de matem�tica e de uma pianista, Nise nasceu em 15 de fevereiro de 1905, em Macei�. A m�e logo disse: “Ser� pianista ou vai preferir os n�meros?”. Mas, ainda adolescente, Nise resolveu estudar medicina. “Quero cuidar das pessoas”, disse. Naquele tempo, era raro uma mulher ser m�dica e ela foi a �nica a se graduar na turma de 157 homens na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1926. Quando foi trabalhar no Centro Psiqui�trico Nacional, no Rio, Nise n�o aceitou o tratamento dado aos pacientes, que eram maltratados e isolados. Foi transferida para a se��o de terapia ocupacional, na qual os doentes faziam a limpeza do hospital. “Ela mudou tudo e falou que nenhum enfermeiro trataria mal os 'clientes', como os chamava. Nada de gritos, vamos deix�-los fazer o que quiserem”, determinou, conta Luciana Sandroni. Foi quando surgiu a ideia de criar oficinas de pintura, desenho e modelagem. Com material dispon�vel, aquarela, papel, l�pis, telas e argila, os “clientes” come�aram a fazer arte. “Nise notou que a arte os ajudava a trabalhar as emo��es. Se n�o falavam, comunicavam-se pelas emo��es – se n�o falavam, comunicavam-se pela pintura. Descobriu uma maneira de se aproximar dos ‘clientes’, que viviam fechados cada um sem seu mundo.”  Nise criou o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio, que hoje tem 350 mil obras.

Rachel de Queiroz/A dama das letras

A menina Rachel, que nasceu em 17 de novembro de 1910, em Fortaleza, filha de Daniel de Queiroz, juiz de Direito e fazendeiro, e Clotilde Franklin, passou a inf�ncia cercada de livros e jornais. De tanta for�a de vontade em querer aprender, come�ou a ler j� aos 5 anos. Sempre apaixonada pela leitura, j� aos 15 anos ela come�ou a escrever pequenos contos e a envi�-los para o jornal O Cear�, com o pseud�nimo Rita Queluz. O diretor gostou do estilo ir�nico e convidou-a para assumir a p�gina liter�ria do jornal. Foi o primeiro emprego. Foi nesse embalo que escreveu seu primeiro romance, O quinze, tratando do drama da seca e dos retirantes do Nordeste. Os pais bancaram a edi��o, mas os cr�ticos n�o acreditaram que o romance era dela, ent�o com 19 anos, e sim do pai. Mas quando a obra chegou ao Rio de Janeiro e a S�o Paulo, ganhou boa repercuss�o e Rachel de Queiroz, j� ganhando fama, n�o parou mais, escreveu v�rios romances e tamb�m virou tradutora. Ela foi a primeira mulher a assumir uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.

Djanira/A artista brasileira

A futura artista nasceu em 20 de junho de 1914, em Avar� (SP), filha de Oscar, dentista itinerante e descendente de �ndios, e Maria Pia. Como os pais se separaram, ela acabou n�o ficando com nenhum deles e foi morar com a fam�lia Matoso, que vivia na vizinhan�a e fazia servi�os dom�sticos. Aos 14 anos, foi morar com uma tia numa fazenda e tr�s anos depois foi tentar a vida em S�o Paulo. Trabalhou como vendedora, cozinheira em casa de fam�lia, costureira e chapeleira at� cair doente com tuberculose. Obrigada a se internar, viu sua vida mudar radicalmente no sanat�rio de S�o Jos� dos Campos. Ent�o, com 23 anos, come�ou a desenhar na institui��o. Quando sarou, o m�dico recomendou que morasse em Santa Teresa, lugar com “ar puro”. Abriu uma pens�o com um ateli�. Seus desenhos chamaram a aten��o de uma francesa, que levou ao local o amigo e pintor Emeric Marcier, que ficou impressionado. Ele se tornou h�spede da pens�o e dava aulas de pintura para Djanira. Aos 28 anos, ela fez a primeira exposi��o e ganhou fama e sucesso. Depois de temporada nos EUA, passou a vida em Santa Teresa e se tornou uma principais pintoras do pa�s, retratando o povo e a paisagem brasileira com cores fortes.

Cacilda Becker/O mito do teatro

Pirassununga (SP) foi o ber�o de Cacilda, que nasceu em 6 de abril de 1921, filha de uma professora rural e de um caixeiro-viajante. Teve inf�ncia dif�cil e passou fome com a m�e, Alzira, e a irm�, porque o pai abandonou a fam�lia. A m�e tinha um gramofone – antigo aparelho de som – e a menina se divertia dan�ando e dizendo que queria ser bailarina. Anos depois, m�e e filhas se mudaram para Santos, onde continuaram passando necessidades b�sicas. Cacilda deu aulas de dan�a para crian�as e se apresentava em recitais. Foi ent�o que uma professora de m�sica a convidou para se apresentar na festa de fim de ano do Col�gio Jos� Bonif�cio. Ela escolheu a m�sica e criou a coreografia. A apresenta��o fez tanto sucesso que a dire��o da escola ofereceu o curso para ela e a irm� de gra�a. Estimulada por professoras, come�ou a dan�ar mais, imitando a ent�o famosa Isadora Duncan, dan�ando descal�a na praia at� chamar a aten��o da imprensa. Quando conheceu Miroel Silveira, diretor de teatro, sua vida deu a guinada essencial. Ele a chamou para o palco, onde ela jamais tinha pisado. De teste em teste, virou atriz de teatro. Trabalhou em v�rias companhias, criou a sua e atuou no r�dio, no cinema e na TV, e hoje � refer�ncia nacional e mito dos palcos.

