
Luciana F�lix e Patr�cia Melo, fundadoras da Matrioska Editora – criada em julho do ano passado –, s�o categ�ricas ao afirmar que a s�rie “Leituras cr�ticas importam” vem “libertar a sociedade da bolha da ignor�ncia e do preconceito”, ao ampliar o debate sobre direitos humanos. A dupla tem mais de 16 anos de experi�ncia no mercado editorial no segmento de livros t�cnicos, cient�ficos e profissionais.
Coordenada pelo professor de direito da PUC-SP e p�s-doutor em hist�ria dos povos ind�genas Alvaro de Azevedo Gonzaga, a s�rie rec�m-lan�ada, composta inicialmente por oito volumes, traz t�tulos como “Feminismo(s)”, de Silvia Pimentel e Alice Bianchini, “Inclus�o n�o � favor nem bondade”, de Juliana Izar Soares da Fonseca Segalla, “Privil�gios brancos no mercado de trabalho: diversidade, ra�a e racismo entre profissionais no Brasil contempor�neo”, de Matheus Carvalho, e “Decolonialismo ind�gena”, do pr�prio Alvaro, entre outros que tratam de movimentos LGBTQIA+, popula��o de rua, imigrantes e refugiados.
Patr�cia Melo diz que a inten��o da editora � seguir abordando temas que colocam as pessoas diante do espelho de seus pr�prios preconceitos, obrigando-as a perceber a complexidade de quest�es t�o diversas quanto desconhecidas do ponto de vista de viv�ncias e lugares de fala. Luciana F�lix endossa, reiterando o prop�sito de furar a bolha do preconceito e da ignor�ncia.
“Queremos abrir espa�o para que as pessoas conhe�am a diversidade humana. Quando voc� ouve um ministro da Educa��o dizer que uma crian�a com defici�ncia atrapalha a outra, atrapalha o restante da turma, essa � a fala de quem est� vivendo em uma bolha, e um ministro n�o pode viver numa bolha”, afirma a editora. “A escola n�o � s� lugar de apreender conte�do, � tamb�m o lugar de conv�vio com a diferen�a. Como voc� vai aprender sobre isso se n�o for na pr�tica? O livro ‘Vidas LGBTQIA ’, de Mariana Serrano e Amanda Claro, tem o subt�tulo ‘Reflex�es para n�o sermos idiotas’, que alude exatamente a isso”, pontua.
As editoras explicam que o projeto come�ou a tomar forma quando elas foram ao encontro de Alvaro Gonzaga propor que coordenasse uma outra s�rie, destinada ao curso preparat�rio para a Ordem dos Advogados do Brasil. Nessa conversa, ele falou de temas que gostaria de desenvolver, relembra Patr�cia Melo.
“O professor Alvaro sempre teve o desejo de fazer uma s�rie como essa. Durante a pandemia, ele viu que tinha tempo para estudar, fazer a tese de p�s-doutorado e desenvolver algumas ideias. Al�m de atuar na �rea jur�dica, ele � professor de �tica, tem forma��o em filosofia. Sempre quis juntar esses temas. Com a pandemia, ele conseguiu parar e desenvolver a ideia. A Patr�cia o procurou justamente no momento em que ele pensava nisso. Foi um presente que ele deu para a Matrioska”, conta Luciana F�lix.
LUGAR DE FALA
Os autores dos oito t�tulos iniciais da s�rie t�m duas caracter�sticas marcantes, segundo as editoras: s�o quase todos da �rea jur�dica e autoridades nos assuntos de que tratam. Ou seja, est�o em seus lugares de fala.
Luciana cita como exemplo o pr�prio Alvaro, cujo av� era ind�gena guarani-kaiow�. Ele estudou a pr�pria ancestralidade, o que resultou em sua tese de p�s-doutorado. Assim, era natural que ele pr�prio assinasse o livro “Decolonialismo ind�gena”.
“Todos os autores t�m pertin�ncia com os respectivos temas de maneira muito profunda”, diz Luciana F�lix. “Juliana Segalla, que trata de inclus�o, tem defici�ncia auditiva. A Silvia Pimentel e a Alice Bianchini s�o feministas reconhecidas – a S�lvia, ali�s, estuda isso h� 40 anos, � a �nica representante do Brasil na ONU Mulheres. Tem o padre J�lio Lancellotti, que n�o � da �rea jur�dica, e assina ‘Tinha uma pedra no meio do caminho’, que trata da popula��o de rua, com a qual ele trabalha h� muitos anos. A Carolina Piccolotto Galib, autora de ‘Imigrantes e refugiados’, tem ascend�ncia libanesa e sempre esteve envolvida com esse tema”, detalha a editora.
