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Estado de Minas LUTO NAS ARTES

Com talento m�ltiplo, J� Soares fez escola como entrevistador na TV do pa�s

Al�m de ter comandado programas que se tornaram um marco na hist�ria da TV brasileira, humorista tamb�m se destacou como escritor de best-sellers


05/08/2022 11:56 - atualizado 05/08/2022 12:35

Jô Soares na bancada de seu programa na Globo
J� Soares revolucionou a televis�o brasileira com seus programas de entrevista (foto: Ramon Vasconcelos / divulga��o)

Rede Globo e SBT, as duas emissoras em que J� Soares cumpriu a maior parte de sua trajet�ria na televis�o, divulgaram, nesta sexta-feira (5/8), notas de pesar por sua morte. Apresentador, entrevistador, humorista, escritor, ator, diretor, ele morreu durante a madrugada, aos 84 anos, no Hospital S�rio Liban�s, em S�o Paulo, onde estava internado desde o dia 28 de julho, para tratar de uma pneumonia.

"Jos� Eug�nio Soares, foi um carioca que veio ao mundo para, dentre outras miss�es, a nobre arte de fazer rir. Desde pequeno, tinha em seus pais - Mercedes e Orlando - uma agrad�vel companhia e grande incentivo na descoberta de sua verve art�stica", diz o comunicado do SBT, que destaca, ainda, o que viria a ser um marco na trajet�ria de J�: sua estreia como apresentador, nos moldes dos talk shows norte-americanos.

O texto da emissora lembra que foi em agosto de 1988 que uma revolu��o aconteceu na carreira do artista m�ltiplo, e na hist�ria da televis�o brasileira. "J� ganha de Silvio Santos a oportunidade de realizar seu sonho ao comandar um talk show que mesclasse entrevistas, m�sica e humor, inovando os finais de noite da TV brasileira, criando uma f�rmula inesgot�vel que at� hoje reflete-se em sucesso absoluto", diz a nota, sobre o lan�amento do programa "J� Soares Onze e Meia".

O comunicado da Rede Globo tamb�m destaca o talento de J� "para uma boa conversa" e recorda que o primeiro programa de entrevistas que apresentou foi o "Globo Gente", em 1973. Depois de sua passagem pelo SBT, onde ficou por 11 anos, entre 1988 e 1999, ele retornou � emissora carioca, conforme destaca a nota.

Sof� do J�


"No ano 2000, J� Soares voltou � Globo para o 'Programa do J�', acompanhado do gar�om Alex e de um quinteto musical. Pelo sof� passaram personalidades, pol�ticos e figuras an�nimas - nacionais e internacionais. Uma das primeiras entrevistas da estreia do programa foi com o jornalista Roberto Marinho, fundador da TV Globo, gravada nos jardins da sua resid�ncia", lembra o comunicado.

O texto rememora, ainda, que no dia 16 de dezembro de 2016, J� Soares se emocionou em seu programa de despedida, ap�s 16 anos no ar, em que entrevistou o cartunista Ziraldo: "Que alegria ver tantos amigos queridos aqui na plateia. O programa s� durou esse tempo todo gra�as a essa equipe. Minha vida realmente mudou gra�as � plateia, sem voc�s eu n�o existo. A todas essas pessoas, meu eterno beijo do Gordo".

Em entrevista ao site Metr�poles, o consultor e professor de televis�o Fernando Morgado, autor dos livros "Silvio Santos - A trajet�ria do mito" e "Comunicadores S.A", ressalta que o sucesso de J� teve uma contribui��o importante do dono do SBT.

Principal entrevistador


"J� Soares se tornou o principal entrevistador do Brasil gra�as ao Silvio Santo. A Globo, onde J� trabalhava na �poca, n�o acreditava que o humorista fosse capaz de assumir um talk show de sucesso. E foi o Silvio que abriu as portas para lan�ar o 'J� Soares Onze e Meia', cujo formato � claramente inspirado nos late shows dos Estados Unidos", lembra o bi�grafo de Silvio.

Ele observa, ainda, que "J� Soares Onze e Meia" n�o apenas deu audi�ncia e faturamento para o SBT, como trouxe prest�gio para a emissora, que ainda era encarada com certo preconceito pelo mercado. "O programa, por exemplo, se transformou no grande palco de debates e entrevistas na TV durante o processo de impeachment do Collor. Al�m disso, quebrou paradigmas por entrevistar figuras de todas as vertentes e falar de todas as emissoras, algo que a Globo, por exemplo, n�o permitia naquele tempo".

Morgado tamb�m comenta a volta de J� Soares para a Globo, em 2000. "Na minha opini�o, a primeira entrevista, feita com Roberto Marinho no jardim da mans�o no Cosme Velho, foi uma demonstra��o de for�a que J� deu para aqueles que, no passado, negaram a ele a chance de ter um talk show na emissora carioca", analisa o especialista.

Transa��o milion�ria


Em 1987, a transa��o milion�ria da TV Globo para o SBT fez com que J� se tornasse o artista mais bem pago da televis�o brasileira � �poca. De acordo com a revista "Veja", naquele ano J� receberia cerca de 2 milh�es de cruzados - o triplo do que recebia na Globo.

Mas os motivos para J� aceitar a mudan�a n�o eram financeiros. De acordo com o que se noticiou � �poca, o apresentador trocou o canal l�der de audi�ncia pelo SBT para realizar o sonho antigo de apresentar um talk show noturno ao estilo norte-americano.

Sua chegada ao SBT foi anunciada com ares de grande evento. Os boatos da troca do apresentador come�aram no in�cio de outubro daquele ano, com pessoas ligadas � imprensa do SBT dando a ida como certa. A Globo chegou a negar a informa��o, que no entanto era correta.


