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Estado de Minas LIVRO

Autora analisa desprezo de Bolsonaro pelas institui��es a partir de imagens

''A Rep�blica de chinelos - Bolsonaro e o desmonte da representa��o'', de Luciana Villas B�as, tem posf�cio do fil�sofo mineiro Newton Bignotto


20/04/2022 04:00 - atualizado 19/04/2022 21:44

Luciana Villas Bôas analisa de camisa preta e óculos marrons, sentada à mesa de escritório, com estante de livros ao fundo, apoia a mão direita no rosto
Professora da UFRJ, Luciana Villas B�as diz que, ao ver o porte de armas na cabine de vota��o por parte de eleitores bolsonaristas, percebeu ''que estava em curso um ataque ao s�mbolo m�ximo da democracia'' (foto: PEDRO FREITAS/DIVULGA��O)

Em 14 de fevereiro de 2019, um m�s e meio depois de ter sido empossado como o 38º presidente do Brasil, Jair Bolsonaro comandou, no Pal�cio da Alvorada, reuni�o com ministros e integrantes da equipe econ�mica para definir o texto da reforma da Previd�ncia. A reda��o final seria enviada uma semana mais tarde para o Congresso. 

Naquele dia, o ent�o l�der do governo na C�mara Major V�tor Hugo postou no Twitter: “Batendo o martelo na reforma da Previd�ncia. Justa para todos e na medida certa”. O texto veio acompanhado de uma fotografia dos participantes da reuni�o, Bolsonaro no meio,  cal�ando chinelos e vestindo uma cal�a de nylon e um palet� que mal escondia a cor verde da camisa do Palmeiras com a qual ele havia presidido o encontro.

Tal imagem motivou Luciana Villas B�as, professora do Departamento de Letras Anglo-Germ�nicas da UFRJ, a fazer uma investiga��o sobre as imagens e os s�mbolos na pol�tica, a partir da elei��o de Bolsonaro. “A Rep�blica de chinelos – Bolsonaro e o desmonte da representa��o” � o t�tulo do primeiro dos dois ensaios que comp�em o rec�m-lan�ado livro hom�nimo (Editora 34). O fil�sofo mineiro Newton Bignotto assina o posf�cio.

A obra apresenta uma leitura renovada sobre os mecanismos da representa��o pol�tica no s�culo 21, a partir da chegada de Bolsonaro ao poder. A autora procura fazer uma an�lise objetiva sobre o sentido do voto, a distin��o entre os �mbitos p�blico e privado e a import�ncia da simbologia para a sobreviv�ncia da democracia no Brasil.

O que est� em jogo nas elei��es � a incr�vel hostilidade contra as institui��es. A gente est� sempre se surpreendendo e ficando chocada, mas Bolsonaro � incrivelmente coerente. O que ele prometeu (em campanha) � isto a�, ent�o j� era para termos nos acostumado a lidar. A minha contribui��o � trazer para a discuss�o a dimens�o da simbologia

Luciana Villas B�as, professora de Letras, autora de "A Rep�blica de chinelos - Bolsonaro e o desmonte da representa��o"


ARMAS

“A imagem mais importante, que � a s�ntese da atualidade na pol�tica, s�o as armas sobre a urna (que eleitores levaram para dentro da cabine de vota��o no primeiro turno das elei��es de 2018 e que foram amplamente difundidas nas redes sociais). Fiquei muito chocada. Percebi que estava em curso um ataque ao s�mbolo m�ximo da democracia, pois a viola��o n�o � s� do C�digo Eleitoral, mas de todo o imagin�rio essencial para a ordem pol�tica. Logo veio a posse e percebi a quebra da liturgia do cargo. O que significa o exerc�cio do que chamo de fenomena��o do Bolsonaro no cargo de presidente?”, afirma ela.

O primeiro ensaio analisa o “desrespeito � l�gica e � representa��o”, a mistura entre a pessoa f�sica e a pessoa pol�tica a partir de tr�s aspectos: a supracitada reuni�o de chinelos; uma manifesta��o bolsonarista na Avenida Paulista, em 21 de outubro de 2018, em que o ent�o candidato falou com seus apoiadores da �rea de servi�o de sua casa, por meio de um celular cuja imagem foi projetada em um tel�o; e o baixo cal�o utilizado pelo presidente, algo que j� se tornou corriqueiro em sua administra��o. Luciana exemplifica a “incontin�ncia verbal” do mandat�rio nas reuni�es para a tomada de medidas contra a dissemina��o do novo coronav�rus.