Matheus Carvalho, procurador da Fazenda Nacional e professor, escreveu “Privil�gios brancos no mercado de trabalho”. Luciana explica que a obra � fruto da pesquisa conduzida por ele em escrit�rios de advocacia, que revelou que pessoas negras at� conseguem acessar o mercado de trabalho, mas n�o conseguem ascender.
A primeira leva da s�rie se completa com “Torrente ancestral: vidas negras importam?”, de Juliana Souza, que foi a advogada do casal de atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank no epis�dio em que a filha adotiva deles, Titi, foi v�tima de racismo.
COLORISMO
Patr�cia diz que a s�rie “Leituras cr�ticas importam” vai continuar gerando t�tulos, tem horizonte em aberto, e, neste momento, duas novas obras j� est�o em desenvolvimento. Um dos temas � o “colorismo”, que est� a cargo de Gisele Aguiar e Marco Aur�lio Barreto.
“� uma quest�o muito importante, estou dentro dessa perspectiva. Algumas pessoas olham para mim e falam que n�o sou negra, mas me sinto negra, me vejo como negra. Estou na escala de colorismo, porque minha pele tem um tom mais claro que a de outras pessoas negras”, diz a editora.
O outro volume, que est� sendo escrito por Vitor Goulart Nery, � “O privil�gio sou eu”. “A gente tem o livro sobre os privil�gios dos brancos no mercado de trabalho, do Matheus Carvalho, que traz uma constata��o que resulta de pesquisa. J� ‘O privil�gio sou eu’ tem outra perspectiva, porque traz o autor falando justamente de privil�gios que ele reconhece ter. Ele assume isso, ent�o tem uma nuance a�”, acrescenta a editora.
Luciana F�lix e Patr�cia Melo planejam outros t�tulos para 2022, todos na mesma linha. “H� espa�o para todo mundo, todo mundo merece ser respeitado, independentemente de sua identidade, do espa�o que ocupa na sociedade ou do que seja. A s�rie tem muito esse vi�s, falando de direitos humanos, de respeito, de abrir espa�o para o di�logo”, destaca Luciana.
De acordo com a editora, os autores, muitas vezes, v�o desmontar fal�cias e abrir a mente do leitor para o que deveria ser �bvio.
“O padre J�lio, por exemplo, explicita alguns mitos, algumas mentiras sobre a popula��o de rua, que tenta esclarecer de forma leve. Muita gente acha que morar na rua � atrativo, que a popula��o de rua n�o gosta de viver em abrigos, que se der dinheiro para o morador de rua ele vai beber cacha�a e usar drogas. S�o cren�as do senso comum que a s�rie se prop�e a desmitificar”, diz Luciana F�lix.
“As pessoas ficam discutindo algo que ouviram dizer, mas n�o t�m o m�nimo de conhecimento para sequer come�ar um di�logo. Aqui existe a possibilidade de essas pessoas come�arem a ter contato e se esclarecer em rela��o a todos assuntos muito caros para n�s”, conclui Patr�cia Melo.

“LEITURAS CR�TICAS IMPORTAM”
“Decolonialismo ind�gena”, de Alvaro de Azevedo Gonzaga
“Feminismo(s)”, de Silvia Pimentel e Alice Bianchini
“Imigrantes e refugiados”, de Carolina Piccolotto Galib
“Inclus�o n�o � favor nem bondade”, de Juliana Izar Soares da Fonseca Segalla
“Privil�gios brancos no mercado de trabalho: diversidade, ra�a e racismo entre profissionais no Brasil contempor�neo”, de Matheus Carvalho
“Vidas LGBTQIA : reflex�es para n�o sermos idiotas”, de Mariana Serrano e Amanda Claro
“Tinha uma pedra no meio do caminho”, de padre J�lio Lancellotti
“Torrente ancestral, vidas negras importam?”, de Juliana Souza
Os livros t�m pre�o sugerido de R$ 49,90 cada e podem ser adquiridos pelo link www.loja.matrioskaeditora.com.br.
Ilustra��es e capas: Rafaela Fiorini e L�dia Ganhito