Vestido de preto, sentado em banco com fundo vermelho, Djavan cruza os braços

"Eu s� componho quando tenho necessidade, fico geralmente dois anos sem compor", afirma Djavan, cujo �lbum anterior, "Ves�vio", � de 2018

Gabriela Schmidt/Divulga��o

“O fen�meno mais marcante dos novos tempos � a interpreta��o de textos. (As pessoas) N�o sabem interpretar o que leem. Todo mundo acaba vitimado”, afirma Djavan, ele pr�prio v�tima do que chama de “anomalia”. Aos 73 anos, o cantor e compositor alagoano est� lan�ando seu 25º �lbum, “D”, a partir desta quinta (11/8), nas plataformas digitais.

E algumas das 12 can��es s�o uma resposta ao ocorrido com ele. Recentemente, uma postagem voltou a circular nas redes sociais sugerindo que Djavan era apoiador do governo de Jair Bolsonaro (PL) e que reprovava a Lei Rouanet (mecanismo que nunca utilizou, mas cuja exist�ncia aprova). 

A postagem, baseada em trechos de entrevistas concedidas pelo artista no fim de 2018, logo ap�s a elei��o do atual presidente, distorcia suas palavras. Na �poca, ele disse que tinha esperan�a de que o Brasil daria certo, “em algum momento”. O post incluiu “governo Bolsonaro” em uma das frases ditas por Djavan, que n�o citou o nome do mandat�rio em nenhum trecho.

“Ser acusado do que n�o se fez �, no m�nimo, desconfort�vel”, diz hoje Djavan. A resposta para o ocorrido est� na forma de can��o. Os versos de “Cabe�a vazia”, por exemplo, dizem: “Bem maior que um esc�ndalo/N�o tem pra tsunami/N�o � coisa de v�ndalo/Ou ju�zo final/� cabe�a vazia”. 

Gravado por ele em 2014 e lan�ado na �poca por Alcione, o samba “�h! �h!”, composto por Djavan com Zeca Pagodinho, tamb�m cala fundo: “Assim est� meu cora��o/Atolado em lodo e lama/Soterrado nesse drama/Mas respirando a esperan�a”.

"O futuro pode ser bom. O que eu quero � ver o Brasil nos trilhos de novo, evoluindo com educa��o, sa�de, meio ambiente. Quero tudo isso funcionando em favor do povo. O Brasil tem voca��o para ser uma na��o grande, mas tudo tem que voltar ao normal"

Djavan, cantor e compositor



Lula

Hoje, reafirmando seu voto em Luiz In�cio Lula da Silva (PT) na pr�xima elei��o presidencial – “Vou votar no Lula, em quem sempre votei” –, Djavan se diz otimista. “O futuro pode ser bom. O que eu quero � ver o Brasil nos trilhos de novo, evoluindo com educa��o, sa�de, meio ambiente. Quero tudo isso funcionando em favor do povo. O Brasil tem voca��o para ser uma na��o grande, mas tudo tem que voltar ao normal.”

E quer “seguir adiante”. “D” �, acima de tudo, um �lbum colorido, diverso, que coloca o m�sico dialogando com o mundo de hoje. “Depois que voc� grava um disco, inconscientemente come�a a receber material para o pr�ximo em viagens, encontro com pessoas, coisas que v� e ouve. Ent�o, na hora do disco, isso vem naturalmente associado com o fato do que est� acontecendo”, diz.



“D”, disco que substitui “Ves�vio” (2018), come�ou a ser gestado em junho de 2021. Sozinho, Djavan passou a conceber as can��es. “O come�o do processo � sempre dif�cil. Eu s� componho quando tenho necessidade, fico geralmente dois anos sem compor.” Necessidade, ele diz, f�sica. “� org�nico, biol�gico, uma coisa incr�vel. Mas realmente n�o posso ficar muito tempo sem compor, faz parte da minha subsist�ncia como m�sico.” 

