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Estado de Minas ARTES C�NICAS

Artistas de BH falam da emo��o de pisar de novo no palco diante do p�blico

Integrantes das companhias que abriram a Mostra Reencontro, em cartaz no Galp�o Cine Horto, contam sua experi�ncia da volta ao teatro


10/11/2021 04:00 - atualizado 10/11/2021 07:49

Pessoas sentadas em cadeiras observam atriz vestida de branco e com turbante em cena do espetáculo À sombra da goiabeira
A pe�a "� sombra da goiabeira" foi a atra��o de domingo passado na programa��o da Mostra Reencontro. Na foto, encena��o do espet�culo anterior � pandemia (foto: Acervo Teatro Negro e Atitude)

Ap�s um longo per�odo de portas fechadas, em respeito �s medidas restritivas impostas pela pandemia da COVID-19, o Galp�o Cine Horto reabriu para o p�blico no fim de semana passado. At� o final deste m�s, o centro cultural do Grupo Galp�o abriga a Mostra Reencontro de Teatro de BH.

A mostra come�ou com o espet�culo "E se todas se chamassem Carmem?", da Breve Cia., apresentado na sexta (5/11). No domingo, foi a vez do grupo Teatro Negro e Atitude, com a pe�a "� sombra da goiabeira".

"Foi muito bonito", comenta Renata Paz, atriz da Breve Cia. "Enquanto artista, � muito gostoso poder retornar aos palcos. No �ltimo ano, eu fui privada do meu trabalho e, al�m disso, n�o pude consumir teatro da forma como estamos acostumados. Eu me senti lesada duas vezes. Amo fazer o que fa�o. E teatro � presen�a. A gente at� namora o cinema, brinca com o audiovisual, mas nada � igual a estar diante do p�blico."

Ex-aluna do Galp�o, ela tamb�m destaca a import�ncia de uma companhia como a Breve fazer parte de um evento como esse. "Somos uma companhia negra, formada por pessoas negras. A nossa presen�a joga luz sobre o racismo estrutural que h� nos espa�os culturais. Eu sei quantas pessoas negras pisam dentro e fora do palco. � importante para mim e para os artistas negros que ocupemos os espa�os."

Apesar da emo��o em estar de volta aos palcos depois de um longo per�odo longe deles, Renata confessa que, ainda assim, teve medo de ter contato com o novo coronav�rus e se certificou de que todos os integrantes da companhia estivessem vacinados para o retorno aos palcos.

"Ainda estamos em pandemia. Tenho muito medo da COVID, ainda mais porque � algo que a gente n�o v�. N�o sei se o v�rus est� na m�scara das pessoas. Mas fico muito feliz e agradecida que estou vacinada, meus colegas est�o vacinados e, agora, a gente se arrisca, mas com algumas garantias. Todos n�s da Breve Cia respeitamos demais o isolamento social no �ltimo ano. Voltar tamb�m � um desafio por causa disso", ela conta.

A participa��o na Mostra Reencontro n�o foi a primeira experi�ncia da Breve Cia com p�blico presencial desde o in�cio da pandemia. Em outubro passado, a companhia apresentou a cena "Uma, outra", no 2º Festival de Teatro M�nimo, realizado no Teatro da Cidade. No entanto, alguns fatores tornaram mais especial a encena��o, que ocorreu no �ltimo fim de semana.

''Ainda estamos em pandemia. Tenho muito medo da COVID, ainda mais porque � algo que a gente n�o v�. N�o sei se o v�rus est� na m�scara das pessoas. Mas fico muito feliz e agradecida que estou vacinada, meus colegas est�o vacinados e, agora, a gente se arrisca, mas com algumas garantias. Todos n�s da Breve Cia respeitamos demais o isolamento social no �ltimo ano. Voltar tamb�m � um desafio por causa disso''

Renata Paz, atriz da Breve Cia


OCUPA��O

Primeiro porque "E se todas se chamassem Carmem?" � o primeiro trabalho da companhia, que foi formada em 2016. Segundo porque foi um evento com um p�blico maior, apesar de ainda reduzido. E terceiro porque o espa�o do Galp�o Cine Horto permitiu que a pe�a fosse encenada da forma como foi concebida.

"Essa � uma pe�a de ocupa��o de espa�o. A gente ocupou todos os espa�os poss�veis: a sa�da dos fundos, a escadaria, o cinema e por a� vai. Desde sempre, ela foi uma montagem intimista, que n�o pode ser feita em qualquer lugar. Quando a gente estreou, foi para somente 25 pessoas. � uma pe�a que aposta nos sentidos, por isso � t�o importante a presen�a e a participa��o do p�blico", Renata Paz comenta.

