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Estado de Minas ARTES C�NICAS

Artistas da Campanha de Populariza��o contam como � a vida na corda bamba

Kayete e Thiago Com�dia comentam o per�odo de 'estresse mental' e 'total incerteza' do impasse sobre a exig�ncia do passaporte vacinal, que paralisou a mostra


05/02/2022 04:00 - atualizado 05/02/2022 01:21

Com bracelete, echarpe multicolorida e maquiada, Kayete ergue os óculos azuis e abre a boca
A atriz e produtora Kayete, que participa da Campanha desde 2008, tem tr�s espet�culos escalados na programa��o desta edi��o (foto: Top Agency/Divulga��o)

O Sindicato dos Produtores de Artes C�nicas de Minas Gerais (Sinparc) emitiu uma nota, na �ltima quarta-feira (2/2),  informando que entrou com um pedido liminar na Justi�a, solicitando o aceite do novo decreto da Prefeitura de Belo Horizonte que exige o cart�o de vacina��o para a entrada nos teatros. 

Esse pedido foi feito porque a 47ª Campanha de Populariza��o do Teatro e da Dan�a, realizada pelo Sinparc desde o �ltimo dia 13 e com previs�o de dura��o at� o pr�ximo dia 27, � viabilizada com recursos da Lei Rouanet, de �mbito federal. A gest�o Bolsonaro proibiu a exig�ncia de passaporte de vacina��o, por meio da Portaria SECULT/MTUR Nº44, de 5 de novembro passado, para o acesso a eventos culturais realizados com o benef�cio da lei. 

O Sinparc informou ainda que, enquanto o pedido estivesse tramitando, as apresenta��es das pe�as da Campanha - esta edi��o 2022 conta com 87 espet�culos adultos e infantis -  permaneceriam suspensas. A decis�o favor�vel ao Sinparc saiu na noite de sexta (4/2). 

Diante do impasse causado pelas determina��es conflitantes nos �mbitos municipal e federal, quem fica no preju�zo, perdidos em meio a um fogo cruzado, s�o os produtores, atores e diretores que t�m na Campanha um suporte fundamental para a manuten��o de seus projetos e, em �ltima inst�ncia, de seu of�cio. 

A reportagem ouviu dois dos mais atuantes nomes da Campanha de Populariza��o do Teatro e da Dan�a sobre seus desafios nesse cen�rio de tanta incerteza. A atriz, produtora e diretora Kayete tem tr�s pe�as na programa��o – “Caf� com Jandira”, que dirige; “Guara-pa-rir”, em que atua e assina a produ��o, e “Aperte o play e s�... Ria”, na qual tamb�m atua e assina a coprodu��o, ao lado de Carlos Nunes.

“Caf� com Jandira” cumpriu temporada entre 14 e 30 de janeiro; “Guara-pa-rir” estava em cartaz no Teatro de C�mara do Cine Theatro Brasil Vallourec; e “Aperte o play e s�... Ria” foi apresentada em meados de janeiro e tem previs�o de retornar na reta final da Campanha.

"Tudo na vida do artista � muito dif�cil, a cultura neste pa�s vive um momento muito complicado, est� sucateada, mas a gente carrega nas costas, ent�o acho que, mesmo com todos os problemas, a gente vai conseguir fechar essa Campanha. Precisamos trabalhar, queremos levar entretenimento para esse povo que tamb�m anda t�o sofrido. At� o �ltimo momento n�o perco as esperan�as"

Kayete, atriz e produtora


ESTRESSE MENTAL

“Toda essa situa��o tem sido muito dif�cil. A gente ficou dois anos sem trabalhar. No in�cio, com a chegada da pandemia, n�o havia solu��o paliativa, ficamos parados. Voltamos aos palcos com a Campanha deste ano e agora, com a expans�o da variante �micron, estamos de novo nesse cen�rio de incertezas, com um estresse mental muito grande. Com essa quest�o da exig�ncia do cart�o de vacina, estamos no meio de um fogo cruzado. A gente quer e precisa trabalhar”, diz Kayete.

