
Com o avan�o da vacina��o e a retomada das atividades presenciais, recente e ainda em curso, Belo Horizonte parece confirmar uma alardeada voca��o para receber as estreias nacionais de shows, turn�s e espet�culos em geral.
Na �ltima sexta-feira, Z�lia Duncan mostrou pela primeira vez, no Cine Theatro Brasil Vallourec, o show “Pelesp�rito”, com o qual vai circular pelo pa�s. Tamb�m no fim de semana passado, na sexta e no s�bado, Tom Cavalcante deu o pontap� inicial em seu espet�culo “Todos os Toms” na capital mineira, no Teatro Feluma. H� duas semanas, foi em BH que Lenine se apresentou pela primeira vez com seu filho, Bruno Giorgi, no show “Voz, viol�o e produ��o”.
Na �ltima sexta-feira, Z�lia Duncan mostrou pela primeira vez, no Cine Theatro Brasil Vallourec, o show “Pelesp�rito”, com o qual vai circular pelo pa�s. Tamb�m no fim de semana passado, na sexta e no s�bado, Tom Cavalcante deu o pontap� inicial em seu espet�culo “Todos os Toms” na capital mineira, no Teatro Feluma. H� duas semanas, foi em BH que Lenine se apresentou pela primeira vez com seu filho, Bruno Giorgi, no show “Voz, viol�o e produ��o”.
Rebobinando para um momento anterior � pandemia, a cidade j� desfrutava dessa primazia, na condi��o de primeiro palco para turn�s grandiosas e que sempre geram muito expectativa, como a do show “Caravanas”, que Chico Buarque estreou em 2017, no Pal�cio das Artes, a de “Ok Ok Ok”, de Gilberto Gil, em 2018, ou a de “Margem”, de Adriana Calcanhotto, que partiu de Belo Horizonte para o resto do pa�s em 2019.
A presen�a de tais nomes debutando suas novas produ��es na cidade sempre foi justificada por um suposto perfil exigente do p�blico mineiro, que, por essa raz�o, funcionaria como um bom term�metro para indicar o sucesso – ou n�o – dos espet�culos.
Tanto produtores, agentes e empres�rios de artistas e companhias quanto gestores de equipamentos culturais da cidade concordam que, sim, esse pode ser um fator que torna os palcos locais atrativos para as estreias em geral. Mas h� outros elementos envolvidos, como a oferta de bons espa�os para shows, a quest�o geogr�fica e o fato de a capital estar inserida num circuito de cultura importante, consolidado e economicamente relevante, com um reconhecido p�blico consumidor de bens art�sticos.
CRIVO
“N�o d� para pensar em lan�ar um projeto de cultura e desconsiderar Belo Horizonte”, diz Rafaello Ramundo, da ag�ncia de entretenimento Novo Tra�o, respons�vel pela realiza��o da s�rie Prudential Concerts, que, estrear� sua edi��o 2021 no Pal�cio das Artes para em seguida circular por outras capitais do pa�s, com diferentes artistas em cada uma. Ele diz que identifica nas plateias de Belo Horizonte essa voca��o para o crivo.
“Conversando com meu time de produ��o, a gente discutia se estreava mesmo em BH ou se fazia uma esp�cie de teste antes, em outra cidade, para chegar com todas as arestas do espet�culo aparadas”, diz, aludindo ao suposto perfil exigente do p�blico mineiro.
“Tem essa coisa muito propalada de que � uma plateia exigente, mas percebo que � tamb�m muito acolhedora. � um p�blico que, quando percebe que a produ��o foi feita com cuidado, com carinho, abra�a mesmo, e a� � uma festa”, afirma. Diogo Nogueira ser� o artista que abre a s�rie em BH, acompanhado por uma orquestra formada por m�sicos locais, e com repert�rio que se concentra na obra de tr�s “jo�es”: seu pai, Jo�o Nogueira, mais Jo�o Bosco e Jo�o Gilberto.
Para Ramundo, o fato de a cidade ser dotada de bons espa�os para receber espet�culos tamb�m � um diferencial importante para que seja escolhida como um palco de estreia. “Ter um equipamento cultural bem cuidado, bem tratado faz toda a diferen�a quando voc� vai escolher um local para dar in�cio a uma turn�. A equipe do Pal�cio das Artes � muito cordial e profissional. E eles s�o muito criteriosos, a gente tem conversado bastante sobre os protocolos de seguran�a. Belo Horizonte tamb�m tem a Sala Minas Gerais, que � um primor, mas a gente optou pelo Pal�cio das Artes por uma quest�o afetiva. � um campo em que a gente j� tem jogado h� muito tempo, n�o tinha porque mudar”, diz.
Luciana Sales, diretora cultural da Funda��o Cl�vis Salgado, observa que n�o apenas a cidade disp�e de bons espa�os com perfis distintos, que atendem a produ��es de todos os tamanhos, como tem atrativos tur�sticos que refor�am sua voca��o para palco de estreias.
