Musical sobre o sonho do sucesso, "C�u estrelado" chega a BH nesta quinta
Com m�sicas do cancioneiro popular brasileiro, espet�culo que estreia em 9/6 conta a hist�ria de cantora que deixa o interior e tenta a sorte na cidade grande
Espet�culo traz a assinatura dos mesmos realizadores de "C�ssia Eller - O musical" e fica em cartaz at� domingo, no CCBB-BH (foto: Dalton Val�rio/ divulga��o)
"Eu sentia falta de espet�culos musicais que tratassem de nossas ra�zes, queria reunir can��es com grande pot�ncia po�tica. As novas gera��es n�o entendem muito esse cancioneiro, � algo que n�o faz parte da vida delas. Pensei que, colocando esses temas como trilha de um musical, isso poderia despertar interesse"
Gustavo Nunes, produtor
Depois de estrear e cumprir uma breve temporada no Rio de Janeiro, o musical “C�u estrelado” chega a Belo Horizonte trazendo a representa��o de um Brasil profundo, distante do litoral e dos grandes centros urbanos. Em cartaz no Teatro 1 do Centro Cultural Branco do Brasil a partir desta quinta-feira (9/6), o espet�culo abarca muitos sotaques – simb�lica e literalmente.
Idealizado e produzido por Gustavo Nunes, o musical tem dire��o compartilhada por Vin�cius Arneiro e Jo�o Fonseca. Os tr�s j� haviam trabalhado juntos no sucesso “C�ssia Eller – O musical”. Com texto de Carla Faour, “C�u estrelado” tem dire��o musical de Tony Lucchesi e elenco encabe�ado por Bruno Garcia e Juliana Linhares, que dividem o palco com outros quatro atores: Daniel Carneiro, Dani C�mara, Hamilton Dias e Natasha Jascalevich.
A trama focaliza a personagem Antonia (Juliana Linhares), que, nascida na cidade fict�cia de Carneirinhos, se muda para o Rio de Janeiro, brigada com o pai, seu Cris (Bruno Garcia), para tentar a carreira de cantora. Depois de alguns anos, ela retorna, a pedido da fam�lia, para participar da festa de Santo Ant�nio da fazenda onde moram.
Ao lado do namorado estrangeiro, Johnny (Hamilton Dias), Antonia vai reencontrar, al�m do pai, um antigo amor, Paix�o (Daniel Carneiro), sua irm�, Cidinha (Dani C�mara), e a faz-tudo da fazenda, Faf� (Natasha Jascalevich). A ideia, com esse enredo, segundo Gustavo Nunes, � propor uma reflex�o sobre o nosso lugar no mundo a partir de rela��es pessoais e sociais.
"A m�sica popular brasileira se inspirou e se inspira muito na natureza do Brasil. Quantas de nossas can��es n�o falam sobre nossas �guas, rios, animais, a flora, a terra e sobre nosso povo? E, se por um lado, a gente tem essa biodiversidade que � um tesouro planet�rio, tamb�m temos essa falta de cuidado com o meio ambiente que traz consequ�ncias seri�ssimas"
Carla Faour, dramaturga
PANORAMA DE SOTAQUES
Ele observa que, com exce��o de Bruno Garcia, em cena como ator convidado, o elenco foi escolhido em audi��es e � formado por artistas de diferentes regi�es do pa�s. “Est�vamos de olho na representatividade, quer�amos pessoas de origens diferentes. A gente queria montar um panorama de sotaques, de regi�es, que fosse representado por esses seis atores em cena. O desejo de ter essas diferentes culturas foi o que orientou as escolhas”, diz.
Nunes destaca que levar essa representa��o de um pa�s diverso e vasto para o palco passou pela escolha dos atores, das m�sicas que comp�em o espet�culo e tamb�m por um cuidadoso trabalho de cenografia e ilumina��o. “Tem essa quest�o da atmosfera, porque Carneirinhos, onde se passa a hist�ria, n�o � um lugar espec�fico, � um n�o lugar que representa todos os lugares, ent�o foi um desafio para a cenografia”, aponta.
“Existe uma diversidade de cores, porque a gente representa uma cachoeira, um sert�o �rido, um lugar com natureza exuberante. A gente situa o espectador nesses diferentes ambientes por meio de efeitos de luz e de som, ent�o � uma viagem sensorial tamb�m. S�o muitos espa�os em um �nico, e isso com uma cenografia muito sint�tica”, acrescenta o produtor.