Em outubro passado, em seu pr�prio est�dio, come�ou as grava��es. “Desta vez foi diferente. Em geral, eu monto banda, vou para o est�dio, gravo e saio em turn�. Agora, resolvi convidar os m�sicos que gravaram comigo durante a vida inteira. Est�o quase todos a�, reuni o quanto pude.”

Neste time est�o o guitarrista Torcuato Mariano, o trompetista Jess� Sadoc, o tecladista Paulo Calasans, o baixista Marcelo Mariano, os bateristas Carlos Bala e Felipe Alves, o percussionista Marcos Suzano. Cada faixa traz uma composi��o diferente de instrumentistas. 

Feliz em ter revisto muitos m�sicos com quem n�o tocava havia muito, Djavan diz que o que mais o influenciou na escolha foi “dar uma diversificada na sonoridade; ent�o, chamei aqueles que considerava mais adequados para cada faixa”.

No palco, “D” ser� visto somente em 2023 – o primeiro show est� marcado para 31 de mar�o. Depois de ter encerrado a turn� de “Ves�vio”, interrompida em decorr�ncia da pandemia, Djavan s� far� mais dois shows neste ano, ambos em setembro: no Rock in Rio e no Coala Festival, em S�o Paulo.

Quando a primeira fase de grava��o ocorreu, Djavan, que produziu e arranjou as faixas, s� gravou as bases. As letras vieram somente em janeiro, quando passou f�rias em sua casa, em Macei�. Pelo menos oito delas sa�ram da temporada praiana. Em fevereiro, de volta ao Rio de Janeiro, colocou as vozes.

Milton Nascimento

E uma delas � motivo de muita alegria. Amigos h� muitos anos, Djavan e Milton Nascimento nunca haviam gravado nada juntos. A falta foi corrigida em “Beleza destru�da”, j� com clipe dispon�vel (dirigido pelo designer Giovanni Bianco, tamb�m respons�vel pela capa do �lbum). O tema da can��o, de autoria de Djavan, � a crise ambiental, um assunto tamb�m caro ao cantor e compositor mineiro.

“Eu estava com a inten��o de gravar com o Milton. A ideia inicial era fazermos uma m�sica juntos, mas como n�o deu, fiz uma letra com um tema que n�s dois sempre defendemos”, diz ele, comentando da alegria que foi receber Milton em seu est�dio para a grava��o. “Foi emocionante, inclusive porque fazia muitos anos que a gente n�o se via. Foram uma tarde e uma noite que passamos bem felizes.”

Outra can��o com convidados � a �ltima do �lbum, “Iluminado”, de acento pop e com letra que permanece na cabe�a. Foi ainda a �ltima a ser composta e a ser gravada. Pela primeira vez,  Djavan reuniu a prole para uma grava��o conjunta. Al�m dos filhos m�sicos, que j� gravaram em outras ocasi�es com o pai (o guitarrista Max Viana, o baterista Jo�o Viana, aqui no viol�o e na percuss�o, respectivamente) e da cantora Fl�via Virg�nia, a can��o d� voz aos ca�ulas, Sofia e In�cio, e aos netos, Thomas Boljover e Lui Viana.

“De vez em quando, a gente canta em casa e no s�tio, mas nunca hav�amos feito isso em disco. Achei que era adequado agora, pois a can��o tem uma mensagem de otimismo com a fam�lia”, diz Djavan. Gravada com viol�o e percuss�o, a m�sica come�a desta maneira: “Fazer o bem/� sempre uma coisa dada/Sem esperar nada/Sem olhar a quem/Vamos sorrir/Pra n�o cair em cilada/Quem n�o ri de nada/N�o sabe o que tem.” Aos “cabe�as vazias”, essa � a melhor resposta que Djavan poderia dar.

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“D”

.Djavan
.Luanda Records/Sony Music (12 faixas)
.Lan�amento nesta quinta (11/8), nas plataformas digitais