Telas dos artistas da Semana de 22 est�o em mostra em cartaz em Ouro Preto

As comemora��es pelo centen�rio da Semana de Arte Moderna de 1922 reverberam tamb�m em Outro Preto, com uma exposi��o que prop�e para a efem�ride um arco hist�rico. Com um olho no passado e outro no presente, a mostra “Modernistas 1922-2022 do Tri�ngulo das Artes”, em cartaz no Museu Casa dos Contos at� o pr�ximo dia 23, p�e lado a lado obras originais de nomes como Anita Malfatti, Alfredo Volpi, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, do acervo do colecionador Carlos Eduardo Leal, e as cria��es de um grupo de 28 artistas contempor�neos atuantes no eixo Rio-Minas.

A exposi��o � uma iniciativa do Tri�ngulo das Artes, um cons�rcio entre a Casa Alphonsus Arte & Galeria, de Ouro Preto, a Arte4 Galeria de Arte, com sede em B�zios (RJ), e a Contempor�neos Galeria de Arte, que, no ambiente virtual, agrega artistas de sua base, no Rio de Janeiro, e tamb�m de Minas Gerais e de M�laga, na Espanha. 

 

O objetivo, segundo Lu Valen�a, criadora da Contempor�neos e curadora geral da mostra em cartaz na cidade hist�rica mineira, � promover o interc�mbio cultural entre os tr�s polos art�sticos, desenvolvendo a��es virtuais e f�sicas nas tr�s cidades.

 

H� seis anos � frente da Casa Alphonsus Arte & Galeria, onde mant�m seu acervo fotogr�fico em exposi��o permanente, Eduardo Tropia tamb�m responde pela curadoria da mostra no Museu Casa dos Contos. Ele diz que “Modernistas 1922-2022” � resultado direto da cria��o, no in�cio da pandemia, do Tri�ngulo das Artes.

 

“Naquele movimento de ficar em casa e das intera��es virtuais, acabei fazendo contato com a Lu Valen�a, que j� me conhecia por meio de um trabalho que fa�o sobre a influ�ncia da China no barroco mineiro. Ela me convidou para participar da Contempor�neos e, a partir da�, a gente come�ou a pensar num semin�rio juntando as tr�s galerias. Dessa iniciativa surgiu o Tri�ngulo das Artes”, relata, acrescentando que o cons�rcio j� realizou dois semin�rios e um evento presencial em B�zios.

 

Ele conta que, depois da a��o no balne�rio fluminense, surgiu a ideia de levar os artistas ligados �s tr�s galerias para Ouro Preto. Tropia conseguiu reservar um per�odo no Museu Casa dos Contos e prop�s para seus parceiros do Tri�ngulo das Artes a ideia de homenagear os modernistas com uma exposi��o. “O centen�rio da Semana de 22 � um assunto que ainda n�o tinha sido falado aqui em Ouro Preto”, pontua.

 

No grupo de 28 artistas que exp�em suas obras na cidade hist�rica, a maioria � ligada �s galerias do Tri�ngulo das Artes, mas tamb�m h� alguns convidados, como Carlos Bracher, G� Fortes e Jorge Fonseca. Outro nome externo a esse grupo que foi convidado � o ator e artista visual Jonas Bloch, que atualmente mora em Lavras Novas, distrito de Ouro Preto. Seu trabalho est� em exposi��o na Casa Alphonsus.

 

A gente trabalhou no sentido de resgatar o orgulho de ser brasileiro e de "valorizar nossa pr�pria cultura. Somos artistas que estamos produzindo em meio � pandemia em um pa�s onde h� um desmonte da cultura. Tudo isso teve um significado importante, at� no sentido do nosso bem-estar psicol�gico"

Lu Valen�a, curadora da exposi��o

 

 

Tropia destaca que “Modernistas 1922-2022” ganhou um importante refor�o com a ades�o de Carlos Eduardo Leal, que ofereceu obras de seu acervo para integrar a mostra. Lu Valen�a, que � amiga e trabalha j� h� algum tempo com o artista e colecionador, conta que foi � casa onde ele mant�m as obras, em Teres�polis (RJ), para fazer a sele��o do que iria para Ouro Preto.

“Foi um trabalho dif�cil e, ao mesmo tempo, uma honra ter de escolher entre duas obras de Anita Malfatti, por exemplo. � medida em que Carlos Eduardo ia abrindo as embalagens com as obras, eu me emocionava cada vez mais. � imposs�vel n�o se emocionar lidando com um acervo como esse”, diz a artista e galerista, acrescentando que procurou fazer uma montagem mais intimista, com obras que permitem uma maior aproxima��o do p�blico. “� poss�vel ver a pincelada do artista”, aponta.

 

Ela diz que o formato da mostra “Modernistas 1922-2022” serve como uma plataforma para os novos talentos e, ao mesmo tempo, oferece ao p�blico a possibilidade da frui��o de obras a que ele normalmente n�o teria acesso. 

