
O dinamismo que o Inhotim traz de ber�o segue como uma marca registrada de um dos maiores museus a c�u aberto do mundo. A inaugura��o, h� pouco mais de uma semana, de novas obras e exposi��es tempor�rias d� continuidade a um movimento de amplia��o e renova��o de acervo que vem desde as origens do Instituto e, mais notadamente, ao longo dos �ltimos 12 meses, a partir de meados de 2021.
Desde o �ltimo dia 28, o p�blico pode conferir uma nova programa��o com obras do brit�nico Isaac Julien, do carioca Arjan Martins, da mineira Laura Bel�m e do paulistano Jaime Lauriano, al�m do segundo ato do projeto Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, desenvolvido em curadoria conjunta com o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiros (Ipeafro).
Previsto para ser realizado ao longo de dois anos, o projeto que leva o acervo do Museu de Arte Negra para visitar o Inhotim foi inaugurado, em dezembro do ano passado, com um primeiro ato intitulado “Abdias do Nascimento, Tunga e o Museu de Arte Negra”.
A inovadora proposta de trazer uma institui��o museol�gica para dentro de outra estreou com foco principal na arte do poeta, escritor, dramaturgo, curador, artista pl�stico, professor universit�rio, pan-africanista e parlamentar com uma longa trajet�ria de ativismo e luta contra o racismo.
O acervo foi montado na Galeria da Mata, uma das primeiras do Inhotim, reunindo um total de 90 obras de arte moderna, com 60 trabalhos assinados pelo pr�prio Abdias Nascimento, em di�logo com as cria��es de Tunga (1952-2016). O artista e ativista foi um dos idealizadores do Teatro Experimental do Negro (1944-1961) e logo depois prop�s a cria��o do Museu de Arte Negra.
Papel do teatro

Ainda tendo como casa a Galeria Mata, a mostra aborda, com �nfase, o Teatro Experimental do Negro (TEN), uma iniciativa da qual nasceu o Museu de Arte Negra. Criado por Abdias Nascimento em 1944, no Rio de Janeiro, o TEN tinha como prop�sito central conquistar espa�o para pessoas negras nas artes c�nicas.
A exposi��o traz ao p�blico, em oito n�cleos temporais, documentos sobre a trajet�ria do Teatro Experimental do Negro, pinturas de Abdias e trabalhos de artistas como Anna Bella Geiger, Heitor dos Prazeres, Iara Rosa, Jos� Heitor da Silva, Sebasti�o Janu�rio, Oct�vio Ara�jo e Y�damaria, que integram a cole��o do Museu de Arte Negra do Ipeafro.
Di�logo pr�ximo
O conjunto art�stico inaugurado no final de maio inclui um dos trabalhos mais emblem�ticos de Isaac Julien, importante nome nos campos da instala��o e do cinema, em exibi��o na Galeria Pra�a. Em di�logo pr�ximo com a a��o em torno de Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, a obra, intitulada “Looking for Langston”, � tamb�m considerada um trabalho fundamental para os estudos afro-americanos.
Unindo poesia e imagem, Julien partiu de uma explora��o l�rica sobre o mundo privado do poeta, ativista social, romancista, dramaturgo e colunista afro-americano Langston Hughes (1902-1967) e seus colegas artistas e escritores negros que formaram o Renascimento do Harlem – movimento cultural baseado nas express�es culturais afro-americanas que ocorreu ao longo da d�cada de 1920.
“Em 1954, Langston Hughes trocou correspond�ncias com Abdias Nascimento, autorizando o Teatro Experimental do Negro a encenar suas pe�as. Nesse sentido, tanto Hughes quanto Abdias e Isaac Julien, cada um � sua �poca, buscavam representatividade e reconhecimento da produ��o art�stica e intelectual negra”, diz Julieta Gonz�lez, diretora art�stica do Inhotim.
Tamb�m no bojo das novidades, o Acervo em Movimento, programa criado para compartilhar com o p�blico as obras rec�m-integradas � cole��o, foi inaugurado com trabalhos de Arjan Martins e Laura Bel�m, ambos instalados em �reas externas do Instituto.
Na instala��o de “Birutas” (2021), o artista carioca exp�e aparelhos destinados a indicar a dire��o dos ventos, que se fundem �s bandeiras mar�timas e seus c�digos internacionais para transmitir mensagens entre embarca��es e portos. Martins trabalha habitualmente com conceitos sobre migra��es e outros deslocamentos de corpos e presen�as entre espa�os de luta e poder, e ainda com as di�sporas e os movimentos coloniais que se deram em territ�rios afro-atl�nticos.
J� no lago entre as Galerias Mata e True Rouge, o visitante vai se deparar com o trabalho da artista mineira, intitulado “Enamorados”. Exposta pela primeira vez em 2004, na Lagoa da Pampulha, e no ano seguinte na 51ª Bienal de Veneza, a obra de Laura Bel�m apresenta dois barcos a remo equipados com holofotes que se iluminam, frente a frente, na �gua.
As luzes de um dos barcos se acendem, enquanto as do outro permanecem apagadas. Ap�s 20 segundos, eles invertem: o que estava aceso agora se apaga, e o que estava apagado se acende. As luzes de ambos os barcos s�o ent�o acesas simultaneamente e, ao final, todas se apagam at� o ciclo se reiniciar automaticamente.
