Jo�o Bosco, de 75 anos, e Hamilton de Holanda, de 46: encontro de gera��es fi�is �s ra�zes da cultura brasileira (foto: Marcos Portinari/divulga��o)
"A m�sica � muito forte e transcende momentos pol�ticos, que s�o simplesmente passageiros. Eles passam, a nossa cultura fica e vamos seguindo em frente"
Jo�o Bosco, cantor e compositor
O cantor, compositor e violonista Jo�o Bosco e o bandolinista Hamilton de Holanda v�o celebrar o samba, a cultura e a ancestralidade brasileira no show desta sexta-feira (8/4), no Grande Teatro Cemig Pal�cio das Artes, em BH. “Na��o” e “Coisa feita”, cl�ssicos de Jo�o, chegam ao palco com novos arranjos. O repert�rio conta tamb�m com “Isso � Brasil”, de Ary Barroso, “Milagre” e “Vatap�”, de Dorival Caymmi, entre outros autores consagrados.
“Eu e Hamilton j� nos encontramos algumas vezes no palco. Pouco antes da pandemia, fizemos o registro em um est�dio em S�o Paulo, na presen�a de convidados. Um deles era o Zuza Homem de Melo (1933-2020)”, revela Jo�o, referindo-se ao jornalista e pesquisador apaixonado pela m�sica brasileira.
RA�ZES DO BRASIL
O repert�rio da dupla j� mudou algumas vezes. “Estamos sempre atualizando os nossos encontros. Basicamente, o show ‘Eu vou pro samba’ � o 'Eu vou para a minha ancestralidade', que � a do Hamilton tamb�m, essa coisa da forma��o musical brasileira”, explica Jo�o Bosco.
“Acaba que a gente est� fazendo algo que, hoje em dia, � bem 'redondo', no sentido de certa fidelidade � nossa forma��o. Acho que atingimos a maturidade nessa forma��o de duo, trazendo para os dois instrumentos e para a voz uma situa��o musical muito pertinente a tudo o que estamos fazendo ao longo desses anos”, afirma, referindo-se a seu viol�o e ao bandolim do parceiro.
Jo�o Bosco destaca que o encontro com Hamilton de Holanda � “a reverbera��o do Brasil em que muitos acreditam e querem que siga assim”, muito diferente do pa�s comandado por Jair Bolsonaro.
“Vivemos momentos em que essa cultura, essa ancestralidade, � sempre atacada pelo governo atual. N�o � respeitada, para dizer o m�nimo. O governo tenta anular essa hist�ria e reinventar uma outra, falsa, que n�o corresponde � nossa. Mas a m�sica � muito forte e transcende momentos pol�ticos, que s�o simplesmente passageiros. Eles passam, a nossa cultura fica e vamos seguindo em frente.”
Clementina de Jesus, a 'hist�ria ambulante da ancestralidade brasileira', segundo Jo�o Bosco (foto: Carlos Piccino/Arquivo O Cruzeiro/EM. Brasil)
Para Jo�o Bosco, o show dele com Hamilton expressa o verdadeiro Brasil. “Um pa�s que muitas pessoas conhecem, mas pode ainda estar um pouco adormecido, principalmente para os mais jovens. Mas a gente vai, d� uma cutucada e ele se acende. Tem muito jovem na faixa dos 20 anos assistindo a nossos encontros. Eles ficam felizes de encontrar a na��o ali dentro. Isso � gratificante para n�s.”
Jo�o, de 75 anos, � s� elogios ao parceiro, de 46. “O Hamilton � bem mais jovem do que eu, mas � um cara que tem um retrovisor muito atuante, no qual pode perceber coisas que foram feitas antes mesmo de ele nascer”, ressalta o mineiro, citando o compositor Jacob do Bandolim (1918-1959) como uma das refer�ncias dele e do companheiro de palco.
“Voc� pega a can��o ‘Noites cariocas’ de Jacob, e aquilo � uma enciclop�dia de situa��es, da carioquice. M�sica de alto n�vel, choro balan�ado, com suingue. A gente carrega tudo isso conosco”, comenta.
“Jacob faz parte da nossa ancestralidade, � de uma �poca em que o Hamilton nem havia nascido. A gente pegou o �poca de Ouro, com o qual tive o prazer imenso de gravar algumas vezes”, conta o mineiro, referindo-se ao regional do choro criado por Jacob do Bandolim, em 1964. “Ele j� tinha falecido (na �poca das grava��es), mas estavam l� os outros integrantes, todos baluartes do instrumental brasileiro.”
Jacob do Bandolim influenciou Jo�o Bosco e Hamilton de Holanda (foto: Moacir de Lacerda/A Cigarra/Arquivo Estado de Minas/16/8/1963 )
O projeto de Jo�o e Hamilton passa, antes de tudo, pela cultura afro-brasileira. “Esse movimento afro-Brasil diz respeito a uma s�rie de situa��es musicais amplas em nosso pa�s. Compositores de v�rios movimentos diferentes se expressaram atrav�s dessa ancestralidade”, afirma o compositor, ao ressaltar a amplitude desse legado.
