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Semana de Arte Moderna: o guarda-roupa modernista de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade

Al�m da produ��o art�stica, o poeta e a pintora paulista reverberam h� cem anos no imagin�rio nacional tamb�m pelos seus figurinos


14/02/2022 08:44 - atualizado 15/02/2022 09:35

Tarsila e Oswald
Tarsila e Oswald (foto: Divulga��o)


A import�ncia de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade para a hist�ria cultural brasileira � indiscut�vel. O casal que permaneceu junto por grande parte da d�cada de 1920 influenciou de forma contundente o mundo da literatura e das artes pl�sticas por meio de suas obras e da defesa do modernismo.

Mas, para al�m de sua produ��o art�stica, o poeta e a pintora paulista reverberam h� cem anos no imagin�rio nacional tamb�m pelo pr�prio ato de vestir.

Tarsila e Oswald conheciam muito bem o valor da moda e das apar�ncias em seu processo de afirma��o como artistas no Brasil e na Europa. E ao mesmo tempo em que usaram as roupas para deixar sua marca, tamb�m colaboraram para a defini��o est�tica do movimento modernista.

A conclus�o faz parte de uma extensa e in�dita pesquisa desenvolvida pela professora de hist�ria do vestu�rio e da moda Carolina Casarin.

Em seu livro O Guarda-Roupa Modernista, lan�ado pela Companhia das Letras no bojo das comemora��es do centen�rio da Semana de Arte Moderna de 1922, a autora revela como os ideais modernistas e as contradi��es do movimento podem ser compreendidos a partir da escolha das roupas de dois not�veis int�rpretes do Brasil.

"As roupas contribu�ram para o projeto art�stico de elabora��o de uma est�tica moderna e nacional, e a ideia de 'brasilidade modernista' se inscreveu na apar�ncia e nos trajes do casal", afirma Casarin.

Din�mico e exuberante

A pesquisa foi levantada a partir de diferentes registros da �poca - vestimentas, fotografias, pinturas, obras liter�rias, correspond�ncias, depoimentos e recibos — e conseguiu, de certa forma, reconstruir o guarda-roupa de Tarsila e Oswald na d�cada de 20.

O per�odo foi o auge da fama do casal, que ficou junto entre 1923 e 1929, e ganhou o apelido de Tarsiwald do amigo e tamb�m poeta modernista M�rio de Andrade.

Segundo Carolina Casarin, os dois artistas merecem destaque pela forma vanguardista com que se vestiam, mas de formas distintas.

"O guarda-roupa modernista de Oswald � din�mico e se adapta muito bem �s diferentes situa��es sociais, enquanto o da Tarsila � luxuoso e exuberante", disse a pesquisadora em entrevista � BBC News Brasil.

Mas apesar das diferen�as, o casal construiu junto sua marca visual. Foi Oswald, ali�s, quem incentivou Tarsila a conhecer ateli�s e costureiros arrojados na Europa para compor seu visual e criar um estilo pr�prio.

"A imagem do casal � uma cria��o compartilhada e � percept�vel o quanto eles tra�aram um percurso no mundo da moda desde que come�aram a se relacionar", diz.

"Os dois sempre tiveram um gosto pela est�tica, mas a partir do momento em que se conhecem e se aproximam definitivamente da arte moderna, sua a apar�ncia se torna mais arrojada e ousada".

Homem de neg�cios e exc�ntrico vanguardista

E apesar da beleza e das roupas de Tarsila terem sempre sido elogiadas e alardeadas ao longo da hist�ria, a figurinista acredita que pertence a Oswald o t�tulo de mais arrojado do casal.

"Oswald tinha uma apar�ncia geral mais moderna que Tarsila. Ele adotou j� na d�cada de 1920 um estilo com refer�ncias muito joviais que s� estourou de fato no Brasil nos anos 1960", diz.

No guarda-roupa do poeta havia muitos trajes coloridos e estampados, que ele utilizava com sobreposi��es pouco comuns na �poca. Oswald tamb�m era adepto dos colarinhos moles, diferentes dos engomados usados pela maior parte dos homens na �poca davam mais conforto e deixavam o peito masculino � mostra.

H� registros ainda do escritor utilizando um chap�u palheta — que aparece em v�rias fotografias dos modernistas e remonta ao uniforme dos remadores — e palet� sem colete, algo pouco comum na d�cada de 1920.

Em seu livro, Carolina Casarin tamb�m ressalta a �tima capacidade que Oswald possu�a de transitar muito bem entre visuais descontra�dos e mais formais.

"Na alfaiataria din�mica de Oswald de Andrade, cabem roupas que transitam do homem de neg�cios burgu�s ao exc�ntrico vanguardista", diz. "A verdade � que ele sempre foi muito contradit�rio e estava em constante mudan�a."

