
Em 1987, a cantora Maria Beth�nia foi a Cuba participar do 6º Festival Internacional de la Canci�n de Varadero, criado 20 anos antes para celebrar a m�sica cubana e internacional. O registro em �udio dessa apresenta��o foi lan�ado apenas na ilha pela gravadora estatal Egrem, e jamais chegou ao Brasil em qualquer formato.
� justamente essa rara grava��o que est� dispon�vel na plataforma digital Spotify pelo selo Alegria Music Latino. A qualidade do registro surpreende. Em medley de mais de oito minutos, bem parecido com o que Beth�nia apresentava na abertura do show Nossos momentos, ela interpreta as can��es O que �, o que �, Grito de alerta, Explode cora��o e Sangrando, todas de Gonzaguinha.
Poderes
Tamb�m canta Podres poderes, de Caetano Veloso, m�sica que ela jamais gravou no Brasil, seja em disco de est�dio ou ao vivo. Essa can��o de Caetano fez parte do show 20 anos de paix�o, estrelado pela cantora em 1985, com dire��o de Bibi Ferreira e cenografia de Fl�vio Imp�rio.
Curiosamente, Beth�nia, como indica a grava��o em Cuba, n�o sabia de cor a letra que fala dos “rid�culos tiranos” da “Am�rica cat�lica”. Quando a introdu��o da m�sica � executada pela banda, ela pede: “Aten��o, meu papel”.
Jaime Alem era um dos m�sicos que foram a Cuba com a cantora. Compositor, violonista e arranjador, ele assinou a dire��o musical de discos e shows de Beth�nia por v�rios anos. � dele o arranjo de Podres poderes.
Alem diz que suas mem�rias da apresenta��o cubana s�o “difusas”, mas apontou os m�sicos que tocaram com a cantora, al�m dele: Raul Mascarenhas (sax), Moacir Albuquerque (contrabaixo), Jos� Maria (piano), Tutty Moreno (bateria) e os mineiros T�lio Mour�o (teclados) e Djalma Corr�a (percuss�o).
Chico Buarque e Gilberto Gil tamb�m se apresentaram naquela edi��o do festival. Beth�nia e Chico cantaram uma antiga m�sica dele, Noite dos mascarados.
CHOQUE
Em entrevista ao programa Sem censura, Beth�nia relembrou seu show cubano. Um grupo de senhoras da ilha se apresentou antes dela. Em um jogo c�nico, colocaram um copo com �gua na cabe�a, que derramou no palco. Beth�nia, que sempre fez shows descal�a, ao pegar o microfone, levou um choque. Gil viu e alertou Chico, que respondeu: “Que nada, � a chegada dela no palco”.
A cantora Joyce Moreno, casada com o baterista Tutty Moreno, tamb�m foi ao festival acompanhar o marido, que integrava a banda que se apresentou com a baiana.
Ap�s a apresenta��o, Beth�nia viajou para Paris, conta Joyce, enquanto ela, Gil, Chico e um grupo de m�sicos brasileiros foram para Miami, enfrentando problemas para voltar ao Brasil. “S� o Chico e o Vinicius Fran�a, empres�rio dele, tinham o necess�rio visto americano. Foi uma encrenca essa volta”, relembra.
Antes da apresenta��o com Beth�nia, Chico Buarque havia estado em Cuba duas vezes. Em 1979, liderou um grupo de artistas que reuniu Simone, Gonzaguinha, Djavan, Zez� Motta, Walter Franco, Paulinho Nogueira e Nelson Ayres.
FIDEL
Zez� Motta diz que o grupo precisou ir de Cuba � Jamaica em um avi�o de Fidel Castro para, dali, voltar ao Brasil, sob ditadura militar e sem acordos diplom�ticos com Cuba.
Em 1981, Chico estreou em Varadero ao lado do MPB4, Jo�o do Vale, Kleyton e Kledir e Olivia Byington. Naquele ano, uma das estrelas do festival foi a cantora e compositora argentina Mercedes Sosa.
Elba Ramalho se apresentou na quarta edi��o do festival, em novembro de 1984. A exemplo do que ocorreu com Beth�nia, Elba teve sua apresenta��o registrada e lan�ada em disco pela gravadora cubana Egrem.
O �lbum da paraibana n�o foi lan�ado oficialmente no Brasil. Ela canta Banquete de signos (Z� Ramalho), Energia (Lula Queiroga), No som da sanfona (Jackson do Pandeiro/Kak� do Asfalto) e Quero ir a Cuba (Caetano Veloso).
“Mam�e eu quero ir a Cuba/ Quero ver a vida l�/ La sue�o una perla encendida/ Sobre la mar/ Mam�e eu quero amar a ilha/ De Xang� e Iemanj�/ Yorub� igual � Bahia”, diz o verso da can��o de Caetano que fez parte do show Cora��o brasileiro, de Elba.
No disco Fogo na mistura (1985), a cantora paraibana, encantada com a viagem � terra de Fidel Castro, inclui a faixa No caminho de Cuba, de Jaime Alem, o maestro de Beth�nia. Um dos versos diz assim: “Fui visitar uma ilha/ Que fica no Mar das Antilhas/ E l� conheci outra ra�a americana/ Tamb�m filha de Olorum”. (Estad�o Conte�do)