ATOR CONVIDADO
Sobre o convite a Bruno Garcia, ele diz que era um desejo antigo que vinha sendo protelado. Nunes j� havia trabalhado com o ator na pe�a “A hist�ria de n�s dois”, que foi um grande sucesso e circulou por todo o pa�s. “Eu j� sabia que o Bruno cantava e, como produzo muitos musicais, sempre tive a vontade de cham�-lo. Agora, com ‘C�u estrelado’, achei que tinha chegado o momento.”
Ele considera que o ator, que � pernambucano, carrega um DNA genuinamente brasileiro, tem uma viv�ncia grande de interpreta��o nos palcos, no cinema e na televis�o, tem a idade que o personagem pedia e um timbre de voz que preenchia com exatid�o a lacuna que ainda havia no elenco.
“Foi um pouco de sorte, mas uma sorte calculada, porque tem todo o talento e todo o hist�rico reconhecido do Bruno, que est� fazendo 40 anos de carreira, ou seja, para ele, participar desse musical tamb�m veio muito a calhar. Desde a leitura do texto, ele me disse que queria muito falar sobre isso e que, sim, estava dentro do projeto”, diz Nunes.
Festa para Santo Ant�nio, tradi��o brasileira, faz parte de "C�u estrelado", com direito � imagem do padroeiro das solteironas (foto: Dalton Val�rio/ divulga��o)
MIGRA��ES NO BRASIL
O produtor ressalta que sua inten��o, ao idealizar o espet�culo, era explorar o tema das migra��es existentes no Brasil a partir de can��es que emocionam e unem os habitantes das mais diversas regi�es do pa�s. O mote para a cria��o de “C�u estrelado” se relaciona, em boa medida, com a pr�pria viv�ncia de Nunes.
“Sou ga�cho, sa� do Rio Grande do Sul com 16 ou 17 anos para vir morar no Rio de Janeiro. Tem a� uma quest�o de pertencimento. Abandonei minha terra natal ou n�o? Sair � uma coisa normal? Isso sempre foi uma quest�o na minha vida e acho que na de muita gente. Eu achava que isso tinha a ver com o nosso cancioneiro popular, que fala muito disso, da� veio esse repert�rio t�o marcado na gente”, aponta.
Ele diz que pretendeu, com o roteiro musical que conduz o espet�culo, fazer um resgate de can��es que n�o costumam estar presentes nessa modalidade teatral. “Eu sentia falta de espet�culos musicais que tratassem de nossas ra�zes, queria reunir can��es com grande pot�ncia po�tica. As novas gera��es n�o entendem muito esse cancioneiro, � algo que n�o faz parte da vida delas. Pensei que, colocando esses temas como trilha de um musical, isso poderia despertar interesse”, diz, acrescentando que as m�sicas “s�o um chamariz, as grandes estrelas do espet�culo”.
TRILHA SONORA
Composi��es de Milton Nascimento, Chico C�sar, Chico Buarque, Gilberto Gil e Jovelina P�rola Negra, entre outros, conduzem a trama. O elenco conta com o acompanhamento do violonista Gabriel Quinto, mas alguns dos atores, al�m de cantar, tamb�m tocam instrumentos em cena. Al�m disso, todas as can��es ganharam novos arranjos, para aumentar a dramaticidade do que � mostrado no palco.
Nunes aponta que a escolha do repert�rio foi feita conjuntamente por toda a equipe criativa do musical. “Pedi apenas que a gente tivesse diversidade, que a gente conseguisse, por meio das can��es, representar o Brasil no que ele tem de originalidade. Claro, a gente n�o tem funk, n�o tem coisas muito contempor�neas, mas s�o linguagens genuinamente brasileiras. A sele��o passou pela quest�o da diversidade e pela representatividade das regi�es do pa�s”, pontua.
Ele observa que “C�u estrelado” � um texto original, mas que se vale de m�sicas que j� existem e est�o no imagin�rio de uma parcela grande da popula��o. Fazer com que essas m�sicas – algumas compostas h� muitos anos – contassem uma hist�ria que acabou de ser escrita foi um desafio, segundo o produtor.
“Foi um trabalho �rduo, porque as can��es contextualizam o que est� em cena ou levam a hist�ria adiante. S�o 20 m�sicas que impulsionam a trama at� o desfecho, ent�o teve uma arquitetura muito bem-elaborada entre a trilha e a dramaturgia”, comenta.
