
Acompanhada apenas de seu viol�o, Adriana apresenta repert�rio que mescla grandes sucessos de sua carreira com composi��es mais recentes e can��es ic�nicas de outros artistas.
CHICO BUARQUE
“Vai ter algumas coisas que fiz enquanto abria os shows do Gil, como 'Elogio', que n�s fizemos juntos. Uma outra can��o com a qual me reconectei na quarentena foi 'Rosa dos ventos', do Chico (Buarque), que tamb�m estar� no repert�rio e infelizmente ainda � muito atual”, conta.
Cl�ssicos do repert�rio autoral da artista – “Senhas”, “Esquadros” e “Vambora” – dividir�o espa�o com releituras de can��es de Amy Winehouse (“Back to black”), Caetano Veloso (“O nome da cidade”) e Marina Lima (“Tr�s”). Adriana tamb�m apresenta m�sicas recentes, como � o caso de “A flor encarnada” e “Dois de junho”, ambas gravadas por Maria Beth�nia no �lbum “Noturno” (2021).
“Tenho um esqueleto do repert�rio, mas o formato voz e viol�o d� a possibilidade de mudar o roteiro a qualquer momento. Quando se tem uma banda de 40 pessoas, n�o d� para fazer isso”, explica, garantindo que “Veneno bom”, lan�ada em julho e premiada com men��o honrosa no International Songwriting Competition (ISC) deste ano, tamb�m ser� apresentada.
Feliz por reencontrar o p�blico mineiro em seu primeiro show em BH desde 2019, a ga�cha avalia que o isolamento social afetou sua rela��o com o palco. “J� tinha muita gratid�o, uma consci�ncia de que aquilo � um privil�gio. Mas viver (a pandemia) na pr�tica � a impossibilidade de me apresentar e junto com isso o sofrimento e a morte que nos acompanharam cotidianamente. Foi uma coisa muito pesada. Na volta, eu me sinto mais grata.”
Para ela, as incertezas suscitadas pelas restri��es impostas pela COVID-19 trouxeram nova vis�o de mundo. “Antes, a gente podia pensar: bom, daqui a pouco pode cair um meteoro na Terra. Sempre pode. Mas sempre temos aquela pontinha de esperan�a que nos diz que tudo vai dar certo. A pandemia nos botou num lugar melhor em rela��o a isso. A gente realmente n�o sabe o que vai acontecer. N�o � porque est� anotado na agenda que vai acontecer. Viver com essa certeza da imperman�ncia � mais interessante, � mais rico.”
Quando a crise sanit�ria colocou o planeta em quarentena, Adriana Calcanhotto se preparava para viajar para Portugal e cumprir compromissos como professora convidada da Universidade de Coimbra. Assim como muita gente, ela ficou presa em casa, no Rio de Janeiro, e se imp�s a rotina di�ria de composi��o musical. A partir da�, comp�s as nove can��es do �lbum “S�”, lan�ado em maio de 2020, que hoje pode ser lido como um retrato verdadeiro daquele per�odo.
Muito embora o trabalho tenha sido largamente elogiado por p�blico e cr�tica, Adriana revela sua rela��o distante com o registro. Desde que ele chegou �s plataformas digitais, ela n�o o ouviu de novo. Ao ser lembrada de que o trabalho saiu h� mais de um ano, ela brinca: “A sensa��o que tenho � de que j� se passaram 11 anos”.
COIMBRA
Por outro lado, a rela��o da compositora com a Universidade de Coimbra permanece firme. Enquanto estava em Portugal durante a recente turn� pela Europa, a cantora aproveitou para firmar com a institui��o o compromisso de retornar no primeiro semestre de 2022.
“Tamb�m tenho uns projetos com a Universidade de Oxford (na Inglaterra). Vou continuar tocando esse projeto acad�mico. Em Oxford, vou fazer coisas relativas � Semana de Arte Moderna de 1922, que faz 100 anos no ano que vem”, revela.
Em ambas as universidades, seu trabalho n�o ser� ministrar aulas. “Pretendo me dedicar a projetos de pesquisa. Aula demanda muito, tem que ficar muito focado. N�o vou ter o luxo de me dedicar a nada exclusivamente.”
