
Para contornar as restri��es impostas pela pandemia sem paralisar suas atividades, o Grupo Galp�o lan�ou, em junho passado, o projeto "Dramaturgias – Cinco passagens para agora", com o objetivo de desenvolver espet�culos em parceria com dramaturgos e diretores convidados.
O primeiro deles foi "Como os ciganos fazem as malas", baseado no texto hom�nimo do autor pernambucano Newton Moreno. Agora, a trupe mineira d� continuidade ao projeto com o espet�culo "Sonhos de uma noite com o Galp�o", escrito e dirigido pelo ator, diretor e dramaturgo carioca Pedro Br�cio, que estreia virtualmente neste s�bado (21/08).
Essa experi�ncia teatral nasceu da vontade do grupo mineiro e do diretor de abordarem a natureza dos sonhos em tempos de pandemia. Para isso, eles reuniram o relato de mais de 150 pessoas, que responderam a perguntas como: "O que temos sonhado?"; "Como os sonhos revelam os traumas da pandemia?"; "Estamos sonhando coletivamente?"; "Como sonharemos no futuro?"; e "Transformar um sonho em cena pode ampliar a experi�ncia do sonhador?".
"Conversamos com muitas pessoas, primeiro com amigos e, depois, com desconhecidos. Fizemos um apanhado sobre o que elas sonharam durante a pandemia. Depois disso, investigamos o que as pessoas est�o sonhando e, ent�o, decidimos usar isso como material dramat�rgico", explica Br�cio. "Constatamos que s�o sonhos muito variados, apesar de haver, sim, repeti��es. � bonito perceber como nosso inconsciente se articula em um momento dif�cil como este."
Ao todo, foram coletados os relatos de mais de 150 pessoas. No primeiro momento, os integrantes da companhia abordaram amigos que poderiam se interessar pelo projeto. Eles tamb�m contaram com a ajuda de crian�as que participaram de oficinas ministradas nos �ltimos meses. A �ltima etapa ocorreu na rua. O grupo foi at� a Feira das Flores, em BH, onde instalou duas cadeiras e uma placa que pedia relatos de sonhos aos transeuntes.

DOCUMENTAL
Paramentada com os devidos equipamentos de prote��o individual, como m�scara e protetor facial (face shield), a atriz Teuda Bara abordou as pessoas na tentativa de conseguir fazer com que revelassem suas experi�ncias durante o sono. A a��o foi registrada em v�deo e faz parte do espet�culo.
"Esse projeto tem uma linguagem documental porque optamos em mostrar o processo de constru��o do texto", conta o diretor. "Diante da variedade das hist�rias que conseguimos reunir, nossa escolha foi diversificar a maneira de cont�-las, investigando e explorando o universo on�rico de muitas maneiras."
"O sonho em si j� � uma cria��o. O que fazemos � recri�-lo a partir do teatro. Isso nos deu a oportunidade de trabalhar o texto de diferentes maneiras. H� drama e poesia, como tamb�m h� humor. Tudo isso � inerente ao [Grupo] Galp�o e seus atores e atrizes"
Pedro Br�cio, diretor
A pe�a � encenada por Teuda Bara, Antonio Edson, Eduardo Moreira, In�s Peixoto, Lydia del Picchia e Simone Ordones. Eles d�o voz ao relato de 34 pessoas. O espet�culo tem uma parte ao vivo e outra gravada.
O trecho inicial mostra os atores diretamente de suas respectivas casas, enquanto discutem e buscam respostas para as perguntas que o texto prop�e. Depois disso, eles come�am a explorar uma narrativa ficcional, j� com base nos sonhos relatados. H� cenas em que eles trocam ideias sobre os sonhos que tiveram. Em determinado momento, os seis remontam uma festa de anivers�rio tipicamente pand�mica, ou seja, comemorada a dist�ncia e virtualmente, como pedem os protocolos de seguran�a contra a COVID-19.
Em um segundo momento, o p�blico assistir� � encena��o dos sonhos gravada no palco do Galp�o Cine Horto diante das pessoas que os relataram. O registro foi feito no in�cio deste m�s e foi emocionante para os atores, que n�o pisavam naquele palco desde mar�o de 2020.

