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Estado de Minas LITERATURA

Autor mineiro � duas vezes premiado, com dois livros diferentes, em 15 dias

Edimilson de Almeida Pereira lan�ou a trilogia N�usea no ano passado e viu dois dos volumes agraciados entre 23 de novembro e 8 de dezembro �ltimo


14/12/2021 04:00 - atualizado 14/12/2021 07:28

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Edimilson de Almeida Pereira, escritor mineiro (foto: Prisca Agustoni/Divulga��o)

Poeta, ficcionista, ensa�sta, professor e pesquisador da cultura e da religiosidade afro-brasileiras, o mineiro Edimilson de Almeida Pereira, um dos autores mais premiados do Brasil, somou, num intervalo de 15 dias, mais duas importantes l�ureas � sua cole��o. 

No �ltimo dia 23, ele venceu o Pr�mio S�o Paulo de Literatura 2021, com o livro “Front”. O segundo lugar no pr�mio Oceanos, com “O ausente”, foi anunciado na semana passada (em 8/12). Uma das mais importantes distin��es entre os pa�ses de l�ngua portuguesa, o Oceanos agraciou em primeiro lugar o escritor timorense Lu�s Cardoso.

Os pr�mios vieram na esteira de tr�s livros que Edimilson publicou quase simultaneamente, no final do ano passado, e que marcaram sua estreia na prosa ficcional para o p�blico adulto. Ap�s mais de 35 anos dedicados � poesia e tamb�m com uma robusta produ��o ensa�stica, como pesquisador de refer�ncia no meio acad�mico, al�m de assinar v�rias obras voltadas para o p�blico infantojuvenil, ele primeiro lan�ou, em novembro de 2020, “O ausente”, depois “Um corpo � deriva” e logo em seguida “Front”.

Natural de Juiz de Fora, onde leciona, Edimilson conta que os livros, que comp�em uma trilogia, vieram a p�blico recentemente, mas s�o frutos de ideias que v�m sendo trabalhadas h� muitos anos. Ele diz que “O ausente”, por exemplo, remonta a 1995. 

“De l� para c�, o livro passou por umas quatro ou cinco vers�es, perdi cap�tulos, criei outros. Acabou de ser redigido de forma completa somente no final de 2018. ‘Um corpo � deriva’ � de cinco anos atr�s, finalizei em 2016. O que trabalhei menos tempo foi o ‘Front’, que comecei em 2015. Minha inten��o era public�-los ao mesmo tempo, esse foi o desafio. H� uma liga��o entre eles”, afirma.

Essa liga��o se d�, sobretudo, por serem hist�rias que se passam em per�odos de tempo restritos. No caso de “O ausente”, � entre o in�cio da noite e a madrugada, quando o personagem-narrador reflete sobre seu passado e sobre um futuro imediato. Em “Um corpo � deriva”, a narrativa transcorre num prazo de tr�s horas. E em “Front” tudo acontece durante o tempo de espera na fila de uma casa lot�rica.

“Tento, com essa condensa��o das a��es e dos pensamentos, mostrar o quanto a gente pode vivenciar e experimentar num espa�o muito curto de tempo. Isso quebra essa express�o muito corrente hoje em dia de que a gente n�o tem tempo para nada. Pode-se, em pouco tempo, operar muita coisa”, diz Edimilson.

Ele destaca que outro ponto comum entre as tr�s obras � que s�o narrativas que pegam os personagens em situa��es-limite, � beira do abismo. “O pr�ximo passo � saber o que acontece quando a queda se consolida. Os personagens de cada volume v�o lidar de maneiras diferentes com essas quest�es do tempo e da trag�dia”, aponta o autor.

''Os pr�mios s�o como esta��es, a gente passa por um monte delas, de vez em quando voc� desembarca numa, mas a viagem segue. Os pr�mios ajudam a criar um v�nculo de afeto com as pessoas que enxergam sua obra, o que � muito bom, mas depois me recolho para a minha oficina, minha vida �ntima da escrita, que � onde eu trabalho''

Edimilson de Almeida Pereira, escritor mineiro


DIFEREN�AS 

Se esses pontos s�o liga��es entre as obras e fazem delas uma trilogia, que Edimilson batizou de n�usea – o momento passageiro entre o mal-estar e o v�mito, conforme destaca –, h�, naturalmente, a identidade pr�pria e particular de cada uma. 