Do per�odo na estrada com Gilberto Gil, Adriana guarda boas mem�rias, como a apresenta��o em Viena, capital da �ustria, onde nunca havia colocado os p�s antes. A turn� ganhou um tom familiar, pois Gil subiu ao palco acompanhado dos filhos Bem e Jos� e dos netos Jo�o e Flor.
“Com ele (Gilberto Gil), as coisas s� se confirmaram para mim. Ele � um artista disciplinado, nobre e extremamente humilde. Um cara sensacional. A� voc� fica vendo a fam�lia toda. Cada um ali tem o seu talento espec�fico. A mec�nica da fam�lia � muito afetiva, ent�o � muito bom poder estar por perto”, ela comenta.
Questionada sobre a possibilidade de a parceria com Gil continuar, ela n�o esconde o desejo de que isso ocorra. “Talvez compor mais can��es. J� falei com ele sobre isso. Mas ele agora est� cheio de coisas para fazer. Tem as comemora��es do anivers�rio de 80 anos no ano que vem, agora Gil � acad�mico... Na verdade, ele sempre teve muito o que fazer”, afirma, referindo-se � recente elei��o do compositor para a Academia Brasileira de Letras.
Ao comentar os shows na Europa, Adriana destaca os protocolos de seguran�a, que variavam de acordo com cada pa�s. “Em alguns teatros, seguia-se o distanciamento social. Em outros, n�o, at� porque cada pa�s tem lidado com essa quest�o de um jeito diferente.”
O aumento ou a queda de casos de COVID-19 ainda � “muito din�mico”, diz a cantora e compositora. “Por isso, ainda temos que tomar muito cuidado. Tanto na turn� do (�lbum) 'Margem', que realizamos no final do ano passado, em Portugal, quando nesta turn� com o Gil, em que ficamos 50 dias fora, ningu�m ficou doente, ningu�m pegou COVID. Isso d� uma alegria. D� a sensa��o de que � poss�vel”, ela conta.
"Ela (Mar�lia Mendon�a) fez um neg�cio que ningu�m tinha feito antes, uma coisa original, uma coisa corajosa. Tinha uma escrita original, que partia do universo machista da m�sica sertaneja, ela se colocava como mulher dentro das can��es de uma maneira como nenhuma outra mulher tinha se colocado antes"
Adriana Calcanhotto, cantora e compositora
TRAG�DIA
Em uma das apresenta��es na cidade portuguesa de Braga, Gil e Adriana Calcanhotto estavam se preparando para subir ao palco quando receberam a not�cia da morte de Mar�lia Mendon�a (1995-2021), aos 26 anos, em acidente a�reo que matou outras quatro pessoas em Minas Gerais. Naquela noite, os artistas dedicaram as respectivas apresenta��es � Rainha da Sofr�ncia, como Mar�lia era conhecida.“Foi uma coisa muito tr�gica, muito triste”, afirma Adriana. “Ela fez um neg�cio que ningu�m tinha feito antes, uma coisa original, uma coisa corajosa. Tinha uma escrita original, que partia do universo machista da m�sica sertaneja, ela se colocava como mulher dentro das can��es de uma maneira como nenhuma outra mulher tinha se colocado antes. Mar�lia deixou um legado muito interessante, como obra e como atitude.”
Com a retomada dos shows, Adriana segue na estrada at� o final do m�s. De Belo Horizonte, vai para Salvador, onde se apresenta no Teatro Castro Alves no s�bado (20/11) e no domingo (21/11). No dia 23, ser� a vez do Rio de Janeiro; no dia 27, ela vai cantar em S�o Paulo ao lado de Maria Luiza Jobim, filha de Tom Jobim (1927-1994), e da Orquestra Jazz Sinf�nica.
“Ter agenda de shows para cumprir d� um sossego e um sentimento de esperan�a. Ainda mais porque a gente n�o trabalha sozinha, temos um monte de gente que depende desses shows. Depois de tanto tempo (sem shows), � uma alegria. Presencial � uma coisa muito legal”, comemora.
ADRIANA CALCANHOTTO VOZ E VIOL�O
Show nesta sexta-feira (19/11), �s 21h, no Pal�cio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Plateia 1: R$ 170 e R$ 85 (meia). Plateia 2: R$ 160 e R$ 80 (meia). Plateia superior: R$ 120 e R$ 60 (meia). � venda na bilheteria da casa e no site Eventim. Informa��es: (31) 3236-7400.