
Resultado do Ateli� de Cria��o: Dramaturgia e Processos Criativos da Academia de �pera, realizado no segundo semestre deste ano, pela Temporada de �pera On-line 2021, o espet�culo “Viramundo – uma �pera contempor�nea” ter� �nica apresenta��o para o p�blico na pr�xima ter�a-feira (21/12), �s 20h, no Grande Teatro Cemig do Pal�cio das Artes.
A iniciativa voltada a fomentar a forma��o e a cria��o em dramaturgia oper�stica contou com a curadoria do maestro Gabriel Rhein-Schirato – diretor musical e regente do espet�culo – e da encenadora Livia Sabag, al�m da orienta��o do poeta e letrista Geraldo Carneiro, que acompanhou a feitura dos cinco libretos, que, juntos, comp�em “Viramundo – uma �pera contempor�nea”. A fonte de inspira��o foi o livro “O grande mentecapto”, de Fernando Sabino. A dire��o c�nica da montagem ficou a cargo da atriz e dramaturga Rita Clemente.
Durante o processo criativo, os dramaturgos Ricardo Severo, Djalma Th�rler, Julliano Mendes, Luiz Eduardo Frin e Bruna Tameir�o – selecionados a partir de um total de 105 inscritos interessados em participar do Ateli� de Cria��o – escreveram, respectivamente, os libretos “As tr�s mortes de Geraldo Viramundo”, “N�o gosto de corpo acostumado”, “Viramundo, viraflor”, “Circunvagantes” e “O julgamento”, que foram musicados pelos compositores Andr� Mehmari, Denise Garcia, Antonio Ribeiro, Maur�cio de Bonis e Thais Montanari, artistas convidados tamb�m participantes do Ateli�.
Eliane Parreiras, presidente da Funda��o Cl�vis Salgado, considera que “Viramundo – uma �pera contempor�nea” � um marco dentro da tradi��o oper�stica brasileira, pelo processo criativo que forjou o espet�culo e pela inova��o de uma institui��o p�blica atuar nesse formato.
“No ano passado, quando tivemos a primeira Temporada de �pera On-line, mergulhamos na discuss�o sobre o mercado da �pera no Brasil. Ficou latente a necessidade de as institui��es, especialmente as p�blicas, produtoras de �pera, atuarem no sentido de fortalecer a cadeia produtiva da �pera no pa�s. Esse espet�culo � um divisor de �guas, porque fecha um ciclo de pensamento a respeito da valoriza��o e do fortalecimento do mercado da �pera local e nacional”, diz.
INSPIRA��O
Sobre a escolha de “O grande mentecapto” como fonte de inspira��o para a cria��o dessa �pera que, sem romper com a tradi��o, prop�e novos caminhos para o g�nero, Eliane aponta que � fruto da consultoria e das conversas com Geraldo Carneiro. Ela diz que um ponto de partida foi o desejo de trabalhar com a mineiridade, com elementos que marcassem a presen�a do estado dentro do que seria criado.
“Discutimos com Geraldo alguns autores e alguns universos poss�veis que trouxessem essa quest�o, e acabamos chegando a Fernando Sabino e, mais especificamente, a ‘O grande mentecapto’, que � uma obra muito simb�lica e que d� liberdade em termos de processos de inspira��o e cria��o de cenas”, diz.
Ela destaca, ainda, que o protagonista da obra – Geraldo Boaventura, vulgo Viramundo – � um personagem s�lido, que, por meio de suas andan�as por v�rias cidades, traz muitas refer�ncias de Minas Gerais, ao mesmo tempo em que carrega uma dimens�o universal, na medida em que possui algo de quixotesco, mas com caracter�sticas muito locais.
Com Orquestra Sinf�nica de Minas Gerais, Coral L�rico de Minas Gerais, Bal� Jovem e solistas convidados, o espet�culo re�ne as cinco breves �peras, com cinco hist�rias independentes, com come�o, meio e fim, cada uma dentro de seu universo art�stico, formando um s� programa oper�stico com narra��o e sem intervalo – apenas breves respiros entre uma obra e outra para troca de m�sicos e figurinos. Ao todo, s�o 31 personagens em que m�sicos e cantores se revezam, atuando em mais de uma obra e interpretando diferentes pap�is.
ENCENA��O
Rita Clemente, que pela primeira vez em sua trajet�ria dirige uma �pera – ela j� havia feito experimentos de espet�culos com um componente l�rico em “Dias felizes – su�te em nove movimentos” e “Amores surdos” –, destaca que a pr�pria encena��o � o que conecta os cinco libretos de maneira a formar um todo unificado.
