Filmes em que Carla Diaz vive Suzane Richthofen estreiam nesta sexta (24/9)
Com o lan�amento nos cinemas impedido pela pandemia, dupla vers�o cinematogr�fica do crime que chocou o Brasil foi vendida para a Amazon Prime Video
Os textos ditos pelos atores Carla Diaz (Suzane Richthofen) e Leonardo Bittencourt (Daniel Cravinhos) reproduzem trechos dos autos do processo em "A menina que matou os pais" e "O menino que matou meus pais"
Fotos: Stella Carvalho/Divulga��o
Fa�a no Google uma pesquisa com o nome Suzane. Invariavelmente, voc� ser� encaminhado a p�ginas com conte�do sobre a menina loira de classe m�dia alta paulistana que, na madrugada de 31 de outubro de 2002, tr�s dias antes de completar 19 anos, ordenou o assassinato dos pr�prios pais. Dentro de casa, enquanto dormia, o casal foi morto a marretadas pelo namorado da filha e pelo irm�o dele.
Neste s�culo, no Brasil, somente o caso Nardoni (2008) teve igual repercuss�o � do caso Richthofen. Passados quase 20 anos do crime, qualquer not�cia sobre Suzane e os irm�os Cravinhos (Daniel e Christian) tem grande reverbera��o. A mais recente, da �ltima semana, � que Suzane, que cumpre pena de 39 anos e meio e est� no regime semiaberto na Penitenci�ria Feminina de Trememb�, interior de S�o Paulo, foi autorizada pela Justi�a a cursar farm�cia em uma universidade de Taubat�, na mesma regi�o.
� compreens�vel, pela relev�ncia do caso, que ele gere desdobramentos: livros, filmes e s�ries. A novidade que ser� lan�ada nesta sexta (24/09) na Amazon Prime Video chega em formato duplo e com um atraso de um ano e meio.
“A menina que matou os pais” e “O menino que matou meus pais” s�o dois longas de fic��o com roteiro criado a partir dos autos (que s�o p�blicos) do processo, que culminou com a condena��o, em 2006, dos tr�s envolvidos no crime – Daniel Cravinhos teve pena igual � de Suzane e o irm�o dele, Christian, de 38 anos e meio.
IN�DITO
Dirigidos por Maur�cio E�a, os filmes foram rodados simultaneamente em 2019. Teriam, em 2 de abril de 2020, um lan�amento in�dito no mundo: estreariam em 600 salas de cinema, em sess�es alternadas.
Veio a pandemia e o resto da hist�ria � conhecido: os longas acabaram sendo vendidos para uma plataforma de streaming. Com a mudan�a, a dupla narrativa estar� dispon�vel nos 240 pa�ses em que a Prime Video opera.
A ideia de filmar o caso Richthofen � de E�a, mas foi com a chegada de Ilana Casoy (crimin�loga e autora de dois livros sobre o crime, “O quinto mandamento”, de 2009, da Ediouro, e “Casos de fam�lia”, de 2016, da Darkside) e de Raphael Montes (escritor de romances policiais e roteirista) que o projeto se desmembrou em dois filmes.
DEPOIMENTO
“A menina que matou os pais” foi baseado no depoimento de Daniel Cravinhos nos autos; e “O menino que matou meus pais”, no de Suzane. S�o vers�es absolutamente d�spares, em que basicamente um culpa o outro pelo ocorrido. Suzane processou a produtora Santa Rita, respons�vel pelos longas, mas o caso foi considerado improcedente.
O crime em si � pouco mostrado nos filmes. Ambos tratam sobretudo da vida dos Richthofen – os pais, Marisia (Vera Zimmermann) e Manfred (Leonardo Medeiros), e os filhos Suzane (Carla Diaz) e Andreas (Kauan Ceglio) – e dos Cravinhos – os pais Astrogildo (Augusto Madeira) e Nadja (D�bora Duboc), e os filhos Daniel (Leonardo Bittencourt) e Christian (Allan Souza Lima) – a partir de 1999, quando o jovem casal se conheceu por meio do aeromodelismo.
POL�CIA
O come�o dos filmes � o mesmo: a chegada da pol�cia na casa dos Richthofen e a descoberta dos corpos e, em 2006, o in�cio do julgamento. A partir da�, as narrativas s�o feitas em flashback, mostrando a rela��o dos jovens – a paix�o, a descoberta do sexo e das drogas, as brigas com as fam�lias, as diferen�as econ�micas – at� o crime.
“A hist�ria do que aconteceu todo mundo sabe. O que n�o se sabia � como eles chegaram ali. Cada um contou uma hist�ria completamente diferente do outro. A grande sacada � que os pontos de vista se complementam, s�o necess�rios para entender o crime. Tem coisas que o Daniel fala e a Suzane n�o; coisas que se v� num filme e no outro n�o. Acho que � uma hist�ria que pode proporcionar uma discuss�o para tentar entender a mente humana”, diz E�a.
A primeira noite do casal Suzane e Daniel � um bom exemplo de como as “cenas-espelho” funcionam. Na vers�o dele, ap�s um jantar, � a pr�pria Suzane quem toma a iniciativa. Na dela, a situa��o se parece com um abuso. Montes diz que tudo o que est� nos filmes foi tirado dos autos. “A Suzane conta que a primeira vez dela foi diferente de tudo o que tinha imaginado. N�s, como roteiristas, escolhemos como narrar, mas os eventos est�o todos nos depoimentos.”
