(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas VIOL�NCIA NAS REDES

Os ataques a Marina Sena e o impacto dos discursos de �dio sobre as artes

Psic�loga e especialista em comunica��o nas redes sociais analisam reflexos da viol�ncia contra artistas nas redes sociais


18/12/2021 06:00 - atualizado 18/12/2021 07:49

foto de divulgação do novo disco da cantora mineira Marina Sena, que aparece de cabelo curto, batom vermelho, em frente a um fundo rosa
Ataques de �dio � cantora mineira Marina Sena exp�em viol�ncia contra artistas nas redes, principalmente mulheres (foto: Divulga��o)
Os ataques de �dio nas redes sociais contra a cantora mineira Marina Sena, vencedora de tr�s pr�mios Multishow – Revela��o, Capa do ano e Experimente –, reacenderam o debate na ind�stria musical sobre o impacto de ofensas nas redes sociais sobre a carreira de artistas, principalmente mulheres, alvos recorrentes de coment�rios machistas e preconceituosos. Casos como o de Marina Sena, Lu�sa Sonza e Taylor Swift refletem, segundo psic�logos, a sensa��o de impunidade que muitos usu�rios t�m ao agredir e mesmo cometer crimes no ambiente virtual.

E as consequ�ncias desses discursos de �dio v�o muito al�m de perfis em redes sociais desativados, como ocorreu com a conta no Instagram de Marina Sena. Ondas de ataques de �dio, que em alguns casos ultrapassam o ambiente virtual e se tornam amea�as reais, t�m obrigado artistas a fazer pausas inesperadas em suas carreiras, adiarem lan�amentos de �lbuns ou mesmo mudar de pa�s por medo de agress�es f�sicas.

Os ataques de �dio a uma pessoa p�blica est�o diretamente relacionados ao comportamento humano no ambiente virtual e � a��o derivada do sentimento de raiva, como explica a psic�loga Renata Borja, especialista em terapia cognitivo comportamental e mestre em rela��es interculturais.

Sensa��o de impunidade

“O seu perfil d� essa sensa��o de que voc� est� dentro da sua intimidade e que voc� pode fazer o que voc� quiser. “� como: ‘ah, eu estou conversando com meu amigo, ent�o eu vou falar’, mas se esquece � um coment�rio p�blico”. Assim, o virtual cria essa sensa��o de impunidade e o usu�rio age sem medir as a��es no outro e nele mesmo.

A psic�loga explica que sentir raiva � normal, assim como sentir felicidade, dor, etc. O sentimento � derivado de uma sensa��o “de preju�zo, desrespeito, de estar sendo enganado, agredido ou violado de alguma forma”. Assim, a raiva est� ligada � moralidade e �s opini�es de uma pessoa.

Raiva e agressividade s�o diferentes

Mas agressividade e raiva n�o s�o a mesma coisa. A raiva pode ser externalizada em outros tipos de comportamento, como justificar. Mahatma Gandhi, que segundo Renata era um “raivoso t�pico”, reagia ao ataque de uma forma gentil ao outro. Entretanto, h� o estigma de que para “tirar sua raiva para fora, voc� tem que agredir o outro”. “Como o pensamento dele � diferente, ele se sentiu confrontado com o meu pensamento e no direito e me dizer que meu pensamento est� errado”, explica a psic�loga.

Os ataques s�o intensificados com a sensa��o de impunidade e privacidade do virtual. “No conv�vio social, voc� n�o sai por a� agredindo as pessoas. Mas o ambiente digital d� quase que uma ‘autoriza��o’ para esse tipo de comportamento”. E, nele, os ataques de �dio nunca s�o sozinhos. Isso porque o virtual aproxima as pessoas com os mesmos pensamentos e criam ‘bolhas’ sociais que provocam o sentimento de “pertencimento”.

Assim, caso algu�m fosse atacar um artista sozinho, poderia sentir vergonha ou at� mesmo a sensa��o de “n�o estar amparado”. Mas, em grupo, a pessoa se sente apoiada a seguir aquele comportamento.