Maria Esther Bueno/A bailarina do t�nis

Os pais de Maria Esther, nascida em 11 de outubro de 1939 na capital paulista, eram tenistas amadores. Aos 3 anos de idade, j� estava com uma raquete na m�o. Ainda pequena, passou a ter aulas no Clube de Regatas Tiet�. Aos 11 anos, j� saiu vencedora em campeonatos. Aos 14, j� estava no circuito internacional, como os Jogos Pan-Americanos no M�xico. E venceu o Orange Bowl, tradicional torneio de t�nis juvenil na Fl�rida (EUA). Mudou-se para os EUA em 1957 e depois voltou com cole��o de trof�us. O �xito se repetiu na Europa, onde venceu v�rias campe�s de t�nis. A consagra��o veio em Wimbledon, na Inglaterra, onde, aos 19 anos, encantou o mundo esportivo ao jogar como uma bailarina e bater a americana Darlene Hard por 6/4 e 6/3, em partida de apenas 43 minutos. Foi a primeira latino-americana a vencer um dos torneios mais importantes do mundo. Com carreira de grande sucesso, foi eleita a maior tenista da Am�rica Latina no s�culo 20 e uma das melhores do mundo.

TR�S PERGUNTAS PARA

Luciana Sandroni/escritora
“Zumbi � s�mbolo da liberdade”


Quais foram os crit�rios para definir os 20 nomes entre centenas de personalidades importantes para a hist�ria do Brasil? 
Na verdade, a ideia original era fazer 50 mulheres e 50 homens, mas ficaria muito estilo enciclop�dia, com muita informa��o, mas sem envolvimento. Notei que a inf�ncia dos biografados j� apontava para a vida adulta deles e propus dar mais aten��o nesse per�odo da vida t�o importante. A escolha foi feita pensando em personalidades de v�rias regi�es do Brasil. Mas a ideia � fazer uma continua��o, porque faltou muita gente boa.

Por que a inclus�o de Zumbi dos Palmares no contexto de uma obra que busca enfatizar a inf�ncia de cada um, sendo que n�o existem documentos hist�ricos precisos  a respeito dele nem sequer sobre sua vida adulta? 
Escolhi Zumbi dos Palmares por ele ser hoje um s�mbolo da liberdade, da luta dos negros. No in�cio, acreditava naquela vers�o de ele ter sido criado por um padre e voltado para Palmares para lutar. Mas com a pesquisa vi que essa hist�ria n�o se sustentava. Parti ent�o para me concentrar na hist�ria de Palmares e no fato de ele ter sido um grande guerreiro como  os raros documentos apontam: "Negro de singular valor, grande �nimo e const�ncia rara. Aos nossos serve de embara�o, aos seus de exemplo".

Isso n�o destoa do conjunto da obra?
No texto do Zumbi e da Antonieta de Barros, tive de imaginar como teria sido a inf�ncia deles. Porque realmente n�o tinha material. Mas n�o queria deixar de falar deles por serem t�o importantes e pouco estudados. A ideia de priorizar a inf�ncia surgiu no meio do caminho... As primeiras personalidades que pesquisei foram Carmen Miranda e Cacilda Becker, e percebi que a inf�ncia delas era muito curiosa, rica e que eu e muita gente n�o sab�amos. Percebi que a inf�ncia desses brasileiros todos refletem bem o que se tornaram.

Carmen Miranda

A pequena not�vel

Ela era portuguesa, nascida em 9 de fevereiro de 1909, em Marco de Canaveses, filha de camponeses, e batizada como Maria do Carmo Miranda da Cunha. Mas o tio Amaro era f� da �pera Carmen, de Bizet, e apelidou-a Carmen. O pa�s europeu estava em crise e a fam�lia da menina de 10 meses veio para o Brasil, onde o pai aprendeu o of�cio de barbearia, no Rio de Janeiro. Matriculada no Col�gio Santa Teresa, Carmen e as irm�s cantavam no coral. Aos 14 anos, ela foi trabalhar numa chapelaria na Rua do Ouvidor. E cantava enquanto trabalhava, a contragosto da patroa. Maria Em�lia, um das suas irm�s, abriu uma pens�o para ajudar no or�amento e Carmen atendia os fregueses, sempre cantando. Foi quando o jornalista An�bal Duarte, organizador de shows beneficentes, a chamou para fazer um teste. Estava aberto o caminho para o sucesso. Carmen foi levada a v�rias gravadoras de discos e j� em 1929, aos 20 anos, gravou seu primeiro disco com a m�sica N�o v� sim'bora. Em 1930, ela gravou Ta�, que Joubert de Carvalho comp�s para ela. Foi o maior sucesso do carnaval daquele ano. Ela se tornou estrela e como tinha baixa estatura, foi apelidada Pequena Not�vel. Logo se tornou a “Rainha do r�dio”, cantando e dan�ando com uma cestinha de frutas na cabe�a. At� que foi vista e chamada pelo empres�rio americano Lee Shubert, que a convidou para se apresentar na Broadway, nos EUA. Para l� ela foi e fez sucesso absoluto nos teatros e depois no cinema. Ningu�m entendia o que ela cantava, mas gostava da alegria e do ritmo do samba.

Era uma vez 20

De Luciana Sandroni, Nat�lia Calamari e Guilherme Karsten
Editora Escarlate
90 p�ginas
R$ 44


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