“Estamos preparados do ponto de vista do trade tur�stico, com bons hot�is e com muitos atrativos, em geral. � uma cidade com potencial para o turismo de neg�cios, isso engloba a circula��o de produtos culturais. Se a gastronomia � boa, se a rede hoteleira � boa, se � uma cidade em que voc� se desloca com certa facilidade, isso tudo favorece. E tem a quest�o geogr�fica, estamos muito bem posicionados no mapa”, aponta.
Ela, que tamb�m j� foi coordenadora de programa��o do Sesc Palladium, diz que as duas casas s�o os palcos mais consagrados para turn�s nacionais, mas que o fato de existirem outros modelos de equipamento cultural na cidade contribui para sua afirma��o como um importante polo difusor de produ��es art�sticas.
“Tem os espa�os com uma capacidade de p�blico um pouco menor, como o Cine Theatro Brasil Vallourec, que se aproxima do Palladium; e tamb�m o Teatro Sesiminas, o Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas e o Teatro Feluma, que s�o casas muito legais, com estrutura boa, e isso � muito atrativo.”
Com rela��o � plateia servir como term�metro, ela acredita que de fato o p�blico de Belo Horizonte � exigente e a aprova��o a um espet�culo sempre reverbera positivamente no restante do pa�s. “Acredito que temos, sim, uma plateia muito cr�tica, que at� aplaude, porque � polida, mas que n�o desdobra f�cil um espet�culo se n�o tiver sido do agrado dela.”
BOCA A BOCA
J�ssica Santiago, diretora de produ��o da Cia. Teatro Independente, do Rio de Janeiro, que estreou na �ltima sexta-feira em BH o espet�culo “P� de cal (Ray-lux)”, com dramaturgia in�dita do premiado autor J� Bilac, e que segue em cartaz no CCBB-BH at� 15 de novembro, considera que o movimento contr�rio tamb�m acontece.
“Aqui os espet�culos que cumprem temporada podem, eventualmente, come�ar com menos plateia, mas, se as pessoas gostam, o boca a boca � muito forte, ent�o, com certeza, � um term�metro maravilhoso. A gente vai chegar ao Rio mais confiante”, diz, sobre o pr�ximo destino do espet�culo.
Ela diz que a estreia foi �tima, o que representa um est�mulo para o restante da temporada. “Foi lindo, muito emocionante voltar depois de todo esse tempo. O p�blico estava �timo, em termos de quantidade e tamb�m no sentido de estar dentro, de curtir. A gente confia no espet�culo, mas ter aquela plateia ali reafirmou esse sentimento. E n�o � uma plateia de amigos, porque quando a gente est� na nossa cidade tem uma estreia para convidados. Em outra cidade, as pessoas compram o ingresso para assistir. Ent�o foi bem feliz para a gente”, diz.
Assim como Luciana, da Funda��o Cl�vis Salgado, Sandra Campos, gestora de a��o cultural do Cine Theatro Brasil Vallourec, tamb�m acredita que a diversidade de bons equipamentos culturais � um importante atrativo para a estreia de produ��es.
“Belo Horizonte conta com importantes espa�os, uma rede de museus, centros culturais, teatros e casas especializadas em grandes eventos. A maioria dos espa�os culturais de BH est� bem equipada para receber esses eventos e isso � fator importante para despertar o interesse dos produtores”, afirma.
Ela enfatiza a import�ncia da forma��o de p�blico, o que passa pela consolida��o de uma agenda de programa��o. “O Cine Theatro Brasil Vallourec tem realizado projetos nesse campo e oferecido uma programa��o que busca, continuamente, atrair o p�blico para o teatro, al�m de contribuir com a aprecia��o do melhor da arte por parte dos frequentadores.”
QUEST�O GEOGR�FICA
Para Tom Cavalcante, a quest�o geogr�fica teve um peso importante na escolha de Belo Horizonte para estrear o espet�culo “Todos os Toms”, em que imita nomes consagrados da m�sica nacional e internacional, como Elvis Presley, Sandy, Tim Maia, Roberto Carlos, Jo�o Gilberto e outros �cones.
“Na reorganiza��o de uma agenda que estava interrompida h� dois anos, constavam algumas cidades, dentre elas Belo Horizonte. Achei uma boa ideia recome�ar por um lugar onde me sinto t�o bem e que � pr�ximo a S�o Paulo”, diz.
O reencontro feliz com o p�blico que ele projetava efetivamente aconteceu, conforme diz. “Minha expectativa de ser recebido calorosamente estava certa. Eu me apresentei, nestes dois dias (sexta e s�bado passados), para plateias que estavam �vidas por rir, interagir e sonhar um pouco nesse novo ciclo que se inicia para ambos, artista e p�blico”, diz.