 

"Buscamos seguir as proposi��es modernistas de voc� olhar para dentro do Brasil, ver seu povo com um olhar generoso e registrar todo o movimento social do seu tempo. Foi o que procuramos fazer. Estamos mostrando o que acontece no Brasil hoje e o que � preciso ser revisto e repensado"

Lu Valen�a, curadora da exposi��o

 

 

“Foi muito gratificante para mim poder juntar uma cole��o t�o expressiva e valiosa como essa do Carlos Eduardo Leal, de obras dos modernistas originais, com o trabalho de um artista que est� come�ando agora ou de um que tem mais estrada, mas ainda n�o havia tido oportunidade de apresentar o trabalho”, comenta.

 

Ela diz que este �, precisamente, um dos principais objetivos do Tri�ngulo das Artes, e � nesse sentido que se d� a maior parte das curadorias que assina. “� uma quest�o de misturar, renovar e promover o cen�rio das artes em toda a sua extens�o”, sublinha. Ela observa que “Modernistas 1922-2022” � resultado de um esfor�o coletivo empreendido por todos os artistas envolvidos.

 

“N�s n�o tivemos nenhum incentivo governamental, n�o entramos em nenhuma lei, porque n�o havia tempo h�bil, ent�o os pr�prios artistas � que est�o patrocinando essa exposi��o. Tivemos alguns apoios culturais, permutas com comerciantes de Ouro Preto, mas foi s�. N�s, mais diretamente ligados � produ��o da mostra, desempenhamos v�rias fun��es. Eu fiz at� o release. Mas valeu todo o trabalho que a gente teve”, destaca.

FORMATOS

Os 28 artistas ligados ao Tri�ngulo das Artes ou convidados comparecem na mostra com diferentes tipos de obras. Quadros, esculturas em bronze, em cimento e em cer�mica, instala��es de diversos tipos, desde as suspensas at� as t�xteis, e fotografias ocupam o espa�o expositivo do Museu Casa dos Contos.

 

Lu Valen�a explica que os trabalhos apresentados estabelecem, de diferentes formas, di�logos com a produ��o modernista original. “Esse grupo de artistas se preparou durante um ano. Fizemos grupos de estudos e pesquisamos a fundo o movimento modernista. Com esses trabalhos em exposi��o, atualizamos os questionamentos e a tem�tica modernista. N�o temos releituras, mas sim obras fundamentadas no modernismo”, ressalta.

 

Ela diz que o per�odo preparat�rio para a mostra foi atravessado pelo desejo e pelo sentimento de resgatar os s�mbolos do Brasil. A curadora considera a valoriza��o da cultura aut�ctone, a prop�sito, o principal legado modernista.

 

“A gente trabalhou no sentido de resgatar o orgulho de ser brasileiro e de valorizar nossa pr�pria cultura. Somos artistas que estamos produzindo em meio � pandemia em um pa�s onde h� um desmonte da cultura. Tudo isso teve um significado importante, at� no sentido do nosso bem-estar psicol�gico”, diz.

 

Ela observa que as obras, no geral, t�m uma inten��o “n�o de provocar, mas de convidar � reflex�o”. “Buscamos seguir as proposi��es modernistas de voc� olhar para dentro do Brasil, ver seu povo com um olhar generoso e registrar todo o movimento social do seu tempo. Foi o que procuramos fazer. Estamos mostrando o que acontece no Brasil hoje e o que � preciso ser revisto e repensado”, salienta.

 

Eduardo Tropia, por sua vez, participa com uma fotografia fine-art intitulada “Murus/Flor”, feita originalmente em 2013 para uma exposi��o que realizou no Museu da Inconfid�ncia. Al�m de abrir o canal com o Museu Casa dos Contos, ele cuidou de toda a log�stica da produ��o local. “N�o foi f�cil, porque n�o pudemos contar com o apoio da prefeitura. Ouro Preto s� est� retomando agora o fluxo tur�stico. Tive que correr atr�s de parceiros”, diz.

 

Ele celebra o sucesso que “Modernistas 1922-2022” tem feito desde sua abertura, no �ltimo dia 21 de abril. Para Tropia, a pr�pria ocupa��o do Museu Casa dos Contos neste momento de retomada de uma certa normalidade p�s-pandemia j� � motivo de comemora��o. 

 

“Em menos de 10 dias tivemos as assinaturas de mais de 2 mil pessoas. A mostra est� repercutindo, tem um n�vel bom de visita��o e os trabalhos, como um todo, est�o sendo muito elogiados”, comenta.

 

Lu Valen�a diz que o Tri�ngulo das Artes projeta levar “Modernistas 1922-2022” para o Rio de Janeiro,ao t�rmino da temporada em Ouro Preto. “Estamos na fase de fazer contatos para seguir com essa pauta.”

 

Ela acrescenta que o cons�rcio art�stico mira diversas outras a��es no horizonte. “Queremos fazer um terceiro semin�rio este ano. Os dois anteriores deram muito certo. Convidamos, em m�dia, 10 palestrantes do c�rculo das artes visuais e tamb�m de outras �reas, como a psican�lise, para fundamentar algumas quest�es. Tivemos aulas e oficinas totalmente gratuitas nos semin�rios que realizamos”, diz.