"O quadro pol�tico-social brasileiro se desencadeou neste contexto dif�cil que estamos passando, com a elei��o de Bolsonaro, mas as primeiras inspira��es do texto est�o relacionadas � intensifica��o de comportamentos que est�o a� desde a coloniza��o"
Samir Yazbek, dramaturgo
Embora a elei��o de Jair Bolsonaro � Presid�ncia da Rep�blica tenha inspirado uma s�rie de an�lises que o colocam como centro motor de quest�es como o aumento da viol�ncia cometida contra grupos minorit�rios e a amplia��o do poder do coronelato brasileiro, n�o foi necessariamente esse o estopim que levou o dramaturgo Samir Yazbek a “ Tect�nicas ”, texto que ele come�ou a escrever em 2018. Tr�s anos depois, a pe�a est� em cartaz em dois formatos: no canal do Sesi S�o Paulo no YouTube e com sess�es presenciais no Teatro Sesi-SP, na capital paulista.
“O quadro
pol�tico-social
brasileiro se desencadeou neste contexto dif�cil que estamos passando, com a elei��o de Bolsonaro, mas as primeiras inspira��es do texto est�o relacionadas � intensifica��o de comportamentos que est�o a� desde a
coloniza��o
. Em alguns momentos, mais escondidos; em outros, mais aparentes. Com certeza, eu quis fazer essa verticaliza��o explorando contradi��es que os indiv�duos apresentam nas
estruturas sociais
”, explica o dramaturgo.
CICLO
A pe�a se passa numa cidade do interior paulista, enfocando o ciclo de poder em torno de Jorge, usineiro que busca manter o mando a qualquer custo, enquanto expande os ganhos de sua empresa. Em paralelo, o empres�rio nutre a fixa��o de fazer justi�a com as pr�prias m�os contra Marcelo, jovem negro que acredita ter agredido sua filha, Fab�ola, enquanto lida com a presen�a de familiares j� mortos em suas lembran�as.
“A camada m�tica do texto, que reverbera muito no espet�culo, � outra indaga��o minha: a viol�ncia nas ra�zes humanas. Uma esp�cie de tentativa de criar o racioc�nio sobre como as tr�s esferas, a
viol�ncia
social, a viol�ncia individual e a pol�tica, est�o interligadas, porque quando sinto que olhamos para apenas uma, vemos apenas uma parte do problema e ca�mos na ilus�o de que essa quest�o complexa pode ser resolvida facilmente”, explica Yazbek.
O diretor Marcelo Lazzaratto enxerga na montagem uma for�a potencializada pelo tempo de matura��o que a pandemia imp�s ao espet�culo.
“Infelizmente, a pe�a ganhou mais pot�ncia. Digo infelizmente porque o Brasil piorou muito. Acredito na obra de arte como uma esp�cie de di�logo da natureza humana e da sociedade pol�tica de um pa�s. Essa pe�a j� seria forte, independentemente da atual governan�a, do estado da sa�de, das crises sociopol�ticas, porque ela estabelece uma realidade cotidiana para mergulhar no Brasil mais profundo, que remete �s capitanias heredit�rias”, analisa o diretor.
Para Lazzaratto, o maior problema talvez esteja nas capitanias, a primeira forma de governan�a no pa�s. “Apenas uma pessoa domina uma vastid�o de terras, o que � absurdo. E esse tipo de tradi��o vem at� hoje. Independentemente da pandemia e da atual governan�a, sinto que a pe�a j� diria bastante e j� teria um lindo di�logo com as estruturas que estamos tentando aos poucos transformar. Mas com o agravamento das coisas no pa�s, ela se mostra com intera��o absoluta com o que est� acontecendo e ganhou uma contemporaneidade violenta”, afirma o encenador.
Na pele do usineiro Jorge, Andr� Garolli diz que o pa�s � prop�cio � discuss�o dos temas que a pe�a levanta, ainda que de forma menos �bvia.
“Inspira��o � o que n�o falta no Brasil de hoje. Quer dizer, nem na hist�ria do Brasil. A sensa��o � de que Jorge traz a heran�a das capitanias heredit�rias l� no pensamento social em rela��o � fam�lia e � pol�tica. � o coronel do qual, por incr�vel que pare�a, a gente n�o conseguiu se livrar ainda no s�culo 21. Gira tudo em torno dessa constru��o econ�mica e de privil�gios. Portanto, a partir do momento em que me sinto desprivilegiado na Justi�a, acabo criando minha pr�pria justi�a”, afirma o ator.
ARQU�TIPO
"Infelizmente, a pe�a ganhou mais pot�ncia. Digo infelizmente porque o Brasil piorou muito"
Marcelo Lazzaratto, diretor
Garolli chama a aten��o para a forma como tal comportamento vem se perpetuando. “Em nosso pa�s, temos um presidente que est� o tempo inteiro se colocando dessa forma com as institui��es, como o STF, por exemplo. � s� olhar para a atualidade, e n�o s� no Brasil, para trazer o universo claro que o Samir e o Marcelo quiseram criar em cima de uma linguagem para que n�o ficasse como novelinha. Meu personagem tem essa representa��o m�tica, no sentido de um arqu�tipo que simboliza n�o uma, mas v�rias formas e personalidades da nossa atualidade”, completa.
Com elenco formado por oito atores – Heitor Goldflus, Luciana Carnieli, Maria Laura Nogueira, Mauro Schames, Patricia Gasppar, Sandra Corveloni e Sidney Santiago Kuanza, al�m de Garolli –, “Tect�nicas” marca o retorno exponencial dos grandes espet�culos aos palcos paulistanos. Hiato, ali�s, que ocorre desde antes de a pandemia exigir a ado��o de medidas de distanciamento social. (Estad�o Conte�do)
“TECT�NICAS”
Pe�a de Samir Yazbek. Dire��o: Marcelo Lazzaratto. Com Andr� Garolli, Sandra Corveloni, Heitor Goldflus, Luciana Carnieli, Maria Laura Nogueira, Mauro Schames, Patricia Gasppar e Sidney Santiago Kuanza. Gratuito, em cartaz at� 5 de dezembro. Sess�es presenciais no Teatro do Sesi-SP, na capital paulista, de sexta a domingo. Espet�culo dispon�vel no canal oficial do Sesi S�o Paulo no YouTube. Informa��es:
https://centroculturalfiesp.com.br/