“O que o leitor pode apreender j� pelo resumo dos livros � que em ‘O ausente’ voc� tem uma voz predominante, de um narrador; em ‘Um corpo � deriva’, voc� tem um entrela�amento de cinco vozes, como num coro em que se vai alternando a fala; e no ‘Front’ voc� tem vozes estilha�adas, uma fragmenta��o, como uma s�rie de sussurros, de ru�dos”, diz.

O escritor revela que, em diferentes momentos, os tr�s livros foram escritos simultaneamente, e que isso faz parte de seu processo. “�s vezes, escrevo dois ou tr�s livros de poesia ao mesmo tempo. Com os ensaios tamb�m acontece isso, �s vezes estou desenvolvendo dois ao mesmo tempo. E tem a literatura infantojuvenil, que produzo nessa mesma toada. A simultaneidade � uma experi�ncia que gosto de trabalhar. Quando comecei a escrever ‘Um corpo � deriva’, ele se adiantou mais; ‘O ausente’, que vinha sendo trabalhado h� mais tempo, ficou mais para tr�s, foi finalizado depois”, explica.

Os tr�s livros marcaram sua estreia na prosa ficcional para o p�blico adulto numa esfera p�blica, mas que ele j� pratica essa escrita desde a juventude, conforme observa. “A prosa tem v�rias formas de escrita. Na prosa de fic��o para p�blico adulto, sim, � uma estreia, j� que s�o as tr�s primeiras obras que lan�o. Mas por volta dos 20 e poucos anos cheguei a ter dois experimentos de fic��o, um romance e uma novela, que acabei descartando. Depois fui para a literatura infantojuvenil, e tenho um trabalho cont�nuo com a prosa ensa�stica. Ent�o, o ser prosador n�o � uma estreia em si.”

''O trabalho de leitura de um livro para depois servir de mediador com jovens estudantes nos d� uma humildade diante do texto, para compreend�-lo e poder compartilhar. Tenho flexibilidade para ler os textos, tenho paci�ncia para com minhas d�vidas; � um processo did�tico, mas prazeroso. Isso fica claro nesses livros que sa�ram no ano passado''

Edimilson de Almeida Pereira, escritor mineiro

 

MATURA��O 

A partir do in�cio dos anos 80, quando o juiz-forano come�ou a escrever de modo mais sistem�tico, at� os dias atuais, o que houve, conforme aponta, foi um processo de matura��o que, agora, des�gua em “O ausente”, “Um corpo � deriva” e “Front”. 

Ele conta que o romance que escreveu durante a juventude era um texto com clara inspira��o no “Encontro marcado”, de Fernando Sabino, que define como um cl�ssico da literatura brasileira contempor�nea, com a caracter�stica do romance geracional, que marcou in�meros leitores e escritores.

“No meu caso, foi um exerc�cio de aprendizado, escrevendo ainda na m�quina datilogr�fica, com a materialidade da palavra no papel. Depois, no intervalo que se alonga, deixo essa escrita de fic��o e mergulho na escrita anal�tica dos ensaios, o que te d� ferramentas de manuseio do texto longo”, diz, acrescentando que a atua��o como professor de literatura tamb�m contribuiu sobremaneira para esse processo de matura��o da escrita – ou das v�rias escritas.

“O trabalho de leitura de um livro para depois servir de mediador com jovens estudantes nos d� uma humildade diante do texto, para compreend�-lo e poder compartilhar. Tenho flexibilidade para ler os textos, tenho paci�ncia para com minhas d�vidas; � um processo did�tico, mas prazeroso. Isso fica claro nesses livros que sa�ram no ano passado”, salienta.

''As editoras pequenas e m�dias t�m uma caracter�stica importante, elas se arriscam mais, mesmo em situa��es que n�o s�o favor�veis. Foi uma aposta alta que as tr�s editoras fizeram de lan�ar no final do ano, quando todos os balancetes j� est�o fechando''

Edimilson de Almeida Pereira, escritor mineiro

 

EDITORAS 

Apesar de comporem uma trilogia, os tr�s livros sa�ram por editoras diferentes: “O ausente” vem com a chancela da Relic�rio; “Um corpo � deriva” foi publicado pela Macondo, e “Front” saiu pela Editora N�s. Edimilson explica que isso foi parte do desafio de realizar seu desejo de que os tr�s fossem lan�ados ao mesmo tempo. “Para o final de 2020, um per�odo cr�tico por causa da pandemia e da crise econ�mica, nenhuma editora se disporia a publicar tr�s livros ao mesmo tempo, com um cen�rio t�o adverso”, aponta.