CONTATO
"Foi muito bonito e importante a possibilidade de ter contato com as pessoas que revelaram os sonhos para a gente. Esse trabalho n�o existiria sem elas. N�o seria o mesmo sem elas. Ent�o, esse encontro � muito importante para toda a proposta desse espet�culo", avalia o diretor.
"O sonho em si j� � uma cria��o. O que fazemos � recri�-lo a partir do teatro. Isso nos deu a oportunidade de trabalhar o texto de diferentes maneiras. H� drama e poesia, como tamb�m h� humor. Tudo isso � inerente ao [Grupo] Galp�o e seus atores e atrizes", acrescenta.
Ao longo do processo de coleta dos sonhos, ele se surpreendeu com a variedade dos temas sonhados. Ao mesmo tempo, Pedro Br�cio aponta que � poss�vel identificar semelhan�as, principalmente com medos e ansiedades suscitados pela pandemia.
"H� muitos sonhos relacionados a morte, perigo e amea�a. As pessoas est�o sonhando que saem de casa sem m�scara e, portanto, correm o perigo de se contaminar. Tamb�m h� aqueles sonhos em que acontece um reencontro espiritual com pessoas que j� morreram. Um deles, por exemplo, � de uma pessoa que sonhou com a av�, e n�o sonhava com ela havia muito tempo", comenta.
"Mas tamb�m tem uma variedade de sonhos engra�ados. Um deles � de uma pessoa que quer comer um frango e n�o consegue. � engra�ad�ssimo. V�rios deles lidam com o l�dico de uma maneira muito bonita. Conseguem passar uma natureza pueril. Mas o medo e a morte s�o sentimentos predominantes e quase onipresentes", revela.
Na vis�o de Br�cio, o texto mostra os reflexos da pandemia e do isolamento social, mas tamb�m tem a fun��o de transmitir uma ideia de esperan�a. "� uma maneira de pensar como vamos sair dessa e ser felizes. H� luto, medo, indigna��o, mas tamb�m h� humor e um olhar l�dico que resgata a nossa expectativa por dias melhores", afirma.
Essa n�o � a primeira vez que Pedro Br�cio desenvolve um espet�culo do zero para o ambiente on-line. Em outubro de 2020, ele estreou "Cara palavra", encenada pelas atrizes D�bora Falabella, Mariana Ximenes, Andr�ia Horta e Bianca Comparato. A montagem funcionava como uma esp�cie de sarau costurado por textos de poetas brasileiras contempor�neas.

A experi�ncia bem-sucedida deu a ele a vontade de retornar ao formato, e o convite do Grupo Galp�o chegou em bom momento. “Acompanho o trabalho do Galp�o h� muitos anos e sei do gosto que eles t�m por trabalhar com diretores e autores variados. Isso tem muito a ver com o meu estilo. Tamb�m tenho o h�bito de escrever para outros diretores e companhias", diz.
Apesar de afirmar que nada � compar�vel � encena��o teatral em um palco diante da plateia, Br�cio se consola com o fato de o formato virtual ser "o que d� para fazer agora".
"Os teatros est�o come�ando a reabrir e as coisas est�o voltando a ser como eram antes, mas ainda � cedo e arriscado para realizar uma pe�a como era antes da pandemia. Tenho tentado olhar para o lado bom do virtual. Uma coisa muito legal � poder chegar em pessoas de qualquer lugar do Brasil", afirma.
Realizar a pe�a ao vivo � algo que, para ele, "honra o of�cio teatral dos atores". "Ao vivo, tem o perigo de a transmiss�o falhar, de algu�m ser cortado. Ao vivo, tem a performatividade. 'Sonhos de uma noite com o Galp�o', que far� temporada, traz a possibilidade de manter o ritual do teatro, que vai acontecer naquele per�odo determinado e n�o est� dispon�vel para ser acessado a qualquer hora", observa.
Segundo ele, o grande desafio dessa nova linguagem � romper as barreiras impostas pela tecnologia. "Estamos � merc� dela e, se o sinal est� ruim, tudo pode falhar. Ensaiar a dist�ncia tamb�m � uma loucura, mas a gente acaba se entendendo e se virando. Agora, a tecnologia, essa tem sido bastante desafiadora para todos n�s."

“SONHOS DE UMA NOITE COM O GALP�O”
Deste s�bado (20/08) at� 12/09. As sess�es deste s�bado e domingo (21/08) est�o com ingressos esgotadas. O espet�culo � transmitido aos s�bados e domingos, sempre �s 20h, por meio da plataforma Zoom. Gratuito. 10 anos. Retirada de ingressos por meio do Sympla.