"Carneirinhos (a cidade do musical) n�o existe, mas � um interior que pode ser de Minas, de S�o Paulo ou de algum estado do Nordeste, ent�o a gente canta, por exemplo, 'Romaria' e 'Bate cora��o'. S�o m�sicas que aproximam o p�blico de maneira mais r�pida, � um tiro de afetividade"
Juliana Linhares, atriz e cantora
COMUNICA��O
Juliana Linhares tamb�m enxerga na trilha sonora do espet�culo um gancho poderoso de comunica��o com o p�blico. Ela explica que se somam ao viol�o 7 cordas de Gabriel Quinto bases pr�-gravadas sobre as quais o elenco de atores-cantores desfila os temas.
“Fazemos tudo ao vivo, com muitos arranjos vocais. � um neg�cio que ficou bem interessante”, diz ela, que, no ano passado, lan�ou o elogiado �lbum “Nordeste fic��o”, que conta com parcerias com Chico C�sar e Zeca Baleiro.
“As m�sicas aproximam muito a plateia da hist�ria, porque � um passeio pelo cancioneiro popular brasileiro que, em sua maior parte, remete ao interior. Carneirinhos n�o existe, mas � um interior que pode ser de Minas, de S�o Paulo ou de algum estado do Nordeste, ent�o a gente canta, por exemplo, ‘Romaria’ (de Renato Teixeira) e ‘Bate cora��o’ (de Ant�nio Barros e Cec�u, gravada por Elba Ramalho). S�o m�sicas que aproximam o p�blico de maneira mais r�pida, � um tiro de afetividade”, destaca.
Com uma longa carreira teatral, Juliana Linhares vive em “C�u estrelado” a sua primeira protagonista. “Comecei a fazer teatro de 9 para 10 anos, em Natal, e nunca mais larguei. Sou formada em dire��o teatral, mas comecei a cantar na faculdade, na banda Piet�. Ent�o, m�sica e teatro sempre ficaram embolados na minha vida”, observa.
Ela conta que, assim que tomou conhecimento do chamamento para as audi��es, se interessou em participar. “Passei muito tempo fora do palco, presa em casa por causa da pandemia. Assim que veio essa oportunidade, eu a agarrei. Quando surgiu a possibilidade concreta, falei: quero fazer. E quando vi a sinopse e as m�sicas, achei que tinha a ver demais comigo, com meu momento”, diz.
Quest�o ambiental em foco
Entre os muitos temas que “C�u estrelado” aborda – migra��o, fam�lia, sucesso, afetos, amores – est� tamb�m a quest�o ambiental. Gustavo Nunes destaca que a tem�tica � colocada de forma sutil no enredo, mas com uma import�ncia central.
“O texto fala do retorno � casa, e muitas vezes a gente se esquece de que nossa maior casa � o planeta, a natureza. Tem um alerta nesse musical de que a gente tem que prestar mais aten��o ao que faz”, diz.
Carla Faour, estreante em musicais, conta que criou uma hist�ria sobre afetos, fam�lia e mem�rias sem deixar de lado a cr�tica social ao expor a urg�ncia da preserva��o dos recursos naturais.
“A m�sica popular brasileira se inspirou e se inspira muito na natureza do Brasil. Quantas de nossas can��es n�o falam sobre nossas �guas, rios, animais, a flora, a terra e sobre nosso povo? E, se por um lado, a gente tem essa biodiversidade que � um tesouro planet�rio, tamb�m temos essa falta de cuidado com o meio ambiente que traz consequ�ncias seri�ssimas”, avalia a dramaturga.
“C�U ESTRELADO”
Musical. Dramaturgia: Carla Faour. Dire��o: Vin�cius Arneiro e Jo�o Fonseca. Com Bruno Garcia e Juliana Linhares, que dividem o palco com outros quatro atores: Daniel Carneiro, Dani C�mara, Hamilton Dias e Natasha Jascalevich. Em cartaz desta quinta-feira (9/6) at� o pr�ximo domingo (12/6), sempre �s 20h, no Teatro 1 do CCBB-BH (Pra�a da Liberdade, 450, Funcion�rios, 31.3431-9400). Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), na bilheteria do teatro e pelos sites do CCBB-BH e Eventim
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