Montes, que diz que os filmes s�o “um feliz encontro entre a fic��o e a n�o fic��o”, cita outras produ��es como inspira��o para o formato: a recente s�rie “The affair” (2014-2019) e o cl�ssico “Rashomon” (1951), de Akira Kurosawa. No longa do mestre japon�s, um estupro e assassinato s�o descritos por quatro testemunhas com vers�es contradit�rias – o longa virou a grande refer�ncia para produ��es que apresentam diferentes pontos de vista para os mesmos fatos.
Na inten��o e no discurso dos realizadores, os dois filmes fazem exatamente isso. No entanto, ao telespectador o que mais interessa � como fazem. A� a quest�o se complica. “A menina...” e “O menino...” foram filmados quase como uma “Malha��o” com um crime como pano de fundo. E�a, que fez escola nos videoclipes (� dele o antol�gico “Di�rio de um detento”, do Racionais MCs) imprime o mesmo clima. V�rias sequ�ncias s�o rodadas como um grande v�deo com m�sicas de Charlie Brown Jr. e O Rappa ao fundo.
CARICATURA
Pior: para dois filmes sobre uma mesma hist�ria, faltam nuance e densidade em todos os aspectos. As interpreta��es s�o rasteiras e sem meios tons – ou se � bom ou ruim. Ainda que a semelhan�a f�sica ajude, a Suzane de Carla Diaz recai na caricatura, principalmente nas sequ�ncias de tribunal. Al�m disso, os personagens n�o ajudam – o casal Suzane/Daniel � chato tanto apaixonado quanto �s turras.
Quando voc� chega ao segundo filme, tenha come�ado pela ordem que for, o interesse, dada a previsibilidade da trama, j� desapareceu. Melhor voltar para o Google – l�, pelo menos, o mundo c�o, para os que gostam do g�nero, traz sempre uma nova hist�ria.
“A MENINA QUE MATOU OS PAIS” E “O MENINO QUE MATOU MEUS PAIS”
Os filmes estreiam nesta sexta (24/09), na Amazon Prime Video
R�us tentaram proibir obras
Al�m dos j� citados livros de Ilana Casoy, tamb�m foram publicados outros volumes sobre o caso: “Richthofen: O assassinato dos pais de Suzane” (2011, Editora Planeta), de Roger Franchini, ex-investigador da Pol�cia Civil de S�o Paulo, e “Suzane: Assassina e manipuladora” (2020), do jornalista Ulisses Campbell.
Este �ltimo teve, em novembro de 2019, sua publica��o proibida pela Justi�a de S�o Paulo, a pedido de Suzane. A censura durou 37 dias – foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Valendo-se do ocorrido, autor e editora (Matrix) lan�aram o volume com o selo “O livro que a Justi�a proibiu” estampado na capa.
No in�cio deste ano, Christian Cravinhos entrou com pedido no TJ-SP para censurar o epis�dio da s�rie “Investiga��o criminal” que aborda o caso. O mais velho dos Cravinhos pedia que o epis�dio fosse retirado do ar, al�m de indeniza��o de R$ 500 mil. O pedido foi negado. O epis�dio em quest�o foi lan�ado em 2012 e est� dispon�vel na Amazon Prime Video.
Carla Diaz afirma que seu primeiro desafio foi se distanciar do caso real para interpretar Suzane Richthofen
tr�s perguntas para...
CARLA DIAZ E LEONARDO BITTENCOURT
atores
Como voc�s se prepararam para o filme?
Carla – Eu tinha 12 anos na �poca (do crime), lembro-me muito bem da repercuss�o no notici�rio e ficava me perguntando o que se passava na cabe�a de uma filha para fazer isso com os pais. O primeiro desafio foi encontrar um distanciamento do casal real, o julgamento pessoal, para interpretar as personagens dentro das varia��es.
Leonardo – A Carla foi aprovada (nos testes) antes; eu cheguei nos 45 do segundo tempo, houve uma busca muito grande para o (ator desse) papel. � um caso que todo mundo conhece e, ao mesmo tempo, sabe-se muito pouco. O que nos ajudou a mudar a “chave” (dos pap�is para cada filme) foi entender que um tinha certo dom�nio e o outro era dominado. A prepara��o foi muito bem dividida, o que nos ajudava a entender que um mesmo cara tinha uma vers�o e na outra era completamente diferente.
Quais foram as cenas mais dif�ceis?
Carla – A sequ�ncia do tribunal em que o cen�rio era exatamente igual (ao real), onde estava o elenco inteiro mais figura��o, a equipe completa. Era muita gente e a concentra��o foi essencial para os filmes darem certo. Houve uma divis�o para o que tinha que ser feito para o filme 1 e para o filme 2. Estava todo mundo emocionado, pois ali as falas eram exatamente as mesmas dos autos do processo.
Leonardo – Para mim foi a grava��o do crime e do tribunal. (Essa �ltima) Mexia comigo, porque o clima foi muito pr�ximo de quem esteve ali. E a do crime teve a exaust�o da cabe�a e do corpo. Foram dois dias de grava��o com muitas a��es f�sicas, equipamentos pesados. No final, tive uma travada na coluna.
Carla, passados meses do fim do “BBB21”, acredita que sua participa��o no reality tenha valido a pena?
Carla – Pela exposi��o, as pessoas puderam ver a Carla como pessoa, e era exatamente isso que eu queria. No ano passado, tive um c�ncer de tireoide, me curei, ent�o quis mergulhar de cabe�a no projeto, vivenciar emo��es bem diferentes das que uso na composi��o de personagens. Claro que foi positiva, sen�o n�o estaria trabalhando tanto quanto estou. Estou correndo pra l� e pra c�, lancei duas cole��es, uma de �culos e uma de len�os, e estou com projetos para este ano e para o pr�ximo.
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