"Por que ser� que o baixista � comunista?", questiona o primeiro verso da m�sica "Trevo das margaridas", faixa que abre o �lbum "Se oriente", a ser lan�ado pela banda carioca Bloco [C] nesta quinta-feira (14/10), nas plataformas digitais.
A pergunta, que surge em meio a elementos sonoros tradicionais do samba, � o pontap� inicial do disco de estreia do grupo, formado em 2008, quando os m�sicos Daniel Obino, Tiago Rosa e Fernando Rosa cursavam geografia na UERJ.
Desde a �poca em que eram estudantes universit�rios, os tr�s enxergam a m�sica como instrumento de contesta��o, e isso se reflete em todas as can��es desse primeiro trabalho.
"A primeira frase do �lbum � uma provoca��o. Por que ser� que o baixista � comunista? A direita neoliberal chama de comunista todo mundo que discorda dela. Isso � sempre dito com agressividade, tentando desmerecer a outra pessoa e o que ela pensa. Ent�o, a gente coloca essa frase como uma maneira de questionar esse tipo de discurso", afirma Obino.
Esse tom provocador e at� mesmo debochado est� presente em boa parte das nove faixas que comp�em o disco. "Se oriente" marca a retomada da Bloco [C]. A banda entrou em hiato em 2012 e retomou as atividades em 2015. Em 2017, os tr�s integrantes conheceram o produtor Guilherme G�, que passou a ser o respons�vel por ajudar o grupo a reestruturar sua sonoridade e est�tica. Desde ent�o, eles refutam o formato de banda fixa, em nome de uma liberdade art�stica.
ALTO N�VEL
"Desde que a gente conheceu o Guilherme G�, um cara alto-n�vel, com uma cabe�a superaberta, come�amos a idealizar o nosso primeiro trabalho. Quando as primeiras m�sicas surgiram, a gente percebeu que n�o precisava ter m�sicos fixos na banda, at� mesmo para n�o se prender a um g�nero musical s�. Por conta disso, passamos a valorizar a composi��o e adicionar nela o que ela pede", explica Obino.
Nascida como uma banda dedicada ao reggae, a Bloco [C] n�o incluiu em seu primeiro �lbum can��es do g�nero. "Se oriente" est� mais associado ao universo do samba, mas tamb�m flerta com o rock e a MPB, com m�sicas que misturam sons org�nicos com batidas eletr�nicas.
Finalizado em 2019, o disco foi gravado no Est�dio Hanoi, no Rio de Janeiro, com uma s�rie de instrumentistas convidados, entre eles Marcos Suzano, Cl�udio Infante e Rodrigo Sha. Nos �ltimos dois anos, o grupo se dedicou a mixar e masterizar o trabalho. O processo de finaliza��o do disco, segundo Obino, foi beneficiado pela pandemia da COVID-19.
"A gente p�de sentar e organizar, fazer as reuni�es pelo Zoom com calma, sem a press�o de fazer show ou estar na ativa. Trabalho com m�sica na noite, mas o Tiag�o (Tiago Rosa) e o Shock (Fernando Rosa) s�o professores em escola p�blica. Ent�o a gente usou esse tempo mais tranquilo para finalizar o disco com calma e planejar o lan�amento de uma forma mais organizada", conta.
A primeira m�sica que o grupo lan�ou oficialmente foi "Governador", em 2018, que come�ou a ser escrita sete anos antes, em 2011, em resposta �s enchentes e deslizamentos na regi�o serrana do Rio de Janeiro.
Com os esc�ndalos e pol�micas que marcaram a administra��o estadual, a m�sica ganhou novo significado. Em maio deste ano, a Bloco [C] relan�ou a can��o por meio de um lyricvideo. Ela n�o s� faz parte do �lbum "Se oriente" como um de seus versos se tornou o nome do disco - "Se oriente rapaz/ Que vagabundo j� n�o aguenta mais", diz o trecho.
"� uma refer�ncia a essa m�sica, mas tamb�m tem tudo a ver com a nossa forma��o como ge�grafos. Al�m do mais, somos uma banda que gosta de fazer cr�ticas, e essa express�o funciona como uma cutucada em quem n�o est� antenado nos problemas que o Brasil sempre enfrentou", diz Obino.
Depois de relan�ar "Governador", a Bloco [C] lan�ou o single "Sonho dourado", em junho �ltimo. Na letra, o grupo aborda de forma cr�tica os contextos sociais e econ�micos que levam as pessoas a deixarem sua vida nas zonas rurais do pa�s para buscar uma vida melhor nos centros urbanos. "Eu vim atr�s de um sonho dourado/ Mas na cidade, seu mo�o, � tanto alvoro�o/ Aqui eu me perco, achando algo de novo", diz um dos versos da can��o.
Em julho, a banda lan�ou "Verde e amarelo", m�sica que debate a descriminaliza��o do uso de drogas. A m�sica, que mistura elementos de rock com samba, conta com versos do rapper uruguaio Diego Grinberg.
Em agosto, foi lan�ada "Fundo de quintal", �ltimo single antes da chegada do �lbum e cuja letra tem inspira��o em versos do poeta Alberto Caeiro (um dos pseud�nimos de Fernando Pessoa).
Com pouco mais de 32 minutos, o �lbum ainda conta com as m�sicas "Paranau�", "Pescador", "Porcos" e "Feminino divino". Em boa parte delas, a quest�o pol�tica se encontra em versos bastante metaf�ricos.
Obino n�o considera esse um �lbum de protesto, mas sim um disco que reflete sobre quest�es problem�ticas do Brasil contempor�neo. Para ele, o g�nero que melhor traduz os problemas pol�ticos do pa�s hoje n�o � o samba ou o rock, considerados ber�os da contracultura, e sim o rap.
"O rap veste essa camisa h� algum tempo. � um g�nero que trata de quest�es importantes. Ao mesmo tempo em que tem artistas fazendo um tipo de m�sica descolado da realidade, tem aqueles que est�o completamente imersos na mensagem que querem passar. E a galera aceitou isso de verdade. Tem uma gera��o nova a� que est� muito atenta a essas mensagens", ele afirma.
“SE ORIENTE”
Bloco [C]
9 faixas
Miragem Records
Dispon�vel nas plataformas digitais