
“Existe uma cobran�a cruel para que a mulher cumpra o papel de m�e e esposa feliz. Tudo que fuja um pouco disso � socialmente condenado. Muitas mulheres vivem dramas psicol�gicos e sofrem caladas por vergonha e repress�o”, diz Camila. “'Morra, amor' lan�a um olhar sobre essa dor e abre uma possibilidade de reflex�o sobre o tema, ainda tabu em nossa sociedade.”
"A personagem � colocada no lugar de maluca, o que ela n�o �. Estamos falando de uma mulher normal"
Camila Nhary, atriz
OLHAR
O diretor Jos� Eduardo Limongi � tamb�m fot�grafo de cinema. Camila explica que o espet�culo on-line oferece olhar cinematogr�fico sobre uma performance art�stica baseada em um livro. “Escolhi trazer uma mulher para a codire��o. Grande atriz, Karine � m�e e come�a a se aventurar como diretora”, ressalta. Marcello H comp�s a trilha sonora original, que ser� executada ao vivo.
“Estamos tentando entender o que � esse hibridismo entre teatro e cinema. Faremos apresenta��o ao vivo, como se fosse espet�culo teatral, mas pensado para o audiovisual. N�o vai ter plateia, ser� filmado numa sala que n�o � teatro. Faremos com uma equipe de cinema e equipamentos profissionais. Ent�o, tem o olhar e a explora��o bem forte da linguagem audiovisual.”
Tudo come�ou quando uma amiga indicou a Camila o livro publicado pela editora Instante. “Li e na hora j� o imaginei no teatro. Identifiquei-me muito, pois tamb�m sou m�e”, comenta a atriz.
“Morra, amor” comp�e uma trilogia com os romances “A d�bil mental” e “Precoz” (“Precoce”, em tradu��o livre), este �ltimo sem tradu��o para o portugu�s. A proposta � preservar na performance teatral o aspecto liter�rio da obra de Ariana Harwicz.
A pandemia trouxe complica��es para a atriz, que n�o conseguiu levar o texto para os palcos. Depois de obter pequena verba junto � Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, Camila decidiu produzir a micross�rie com cinco epis�dios de seis minutos, que foi transmitida via YouTube e Instagram.
“A repercuss�o foi muito legal. Ent�o, inscrevi o projeto no edital da secretaria e fui contemplada com uma verba maior”, conta. Da� resultou a performance que estreia hoje.
A atriz considera urgente discutir o papel da mulher contempor�nea por meio da personagem de “Morra, amor”. “Moralmente, existe nela o desejo de n�o pertencer ao universo em que acabou ingressando”, observa. A protagonista � culta, costumava ler e se informar. Por�m, viu-se limitada a cumprir exclusivamente o papel de m�e e esposa numa cidade do interior. “Essa � uma quest�o eterna para as mulheres, tanto as de ontem quanto as de hoje”, destaca Camila.
Assista a um trecho do espet�culo:
Assista a um trecho do espet�culo:
FLUXO
A atriz afirma que Ariana Harwicz exp�e habilmente o fluxo de pensamentos da personagem. “O pensamento � algo que a mulher n�o externaliza, mas ela pensa e tem sentimentos ruins com rela��o a quest�es que a maternidade traz. Isso n�o quer dizer que n�o ame seu filho. Isso quer dizer que ela tem sentimentos honestos”, defende a atriz.
A sociedade n�o consegue lidar com esta profunda inquieta��o feminina. Muitas m�es t�m dificuldades de ir ao banheiro porque o filho n�o sai do colo e levam o beb� com elas, lembra a atriz. “As mulheres n�o se sentem � vontade para falar sobre isso, pois a sociedade espera que o universo da m�e seja perfeito. Que ela ame o filho t�o incondicionalmente que n�o pode ter nenhum pensamento de arrependimento, nem por um segundo.”
Camila Nhary ressalta a necessidade de questionar tabus. Um deles � de que n�o existe alegria maior no mundo do que ser m�e. “� uma cobran�a. No livro, a personagem � colocada no lugar de maluca, o que ela n�o �. Estamos falando de uma mulher normal”, enfatiza.
Camila conta que m�es que assistiram � micross�rie ou leram o livro se identificaram com as ideias da autora argentina. “Elas sentem um n� na garganta diante daquelas afli��es, pois s�o humanas, verdadeiras. � importante falar disso”, refor�a a atriz.
“MORRA, AMOR”
Estreia nesta quinta-feira (18/2), �s 21h. Sess�es at� domingo (21/2), no Instagram (@morraamor) e YouTube. Gratuito. S�bado (20/2), �s 19h30, tem bate-papo on-line com a atriz Camila Nhari e os diretores Jos� Eduardo Limongi e Karine Teles