
Inspirar o dia a dia das pessoas, chegar mais perto do cotidiano delas. Esse � o objetivo do cantor, compositor, violonista e guitarrista Nelson �ngelo com o single “Fogo lento” (Quae Persona), que estar� nas plataformas digitais nesta sexta-feira (30/4).
“Can��o, arranjo e interpreta��o s�o de minha autoria direto para o cora��o de quem est� aqui e agora, neste novo mundo que temos de enfrentar”, afirma o parceiro de Milton Nascimento, Cacaso, Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Murilo Antunes e M�rcio Borges.
Nelson escreveu belas can��es como “Fazenda”, gravada por Milton Nascimento no disco “Geraes” (1976) – aquela do verso “�gua de beber/ bica no quintal/ sede de viver tudo”. Aos 71 anos, o compositor afirma que o que mais deseja neste momento � alcan�ar o grande p�blico.
“Uma coisa que nunca consegui � ir ao encontro daquele pov�o pelo qual me interesso tanto. Meu trabalho � sempre apresentado como caro, rebuscado, sofisticado, n�o sei o qu� do movimento tal”, comenta.
PESQUISA
O single d� continuidade � parceria de Nelson com o selo Quae Persona em busca de estrat�gias para alcan�ar ouvintes diferentes daqueles que j� o conhecem. “O dono, meu amigo Eug�nio de Castro, e sua equipe fizeram uma pesquisa com o intuito de projetar nova ideia de m�dia sobre meu trabalho. Foram ouvidas pessoas mais humildes, gente que ainda n�o se identifica comigo, n�o me conhece”, conta Nelson.
A estrat�gia deu certo, segundo ele. “As pessoas ouviram ‘Fogo lento’ e gostaram. Alguns disseram: ‘Nossa, esse rapaz � muito bom. Ele canta legal, parece com o Roberto Carlos’. Fiquei muito honrado ao ser comparado com o rei”, conta, mas pondera: “N�o quero me comparar ao Roberto, claro, mas tentar chegar ao cora��o das pessoas mais simples.”
H� muitas barreiras entre o compositor e o grande p�blico. E essa dist�ncia n�o se deve � m�sica propriamente dita. “Quando vou tocar em algum lugar, o ingresso custa n�o sei quanto, tem de pagar passagem de avi�o, cach�, hospedagem... Poxa, estou aqui h� tanto tempo, tenho tanta coisa produzida”, desabafa.
A pesquisa incluiu at� a capa do single de Nelson. “Teve gente que falou: ‘N�o estou gostando disso n�o. Essa capa est� parecendo um cemit�rio’”, diverte-se. Ningu�m se identificou com a foto daquele cantor de �culos escuros posando atr�s de flores no Central Park, em Nova York.
“Um cara disse que parecia sepultura. E at� mandou recado: 'A m�sica � boa, mas a capa n�o pode ser assim. Fala com o rapaz que posso at� ajudar a fazer um neg�cio mais alegre, porque est� muito triste'. Recebi 20 opini�es e fiquei fascinado com as hist�rias”, revela Nelson �ngelo.
A letra de “Fogo lento” tem tudo a ver com o atual momento, afirma seu autor. Ela diz assim: “Cada um tem uma dor para levar pela estrada/ Quem roubou o meu amor, me deixou quase sem nada/ E a dor ningu�m escolhe, n�o avisa quando vem/ O amor sai l� de dentro, fogo lento, tempo al�m”. Para Nelson, este mundo “dilacerado” vem desnorteando as pessoas. “Quem sabe a gente come�a uma nova esperan�a? N�o que tudo v� mudar, mas podemos nos aproximar mais”, defende.
Na verdade, “Fogo lento” ganha releitura depois de ser gravada por Nelson e Tadeu Franco, em 2018. “Era algo mais orquestrado, mais intelectualizado, embora n�o fosse complicado. Fiz agora uma vers�o mais pop, eu mesmo canto”, conta. “N�o estou mudando melodia nem harmonia, muito menos a minha maneira de pensar com rela��o a ela”, avisa.
OPERETA
“Fogo lento” faz parte da opereta popular “Trilha sonora de uma viagem” e do disco hom�nimo. “Gravei com Vander Lee, Tadeu Franco, Cobra Coral, o baixista En�ias Xavier e o baterista Nen�m, um monte de feras. Conta a hist�ria de uma banda que viaja pelo interior e toca nos coretos. Infelizmente, a grava��o ficou inc�gnita”, lamenta. “Como dizia Bituca, o artista tem de ir aonde o povo est�. E esse � meu objetivo agora.”
Nelson �ngelo, ali�s, est� cheio de planos. “N�o vou ficar de bra�os cruzados, reclamando desse horror que estamos vivendo”, avisa. Um outro projeto dele � mais amplo, com disco, filme e livro. “Absoluto segredo”, diz.
Nascido em BH, Nelson trabalhou na noite de BH com Milton Nascimento, nos anos 1960. Integrante do Clube da Esquina, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou teoria musical e participou de festivais.
Parceiro do poeta Cacaso, foi casado com a cantora e compositora Joyce, com quem teve as filhas Clara Moreno e Ana Martins. Em quatro d�cadas de carreira, lan�ou 17 discos. Tocou com Elis Regina, Milton Nascimento, Edu Lobo, Johnny Alf, Ala�de Costa, Nana Caymmi, Beto Guedes, Simone, S�rgio Mendes e Francis Hime (AP)

“FOGO LENTO”
Single de Nelson �ngelo
Quae Persona
Dispon�vel nas plataformas digitais a partir de sexta-feira (30/4)