“Penso na representa��o como a encena��o dos meios que possibilitam a corporifica��o do poder. S�o s�mbolos teatrais e espaciais. Basta pensar em Bras�lia, com a imagem do Congresso Nacional, para trazer isto � tona”, pontua Luciana. Para ela, na atual administra��o federal, os elementos s�o de um “incr�vel populismo”.

O presidente Jair Bolsonaro, de pé, com os braços cruzados, cercado por participantes de reunião para discutir a reforma da Previdência, veste roupa esportiva sob o paletó e calça
Jair Bolsonaro preside reuni�o para discutir a reforma da Previd�ncia, em fevereiro de 2019, vestindo roupa esportiva sob o palet� e cal�ando chinelos (foto: Twitter/Reprodu��o)

CONFUS�O

“Vai desde a indument�ria, o palavr�o, at� eventos hist�ricos fundamentais. H� uma confus�o do ordenamento entre o espa�o. Isso significa uma ruptura, um desprezo pelos espa�os democr�ticos e pelo pluralismo”, diz.

Para a autora, o segundo ensaio, “Armas sobre a urna”, � ainda mais importante do que o primeiro, pois trata do “s�mbolo m�ximo” da democracia. A vota��o, observa Luciana, “� o momento em que todos somos iguais e soberanos.”

Sobre a viraliza��o da imagem de armas durante o processo de vota��o no primeiro turno de 2018, a autora escreveu: “Ao acenar para a sujei��o da liberdade � coa��o, do direito � bala, amea�am, dentro do espa�o em que se atualiza o princ�pio da soberania popular, subvert�-la”.

A rea��o, na �poca, foi r�pida. No segundo turno, os eleitores de Fernando Haddad mobilizaram-se e, em todo o pa�s, pipocaram fotos de pessoas empunhando livros para irem votar. A quest�o armas versus livros permite v�rias leituras, que Luciana destrincha em seu texto.

“O livro, naquele momento, n�o era uma demonstra��o de status, mas sim de concep��o de democracia. Tinha a ver com pluralismo e debate, mas tendo clara a centralidade da educa��o”, aponta. 

O que ocorreu quase quatro anos atr�s dentro de cabines de vota��o acabou sendo prolongado na gest�o federal. “Houve a libera��o do porte de armas e uma tentativa de taxar livros, s� para citar uma coisa mais evidente”, afirma a professora.

“Qual � a concep��o de poder em que armas e livros est�o reivindicando para si um espa�o leg�timo da democracia?”, questiona a autora. “Tento entender o que � a urna. Ela est� ligada justamente � problem�tica da representa��o, pois � aquela que intermedeia o momento de realiza��o da soberania popular.”

Situando a urna ao longo da hist�ria, Luciana comenta que o lugar dela, no passado, era o do “monarca do direito divino, aquele que tinha o fundamento absoluto”. Diferentemente da monarquia, lembra a autora, a “urna � o ponto de entrada e de sa�da da vontade popular. Ela � emblem�tica do car�ter mundano da democracia. Ou seja, voc� pode agradecer aos c�us ao ganhar as elei��es, mas as suas preces n�o v�o mudar a l�gica terrena da urna”.

Embora se dedique a destrinchar a simbologia da gest�o Bolsonaro, Luciana n�o tem a inten��o de analisar se as a��es s�o ditadas por marketing ou por “in�pcia” do atual ocupante da Presid�ncia. 

“Isso (os atos que ela analisa) se tornou uma pr�xis. Estou mais interessada em ver os efeitos disso. As causas envolveriam outras quest�es, al�m de psicanalistas e soci�logos. O que me interessa � ver como ele se comporta diante dos espa�os tradicionais do pluralismo da democracia.”

A seis meses de uma nova elei��o presidencial, a autora chama a aten��o para o fato de que continua em voga o que ocorreu no pleito passado. “O que est� em jogo nas elei��es � a incr�vel hostilidade contra as institui��es. A gente est� sempre se surpreendendo e ficando chocada, mas Bolsonaro � incrivelmente coerente. O que ele prometeu (em campanha) � isto a�, ent�o j� era para termos nos acostumado a lidar. A minha contribui��o � trazer para a discuss�o a dimens�o da simbologia.”
Capa do livro %u201CA REPÚBLICA DE CHINELOS%u201D
(foto: Editora 34/Divulga��o)

“A REP�BLICA DE CHINELOS”

• Luciana Villas B�as
• Editora 34 (112 p�gs.)
• R$ 47


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