(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas LITERATURA

Ondjaki lan�a cinco livros no pa�s e diz que Brasil acolhe os africanos

Escritor angolano vive supersafra criativa, apesar da pandemia: escreveu romance, abriu livraria e vai editar o novo trabalho do mineiro Paulinho Assun��o


05/09/2021 04:00 - atualizado 05/09/2021 07:26

Na quinta-feira (9/9), Ondjaki fala de seus livros em live marcada para as 17h, no Instagram (@quatrocincoum!)
Na quinta-feira (9/9), Ondjaki fala de seus livros em live marcada para as 17h, no Instagram (@quatrocincoum!) (foto: A. Guyot/divulga��o)

"Posso demorar tr�s, quatro, cinco anos para publicar um livro, porque fico a editar, sobretudo a apagar"

Ondjaki, escritor


O recolhimento compuls�rio durante a pandemia foi muito produtivo para o escritor angolano Ondjaki, de 43 anos. Terminou um romance, um livro infantil, filmou um curta-metragem, abriu uma livraria e uma editora em Luanda. E ainda plantou v�rias �rvores. “S� faltou um filho”, brinca ele, que tem parte de sua produ��o recente lan�ada no Brasil pela Pallas Editora.

“Prosador, �s vezes poeta”, como se define, Ondjaki � publicado no pa�s desde 2006. No pacote que chega agora, h� tr�s in�ditos por aqui: o infantil “A est�ria do sol e do rinoceronte” (um dos t�tulos da safra pand�mica), a colet�nea de poesia “Materiais para confec��o de um espanador de tristezas” e “Verbetes para um dicion�rio afetivo”, que re�ne prosa e poesia a oito m�os.

RITMO 

Est�o sendo relan�adas a colet�nea de contos “Os da minha rua”, um de seus t�tulos mais conhecidos, e “H� prendisajens com o x�o”, outra compila��o de poemas. “Hoje, tenho publicados 25 livros, entre poesia, romance e contos. Cada livro aparece um pouco como uma surpresa. A primeira coisa � a ideia, e a partir do ritmo dela, que respeito muito, vem o formato”, diz ele.

Na quinta-feira (9/9), �s 17h, o autor participa de live, a convite da revista Quatro Cinco Um!, no Instagram da  publica��o (@quatrocincoum!).

Ondjaki � nome celebrado da literatura angolana. Com vinte anos de carreira, livros traduzidos para v�rios pa�ses, viv�ncia em outros lugares (morou no Rio de Janeiro entre 2008 e 2015) e pr�mios prestigiosos – o Jabuti em 2010, na categoria juvenil, por “Av�Dezanove e o segredo do sovi�tico”; e o Jos� Saramago em 2013, pelo romance “Os transparentes” –, sua obra vem sendo marcada pela oralidade.

“Meu estilo est� perto da oralidade na poesia e no livro infantil, como em ‘Os da minha rua’, em que o pr�prio narrador � personagem e � uma crian�a. Ent�o, a linguagem � mais coloquial. J� em ‘A est�ria do sol e do rinoceronte’ trabalho com mitos fundadores, que n�o s�o necessariamente os mitos tradicionais”, explica ele, que se define como um escritor da reescrita.

“No caso do romance, preciso planificar, arranjar tempo. Leio todos os dias, sobretudo poemas. A escrita � uma quest�o de espera �s vezes angustiante, que leva um, dois anos. Posso demorar tr�s, quatro, cinco anos para publicar um livro, porque fico a editar, sobretudo a apagar. Ou seja, meu tempo de escrita envolve a revis�o”, comenta.

A obra de Ondjaki traz muito de Angola e passa, obrigatoriamente, pela mem�ria, seja pessoal ou hist�rica. “Os autores angolanos, por uma quest�o estrutural, j� que o pa�s foi ocupado durante cinco s�culos, trazem muitos relatos de guerras e liberta��es, o que � inevit�vel”, comenta.

Ondjaki nasceu Ndalu de Almeida. Adotou o nome que tem v�rios significados na l�ngua umbundo, do Sul de seu pa�s. Guerreiro � um deles; aquele que enfrenta desafios � outro. Para o autor, o mais desafiador na literatura escrita em portugu�s � os t�tulos circularem pelos oito pa�ses de l�ngua portuguesa.

“O Brasil, no momento, tem recebido alguns escritores de l�ngua portuguesa no continente africano. A grande dificuldade agora � para que o autor brasileiro entre em Portugal. Sinto que o Brasil tem acolhido melhor os autores de outro pa�s, e falo dos de literatura contempor�nea”, afirma.

“Para n�s, angolanos, a grande dificuldade � que nossa literatura seja inclu�da nos curr�culos escolares. Eu tenho livros adotados no Brasil e em Portugal, mas n�o h� um plano curricular que inclua obrigatoriamente a literatura angolana”, lamenta.

Ondjaki mudou-se para o Rio por quest�es pessoais e voltou para Luanda quando achou ter chegado o momento. Espera retornar ao Brasil em novembro, para participar de um evento liter�rio em S�o Lu�s, no Maranh�o.

“O que lamento no Brasil � o imenso grau de racismo e desigualdade social que testemunhei no pa�s, assim como lamento o racismo e a desigualdade em qualquer ponto do planeta. O pa�s precisa urgentemente de novos l�deres”, afirma.

