
Desde abril, ele estava internado no Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, na Zona Oeste carioca, depois de sofrer parada card�aca. A causa da morte n�o foi informada pela Secretaria de Estado da Sa�de do Rio de Janeiro, mas a sobrinha dele, Ver�nica, afirmou que foi mesmo o cora��o que matou o tio.
Houve muita especula��o de que o artista seria mais uma v�tima da COVID-19.
Autor de antigos cl�ssicos da m�sica rom�ntica que at� hoje est�o na boca do povo, Cassiano � um dos pais do soul brasileiro, influenciando de Tim Maia – que o revelou nacionalmente – ao rapper Mano Brown, do Racionais, que tentou, mas n�o conseguiu, gravar com ele, v�tima de cruel ostracismo.
“Cassiano, o imenso Cassiano, partiu do plano f�sico e se mudou de vez para dentro do nosso cora��o. A ind�stria fonogr�fica n�o te merecia mestre. Que os anjos possam ser uma plateia a sua altura”, postou o rapper Emicida no Instagram.
“O homem vai, o legado fica. Ao mestre com carinho”, despediu-se Mano Brown no Instagram. “Esquecido por muitos mas nunca por n�is! (sic). Por aqui seguimos tentando aprender fazer o que voc� fazia com maestria”, afirmou o rapper do Racionais
Bossa Nova
Nascido em Campina Grande, interior da Para�ba, Genival Cassiano dos Santos se mudou para o Rio de Janeiro nos anos 1960. Gostava de Jo�o Gilberto, formou um trio de bossa-nova e, em 1969, ao lado do irm�o, Camar�o, e de Hyldon, criou Os Diagonais.
Esta banda hist�rica da m�sica negra brasileira exibiu seu vigoroso estilo funkeado “verde-amarelo” nos discos “Os Diagonais” (1969) e Cada um na sua” (1971).
Precursor da vigorosa onda black Rio nascida nas periferias cariocas, Cassiano bebeu em boas fontes: Lupic�nio Rodrigues, Otis Redding, Stevie Wonder e, claro, rhythm and blues. Guitarrista e violonista de m�o cheia, foi o rei do estilo vocal batizado como Brazilian Soul.
De volta dos Estados Unidos, Tim Maia gravou e estourou, em 1970, com “Primavera (Vai chuva)” e “Eu amo voc�”, parcerias do paraibano com Silvio Rochael. Na onda do “fen�meno Tim Maia”, Cassiano gravou seu primeiro disco solo, “Imagem e som”, em 1971, sem muita repercuss�o.
Posteriormente, o LP seria reconhecido pela talentosa e inusitada combina��o do suingue brasileiro do samba e da bossa-nova com soul e funk (o tradicional, americano, n�o a vertente carioca que hoje bomba no mundo inteiro).
Em 1973, saiu o LP “Apresentamos nosso Cassiano”. Mas s� em 1975 o Brasil ficou conhecendo o soul man de Campina Grande, autor das rom�nticas “A lua e eu” e “Cole��o”, parcerias com Paulo Zdanowski.
Essas duas obras-primas se destacaram nas trilhas das novelas “O grito” e “Locomotivas”, da TV Globo. Em 1976, Cassiano lan�ou “Cuban soul”, outro disco aclamado pela cr�tica.
Problema no pulm�o
No fim da d�cada de 70, o artista enfrentou dois impasses que afetaram drasticamente sua carreira: o dif�cil relacionamento com as gravadoras (a CBS chegou a boicotar seu quarto disco solo), que o tachavam de “dif�cil” e "n�o comercial", e um grave problema respirat�rio.
Cassiano perdeu um dos pulm�es. S� em 1991 o artista lan�ou seu �ltimo disco solo, “Cedo ou tarde”, com participa��o de Marisa Monte, Sandra de S�, Ed Motta, Luiz Melodia, Djavan e Claudio Zoli – todos f�s dele.
Em 1998, Cassiano e Hyldon, nomes de ponta do soul verde-amarelo nos anos 70, comentaram o ostracismo que amargavam por imposi��o da ind�stria fonogr�fica, em entrevista a Pedro Alexandre Sanches, publicada pela “Folha de S. Paulo”.
“Antes, um artista novo entrava numa companhia e tinha respaldo de tr�s discos. Se n�o acertasse em um, tinha chance de fazer outro, porque os caras viam que tinha talento”, contou o paraibano, lamentando que o mercado passara a apostar apenas em sucessos instant�neos.
“Sabe como sou mestre (do soul)? Tenho fitas com m�sicas in�ditas que d�o para encher um elevador. Sempre que a m�dia precisa lan�ar uma Ivete Sangalo, eu sou o mestre, o papa. Quando ganham a grana que queriam, o mestre pode ficar na rua, n�o tem m�e, n�o come”, desabafou.
Al�m de Tim Maia, composi��es de Cassiano foram gravadas pela pr�pria Ivete Sangalo, Gilberto Gil, Marisa Monte, Djavan e Alcione, entre outros.