Ela lembra que n�o s� a Campanha, mas tamb�m alguns teatros da cidade que recebem a programa��o s�o mantidos com recursos obtidos via Lei Rouanet e est�o, portanto, no mesmo limbo entre a exig�ncia do passaporte vacinal por parte da prefeitura e a dispensa do mesmo por parte da Secretaria Especial da Cultura do Governo Federal.

Ela se diz totalmente a favor da vacina��o, acha justa a cobran�a do passaporte vacinal para a entrada em teatros e endossa o pedido liminar feito pelo Sinparc. No dia 27 de janeiro, a Prefeitura determinou que, dali a quatro dias, a entrada nos teatros s� seria permitida mediante a apresenta��o do cart�o de vacina e do teste negativo para a COVID-19. A classe art�stica entendeu que isso inviabilizaria a Campanha, j� que, al�m do ingresso a pre�os populares, R$ 20, o p�blico teria que pagar o teste de detec��o da COVID-19, que custa a partir de R$ 120.

PROTESTO NA PORTA DA PBH

Na �ltima segunda-feira (31/1), dia em que a determina��o municipal come�aria a vigorar, uma mobiliza��o reuniu mais de uma centena de profissionais das artes c�nicas na porta da prefeitura, que acatou o pedido da categoria e voltou atr�s na exig�ncia do teste negativo para plateias de at� 500 pessoas, mantendo nesses casos apenas a necessidade da apresenta��o do cart�o de vacina. Para p�blicos superiores a 500 espectadores, ficou mantida a exig�ncia do teste negativo de COVID-19, feito at� no m�ximo 72 horas antes do ingresso. “Foi uma pequena vit�ria nossa, mas seguimos numa situa��o de completa incerteza”, aponta Kayete.

“Tudo na vida do artista � muito dif�cil, a cultura neste pa�s vive um momento muito complicado, est� sucateada, mas a gente carrega nas costas, ent�o acho que, mesmo com todos os problemas, a gente vai conseguir fechar essa Campanha. Precisamos trabalhar, queremos levar entretenimento para esse povo que tamb�m anda t�o sofrido”, afirma.

Kayete pisou num palco pela primeira vez com o espet�culo de forma��o da Escola de Teatro da PUC-Minas, “Longa jornada noite adentro”, em 2006. No ano seguinte, estrelou sua primeira montagem profissional, “As barbeiras”, de Wesley Marchiori, que j� em 2008 passou a integrar a Campanha de Populariza��o do Teatro e da Dan�a, mantendo lugar cativo na programa��o ao longo dos anos seguintes.

“A partir de 2008, participei de todas as Campanhas”, diz, dando a dimens�o da import�ncia da mostra para sua trajet�ria. “Quando a gente estreia uma pe�a ao longo do ano, alcan�a um determinado p�blico, mas a Campanha potencializa isso muito, porque � todo mundo em cartaz ao mesmo tempo, h� um leque de op��es de teatro, dan�a e circo que � muito atraente. A Campanha faz com que a arte transpire, � o momento em que voc� leva sua pe�a para as massas. Ela � de suma import�ncia tanto na minha vida quanto na dos outros artistas, porque � um divulgando o outro, � o momento em que a gente se assiste e se prestigia”, afirma.

"J� n�o � f�cil levar as pessoas ao teatro; se elas est�o confusas, em d�vida se vai ter ou n�o, a� complica muito. Para levar uma pe�a ao palco a gente tem um gasto com equipe, com divulga��o, com v�rias coisas. Se eu chego para me apresentar no pr�ximo fim de semana e tem s� 15 pessoas na plateia, tenho um preju�zo alto, e essa palavra, preju�zo, n�o cabe neste momento, depois de a gente ficar dois anos sem trabalhar"

Thiago Com�dia, ator e produtor



Thiago Comédia em cena com camisa marrom, as mãos no peito e a boca aberta
O ator e produtor Thiago Com�dia cogitou excluir seu espet�culo ''Como se livrar das d�vidas em 12 hil�rias presta��es'' da programa��o da Campanha, para poder seguir em cartaz (foto: Felipe Sodr�/Divulga��o)

LINHA DE FRENTE

Outro “oper�rio” da Campanha, Thiago Com�dia esteve na linha de frente da mobiliza��o que cobrou da Prefeitura que voltasse atr�s na exig�ncia do teste de COVID-19 para acesso aos teatros. Ele apresentou o mon�logo “Como se livrar das d�vidas em 12 hil�rias presta��es”, que produz e no qual atua, nos dias 28 e 29 de janeiro, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, e tem a volta ao cartaz agendada para este e o pr�ximo fim de semana, no Teatro do P�tio Savassi.