Artista exuberante

J� no closet de Tarsila o que n�o faltavam eram pe�as luxuosas da alta-costura europeia. Durante os anos 1920, a pintora foi diversas vezes a Paris e, em todas as suas viagens, aproveitava para visitar ateli�s conceituados.

A partir de 1923 e at� o final da d�cada, os costureiros franceses Jean Patou e, mais intensamente Paul Poiret, foram os grandes respons�veis pela apar�ncia de Tarsila.

E a partir do momento que passa a vestir a alta-costura francesa, a artista sofre uma mudan�a em sua apar�ncia, que se torna menos discreta. "As saias dos vestidos se encurtam, os bra�os aparecem, as roupas ganham camadas e ornamentos'', diz Casarin em sua pesquisa.

"A figura de mulher elegante e rica se converte na imagem da artista exuberante — e a escolha da grife [Poiret] participou dessa transforma��o"

Em uma das fotos mais famosas da artista, em que ela aparece em sua primeira exposi��o individual, na Galeria Percier em Paris, Tarsila est� usando o vestido �cossais, da maison Paul Poiret.

Na imagem tirada em frente ao quadro Morro da Favela, � poss�vel ver alguns detalhes da roupa de Tarsila: "As linhas do xadrez e a gola dupla, com sobreposi��o delicada de cassa de po� e bainha bordada em fest�o redondo", segundo descreve Casarin.

Para a pesquisadora, o traje e a pr�pria foto trazem elementos t�picos do modernismo. Enquanto a maneira como o xadrez foi aproveitado na cria��o do vestido acaba por desenhar um grande losango centralizado na parte superior do corpo, a roupa tamb�m tem um car�ter tradicional que lembra os vestidos xadrez utilizados no interior do Brasil.

"O losango � uma forma geom�trica muito presente no modernismo e na arte moderna em geral. E quando est� inserido no contexto da foto, o �cossais transmite tamb�m uma mensagem modernista", explica Casarin.

"E ao mesmo tempo que � arrojado, o vestido tem um car�ter tradicional, de roupa caipira, que ressoa com o modernismo brasileiro."

Outro traje utilizado pela artista e que pode ser relacionado diretamente com o conte�do de suas obras � seu vestido de casamento.

A celebra��o da uni�o com Oswald de Andrade aconteceu em outubro de 1926 e reuniu nomes como J�lio Prestes, o governador rec�m-eleito de S�o Paulo, e Washington Lu�s, o ent�o presidente do Brasil e padrinho pelo lado do noivo.

O traje de noiva de Tarsila, tamb�m assinado por Paul Poiret, foi criado a partir da cauda do vestido de casamento da m�e de Oswald. Era de cor creme e tinha uma capa branca forrada de veludo creme, com gola em p�.

E apesar de o casamento ter sido bastante explorado por aqueles que escreveram sobre o modernismo brasileiro, n�o h� imagens do dia da cerim�nia. O pr�prio vestido de noiva � hoje apenas um conjunto de fragmentos, guardado na Pinacoteca de S�o Paulo.

"O vestido de Tarsila pode ser interpretado como uma roupa antropof�gica por si s�, pois ao mesmo tempo em que busca a ideia de tradi��o e origem brasileira ao utilizar parte da roupa da m�e de Oswald, tamb�m procura aquilo h� de mais moderno no mundo por meio da atualiza��o feita por Poiret", diz Carolina Casarin.

O movimento antropof�gico fez parte da primeira fase do modernismo no Brasil e surgiu a partir de observa��es feitas por Oswald Andrade. A ideia criada pelo escritor sugeria "devorar" a cultura enriquecida por t�cnicas importadas e promover uma renova��o est�tica na arte brasileira.

Do luxo � pobreza

O relacionamento entre Tarsila e Oswald durou at� 1929, quando a pintora descobriu que o marido tinha um caso e pediu imediatamente o div�rcio.

No mesmo ano, com a crise de 1929, as fam�lias do casal perderam boa parte dos bens que tinham. Passado o auge do modernismo no Brasil, os artistas tamb�m deixaram de frequentar a alta sociedade com tanta frequ�ncia e desapareceram aos poucos dos olhos do p�blico.

Sem dinheiro e deixados de lado, Oswald e Tarsila abandonaram a busca constante pela moda e por refinar sua apar�ncia, de modo que o grande auge de seu guarda-roupa ficou restrito principalmente � d�cada de 20.

"Eles eram muito ricos nos anos 20 e tinham muito dinheiro para gastar em roupas, mas faliram e a din�mica se tornou invi�vel", diz Casarin.

Ainda assim, o casal deixou uma marca profunda n�o s� na hist�ria das artes pl�sticas e da literatura, mas tamb�m na moda brasileira.

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