Pessoas de máscara assistem à peça 'E se todas se chamassem Carmem'', no Galpão Cine Horto
Encena��o de "E se todas se chamassem Carmem?", da Breve Cia., abriu a mostra, na �ltima sexta-feira (foto: Henrique Perez/Divulga��o)


"E se todas se chamassem Carmem?", dirigido por Adriano Borges, conta a hist�ria de tr�s mulheres – vividas por Renata, Anair Patr�cia e Amora Tito – que falam sobre suas vidas enquanto negras em uma sociedade estruturalmente racista e branca. 

"As tr�s t�m algo em comum: uma verborragia debochada sobre a situa��o do pa�s em que vivem. Foram abortadas no tapa do nascimento e criadas por vermes da lata de lixo da cozinha da parte amarela da bandeira do maior pa�s da Am�rica Latina", diz a sinopse.

"Tratamos de dor. E � muita dor. � a dor do aqui e do agora e � uma dor que tem pelo menos 500 anos. O texto � extremamente sutil, mas tem muita porrada e muito banzo. Pegamos como inspira��o as M�es de Maio, fizemos pesquisas em document�rios, filmes, teatros, m�sicas. � uma pe�a que fala da solid�o da mulher negra", explica Renata.

Segundo ela, a pe�a ganha um novo significado ao ser encenada neste momento. "Passamos muito tempo em casa e isso traz um trauma. Ao mesmo tempo em que a gente quer viver o ritual do teatro, nosso estado de ser foi modificado no �ltimo ano. Ent�o a gente encena com o cuidado de n�o disparar dores no nosso p�blico, lembrando que aquilo � uma pe�a, que vamos sair dali depois que tudo acabar. Ainda que a realidade fora do teatro tamb�m seja muito dura."

Para Marcus Carvalho, integrante do grupo Teatro Negro e Atitude, essa l�gica tamb�m se aplica ao espet�culo "� sombra da goiabeira". Escrito antes da pandemia, o texto narra a dif�cil rela��o entre um pai e um filho que, ap�s 13 anos sem se falar, se reencontram para tentar se reconciliar.

''A gente viu o quanto o nosso grupo tem um p�blico fiel, que esperava nosso retorno ansiosamente. � muito legal olhar para a plateia e ver que ali est�o os nossos amigos. Al�m disso, estar em uma mostra do Grupo Galp�o � extremamente importante para n�s. O Grupo Galp�o � de suma import�ncia para Belo Horizonte''

Marcus Carvalho,� ator do grupo Teatro Negro e Atitude


PERDAS

"� um espet�culo que fala exatamente sobre perdas, dist�ncias e falta de di�logo. Dentro do contexto do p�s-pandemia, todos esses tr�s fatores ganham um novo significado", ele afirma. "Os dois personagens s� voltam a se falar porque o pai est� morrendo. � uma tentativa de salvar essa rela��o e recuperar o perd�o."

Ao recuperarem o contato, pai e filho questionam os arqu�tipos de masculinidade e constru��es machistas. "A partir da�, a gente fala sobre ancestralidade dentro da linguagem das manifesta��es de cultura de matriz africana. � um espet�culo que ritualiza a morte e o perd�o. � um grande ritual de morte e de supera��o", comenta Marcus.

Essa foi a primeira vez que o Teatro Negro e Atitude encenou a pe�a diante de um p�blico, desde o in�cio da pandemia. Marcus Carvalho define o retorno como "lindo, por v�rios motivos".

"A gente viu o quanto o nosso grupo tem um p�blico fiel, que esperava nosso retorno ansiosamente. � muito legal olhar para a plateia e ver que ali est�o os nossos amigos. Al�m disso, estar em uma mostra do Grupo Galp�o � extremamente importante para n�s. O Grupo Galp�o � de suma import�ncia para Belo Horizonte."

A Mostra Reencontro nasceu de um edital lan�ado em abril de 2020, como forma de contribuir para que artistas e grupos de Belo Horizonte e regi�o metropolitana n�o encerrassem suas atividades. Desde que surgiu, a ideia do concurso sempre foi promover o 'reencontro' desses grupos com o p�blico mineiro.

"A gente recebeu o cach� por esse espet�culo na pandemia, para realiz�-lo assim que poss�vel. Ao longo de todo esse per�odo at� a realiza��o  de fato da mostra, ficamos em di�logo com o Galp�o, que sempre foi muito compreensivo. Em determinado momento, por exemplo, cogitou-se fazer uma mostra on-line, mas os grupos selecionados n�o concordaram. Eles foram bastante pacientes, e a gente p�de realizar esse retorno da melhor forma poss�vel", comenta.

Ao todo, a Mostra Reencontro ter� 10 espet�culos encenados presencialmente, sempre �s sextas e domingos, at� o pr�ximo dia 28. A mostra tamb�m promove uma exposi��o de artes visuais e lan�amento de livros. A programa��o completa ainda inclui um espet�culo virtual e um espet�culo sonoro. A programa��o est� dispon�vel no site do Galp�o Cine Horto


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