“As cinco hist�rias se relacionam, a princ�pio, pela livre inspira��o que os autores tiveram em ‘O grande mentecapto’. O espectador ver� elementos contextuais parecidos, pr�prios da fic��o de Sabino, mas tamb�m ver� uma sem�ntica de encena��o, uma linguagem de encena��o, onde alguns vocabul�rios reincidem em cena, ligados � gestualidade, ao movimento e a trajet�rias no espa�o. Tudo isso � da escrita c�nica. A montagem est� ligada por uma iconografia que perpassa todas as obras”, afirma.
Convocada h� apenas tr�s meses para assumir a miss�o de dirigir “Viramundo – uma �pera contempor�nea”, Rita diz que todo o processo foi muito fervilhante, e por isso mesmo r�pido. “� fabuloso como toda a tradi��o oper�stica se imp�e diante de n�s, n�o s� porque a m�sica � uma linguagem poderosa, mas porque existe mesmo uma estrutura de produ��o que, de certa forma, define os caminhos, o planejamento de ensaios, os cronogramas, tudo o que faz parte da produ��o e que � muito estruturado. Claro que isso precisa receber um olhar novo, revigorante, que redimensione as necessidades de cria��o de uma �pera. O projeto existe para pensar esses caminhos, em termos est�ticos e �ticos”, diz.
PASSADO
A diretora observa que procurou olhar o passado como algo a ser respeitado, “receb�-lo com os vocabul�rios e o repert�rio que ele nos traz, mas n�o abrir m�o de um olhar vivo, atual, pensante, em movimento, que, por isso, podemos chamar de contempor�neo”.
Rita comenta que as m�sicas compostas para cada libreto s�o muito diferentes entre si. “Mas todas buscam uma certa expans�o, algumas se atrevem a lidar com a atonalidade, outras buscam uma l�rica a partir da l�ngua portuguesa, usando alguns trejeitos mineiros, alguns modos de falar que a gente chamaria de mineiridades.”
Gabriel Rhein- Schirato destaca que a escolha dos compositores convidados foi orientada pelo desejo de uma multiplicidade de propostas. “Quisemos chamar cinco m�sicos diversos entre si, de tend�ncias e gera��es diferentes, inclusive duas mulheres, porque geralmente a gente pensa nos grandes compositores da hist�ria da m�sica e se esquece das mulheres. � um grupo que re�ne gera��es diferentes e tend�ncias est�ticas diferentes. O crit�rio foi justamente a diversidade est�tica, para colocar em discuss�o as variadas possibilidades de �pera brasileira hoje”, diz.
LINGUAGEM
Para Livia Sabag, o Ateli� de Cria��o e seu resultado – o espet�culo que ser� apresentado na pr�xima ter�a-feira – � um marco no processo de constru��o dessa linguagem, na medida em que envolveu pesquisa, experimenta��o e reflex�o sobre o significado de se fazer �pera hoje no Brasil, sobre a hist�ria pregressa do g�nero no pa�s e sobre os poss�veis caminhos futuros. Ela acredita que esse modelo poder� ser replicado em outros lugares do pa�s, em outras ocasi�es.
“� uma quest�o de estar menos focado na interpreta��o de obras can�nicas e de se pensar o que queremos e o que podemos fazer neste momento do nosso pa�s, quais s�o nossas caracter�sticas culturais, qual � nossa hist�ria, nossa literatura”, diz.
Segundo L�via, � “fundamental aumentar o espa�o da cria��o e, com isso, renovar o pr�prio campo da �pera, incluir mais pessoas, expandir as tem�ticas. O campo da �pera � acusado de ser elitista porque se repete, fica falando para as mesmas pessoas. Costumo dizer que isso n�o est� ligado ao g�nero; o g�nero n�o � elitista, o que pode ser elitista � a forma como a gente lida com ele. Garantir o espa�o de experimenta��o e de cria��o � fundamental, � das premissas desse modelo”.
“VIRAMUNDO – UMA �PERA CONTEMPOR�NEA”
Na pr�xima ter�a-feira (21/12), �s 20h, no Grande Teatro Cemig do Pal�cio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro.) Ingressos a R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada) podem ser adquiridos na bilheteria do Pal�cio das Artes ou pelo site Eventim. Informa��es para o p�blico: (31) 3236-7400.