Este fen�meno de “uni�o pelo �dio” � muito visto na cultura do cancelamento. “As pessoas querem estar na parte da maioria. Se as pessoas est�o naquele grupo ‘superior’, eu busco estar naquela parte. E essa � uma no��o muito presente nas pessoas que fazem bullying”, explica a comunic�loga e pesquisadora de comportamento Clara Fagundes. 



Ap�s a desativa��o de seu perfil no Instagram, em 13/12, Marina Sena postou uma carta aberta no Twitter e desabafou sobre os coment�rios e ataques de �dio on-line. “O que est�o fazendo n�o � apenas dando suas opini�es, o que est�o fazendo � bullying e isso � muito s�rio”, comentou. “T� triste, por mim, por todas as pessoas que passam por isso, mas t� muito mais triste por saber que � esse o mundo em que a gente vive, de pessoas t�o ruins”.

�dio ao sucesso feminino 

O trabalho feminino � mais questionado e desvalorizado em compara��o ao masculino. “Esse julgamento n�o ocorre com homens, pois h� tantos homens no poder. Ent�o, ele n�o precisa ser excepcional, pois h� v�rios outros. Mas quando tem uma mulher, a gente sempre pergunta o que ela tem de especial para estar naquele lugar”, comenta.

Sobre os ataques a Marina Sena, Clara comenta que o fato dela ter vencido o pr�mio concorrendo contra um homem, o cantor Jo�o Gomes, acentuou essa repulsa ao sucesso feminino. “A m�sica dela viralizou este ano e est� em todo lugar. Mas, quando surge essa compara��o com um homem que est� fazendo sucesso, tem a sensa��o de que ‘ela n�o merece tanto quanto ele’. Ela at� pode merecer em algum n�vel, mas n�o mais do que ele. Ela est� ocupando um lugar que n�o � dela”, argumenta Clara.

Marina chegou a usar seu perfil no Twitter para comentar as dificuldades de ser mulher na ind�stria do entretenimento. “Voc� come�a a crescer e as pessoas j� colocam o m�rito das suas conquistas em algo que n�o � voc�”, escreveu a cantora em 11/12. 



Al�m do sucesso feminino, o discurso e a apar�ncia f�sica tamb�m s�o aspectos que provocam a sociedade machista. “Quanfo mais longe de um padr�o que as pessoas acham que ideal, maior � o �dio. Ent�o, se � uma mulher gorda, ela recebe mais �dio que uma mulher magra. Se ela � negra ou nordestina, causa mais estranheza e �dio por elas estarem ocupando locais que elas n�o deveriam estar”, explica Clara.

O discurso das m�sicas e performances, como de Lu�sa Sonza e Marina Sena que abordam o feminismo e liberdade sexual feminina, tamb�m pode ser pontuado como algo que incomoda o pensamento machista. “Se o que eu escrevo, n�o incomoda alguma pessoa. Ent�o est� errado. � importante que as mulheres continuem falando, mesmo que incomode. Porque, assim, o pensamento vai mudar”, comenta a comunic�loga que citou a sua experi�ncia como pessoa p�blica.

Consequ�ncias da viol�ncia on-line

A psic�loga Renata Borja explica que esses ataques on-line de �dio provocam consequ�ncias em v�rios �mbitos da vida da pessoa atacada, mas que cada um sente e reage aos ataques de um jeito diferente devido �s cren�as, personalidade e outros fatores que nos tornam �nicos. “Situa��es dif�ceis e traum�ticas causam uma situa��o estressante, em que voc� entende que pode perder algo que valoriza. Ent�o, a sua vulnerabilidade est� elevada, e, assim, causa o adoecimento”.

Os ataques a Lu�sa Sonza

Desde o in�cio de sua carreira, a cantora e compositora Lu�sa Sonza recebe mensagens de �dio e cr�ticas n�o-construtivas. As principais pautas de linchamento envolvem sua apar�ncia, suas letras, roupas e, principalmente, seus relacionamentos amorosos.

Os ataques a Lu�sa Sonza aumentaram ap�s o div�rcio com o humorista Whindersson Nunes e um boato de uma suposta trai��o por parte da compositora. Assim que a voz de “Braba” assumiu o namoro com o cantor Vit�o, as agress�es ultrapassaram o virtual.