“Juntamos a classe art�stica, fomos para a porta da prefeitura e conseguimos derrubar a exig�ncia de apresenta��o do teste de COVID19. Ficou valendo que, para espet�culos com p�blico de at� 500 pessoas sentadas, seria necess�rio apenas o passaporte vacinal, o que acho justo, porque � uma coisa simples, sem custo, mas a� surgiu esse impasse com a Lei Rouanet. Tanto o p�blico quanto n�s, artistas, estamos num momento de absoluta incerteza”, comenta.

Ele considera que o simples fato de a programa��o ter sido interrompida j� representa um preju�zo enorme, porque desmobiliza a popula��o. “J� n�o � f�cil levar as pessoas ao teatro; se elas est�o confusas, em d�vida se vai ter ou n�o, a� complica muito. Para levar uma pe�a ao palco a gente tem um gasto com equipe, com divulga��o, com v�rias coisas. Se eu chego para me apresentar no pr�ximo fim de semana e tem s� 15 pessoas na plateia, eu tenho um preju�zo alto, e essa palavra, preju�zo, n�o cabe neste momento, depois de a gente ficar dois anos sem trabalhar”, aponta.

Thiago observa que o Teatro do P�tio Savassi n�o depende de recursos da Lei Rouanet, mas a Campanha, sim. Pensando nisso, ele chegou a cogitar um “plano B”, que seria simplesmente desembarcar da Campanha. “Se eu quiser apresentar minha pe�a no P�tio Savassi, eu posso, mas a� tenho que cancelar minhas vendas por meio da Campanha e abri-las por outros sites, fazer um esquema paralelo, mas isso significa come�ar do zero”, diz. Ele destaca que sua pe�a estreou bem, com um p�blico superior a 700 pessoas, contabilizando os dois dias em que foi apresentada, o que apontava para uma temporada de sucesso, movida pela boa repercuss�o.

Ator, produtor e diretor, Thiago Com�dia conta que vive de teatro h� 15 anos e que h� 10 participa de todas as edi��es da Campanha. O artista considera que o evento representou um esteio importante para a sua carreira. “A Campanha � muito potente por causa de seu nome e de sua hist�ria. Sempre quando chega janeiro, a popula��o da cidade j� est� atenta, com a predisposi��o de ir ao teatro. Com certeza nossa for�a seria menor um pouco sem a Campanha, que gera m�dia e permite que alcancemos um p�blico maior.”

Ele pondera que quem depende do trabalho nas artes c�nicas n�o pode se limitar ao per�odo da Campanha, mas entende que ela � a porta de entrada para o calend�rio anual de produ��es. “� a minha profiss�o. O cara que vive disso tem que participar da Campanha e continuar lan�ando coisas ao longo do ano. Eu vivo disso. Participo agora da programa��o, a pe�a gera um burburinho, volto com ela ao cartaz l� para mar�o ou abril, produzo montagens de outros autores e assim vai. A cada ano a Campanha se coloca como um ponto de partida; ela, de certa forma, te d� um direcionamento.”

Essa observa��o enseja tamb�m uma cr�tica. Thiago acredita que a Campanha estabelece par�metros que condicionam os espet�culos que ser�o produzidos a partir do per�odo de sua realiza��o. “A coisa dos pre�os populares � muito boa para atrair p�blico, mas gera um certo v�cio. Se l� para o meio do ano eu vou estrear uma nova montagem e ponho o pre�o do ingresso a R$ 30, o p�blico acha ruim, porque est� acostumado a pagar R$ 20. A Campanha te joga para cima, mas voc� tem que trabalhar sempre numa mesma faixa de pre�o, e a�, �s vezes, as contas n�o fecham”, diz. “Mas, claro, eu tenho mais elogios do que cr�ticas. Ela � uma vitrine important�ssima e temos, sim, que lutar pela Campanha, ainda mais neste momento.”


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