Ele come�ou ent�o a fazer as costuras necess�rias para que n�o houvesse grandes dist�ncias entre as datas de lan�amento das tr�s obras. O escritor conta que a primeira conversa foi com Ma�ra Nassif, da Relic�rio, em 2019, e que, a partir dali, j� estava acertado o caminho para trazer “O ausente” � tona. 

“No intervalo entre essa conversa e a data prevista para a publica��o, fui procurando outros editores. Primeiro, o Ot�vio Campos, da Macondo, que � aqui de Juiz de Fora. Depois procurei a Simone Paulino, da N�s, e falei de enviar um original para ela”, diz.

Ele ressalta que essa costura foi um pouco fruto do acaso, mas acabou gerando uma rela��o interessante entre as tr�s editoras. “Elas promoveram um lan�amento virtual conjunto e t�m desenvolvido a��es de divulga��o de forma alinhada. Isso me permitiu cumprir uma primeira etapa do meu projeto, que era lan�ar os tr�s juntos. S� n�o consegui colocar oficialmente, por causa dessa situa��o, o t�tulo da trilogia, ‘N�usea’, o que ainda pretendo fazer”, diz. 

“As editoras pequenas e m�dias t�m uma caracter�stica importante, elas se arriscam mais, mesmo em situa��es que n�o s�o favor�veis. Foi uma aposta alta que as tr�s editoras fizeram, de lan�ar no final do ano, quando todos os balancetes j� est�o fechando”, acrescenta.

SUBSTRATO 

Edimilson destaca que nunca pretendeu levar para a prosa de fic��o o conte�do que alimenta seus ensaios. O material etnogr�fico que pesquisa n�o aparece nas obras, mas o ambiente em que essas pesquisas s�o desenvolvidas serve de substrato para elas, principalmente no caso de “O ausente”.

“O que eu n�o queria � que meus textos ficcionais se confundissem com o que est� no material dos ensaios. A reduplica��o do real nunca me interessou. Passei mais de duas d�cadas e meia no trabalho antropol�gico, com pesquisa de campo nas �reas rurais, com o discurso das pessoas em primeiro plano. Um pouco da experi�ncia em campo � o substrato, posso imaginar uma paisagem, uma cena dram�tica, mas, depois, toda a constru��o do texto em ‘O ausente’ � ficcional. A linguagem � o grande diferencial dessa prosa. S�o narrativas meticulosas, trabalhadas.”

PR�MIOS 

Sobre os pr�mios que conquistou com “O ausente” e “Front”, ele diz que os enxerga pela perspectiva de quem, desde os anos 80, sempre participou de diversos certames, tendo sa�do vitorioso em muitos deles. Edimilson observa que � poss�vel separar sua rela��o com as premia��es em tr�s etapas. “Nas d�cadas de 80 e 90, voc� enviava anonimamente. N�o havia identifica��o, era s� o texto submetido � avalia��o de uma banca. Participei de muitos deles”, destaca.

Num momento seguinte vieram premia��es com uma dimens�o mais p�blica em termos de divulga��o. Ele situa nesse rol pr�mios como os da Funarte e da Academia Brasileira de Letras. “A partir do final dos anos 90, parei de participar de concursos, e s� recentemente voltei a eles, por conta das editoras, que enviam as obras que publicam, e a� � que essa visibilidade retornou”, diz.

“As informa��es circulam muito no ambiente digital. Deixei um coment�rio para agradecer aos leitores na minha p�gina. Os pr�mios s�o como esta��es, a gente passa por um monte delas, de vez em quando voc� desembarca numa, mas a viagem segue. Os pr�mios ajudam a criar um v�nculo de afeto com as pessoas que enxergam sua obra, o que � muito bom, mas depois me recolho para a minha oficina, minha vida �ntima da escrita, que � onde eu trabalho”, conclui.


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