“Em Milton Nascimento, no pr�prio �lbum ‘Clube da Esquina’, a gente v� a ancestralidade se expressando daquela forma intuitiva e espont�nea que faz parte do inconsciente coletivo, assim como � a hist�ria de Clementina de Jesus (1901-1987)”, diz. Ali�s, a cantora gravou com ele e com Milton.
Ao citar a “biblioteca pessoal” de ra�zes africanas que Clementina representa, ele observa que se trata de artista “exclusivamente auditiva”. “Ela n�o lia letras, n�o fazia outra coisa a n�o ser interpretar o que trazia dentro de si. Clementina � a pr�pria hist�ria ambulante dessa ancestralidade.”
Jo�o revela que o canto de Clementina o ajudou a compreender sua pr�pria arte. “A cada vez, a gente ia descobrindo um pouco mais do que �ramos e da nossa hist�ria.”
Jackson do Pandeiro, com seu coco: suingue brasileir�ssimo (foto: Arquivo O Cruzeiro/EM)
JACKSON E O COCO
O mineiro tamb�m destaca a import�ncia do paraibano Jackson do Pandeiro (1919-1982) e de sua forma de interpretar “Sebastiana”, de Luiz Gonzaga. “Ele falava que tudo vinha do coco”, diz, referindo-se ao ritmo nordestino.
Ali�s, Jo�o lamenta n�o ter excursionado com Jackson no Projeto Pixinguinha, no qual duplas formadas por nomes importantes da MPB percorriam o pa�s nas d�cadas de 1970 e 1980. Diz que a temporada n�o ocorreu por quest�o t�cnica, comenta que poderia “pegar as b�n��os dele, carregar seu pandeiro e pegar aquele suingue.”
Jo�o Bosco afirma que o show com Hamilton de Holanda vem reverenciar todo esse legado. “No palco, a gente procura traduzir essa na��o em uma coisa mais ampla, que possa aglutinar diversas tend�ncias musicais desde pouco mais de 100 anos atr�s. Isso, se considerarmos 'Pelo telefone', do Donga, o primeiro samba gravado”, observa.
“As coisas j� vinham acontecendo antes e todos sab�amos disso. N�o s� o afro-brasileiro, mas tamb�m o afro, o �ndio que representa o Brasil”, observa. “O que eu e o Hamilton fazemos � um passeio por situa��es que nos trouxeram at� aqui e que ir�o conduzir as gera��es futuras.”
"Jo�o � personagem importante da m�sica popular brasileira, um dos pilares. Fico ali, amarrad�o, vendo-o tocar e cantar. Fico na posi��o de artista, claro, mas tamb�m de ouvinte, espectador, curtindo o som dele"
Hamilton de Holanda, compositor e bandolinista
Duo com Jo�o Bosco emociona Hamilton de Holanda
Hamilton de Holanda promete novidades para sexta-feira, no Pal�cio das Artes. “Coisas que a gente n�o tocou nos shows anteriores”, diz. Ele e Jo�o Bosco j� se apresentaram no Rio de Janeiro, S�o Paulo e Olinda, al�m da Su��a e da Inglaterra.
O nome do espet�culo, “Eu vou pro samba”, foi tirado da letra de uma can��o de Jo�o Bosco, “Odil�, odil�”. “Vem do nosso ponto em comum, da parte r�tmica, do viol�o dele que se mistura com meu bandolim, dos sambas de compositores de quem a gente gosta”, diz Holanda.
PR�MIO GRAMMY
A maioria das can��es que o p�blico vai ouvir � formada por parcerias de Jo�o e Aldir Blanc. Al�m de “O b�bado e a equilibrista”, “De frente pro crime” e “Kid Cavaquinho”, h� tamb�m “Abric� de macaco” (parceria de Jo�o com o filho, Francisco Bosco, que ganhou o pr�mio Grammy Latino em 2020), al�m de “Incompatibilidade de g�nios” e “Sinh�”, parceria com Chico Buarque.
O bandolinista revela que o show representa momento especial para ele. “Jo�o � personagem importante da m�sica popular brasileira, um dos pilares. Fico ali, amarrad�o, vendo-o tocar e cantar. Fico na posi��o de artista, claro, mas tamb�m de ouvinte, espectador, curtindo o som dele.”
Holanda revela outro motivo honroso de tocar com Jo�o Bosco, citando duos famosos do mineiro. “De alguma maneira, estou ali ocupando o espa�o que j� foi de Rafael Rabelo (1962-1995) e do Nico Assump��o (1954-2001), entre outros. � uma alegria. Aquela m�sica est� no hall da minha vida e vou toc�-la para sempre. Os shows s�o sempre maravilhosos, estou curioso para ver como ser� em BH, no Pal�cio das Artes, pois nunca tocamos l�.”
JO�O BOSCO E HAMILTON DE HOLANDA
Nesta sexta-feira (8/4), �s 21h, no Pal�cio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Plateia 1: R$ 250 (inteira) e R$ 125 (meia-entrada). Plateia 2: R$ 210 (inteira) e R$ 105 (meia). Plateia 3: R$ 180 (inteira) e R$ 90 (meia). Vendas on-line na plataforma Eventim. Informa��es: 3236-7400