Reviravolta na televis�o


No dia 26 de outubro de 1987, Silvio Santos fazia hist�ria ao interromper o telejornal "Noticentro" para confirmar a negocia��o. "Quero anunciar uma reviravolta na televis�o brasileira", declarou o homem do ba� antes de anunciar a chegada de J� ao canal. Al�m do "J� Onze e Meia", ele estreou tamb�m no canal o humor�stico "Veja o Gordo".

Ao longo desta d�cada que passou no SBT, J� apresentou 2.309 edi��es do programa e realizou 6.927 entrevistas. Ayrton Senna, Cazuza, Raul Seixas, Roberto Carlos, Pel� e Hebe Camargo foram alguns dos nomes que passaram pelo sof� do "J� Soares Onze e Meia".

Nas redes sociais, diversas postagens recordam a entrevista em que J� caiu na gargalhada com Hebe Camargo, Nair Bello e Lolita Rodrigues: "Eu j� perdi as contas de quantas vezes vi", comentou um usu�rio do Twitter. Na conversa, os quatro brincam e n�o fogem de assuntos como sexo, envelhecimento e suas trajet�rias profissionais.

Homenagem � amiga


A entrevista aconteceu em abril de 2000, na primeira semana do retorno de J� Soares � Rede Globo. Em 2012, quando Hebe morreu, J� exibiu novamente a conversa - foi a primeira reprise da hist�ria do programa. "� a melhor homenagem que eu podia prestar a esse grande s�mbolo da televis�o brasileira", disse J� sobre a amiga. "Espero que voc�s se divirtam tanto quanto a gente se divertiu naquela �poca", acrescentou.

Mesmo voltando para a Globo no in�cio dos anos 2000, J� Soares sempre demonstrou ter muito carinho e gratid�o pelos tempos que passou no SBT. Em 2017, o apresentador esteve presente no Trof�u Imprensa e recebeu cinco pr�mios, se emocionando assim que subiu ao palco e agradeceu a Silvio Santos.

"Estou emocionado e lembro quando assinei o contrato. Disse que ia fazer um programa semanal, mas voc� disse que tinha que ser di�rio, sen�o n�o colava. Voc� � respons�vel por grande parte da minha vida profissional. Voc� tem uma grande intui��o de fera. Al�m disso, � um grande amigo real. �s vezes, o tempo afasta as pessoas, mas n�o afasta os amigos reais", declarou J�.

Seduzir o mundo


O comunicado emitido pela Rede Globo destaca que J� era vaidoso e chegou a dizer que j� nasceu querendo seduzir o mundo. "E assim o fez, em mais de 60 anos de carreira, com momentos hist�ricos na TV brasileira, mais de 200 personagens e 14 mil entrevistas", diz o texto.

A estreia na TV Globo aconteceu em 1970 com "Fa�a humor, n�o fa�a guerra", ap�s 11 anos na antiga RecorTV, onde estreou na frente das c�meras, em 1956. Tr�s anos depois, atuou como ator e redator ao lado de Max Nunes e Haroldo Barbosa em o "Planeta dos homens". Ganhou destaque com "Viva o Gordo" (1981), �poca em que criou o bord�o "um beijo do Gordo!". O t�tulo veio da pe�a "Viva o gordo e abaixo o regime!", sucesso do teatro no qual o humorista fazia cr�ticas veladas � ditadura.

Entre os tipos marcantes que viveu nesta �poca est�o o Reizinho, personagem sempre �s voltas com os problemas do reino, uma s�tira � situa��o pol�tica do pa�s; o Capit�o Gay, super-her�i homossexual que usava um uniforme cor-de-rosa e andava sempre acompanhado de seu ajudante Carlos Sueli (Eliezer Motta); e o Z� da Galera, que ligava para o t�cnico da Sele��o Brasileira de futebol e pedia "Bota ponta, Tel�!".


Escrita afiada


Como jornalista, escreveu para as revistas "Manchete" e "Veja" e para os jornais "O Globo" e "Folha de S.Paulo". Em 1983, lan�ou seu primeiro livro, "O astronauta sem regime". Com o romance "O Xang� de Baker Street" (1995), entrou para a lista dos mais vendidos. O livro, que virou filme em 2001, dirigido por Miguel Faria Jr., j� foi traduzido para uma dezena de l�nguas.

Tamb�m � autor de "O homem que matou Get�lio Vargas" (1998), "Assassinatos na Academia de Letras" (2005) e "As esganadas" (2011). Em 2016, foi eleito para a Academia Paulista de Letras. Seu �ltimo lan�amento foi "O livro de J� - Uma autobiografia desautorizada", que veio � luz em dois volumes, o primeiro em 2017 e o segundo em 2018.


J� por ele mesmo


Com verve afiada, J� compartilha sua trajet�ria de astro midi�tico num livro escrito para fazer rir, chorar e, sobretudo, n�o esquecer, conforme a obra foi anunciada � �poca de seu lan�amento. O primeiro volume resgata fatos, lugares e pessoas marcantes da juventude de J� e reconstitui seus primeiros passos no mundo dos espet�culos, nas d�cadas de 1950 e 1960.

Entre a inf�ncia dourada no Copacabana Palace e a dura conquista do estrelato, o leitor acompanha o autor do nascimento at� os 30 anos. Os antecedentes familiares, a meninice privilegiada nos pal�cios da elite carioca, a mudan�a para um internato na Su��a, os marcos da forma��o cultural do futuro showman na adolesc�ncia. A obra foca, ainda, a paix�o pelo jazz, a estreia modesta em pontas no cinema e na televis�o, o primeiro casamento e, finalmente, a conquista do sucesso numa S�o Paulo fervilhante.


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