Inhotim Biblioteca
Jaime Lauriano � o outro nome que integra a lista dos artistas participantes da programa��o aberta no final de maio. Ele inaugura o projeto Inhotim Biblioteca, que vai convidar, anualmente, artistas e pesquisadores que estabele�am di�logos com a biblioteca do Instituto. A instala��o do artista tamb�m mant�m rela��o direta com o segundo ato do projeto Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, ao propor a curadoria de uma nova bibliografia que contempla autores negros para integrar o acervo da biblioteca do Instituto.
O Inhotim Biblioteca trar� ao p�blico um espa�o coletivo e aberto voltado � leitura a partir de um recorte bibliogr�fico, visual e sonoro proposto por Jaime Lauriano, a fim de construir uma cole��o voltada ao pensamento pan-africanista. Para al�m de trazer exposi��es e disponibilizar material para pesquisa, o programa ir� promover leituras mediadas e encontros entre artistas e pesquisadores com o p�blico.
Todas essas inaugura��es s�o parte do Territ�rio Espec�fico, eixo de pesquisa que norteia a programa��o do Instituto no bi�nio de 2021 e 2022, pensado para debater e refletir a fun��o da arte nos territ�rios a n�veis local e global, e tamb�m a rela��o das institui��es com seu entorno, mirando os desdobramentos de um museu e jardim bot�nico como o Inhotim.
“Deslocamentos”, a prop�sito, � o t�tulo com que foi batizada outra mostra inaugurada em dezembro do ano passado, juntamente com o primeiro ato do projeto em torno de Abdias do Nascimento. A coletiva, que segue em cartaz na Galeria Fonte, re�ne obras dos artistas Cerith Wyn Evans, Gordon Matta-Clark, Jorge Macchi, Laura Lima, Matheus Rocha Pitta, On Kawara, Raquel Garbelotti, Rivane Neuenschwander, Rodrigo Matheus, Rubens Mano e Sara Ramo, e trata, tamb�m, de quest�es relativas � ocupa��o, ao compartilhamento e � migra��o em diferentes territ�rios.
Antes, em agosto, foram inauguradas duas obras in�ditas, criadas por meio do programa de comissionamento da institui��o: “O espa�o f�sico pode ser um lugar abstrato”, do baiano radicado em Porto Alegre Rommulo Vieira Concei��o, e “Propaganda”, da ga�cha radicada em S�o Paulo Lucia Koch. Ambas s�o instala��es que dialogam com o eixo curatorial escolhido para o bi�nio.
Reformula��o
Seja atrav�s de trabalhos consignados, pelo eixo Acervo em Movimento ou a partir de outras fontes parceiras, muitas obras in�ditas ainda vir�o a p�blico nos pr�ximos meses. No �ltimo dia 7, foi anunciada uma reformula��o administrativa, consolidada com a doa��o do acervo de Bernardo Paz - empres�rio do ramo de minera��o e siderurgia por tr�s da cria��o do Instituto.
Agora o Inhotim det�m a propriedade definitiva de todas as 23 galerias e obras de arte permanentes do museu, al�m da �rea de 140 mil hectares que o abriga, em Brumadinho, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte.
No total, cerca de 330 obras de arte contempor�nea nacional e internacional foram transferidas para o instituto: esculturas, instala��es, fotografias, v�deos, pinturas e desenhos de artistas como Anri Sala, Arthur Jafa, Chris Burden, Dan Graham, Ernesto Neto, Nelson Leirner, Rosana Paulino, Olafur Eliasson e Yayoi Kusama, entre outros.
Tamb�m fazem parte do processo de doa��o as galerias permanentes do museu, que abrigam cria��es de Adriana Varej�o, Carlos Garaicoa, Cildo Meireles, Doug Aitken, Lygia Pape, Matthew Barney, Miguel Rio Branco, Valeska Soares, Rivane Neuenschwander e Tunga, entre outros artistas.
Processo natural
“Inhotim nasceu de um projeto de vida e foi se ampliando ao longo dos anos. A doa��o � um processo natural desse percurso. O Inhotim n�o � meu, Inhotim � de todo mundo”, explicou Bernardo Paz, em comunicado enviado � imprensa. A doa��o das obras de arte encabe�a o projeto O Inhotim de Todos para Todos, cujo objetivo � fortalecer a voca��o p�blica da institui��o, seu car�ter de museu vivo e seu colecionismo ativo, de acordo com a dire��o.
O projeto � liderado pelo novo comando do instituto, formado pelo diretor-presidente Lucas Pess�a, a diretora vice-presidente Paula Azevedo e a diretora art�stica Julieta Gonz�lez. “A doa��o e a abertura do Inhotim � sociedade s�o um processo que come�ou h� muito mais tempo, quando Bernardo decidiu generosamente abrir sua cole��o privada � visita��o p�blica, em 2006. De l� para c�, foram quase 4 milh�es de visitantes em 15 anos, al�m de mais de 800 mil crian�as, adolescentes e adultos atendidos em programas socioeducativos”, afirmou Pess�a por meio de nota.