CRISE 

A Angola que Ondjaki reencontrou na volta para casa foi melhor do que a que deixou, mas h� muitos pontos incipientes. “Em certos aspectos, a vida est� melhor. Politicamente, por exemplo. Tivemos um mesmo presidente durante 38 anos (Jos� Eduardo dos Santos, que deixou o poder em 2017, quando foi precedido por Jo�o Louren�o). Mas a crise econ�mica mundial afeta muito Angola, e a desigualdade social � uma quest�o dif�cil. A guerra acabou em 2002, mas ainda somos um pa�s em reconstru��o. E n�o s� de estradas, mas c�vica e moral.”

Recentemente, Ondjaki  abriu a livraria Kiela e a editora Kacimbo. A oferta de livros n�o � pequena, mas ele sente a aus�ncia de novos autores.

“Gostaria de publicar escritores radicalmente jovens, com menos de 30 anos. Eles aparecem muito pouco. Falo da literatura escrita, pois h� outras, como a poesia dita e cantada, mas estamos um pouco atrasados em rela��o a isso. No meu entender, � consequ�ncia da guerra em Angola e da falta de investimento em cultura e educa��o”, finaliza.

“A EST�RIA DO SOL E DO RINOCERONTE”

(foto: Fotos: Pallas Editora/reprodu��o)
Livro infantil de Ondjaki
Ilustra��es: Catalina V�squez
Pallas Editora
28 p�ginas
R$ 63

“H� PRENDISAJENS COM O X�O (O SEGREDO H�MIDO DA LESMA & OUTRAS DESCOISAS)”

Poemas de Ondjaki
Pallas Editora
68 p�ginas
R$ 30

“MATERIAIS PARA CONFEC��O DE UM ESPANADOR DE TRISTEZAS”

Poesia de Ondjaki
Pallas Editora
80 p�ginas
R$ 32

“OS DA MINHA RUA”

Contos de Ondjaki
Pallas Editora
128 p�ginas
R$ 35

“VERBETES PARA UM DICION�RIO AFETIVO”

Prosa e poesia escritas por Ondjaki, Ana Paula Tavares, Manuel Jorge Marmelo e Paulinho Assun��o
Pallas Editora
204 p�ginas
R$ 49

Livro de Paulinho Assunção sairá em Angola pela editora de Ondjaki
Livro de Paulinho Assun��o sair� em Angola pela editora de Ondjaki (foto: Autorretrato/reprodu��o)
Dicion�rio afetivo conecta Brasil, Angola e Portugal

“Olhares po�ticos numa quase mesma dire��o”. � dessa maneira que Ondjaki define o livro coletivo “Verbetes para um dicion�rio afetivo”, lan�ado h� cinco anos em Portugal, que ganha agora sua primeira edi��o brasileira. � uma ourivesaria de prosa e poesia que o uniu a autores do Brasil (Paulinho Assun��o), Portugal (Manuel Jorge Marmelo) e Angola (Ana Paula Tavares).

A iniciativa veio do mineiro Paulinho Assun��o e a g�nese da obra tem quase 20 anos. Em 2003, ele lan�ou em Portugal o livro de contos “Pequeno tratado sobre as ilus�es”. Marmelo, ent�o rep�rter do jornal P�blico, escreveu uma cr�tica elogiosa e os dois ficaram amigos.

“Era a �poca heroica dos blogs, eu vinha publicando uma s�rie de textos sobre livros que n�o existiam, bem � moda borgeana. Um desses textos que inventei, provocativo, gozador, era sobre um livro imagin�rio, escrito por tal MJM, as iniciais de Manuel Jorge Marmelo, com o t�tulo ‘Os olhos do homem que chorava no rio’. Jorge percebeu no meu texto um desafio. E resolveu tornar real esse livro inexistente a quatro m�os com a poeta angolana Ana Paula Tavares”, relembra Paulinho Assun��o.

O livro de Marmelo saiu em 2005 e, como “autor inicial do crime”, Assun��o foi apresent�-lo em um encontro de literatura em Portugal. L� conheceu pessoalmente o trio que originou n�o s� “Verbetes”, mas outros projetos.

Mem�ria 

Para o livro a oito m�os, Assun��o tinha como ideia “que cada tema geral funcionasse como indutor de hist�rias e lembran�as de cada um de n�s no Brasil, em Portugal e Angola. Pelos verbetes, revisitar�amos a nossa mem�ria afetiva de lugares, coisas, bichos, fantasmas”. Segundo ele, esse processo ocorreu “sem pressa, sem afli��es para conclu�-lo, de quando em quando retom�vamos o livro, acrescent�vamos um ou outro verbete.”

Ondjaki foi o �ltimo a entrar no projeto, conclu�do em 2015. “Destaco sobretudo na obra dele um tra�o que muito me agrada: a dic��o l�dica, de louvor aos brinquedos da fala e da escrita, dic��o que se origina nos veios aur�feros mais faiscantes e imaginantes da l�ngua, seja das matrizes angolanas, seja nas heran�as inventivas que v�m, por exemplo, de Luandino Vieira, Manoel de Barros ou Guimar�es Rosa”, diz Assun��o.

Ondjaki retribuiu o convite para “Verbetes”. Vai publicar, por sua pr�pria editora, o novo livro do autor mineiro, por ora chamado “Brevi�rio das doidices”.

“Foi um convite que muito me alegrou: aos 70 anos, entrar para o cat�logo da jovem editora em Luanda”, conta Paulinho Assun��o, que est� na fase “de arremates” da obra, que re�ne poemas in�ditos escritos nos �ltimos 20 anos.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)