“Fui viver uma outra realidade”

No fim de junho de 2021, Lu�sa adiou o lan�amento do seu segundo �lbum de est�dio e anunciou uma pausa nas redes sociais. Na �poca, a cantora come�ou a receber amea�as de morte ap�s a morte do filho rec�m-nascido de seu ex-marido, Jo�o Miguel. Al�m disso, a artista e Vit�o recebiam ataques verbais nas ruas. Por isso, o casal se isolou por 15 dias no M�xico. 

“Foi uma fuga, me fez muito bem, mas eu n�o estava lidando com a situa��o em si, estava fugindo. Precisei desse tempo, praticamente fui viver uma outra realidade, n�o queria voltar”, contou Lu�sa em entrevista � revista J.P. Na mesma reportagem, a cantora revelou que faz uso de ansiol�ticos e antidepressivos e tem acompanhamento psicol�gico para lidar com as agress�es.



O �dio coletivo se tornou a principal pauta do �lbum DOCE 22. No primeiro verso da can��o “Intere$$eira”, faixa que abre o disco, Lu�sa canta as tr�s palavras que mais usaram para ofend�-la durante sua carreira: p*ta, vagabunda, interesseira. A cantora relatou no Spotify Storylife, ferramenta de v�deos sobre artistas criada pela empresa de streaming de m�sica, que foi libertador se apoderar dessas palavras e ressignific�-las. 

“Confesso, n�o � f�cil ser braba todo dia”

Apesar de serem duas artistas em ascens�o e com grande destaque na m�dia, a arte de Lu�sa e Marina, em algumas vezes, � ofuscada por sua vida pessoal e fica em segundo plano. Este tratamento de desvaloriza��o da arte e superexposi��o da vida pessoal, em tom de julgamento e linchamento, � recorrente entre mulheres na industria da m�sica.

Em novembro, a popstar Anitta foi ao Twitter comentar sobre a falta de reconhecimento de seu trabalho, apesar de ser um dos maiores nomes da m�sica brasileira atualmente. A cantora participou do programa de entrevista The Late Late Show with James Corden, que � um dos mais populares dos Estados Unidos, e apresentou uma performance da m�sica “Faking love”. Mas, a participa��o da ‘poderosa’ n�o rendeu tantos coment�rios e m�dias quanto suas pol�micas.



“Ontem eu fui a primeira brasileira a cantar e dar entrevista num dos maiores programas dos EUA. Hoje tem meia d�zia de gato pingado postando sobre isso no meu pa�s (que s�o os meus amigos, no caso). Isso n�o me intrigava tanto se n�o fosse um por�m: se ontem, ao inv�s de ter sido a primeira brasileira nesse programa, eu tivesse envolvida em alguma fofoquinha eu tido alguma atitude que desagradou algu�m, isso teria se tornado a maior manchete do pa�s. Comentado e postado por tudo e todos. Isso n�o � curioso?”

“Inclusive tem mais chances desses Tweets viralizarem do que minha pr�pria apresenta��o em si”, completou.

Os ataques a Marina Sena

O perfil no Instagram da cantora mineira Marina Sena foi desativado. Sem uma explica��o da plataforma social, a queda da conta foi associada pela artista ao crescente �dio que Marina recebeu nas redes sociais desde que venceu o Pr�mio Multishow.

Com 7 anos de carreira e passagem por duas bandas mineiras, Marina Sena, nascida em Taiobeiras, no Norte de Minas Gerais, alcan�ou fama nacional em carreira solo neste ano com a m�sica “Por supuesto”. O hit viralizou na plataforma TikTok e faz parte do �lbum “De primeira”.



Os ataques de �dio sofridos por Marina Sena mesmo antes da entrega dos pr�mios apontavam de forma negativa e depreciativa aspectos art�sticos da cantora, principalmente sua voz, mas tamb�m houve ofensas � apar�ncia de Marina. “Voc�s n�o v�o me desencorajar de fazer meu trabalho, n�o adianta tentar”, escreveu a cantora no Twitter em novembro. 

*Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Rafael Alves


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)